sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Crise com a aliança ocidental vem em momento propício para paquistaneses

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ataque ocidental a soldados paquistaneses, a despeito da tragédia humana, caiu como uma luva para o governo de Islamabad.
Anteontem mesmo o diretor da CIA pressionava pessoalmente o chefe do serviço secreto do Paquistão a renovar seus ataques contra os insurgentes islâmicos.
Com a enchente bíblica que devastou o país nos últimos meses, o Exército paquistanês teve de concentrar esforços em operações humanitárias, abandonando ofensivas nas áreas tribais, a zona sem lei junto à fronteira afegã na qual se escondem várias lideranças terroristas.
Agora os EUA insistem na volta das operações. Washington desconfia do jogo duplo de Islamabad, que fomentou por anos grupos extremistas para servir de linha auxiliar no seu conflito com a arquirrival Índia.
Por outro lado, o Paquistão reclama com razão que seu esforço de guerra não é reconhecido. Desde 2001, perdeu 3.000 soldados e 8.000 civis no conflito; os ocidentais não perderam 2.000 militares.
E num país em que o Exército é a principal instituição, a presença militar estrangeira é tabu. Mesmo a ação de aviões-robôs americanos nas áreas tribais é dissimulada oficialmente, e a morte de soldados paquistaneses nas mãos de ocidentais constitui um passivo político muito custoso.
Como 80% dos suprimentos não-bélicos das forças ocidentais no Afeganistão são levados todos os dias a partir da cidade paquistanesa de Torkham, o fechamento da rota é o recado mais vigoroso que Islamabad pode dar agora.
De todo modo, o Paquistão também não pode prescindir do Ocidente. Só os EUA colocaram mais de US$ 15 bilhões no país desde o 11 de Setembro. Se politicamente a crise é útil para os paquistaneses, não é de se esperar que ela dure indefinidamente.

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