domingo, 5 de setembro de 2010

A Globalização e a Pobreza

A globalização e a pobreza





O fenômeno da globalização atingiu a grande família humana. Mas o Papa, na sua mensagem de Paz do início deste ano, nos lembra que “a globalização elimina determinadas barreiras, mas isto não significa que não possa construir outras novas; aproxima os povos, mas a proximidade geográfica e temporal não cria, de per si, as condições para uma verdadeira comunhão e uma paz autêntica. A marginalização dos pobres da terra só pode encontrar válidos instrumentos de resgate na globalização, se cada homem se sentir pessoalmente atingido pelas injustiças existentes no mundo e pelas violações dos direitos humanos ligadas com elas. A Igreja, que é ‘sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano’, continuará a dar a sua contribuição para que sejam superadas as injustiças e incompreensões e se chegue a construir um mundo mais pacífico e solidário.”


“No campo do comércio internacional e das transações financeiras, temos hoje em ação processos que permitem integrar positivamente as economias, contribuindo para o melhoramento das condições gerais; mas há também processos de sentido oposto, que dividem e marginalizam os povos, criando perigosas premissas para guerras e conflitos. Nos decênios posteriores à segunda guerra mundial, o comércio internacional de bens e serviços cresceu de forma extraordinariamente rápida, com um dinamismo sem precedentes na história. Grande parte do comércio mundial interessou os países de antiga industrialização, vindo significativamente juntarem-se a eles muitos países que sobressaíram tornando-se relevantes. Mas há outros países de rendimento baixo que estão ainda gravemente marginalizados dos fluxos comerciais. O seu crescimento ressentiu-se negativamente com a rápida descida verificada, nos últimos decênios, nos preços dos produtos primários, que constituem a quase totalidade das suas exportações. Nestes países, em grande parte africanos, a dependência das exportações de produtos primários continua a constituir um poderoso fator de risco. Quero reiterar aqui um apelo para que todos os países tenham as mesmas possibilidades de acesso ao mercado mundial, evitando exclusões e marginalizações.”


“Idêntica reflexão pode fazer-se a propósito do mercado financeiro, que toca um dos aspectos primários do fenômeno da globalização, devido ao progresso da eletrônica e às políticas de liberalização dos fluxos de dinheiro entre os diversos países. A função objetivamente mais importante do mercado financeiro, que é a de sustentar a longo prazo a possibilidade de investimentos e conseqüentemente de desenvolvimento, aparece hoje muito frágil: sofre as conseqüências negativas de um sistema de transações financeiras – a nível nacional e global – baseadas sobre uma lógica de brevíssimo prazo, que busca o incremento do valor das atividades financeiras e se concentra na gestão técnica das diversas formas de risco. A própria crise recente demonstra como a atividade financeira seja às vezes guiada por lógicas puramente auto-referenciais e desprovidas de consideração pelo bem comum a longo prazo. O nivelamento dos objetivos dos operadores financeiros globais para o brevíssimo prazo reduz a capacidade de o mercado financeiro realizar a sua função de ponte entre o presente e o futuro: apoio à criação de novas oportunidades de produção e de trabalho a longo prazo. Uma atividade financeira confinada no breve e brevíssimo prazo torna-se perigosa para todos, inclusivamente para quem consegue beneficiar dela durante as fases de euforia financeira.”

Dom Fernando Arêas Rifan

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