segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Como a Igreja Católica Construi a Civilização Ocidental

Fonte:http://catolicismo.wordpress.com/2008/05/08/sem-a-igreja-catlica-no-haveria-civilizao-ocidental-nova-corrente-de-historiadores-rejeitam-os-mitos-anticatlicos-e-antimedievais/
Sem a Igreja Católica não haveria Civilização Ocidental:

Nova corrente de historiadores rejeitam os mitos anticatólicos e antimedievais

Conceituados especialistas americanos e europeus vêm mostrando que sem a Igreja católica a civilização europeia, berço da Civilização Ocidental e Cristã, não teria visto a luz. E apresentam a génese, o desenvolvimento, o esplendor e a glória da Civilização Cristã. Esses estudiosos têm publicado uma série de trabalhos nos quais procuram restabelecer a objectividade histórica.

Tal recuperação da verdade apresenta uma tese central: a civilização ocidental é a única que merece plenamente esse nome. Os povos que outrora ocuparam a Europa — gregos, romanos, celtas, germanos e outros — deixaram sua contribuição. Mas a alma, o espírito, a essência da civilização europeia e cristã provêm da Igreja. Como chegaram eles a essa conclusão? Eis o objecto deste artigo, que representa uma viagem pela génese, desenvolvimento, esplendor e glória da Civilização Cristã.

O historiador Rodney Stark(1) colocou o problema: na História houve apenas uma civilização que saiu do nada, para acabar sendo hegemónica: a ocidental. Existiram, sem dúvida, outras grandes civilizações: chinesa, egípcia, caldeia, indiana, etc. Elas todas se iniciaram num alto nível, ficaram porém estagnadas e decaíram lenta mas irreversivelmente ao longo dos milénios. Por que não cresceram como a ocidental e cristã?

Stark indica como causa dessa diferença capital entre a civilização cristã e as outras o papel desempenhado pela Igreja Católica. As religiões pagãs, diz ele, originaram-se de lendas fantásticas impostas sem explicação. Só a Religião católica convida os fiéis a aprofundar racionalmente as verdades da fé. Já no século II Tertuliano ensinava que “Deus, o Criador de todas as coisas, nada fez que não fosse pensado, disposto e ordenado pela razão”. Clemente de Alexandria, no século III, insistia: “Não julgueis que o que nós dissemos deve ser aceito só pela fé, mas deve ser acreditado pela razão”. Santo Agostinho consagrou tal ensinamento, e Santo Tomás, com suas Summas, levou-o a um píncaro.(2)

Os monges medievais aplicaram a lógica racional à vida quotidiana e criaram uma regra de vida. Surgiram então prédios de uma beleza até então desconhecida; o trabalho foi dignificado e organizado; surgiram escolas de todo tipo; códigos civis e comerciais, leis internacionais, hospitais, fábricas, invenções, remédios eficazes; vinhos e licores, etc. A vassalagem do monge em relação ao abade e as relações das abadias entre si inspiraram a organização política feudal. Uma força de elevação e requinte foi transmitida pela Igreja à sociedade no transcurso de gerações, e ergueu-se assim o mais formidável e esplendoroso edifício civilizador da História.

O Prof. Thomas E. Woods é um dos integrantes mais recentes dessa corrente de investigadores.(3) Ele deplora ouvir ainda hoje surradas cantilenas contra a Idade Média. Nenhum historiador profissional honesto, diz ele, acredita nelas. E acrescenta: “Durante os últimos cinquenta anos, virtualmente todos os historiadores da ciência [...] vêm concluindo que a Revolução Científica se deve à Igreja” (p. 4). Não é só devido ao ensino, mas pelo fato de a Igreja ter gerado cientistas como o Padre Nicolau Steno, pai da geologia; Padre Atanásio Kircher, pai da egiptologia.

Padre Giambattista Riccioli, que mediu a velocidade de aceleração da gravidade terrestre; Padre Roger Boscovich, pai da moderna teoria atómica, etc; Réginald Grégoire, Léo Moulin e Raymond Oursel mostraram que os monges deram “ao conjunto da Europa [...] uma rede de fábricas-modelo, centros de criação de gado, centros de escolarização, de fervor espiritual, de arte de viver, [...] de disponibilidade para a acção social — numa palavra, [...] uma civilização avançada emergiu das ondas caóticas da barbárie que os circundava. Sem dúvida nenhuma, São Bento foi o Pai da Europa. Os beneditinos, seus filhos, foram os pais da civilização europeia” (p. 5).

