sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Uma perspectiva católica sobre a Escola de Frankfurt

(O texto que se segue é uma análise razoavelmente conseguida, a partir de uma perspectiva católica tradicionalista, da estratégia de subversão das sociedades ocidentais levada a cabo pela Escola de Frankfurt (grande referência de partidos como o Bloco de Esquerda), instituição neomarxista e marcadamente judaica que, tendo despontado na Alemanha, acabou por se “deslocar” para os EUA.)

(…) Ainda que o comunismo bolchevique tenha caído, o comunismo mantém uma vigência histórica, debaixo de formas classificadas como neomarxismo, neocomunismo ou neosocialismo. Mas também poderíamos falar do neoconservadorismo ou do neoliberalismo. Seria a mixórdia em que se movem todos os que se desenvolvem no âmbito democrático, uma ideologia comum que vai para além da aparente divisão entre direitas e esquerdas. Hoje, mais que nunca, aparece recomposta a unidade dos vencedores da segunda guerra mundial, rompida temporal e ilusoriamente durante os anos da guerra-fria.
Como consequência dessa adaptação à realidade, o modelo de insurreição bolchevique foi descartado, para definir e assumir um modelo diferente, mais complexo e mais profundo, pois compromete orgânica e integralmente as consciências das pessoas. De facto, a estratégia de acção politica directa deu lugar a uma estratégia de acção cultural indirecta, baseada num modelo de transformação das mentalidades.
Foi o próprio Karl Marx quem estabeleceu o princípio materialista dialéctico segundo o qual a infraestrutura (economia/matéria) determina a superestrutura (cultura/espírito), razão pela qual a revolução devia ser realizada pelo proletariado contra a burguesia, isto é, de baixo para cima. No afã de realizar a revolução mundial, e observando as dificuldades que enfrentou o processo revolucionário na Rússia, António Gramsci, Secretário Geral do Partido Comunista italiano (1891-1937), aprofundou o princípio do materialismo dialéctico e adaptou o comunismo à realidade da sociedade Ocidental.
A estratégia gramsciana
Gramsci desenvolveu então o conceito de hegemonia ideológica consignando que o movimento entre infraestrutura e superestrutura é de carácter dialéctico. Ou seja, que se a infraestrutura material determina a superestrutura ideológica, política, cultural e moral, esta superestrutura, por sua vez, pode ter vida própria e actuar sobre a infraestrutura.
Partindo de tal premissa estabeleceu um modelo revolucionário segundo o qual a hegemonia cultural é a base da revolução comunista, significando com isso que esta depende da capacidade que as forças revolucionárias adquiram para controlar os meios que permitem dirigir a consciência e a conduta social. Uma revolução assim entendida consiste em modificar de maneira imperceptível o modo de pensar e sentir das pessoas para, por extensão, terminar por modificar decisiva e totalmente o sistema social e político.
A estratégia gramsciana estava desenhada do seguinte modo:
1.Para impor uma transformação ideológica era necessário começar por lograr a modificação do modo de pensar da sociedade civil através de pequenas transformações realizadas ao tempo no campo da cultura. Havia que construir um novo pensamento, entendido como o modo comum de pensar que historicamente prevalece entre os membros da sociedade. Para Gramsci isto era mais importante e prioritário do que alcançar o domínio da sociedade política (conjunto de organismos que exercem o poder desde os campos jurídico, político e militar.
2.Para lograr este objectivo era necessário apoderar-se dos organismos e instituições donde se difundem os valores e parâmetros culturais: meios de comunicação, universidades, escolas…depois de cumprido este processo a conquista do poder político cairia pelo seu próprio peso, sem revoluções armadas, sem resistências nem contra-revoluções, sem necessidade de impor a nova ordem pela força, já que esta teria consenso geral.
Um modelo histórico de actuação de acordo com estes princípios seria a mentalidade iluminista que preparou o terreno para o que logo seria a Revolução Francesa e o liberalismo, estendido por toda a Europa e América graças à mudança de pensamento hegemónico promovido desde o século anterior.
