sexta-feira, 11 de março de 2011

Arábia Saudita, a fronteira! Aí o mundo treme

A Arábia Saudita regula o fluxo de petróleo do mundo. Pouco importa a natureza e a origem das crises, o país atende aos apelos do Ocidente — leia-se: Estados Unidos — e, em caso de aperto, aumenta a sua produção. A monarquia absolutista vigente no país constitui um dos regimes mais fechados do planeta. Pois é… Ecos da chamada revolta árabe parecem ter chegado por lá, mas, por enquanto, com uma característica particular, que também marca os protestos do Bahrein: trata-se de uma manifestação de xiitas contra o governo sunita. A diferença é que, nas ilhotas do Bahrein, que mal se vêem no mapa abaixo (procurem a capital, Manama, para localizar o país), os xiitas são maioria; na Arábia Saudita, minoria.
arabia-sauditaO mapa acima evidencia que os protestos já chegaram bem perto: já explodiram nos fronteiriços Iêmen, onde o governo está cai-não cai, e em Omã. O Catar, ali do ladinho, sede da Al Jazeera, continua a ser uma ditadura de pessoas muito satisfeitas com o regime… Abaixo, há um texto do Reuters sobre os protestos desta quinta, que mexerem com o humor dos mercados mundo afora, com ecos até no Brasil. Inicialmente, a informação era de que as forças de segurança haviam aberto fogo contra a população. Depois se viu que não era bem isso. A informação fazia parte do clamor revolucionário.
Se a convulsão chegar à Arábia Saudita, bem…,  a história cobrará a presença de um estadista na Casa Branca… Aí é que a porca vai torcer o rabo. Sauditas prometem um protesto para valer nesta sexta. Leiam texto da Reuters.
Por Ulf Laessing e Cynthia Johnston:
A polícia saudita fez na quinta-feira disparos para o ar a fim de dispersar um protesto xiita, e três pessoas ficaram feridas no incidente, segundo testemunhas e ativistas, na véspera de um dia de manifestações convocadas por redes sociais no país. Tiros foram ouvidos perto do local do protesto, que reuniu cerca de 200 xiitas na cidade de Qatif, na Província Oriental, onde ficam alguns dos maiores campos petrolíferos do mundo, e onde existe uma importante minoria xiita. “Houve tiros, mas foram esporádicos”, disse uma testemunha, acrescentando que outros ruídos eram de bombas de efeito moral.
Um porta-voz do Ministério do Interior saudita disse que a polícia disparou para o alto depois de a multidão ter atacado um policial que documentava o protesto. As autoridades relataram que dois manifestantes e um policial ficaram feridos. Temendo que a onda de protestos do mundo árabe chegue ao país, a monarquia absolutista sunita proíbe qualquer manifestação, argumentando que elas são contra a religião islâmica. Testemunhas deram relatos conflitantes sobre se a polícia usou balas de borracha ou munição real. Um participante do protesto disse que um ativista foi atingido de raspão.
“Parece que eles não tinham a intenção de matar. Achamos que foi um recado não para Qatif, mas para todos os sauditas a respeito de amanhã (sexta-feira)”, acrescentou. Há cerca de três semanas os xiitas têm feito protestos limitados em Qatif e outras cidades do leste, principalmente para exigir a libertação de prisioneiros. Os ativistas disseram que algumas manifestações foram toleradas, mas outras foram dissolvidas. Não está claro, no entanto, se as manifestações terão força em Riad, uma cidade mais rica e desenvolvida, no coração sunita da Arábia conservadora.
Mais de 30 mil pessoas aderiram a uma página do Facebook convocando protestos em nível nacional. A polícia reforçou sua presença ostensiva em Riad. Uma tênue coalizão de liberais, ativistas de direitos humanos, sunitas moderados e xiitas têm reivindicado uma reforma política no reino, maior exportador mundial de petróleo. O governo diz que o país, sendo um Estado islâmico que aplica a sharia (lei religiosa), não tem necessidade de protestos ou partidos políticos. Líderes da comunidade xiita se reuniram com o rei Abdullah e o governador da Província Oriental para solicitar a libertação de 26 xiitas detidos por participar de protestos.
Os xiitas representam cerca de 15% da população e, muitas vezes, se dizem discriminados, algo que o governo nega. O governo dos EUA, importante aliado do reino, disse estar ciente da repressão aos protestos na Arábia Saudita, e reiterou o seu apoio ao direito a manifestações pacíficas. Nesta semana, o chanceler saudita, príncipe Saud al Faisal, disse que os protestos não são a maneira correta de buscar mudanças, e que a intromissão estrangeira nos assuntos de seu país não seria bem vinda.
“O princípio do diálogo, creio eu, é o melhor caminho para resolver os problemas enfrentados pela sociedade”, disse o príncipe Saud, sobrinho do rei. “A mudança virá por meio dos cidadãos deste reino, e não através dos dedos estrangeiros, nós não precisamos deles.”
Por Reinaldo Azevedo

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