A Igreja sagra Carlos Magno imperador e reergue a cultura

A Igreja instituiu, na ordem temporal, o Sacro Império Romano Alemão na pessoa de Carlos Magno, rei dos francos. Ele deu um impulso incomparável à educação e às artes. Nessa obra educadora sobressaiu Alcuíno [foto 4], conselheiro íntimo de Carlos Magno, pupilo de São Beda, o venerável, e abade do mosteiro de Saint Martin em Tours. Falando da biblioteca de sua abadia em York, Alcuíno menciona obras de Aristóteles, Cícero, Lucanus, Plínio, Statius, Trogus Pompeius e Virgílio.

Papa Vítor III, que foi abade de Montecassino, na Itália, patrocinou a transcrição de obras de Horácio, Sêneca e Cícero. Santo Anselmo, quando abade de Bec, na Inglaterra,recomendava Virgílio e outros clássicos a seus estudantes, mas prevenia-os contra as passagens imorais. Num exercício escolar de Santo Hildeberto, encontramos excertos de Cícero, Horácio, Juvenal, Persius, Sêneca, Terêncio e outros. Santo Hildeberto, aliás, conhecia Horácio praticamente de memória.

A Inovação material decisiva foi a minúscula carolíngia. Antes dela os manuscritos não tinham minúsculas, pontuação ou espaços em branco entre as palavras. A minúscula carolíngia, com sua “lucidez e sua graça insuperável, apresentou a literatura clássica num modo que todos podiam ler com facilidade e prazer” (p. 14). O medievalista Philippe Wolff equipara este desenvolvimento à invenção da imprensa.

O fácil acesso ao latim abriu as portas ao conhecimento dos Padres da Igreja e dos clássicos greco-romanos. Pois é mito falso que os grandes autores da Antiguidade só vieram a ser resgatados pela Renascença, época histórica que iniciou o multissecular processo revolucionário que em nossos dias atingiu um clímax. Lord Kenneth Clark mostrou que “só três ou quatro manuscritos antigos de autores latinos existem ainda; todo nosso conhecimento da literatura antiga se deve à coleta e cópia que começou sob Carlos Magno, e quase todo texto clássico que sobreviveu até o século VIII sobrevive até hoje!” (p. 17).

Alcuíno traduziu essa apetência colectiva em carta a Carlos Magno: “Uma nova Atenas será criada na França por nós. Uma Atenas mais bela do que a antiga, enobrecida pelos ensinamentos de Cristo, superará a sabedoria da Academia. Os antigos só têm as disciplinas de Platão como mestre, e eles ainda resplandecem inspirados pelas sete artes liberais, mas os nossos serão mais do que enriquecidos sete vezes com a plenitude do Espírito Santo e deixarão na sombra toda a dignidade da sabedoria mundana dos antigos” (p. 19). São João Crisóstomo narra que o povo de Antioquia enviava os filhos para serem educados pelos monges. São Bento instruiu filhos da nobreza romana. São Bonifácio e Santo Agostinho ordenaram a seus religiosos criar
estabelecimentos de ensino por toda parte.

São Patrício desenvolveu a alfabetização na Irlanda. Concílios locais, como o sínodo de Baviera (798) e os concílios de Châlons (813) e Aix (816), ordenaram que se fundassem casas de ensino. Theodulfo, bispo de Orleans e abade de Fleury, exortava: “Em aldeias e cidades, os sacerdotes devem abrir escolas. [...] Que não peçam pagamento; e se recebem algo, que sejam somente pequenos presentes oferecidos pelos pais” (p. 20). Que diferença a com a nossa época, em que frequentemente a educação pública é calamitosa e a educação privada é cara! Do caos à civilização: obra beneditina

No Oriente houve santos ermitões que poucas vezes comiam ou dormiam, outros ficavam em pé sem movimento semanas a fio, ou encerravam-se em túmulos durante anos. São vocações especiais. No Ocidente, o monaquismo foi estruturado por São Bento de Núrsia. Sua regra é de uma moderação e de um senso da ordem admiráveis. Os monges tinham devoção pelos livros e embelezavam os manuscritos, especialmente as Escrituras, com artísticas iluminuras. São Bento Biscop, fundador do mosteiro de Wearmouth (Inglaterra), mandava trazer livros de toda parte. São Maïeul, abade de Cluny (na França), viajava sempre com um livro à mão. São Hugo de Lincoln, prior de Witham, primeira cartuxa na Inglaterra, explicou: “Nossos livros são nossa delícia e nossa riqueza em tempos de paz, nossas armas ofensivas e defensivas em tempo de guerra, nosso alimento quando temos fome, e nosso medicamento quando estamos doentes” (p. 43).

