terça-feira, 11 de janeiro de 2011

ÁFRICA/SUDÃO - A Independência do Sul do Sudão cria um risco: o drama de milhões de deslocados do norte - denuncia um Bispo sudanês

Cartum (Agência Fides) - “Depois da euforia da independência, será preciso fazer as contas com a dura realidade dos milhares de sudaneses do sul que retornaram ao sul e não possuem nada. Não existem escolas, hospitais e nem casas, e falta até mesmo água potável” – diz à Fides Dom Macram Max Gassis, Bispo de El Obeid. O Sul do Sudão votará no dia 9 de janeiro em um referendo para a independência, um resultado que de acordo com as previsões, é quase certo. “O movimento de regresso já começou há tempos” – explica Dom Gassis. “Duas semanas atrás, estive na região de Twic, no Norte Bahr El Ghazal, para onde, segundo me informaram as autoridades locais, já retornaram 50 mil sudaneses do sul. Estas pessoas são descarregadas de caminhões no meio do nada. Não têm nem mesmo um local decente para dormir. Existe apenas um ponto de distribuição de água; não há mosqueteiras, alimentos e medicamentos”. “Imagine que apenas na área de Cartum, capital do atual Sudão unitário, há cerca de 4 milhões de sudaneses do sul que podem retornar à sua região. Estamos diante de uma potencial tragédia humanitária” – acrescenta do Bispo de El Obeid.
O referendo está previsto no Acordo Inclusivo de Paz (CPI) assinado em Nairóbi (Quênia) em 2005 pelo governo central sudanês e pelo Movimento de Libertação do Povo Sudanês (SPLM), que colocou fim a uma guerra de mais de 20 anos”. “O êxito do referendo é quase certo, porque o governo de Cartum não fez nada para explicar a alternativa de manter o Sul do Sudão no contexto do Sudão unitário mas em um regime de autonomia. O CPI estabeleceu um prazo de 5 anos antes do referendo justamente para permitir que o governo central adotasse uma política para convencer os povos do sul a manter o Estado unitário. Não foi adotada alguma política para reconhecer as exigências dos vários povos que compõem este País, onde vivem várias confissões religiosas, e continua-se a insistir na aplicação da Xariá” – diz Dom Gassis. Dom Gassis se diz preocupado pelo futuro da Igreja no norte do Sudão, em caso de secessão: “O que será da Igreja do norte uma vez que o Sudão for dividido em um Estado animista e cristão e um Estado setentrional, de maioria islâmica? Temo que os católicos que permanecerem aqui, assim como os coptas ortodoxos, corram o risco de serem “protegidos” – segundo a interpretação mais rigorosa da Xariá – e por conseguinte, possam ser tratados como cidadãos de segunda categoria, ou pior ainda, serem vítimas de perseguições reais” – conclui o Bispo de El Obeid. (L.M.) (8/1/2011)

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