3.Para ter êxito havia que superar dois obstáculos: A Igreja Católica e a família.
A Escola de Frankfurt
A estratégia determinada por Gramsci foi projectada pela chamada Escola de Frankfurt, originalmente fundada em 1923 como Instituto para o Novo Marxismo e rapidamente denominado Instituto para a Investigação Social, para encobrir o seu objectivo sentido político.
Através de autores como Georges Lukács, Max Horkheimer, Theodor Adorno, Wilhelm Reich, Erich Fromm, Jean Paul Sartre, Herbert Marcuse, Jürgen Habermas, etc., formula-se a doutrina do neomarxismo e a partir dele a esquerda elabora um programa concreto de acção estruturalista que logra uma decisiva influência em distintos campos do pensamento, na psicologia (Lacan), na educação (Piaget) e na etnologia (Levi Strauss), entre outros.
O neomarxismo regressa à Europa
Foram basicamente estas elaborações ideológicas que activaram e sustentaram o processo revolucionário dos anos 60 do século XX, sendo particularmente eficientes entre os estudantes das universidades de França e Alemanha. Ainda assim, estas ideias também seriam a base tanto do chamado eurocomunismo como do neosocialismo desenvolvido em distintas latitudes durantes os anos 80 e 90.
Estas raízes norte-americanas da actual esquerda europeia foram expostas detalhadamente por Paul Edward Gottfried (The Strange Death of Marxism) e é uma das circunstâncias que explicam a escassa repercussão que teve a queda da União soviética nos comunistas e nos socialistas: ideologicamente estavam mais vinculados aos EUA do que à URSS e, provavelmente, um regime «duro» que se apresentava como paradigma da ortodoxia comunista resultava para eles mais como um obstáculo do que uma referência.
Componentes da mentalidade e da estratégia neomarxista
O princípio constitutivo desta crença radica num materialismo que nega a existência de um princípio anterior e superior ao homem. Nega-se explicitamente a existência de um Deus criador, a existência da alma humana e, portanto, de toda a essência e toda a transcendência do ser. Impõe-se um sistema teórico multiculturalista baseado no relativismo absoluto, o qual implica a negação da existência de verdades de validade universal.
Assumindo tais premissas, como se manifesta concretamente este novo tipo de acção revolucionária?
A aplicação deste sistema procura gerar um ânimo hostil contra todo o tipo de autoridade, contra toda a forma de hierarquia e ordem, seja no terreno religioso ou no civil. A autoridade degrada-se sistematicamente na Igreja, no Estado, na família ou no ensino. Esta quebra da ordem natural conduz a uma completa perda de princípios e uma radical decadência moral. Desencadeiam-se as paixões nas crianças e adolescentes através de uma educação estatal ou dos meios de comunicação que criam um ambiente de impureza omnipresente. A fim de romper a estrutura do sistema social, introduz-se um igualitarismo radical projectado na ideologia de género que proclama a superação do actual modelo de sociedade mediante a transformação da diferenciação sexual em meras categorias culturais e, por conseguinte, opcionais e elegíveis.
Uma vez destruído o universo de valores até então vigentes, o seu lugar foi ocupado por uma nova hegemonia: a dessa mentalidade, hoje dominante, substrato permanente de uma prática política que é, ao mesmo tempo, a consequência e o principal motor do processo.
Ao serviço desta estratégia colocam-se meios tão dispares como a democracia, a demolição do Estado nacional, a imigração, a infiltração e auto-demolição da Igreja, a memória histórica, a educação para a cidadania ou a cultura da dependência promovida por uma gestão económica dos recursos dirigida pelo Estado.
Há alternativa?
Sim, existe, mas só será possível na medida em que tenha lugar a recuperação da hegemonia na sociedade civil. Algo que implica a luta pela Verdade, que não se impõe por si mesma, e a capacidade de gerar instrumentos coercivos que, ao abrigo da lei, actuem como travão das tendências desagregadoras.
Ángel David Martín Rubio, Altar Mayor, nº118, Janeiro de 2008

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