Criação das universidades na época medieval

Muitos ainda repetem o velho “chavão” de que a Idade Média foi uma época de trevas, ignorância, superstição e repressão intelectual. Mas não é preciso ir muito longe para provar o contrário. Basta considerar uma das máximas realizações medievais: as universidades [foto 1]. Aliás, foi um aporte exclusivo à História. Nem Grécia ou Roma conheceram algo parecido.A Cátedra de Pedro foi a maior e mais decidida protectora das universidades. O diploma de mestre, outorgado por universidades como as de Bolonha, Oxford e Paris, dava direito a ensinar em todo o mundo. A
primeira que ganhou este poder foi a de Toulouse, na França, das mãos do Papa Gregório IX, em 1233.

A Igreja protegeu os universitários com os benefícios do clero. Os estudantes da Sorbonne dispunham de um tribunal especial para ouvir suas causas. Na bula Parens Scientiarum, Gregório IX confirmou à Universidade de Paris o direito a um governo autónomo e a fixar suas próprias regras, cursos e estudos. Também a emancipou da tutela dos bispos e ratificou o direito à cessatio — a greve das aulas — se os seus membros fossem objecto de abusos, como alugueis extorsivos, injúrias, mutilação e prisão ilegal. Os Papas intervinham com força, a fim de que os professores fossem pagos dignamente.

Completados os estudos, o novo mestre era oficialmente investido. Em Paris, isso ocorria na igreja de Santa Genoveva, padroeira da cidade. O novo mestre ajoelhava-se diante do vice-chanceler da Universidade, que pronunciava esta bela fórmula: “Eu, pela autoridade com que fui revestido
pelos Apóstolos Pedro e Paulo, vos concedo a licença de ensinar, comentar, disputar, determinar e exercer outros actos magisteriais seja na Faculdade de Artes de Paris, seja em qualquer outra parte, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amem” (p. 56).

Como a Igreja Católica Construi a Civilização Ocidental III
Fonte:http://catolicismo.wordpress.com/2008/05/08/sem-a-igreja-catlica-no-haveria-civilizao-ocidental-nova-corrente-de-historiadores-rejeitam-os-mitos-anticatlicos-e-antimedievais/

(Continuação)

Os mosteiros levaram a agricultura a patamar nunca visto

Para Henry Goddell, presidente do Massachusetts Agricultural College, os monges salvaram a agricultura durante 1.500 anos. Eles procuravam locais
longínquos e inacessíveis para viver na solidão. Lá, secavam brejos e limpavam florestas, de maneira que a área ficava apta a ser habitada.

Novas cidades nasciam em volta dos conventos.

O terreno em torno da abadia de Thorney, na Inglaterra, era um labirinto de córregos escuros, charcos largos, pântanos que transbordavam periodicamente, árvores caídas, áreas vegetais podres, infestados de animais perigosos e nuvens de insectos. A natureza abandonada a si própria, sem a mão ordenadora e protectora do homem, encontrava-se no caos. Cinco séculos depois, William de Malmesbury (1096-1143) descreveu assim o mesmo local:

“É uma figura do Paraíso, onde o requinte e a pureza do Céu parecem já se reflectir. [...] Nenhuma polegada de terra, até onde o olho alcança, permanece inculta. A terra é ocultada pelas árvores frutíferas; as vinhas se estendem sobre a terra ou se apoiam em treliças. A natureza e a arte rivalizam uma com a outra, uma fornecendo tudo o que a outra não produz. Oh profunda e prazenteira solidão! Foste dada por Deus aos monges para que sua vida mortal possa levá-los diariamente mais perto do Céu!” (p. 31).

Mais tarde o protestantismo reduziu Thorney a ruínas, mas estas ainda emocionam os turistas. Aonde chegavam, os monges introduziam grãos, indústrias, métodos de produção que o povo nunca tinha visto [foto 2]. Seleccionavam raças de animais e sementes, faziam cerveja, colhiam mel e frutos. Na Suécia, criaram o comércio de milho; em Parma, o fabrico de queijo; na Irlanda, criações de salmão; por toda parte plantavam os melhores vinhedos. Até descobriram a champagne! Represavam a água para os dias de seca. Os mosteiros de Saint-Laurent e Saint-Martin canalizavam água destinada a Paris. Na Lombardia, ensinaram aos camponeses a irrigação que os fez tão ricos. Cada mosteiro foi uma escola para explorar os recursos da região. Seria muito difícil encontrar um grupo, em qualquer parte do mundo, cujas contribuições tivessem sido tão variadas, tão significativas e tão indispensáveis como a dos monges do Ocidente na época de miséria e desespero que se seguiu à queda do Império Romano. Quem mais na História pode ostentar semelhante feito? –– pergunta Woods(p. 45).

Dignificação do trabalho manual

Disseminou-se que as escolas socialistas do século XIX recuperaram a dignidade do trabalho manual. Nada mais falso. No paganismo, os bárbaros viviam da caça e do saque; o trabalho braçal era próprio dos escravos. Quando o Império Romano ruiu, tornaram-se indispensáveis actividades de sobrevivência, sempre menosprezadas. E eis que os monges aparecem, ante as multidões miseráveis, como semi-deuses que habitam em admiráveis abadias devotadas ao esplendor do culto, e que após um simples bater do sino descem aos pântanos, desertos ou florestas para abrir roças com seus
braços!

Quando os monges deixavam suas celas para cavar valetas e arar campos, “o feito era mágico. Os homens voltavam para uma nobre porém desprezada tarefa”. São Gregório Magno (590-604) refere-se ao abade Equitius, do século VI, famoso pela sua eloquência. Um enviado papal foi procurá-lo e se apresentou no scriptorium onde imaginava encontrá-lo entre os copistas. Os calígrafos simplesmente disseram: “Ele está lá embaixo no vale, cortando a cerca”.

Inventores de tecnologias logo comunicadas a todos

Os cistercienses ficaram famosos pela sua sofisticação tecnológica. Uma grande rede de comunicações ligava os mosteiros, e entre eles as informações circulavam rapidamente. Isso explica que equipamentos similares aparecessem simultaneamente em abadias, por vezes a milhares de milhas umas das outras. No século XII o mosteiro de Clairvaux, na França, copiou 742 vezes um relatório sobre o aproveitamento da energia hidráulica, para que chegasse a todas as casas cistercienses do Velho Continente.

Eis uma significativa carta da época: “Entrando na abadia sob o muro de clausura, que como um porteiro a deixa passar, a correnteza se joga impetuosamente no moinho, onde um jogo de movimentos a multiplica antes de moer o trigo sob o peso de moendas de pedra; depois o sacode para separar a farinha do joio. Assim que chega no próximo prédio, a água que enche as bacias se rende às chamas, que a esquentam para preparar cerveja para os monges”. O relato continua expondo a lavagem mecânica da lã, a tintura dos panos e o tingimento dos couros (p. 34-35). Todos os mosteiros dos cistercienses tinham uma fábrica modelo, com freqüência tão grande quanto a igreja. Eles foram os líderes da produção de aço na Champagne. Usavam resíduos dos fornos como fertilizantes, pela concentração de fosfatos. Jean Gimpel alude a uma autêntica revolução industrial na Idade Média, pois esta “introduziu a maquinaria na Europa numa medida que nenhuma civilização previamente conheceu” (p. 35).

E Woods completa: “Esses mosteiros foram as unidades económicas mais produtivas que jamais existiram na Europa, e talvez no mundo, até aquela época” (p. 33). Stark cita a admiração dos viajantes vendo os quase dois mil moinhos que realizavam toda espécie de tarefas nas margens do Sena, nas proximidades de Paris.

Descobertas grandes e surpreendentes

No início do século VII, o monge Eilmer voou mais de 180 metros com uma espécie de asa delta. Posteriormente o padre jesuíta Francesco Lana-Terzi estudou o vôo de modo sistemático e descreveu a geometria e a física de uma nave voadora. Os monges eram habilidosos relojoeiros. O primeiro relógio mecânico de que se tem registo foi feito pelo futuro papa Silvestre II para a cidade de Magdeburg, na Alemanha por volta do ano 996. No século XIV, Peter Lightfoot, monge de Glastonbury, construiu um dos mais antigos relógios ainda existentes. Richard de Wallingfor, abade de Saint Albans, além de ser um dos iniciadores da trigonometria, desenhou um grande relógio astronómico para o mosteiro, que predizia com precisão os eclipses lunares. Relógios comparáveis só apareceriam dois séculos depois.

Gerry McDonnell, arqueometalurgista da Universidade de Bradford, na Inglaterra, encontrou nas ruínas da abadia de Rievaulx, as provas de um grau de avanço tecnológico capaz de produzir as grandes máquinas do século XVIII. Os religiosos medievais tinham conseguido fornos capazes de produzir aço de alta resistência. Rievaulx foi fechada por Henrique VIII em 1530, e por isso o aproveitamento dessas descobertas ficou atrasado de dois séculos e meio.

Em Arbroath (Escócia) os abades instalaram um sino flutuante num recife perigoso, que as ondas agitadas faziam soar para alertar os navegantes. O
recife ficou conhecido como “Bell Rock” (Recife do Sino), e hoje um farol e um museu lembram o fato. Por toda parte os frades construíam ou reparavam pontes, estradas e outras obras indispensáveis para a infra-estrutura medieval. E isto sem nenhuma despesa para o erário público.

Sem a Igreja, não teria havido ciências sistemáticas e dinâmicas

A alegada hostilidade da Igreja Católica à ciência não resiste a qualquer análise. A verdade é que, sem a Igreja, não teria havido ciências sistemáticas e dinâmicas, diz Woods.

De fato, a ideia de um mundo ordenado, racional — indispensável para o progresso da ciência — está ausente nas civilizações pagãs. Árabes, babilónios, chineses, egípcios, gregos, indianos e maias não geraram a ciência, porque não acreditavam num Deus transcendente que ordenou a criação com leis físicas coerentes.

Os caldeus acumularam dados astronómicos e desenvolveram rudimentos da álgebra, mas jamais constituíram algo que se pudesse chamar de ciência. Os chineses “nunca formaram o conceito de um celeste legislador que impôs leis à natureza inanimada” (p. 78). Resultado: descobriram a bússola, mas não sabiam para o que servia e a usavam em adivinhações.

A Grécia antiga confundia os elementos com deuses perversos e caprichosos. O Islã recusava a existência de leis físicas invariáveis, porque coarctariam a vontade absoluta de Alá (p. 79). Essas crendices todas tornam impossível a ciência (p. 77).

O historiador da ciência Edward Grant indaga: “O que tornou possível à civilização ocidental desenvolver a ciência e as ciências sociais, de uma maneira que nenhuma outra civilização o fizera anteriormente? A resposta, estou convencido, encontra-se num espírito de investigação generalizado e
profundamente estabelecido como consequência da ênfase na razão, que começou na Idade Média” (p. 66).

A Igreja inspirou os códigos de leis e o Direito Internacional

Segundo o professor de Direito Harold Berman, os modernos sistemas legais “são um resíduo secular de atitudes e posições religiosas, que têm sua primeira expressão na liturgia, ritos e doutrinas da Igreja, e só depois nas instituições, conceitos e valores da Lei” (p. 187).

A Igreja restaurou o direito dos romanos, aportando uma contribuição própria inapreciável. O Papa Gelásio definiu os limites da ordem temporal e espiritual. O primeiro corpo sistemático de leis foi o Código Canônico. O conceito de direitos individuais, que se atribui erroneamente aos pensadores liberais dos séculos XVII e XVIII, de fato deriva de Papas, professores universitários, canonistas e filósofos católicos medievais.

Deve-se também à Igreja o Direito Internacional. Pela influência d’Ela, os processos jurídicos e os conceitos legais substituíram os juízos dos germanos baseados na superstição.

A Revolução igualitária, que se iniciou no século XV, gerou pensadores como o filósofo britânico do século XVII Thomas Hobbes, para quem a sociedade humana é impossível sem uma espécie de despotismo. Para ele, o soberano deveria definir o que é verdadeiro e o que é errado, isto é, agir de um modo iluminado e arbitrário.

Os escolásticos fundaram a economia científica

Um dado muito pouco conhecido é que a Igreja inspirou o pensamento económico. Joseph Schumpeter, em sua History of Economic Analysis (1954), disse dos escolásticos: “Foram eles os que chegaram, mais perto do que qualquer outro grupo, a serem os ‘fundadores’ da economia científica” (p. 153).

Jean Buridan (1300-1358), reitor da Universidade de Paris, deu importantes contribuições à moderna teoria da moeda. Nicolas Oresme (1325-1382), aluno de Buridan e padre fundador da economia monetária, estudou com prioridade os efeitos destrutivos da inflação (p. 155). Martín de Azpilcueta (1493-1586), escolástico tardio, escreveu sobre a carestia provocada pelo aumento de meio circulante. O Cardeal Caietano (1468-1534) justificou moralmente o comércio internacional e mostrou como a expectativa sobre o valor futuro da moeda afecta o presente do mercado (pp. 157-158). Para Murray Rothbard, “o Cardeal Caietano, um príncipe da Igreja do século XVI, pode ser considerado o fundador da teoria da expectativa em economia” (p. 158).

O franciscano Jean Olivi (1248-1298) foi o primeiro a propor uma teoria do valor subjectivo, e mostrou que o “justo preço” emerge da interacção entre compradores e vendedores no mercado. Um século e meio depois, São Bernardino de Siena, o maior pensador económico da Idade Média, consagrou esta teoria (p. 158).

A caridade cristã exorcizou a brutalidade pagã

W. E. H. Lecky destaca que nem na prática nem na teoria a caridade ocupou na Antiguidade uma posição comparável à que teve no Cristianismo. O historiador da medicina Fielding Garrison mostra que antes de Cristo “a atitude face à doença e à desgraça não era de compaixão. O crédito de cuidar dos seres humanos enfermos em grande escala deve ser atribuído à Igreja” (p. 176).

Os cristãos causavam admiração pela coragem com que atendiam os agonizantes e enterravam os mortos. Os pagãos abandonavam em ruas e estradas os parentes e melhores amigos doentes, semi-mortos, ou mortos sem enterrar.

Santo Agostinho fundou uma hospedaria para peregrinos, resgatou escravos, deu roupa aos pobres. São João Crisóstomo fundou hospitais em Constantinopla. São Cipriano e Santo Efrém organizaram os auxílios durante epidemias e fomes.

O rei de França São Luís IX dizia que os mosteiros eram o “património dos pobres”. Eles davam diariamente esmolas aos carentes. Por vezes, míseros seres humanos passavam a vida dependendo da caridade monástica ou episcopal. Também distribuíam alimentos aos pobres em sufrágio da alma de um religioso falecido, durante trinta dias no caso de um simples monge, e durante um ano no caso de um abade. E, às vezes, perpetuamente.

Os hospitais, esses desconhecidos pelos não católicos. As ordens militares, fundadas durante as Cruzadas, criaram hospitais por toda a Europa. A Ordem dos Cavaleiros de São João (ou Hospitalários, que deu origem à Ordem de Malta) criou um hospital em Jerusalém por volta de 1113. João de Würzburg, sacerdote alemão, ficou pasmo com o que viu ali. “A casa — escreveu ele — alimenta tantos indivíduos fora dela quanto dentro, e dá um tão grande número de esmolas aos pobres, seja os que chegam até a porta, seja os que ficam do lado de fora, que certamente o total das despesas não pode ser contado, nem sequer pelos administradores e dispensários da casa”. Teodorico de Würzburg, outro peregrino alemão, maravilhou-se porque “indo através do palácio, nós não podemos de maneira alguma fazer uma ideia do número de pessoas que ali se recuperam. Nós vimos um milhar de leitos. Nenhum rei, ou nenhum tirano, seria suficientemente poderoso para manter diariamente o grande número de pessoas alimentadas nessa casa” (p. 178).

Raymond du Puy, prior dos Cavaleiros Hospitalários, incitou os monges-guerreiros a fazerem sacrifícios heróicos por “nossos senhores, os pobres”. “Quando os pobres chegam — diz o artigo 16 do decreto de du Puy devem ser assim acolhidos: que recebam o Santo Sacramento, após terem primeiro confessado seus pecados ao sacerdote, e depois sejam levados à cama, como se fosse um Senhor”. O decreto de du Puy virou um marco no desenvolvimento dos hospitais (p. 178-179).

A caridade foi uma das características da Idade Média

O Hospital de Jerusalém inspirou uma rede de hospitais similares na Europa No século XII eles pareciam mais com hospitais modernos do que com os antigos hospícios. O de São João de Jerusalém impressionava pelo profissionalismo, organização e disciplina. Cada dia o doente devia ser visitado duas vezes pelos médicos, ser lavado e tomar duas refeições. Os responsáveis não podiam comer antes que os pacientes. Uma equipe de mulheres cumpria outras tarefas e garantia vestimentas e roupa de cama limpas.

O protestante Henrique VIII fechou os mosteiros e confiscou suas propriedades, na Inglaterra, sob a falsa acusação de que eram fonte de escândalo e imoralidade. Desapareceu então a caridade para com os necessitados. A redistribuição das terras abaciais trouxe “a ruína para incontáveis milhares dos mais pobres dos camponeses; a quebra de pequenas comunidades, que eram o seu mundo, e a verdadeira miséria passou a ser seu futuro” (p. 182). O desespero popular atiçou os motins populares de 1536 (p. 181).

Idêntico ou pior mal fez a Revolução Francesa. Em 1789, o governo revolucionário confiscou as propriedades da Igreja. Em 1847, mais de meio século depois, a França tinha 47% a menos de hospitais do que no ano do confisco (p. 185-186).

Pela regra de São Bento, os frades deviam dar esmolas e hospitalidade ao necessitado, como se este fosse um outro Cristo. Por isso os mosteiros serviam de hospedagens gratuitas, seguras e tranquilas para viajantes, peregrinos e pobres.

Não somente recebiam a todos, mas em alguns casos iam à sua procura. O hospital monástico de Aubrac tocava um sino especial à noite, para orientar os viajantes perdidos no bosque. A cidade de Copenhague, na Dinamarca, nasceu em torno de um mosteiro estabelecido pelo bispo Absalon, para socorrer os náufragos.

A Igreja enxotou os costumes depravados e criminosos

Os padrões de moralidade foram modelados pela Igreja Católica. Platão ensinava que um doente, ou um incapacitado de trabalhar, devia ser morto. Na Roma antiga havia 30% mais de homens do que de mulheres. As meninas e os varões deformados eram simplesmente abandonados. Os estóicos favoreceram o suicídio para fugir da dor ou de frustrações emocionais. Os romanos afundaram tanto na sensualidade, que até perderam o culto da deusa Castidade. Ovídio, Catulo, Marcial e Suetônio contam que as práticas sexuais do seu tempo eram perversas e até sádicas. Segundo Tácito, no século II uma mulher casta era fenómeno raro. Enfim, reinavam os torpes vícios em que hoje vai recaindo o mundo neopagão que apostatou da Cristandade.

A Igreja restaurou a dignidade do matrimonio e gerou um fato desconhecido pelos pagãos: suscitou mulheres capazes de tocar suas próprias escolas, conventos, colégios, hospitais e orfanatos.

A Igreja definiu e delimitou a guerra justa. Nem Platão nem Aristóteles fizeram qualquer coisa de comparável. Em sentido contrário, o espírito moderno antimedieval teve um mestre em Nicolò Machiavello. Ele postulou que a política é um jogo cínico, onde “a remoção de um peão político, embora envolva cinqüenta mil homens, não é mais perturbadora que a remoção de uma peça de xadrez do tabuleiro” (p. 211).

O papel da Igreja na construção da civilização Woods conclui: “A Igreja não apenas contribuiu para a civilização ocidental, mas Ela construiu essa civilização” (p. 219). “Pensamento económico, lei internacional, ciência, vida universitária, caridade, idéias religiosas, arte, moralidade — estes são os verdadeiros fundamentos de uma civilização, e no Ocidente cada um deles emergiu do coração da Igreja Católica” (p. 221).

Woods constata que as escolas revolucionárias, que dizem ser a fonte da civilização, na realidade trabalharam pela sua demolição. As escolas literárias revolucionárias conceberam enredos bizarros que reflectem um universo anárquico e irracional. Na música, o mesmo espírito anticristão criou ritmos caóticos como os de Igor Stravinsky. Na arquitectura produziu a degeneração, hoje evidente, em edifícios destinados a serem igrejas progressistas. Em filosofia, caiu-se a ponto de o existencialismo propor que o universo é absurdo, que a vida carece de significado e que a única razão de viver é enfrentar o vácuo (p. 222-223).

Notas:
1. Rodney Stark, The Victory of Reason — How Christianity Led to Freedom, Capitalism and Western Sucess, Random House, 2005, 281 pp.2. Stark, op. cit., p. 7.
3. Thomas E. Woods, Jr. Ph. D., How the Catholic Church built Western Civilization, Regnery Publishing Inc., Washington D. C., 2005, 280 pp. As citações deste artigo são deste livro, salvo indicação em contrário.

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