quarta-feira, 16 de março de 2011

Etiópia, teatro de disputas entre cristãos e muçulmanos

ZP11031603 - 16-03-2011
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Balanço incerto de mortos, edifícios e lugares de culto cristãos em chamas

Por Paul De Maeyer
ROMA, quarta-feira, 16 de março de 2011 (ZENIT.org) - Também da Etiópia chegam notícias de uma onda de violência antirreligiosa. Segundo refere o site ‘Compass Direct News' (CDN, 7 de março), o epicentro dos duros enfrentamentos entre muçulmanos e cristãos é a cidade centro-ocidental de Asendabo, nos arredores de Gimma, na maior e mais povoada região do país do Chifre da África, Oromia.
Um balanço muito provisório fala de pelo menos dois cristãos mortos. Isso foi confirmado a ‘Voice of America' (8 de março) pelo porta-voz do governo etíope, Shimelis Kemal. Uma das vítimas seria um crente da Igreja ortodoxa etíope, cuja filha pertence à Igreja Evangélica Etíope ‘Mekane Yesus' (de tradição luterana). "É difícil fazer estimativas em termos de mortes, pois não temos acesso a nenhum site", afirmou uma fonte a ‘Compass'. Os danos materiais são enormes: dezenas de edifícios e lugares de culto cristãos - entre eles, inclusive algumas escolas bíblicas - e casas foram queimadas. A violência provocou, além disso, milhares de deslocados.
Ainda que mais da metade da população da Etiópia seja cristã (segundo o último censo, de 2007, 44% dos habitantes pertencem à Igreja Ortodoxa Etíope e 19%, às diversas denominações evangélicas e pentecostais), a região de Asendabo e Jimma é de maioria islâmica e tem sido teatro de rivalidade entre as duas comunidades. Segundo uma fonte de ‘Compass', os ataques contra as igrejas estão na pauta do dia na região de maioria muçulmana da Etiópia, como em Jimma, a região somali ao leste do país, onde rege a lei islâmica ou xaria.
A faísca que acendeu a onda de 2 de março de violência foi uma notícia - não confirmada - de uma alegada profanação do Alcorão. Um cristão teria destruído uma cópia do livro sagrado do Islã.
Segundo a informação obtida pelo ‘Compass', após os primeiros combates em Asendabo, a violência tem se espalhado como uma mancha de óleo em outros centros da região, como Chiltie, Gilgel Gibe, Busa e Koticha. Milhares de muçulmanos já atacaram dezenas de alvos cristãos. Dos 59 locais de culto destruídos e queimados pelas multidões, 38 pertencem à etíope ‘Ethiopian Kale Hiwot Church' (EKHC, o equivalente etíope à Igreja Batista), 12 à ‘Mekane Yesus' e 6 à Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Conforme relatado por ‘Compass', alguns líderes evangélicos têm relatado os eventos às autoridades, que até agora não fizeram nada para conter a onda de violência, que pode chegar a Jimma, com seus quase 160.000 habitantes - o maior centro urbano da Etiópia Ocidental. Segundo alguns relatos, as forças de segurança não teriam intervindo, apesar dos pedidos de proteção da comunidade cristã.
A inação ou incapacidade do governo etíope para acabar com a violência foi fortemente criticada pela ‘International Christian Concern' (ICC). "Os funcionários do governo etíope têm a responsabilidade de proteger seus cidadãos dos ataques. É um ultraje e uma violação da sua obrigação contemplada no direito internacional dos direitos humanos que o governo deixe os muçulmanos matarem cristãos e destruir suas propriedades", disse Jonathan Racho, diretor regional para a África, do ICC (4 de março).
O porta-voz do governo central de Addis Abeba, Shimelis, rejeitou a acusação e anunciou a ‘Voice of America', recentemente, a detenção de 130 "extremistas" suspeitos de ter fomentado o ódio religioso e a violência.
A nova onda de violência sectária coincide com combates violentos que ocorrem na fronteira entre Quênia, Etiópia e Somália, onde as forças do frágil governo de transição da Somália tentam expulsar, com o apoio ativo do exército etíope, os milicianos do movimento islamista de Al-Shabaab, da cidade de Bulahawo, nas proximidades da cidade de Mandera.
O chefe da conhecida milícia extremista, apoiada pelo Irã, xeique Omar Abdikarim Mahad, na semana passada lançou um apelo aos muçulmanos "oprimidos" no Quênia e na Etiópia a se rebelarem contra os seus governos e "libertar-se" do domínio cristão (‘Africa Review', 4 de março).
O fundamentalismo islâmico também está crescendo na Etiópia. Em 18 de novembro passado, um cristão de Moyale (cidade da região Oromia, na fronteira com o Quênia) - Tamirat Woldegorgis, membro da ‘Full Gospel Church' - foi condenado a três anos de prisão por ter profanado o Alcorão e havia sido transferido a uma prisão de Jijiga. Um colega muçulmano acusou o homem, um alfaiate de profissão, que foi preso em agosto, de ter escrito "Jesus é o Senhor" em um pedaço de pano e em um exemplar do Alcorão, denúncias nunca provadas, por outro lado, salienta ‘Compass Direct News' (29 de novembro de 2010).
Também foram condenados a pagar uma multa dois amigos de Woldegorgis, para apoiar um criminoso que havia profanado o Alcorão e insultar o Islã. O seu erro: tinham visitado o desafortunado na prisão e tinham lhe levado comida.
Também em Jijiga havia sido preso pela polícia no dia 23 de maio de 2009, um famoso convertido do islamismo para o cristianismo, Bashir Musa Ahmed, por possuir oito exemplares da Bíblia. Embora a liberdade religiosa seja garantida pela Constituição da Etiópia, e de tratar-se de uma edição da Bíblia é muito difundida na região somali do país, a acusação contra o Ahmed foi a distribuição de literatura religiosa com intenções "maliciosas" (CDN, 18 de fevereiro de 2010).
A atividade e zelo dos pregadores evangélicos parecem incomodar a comunidade não só muçulmana, mas também para a Igreja Ortodoxa local. Em 27 de janeiro de 2010, dois edifícios pertencentes, respectivamente, à ‘Brethren Church' e ‘Mekane Yesus Church', foram assaltados por grupos de fiéis ortodoxos na cidade de Olenkomi, cerca de 65 km a oeste da capital Addis Abeba, sempre na região de Oromia (CDN, 15 de abril de 2010). No ataque, um pregador, de visita no local, ficou gravemente ferido. A origem do duplo atentado foi um incêndio acidental que destruiu uma igreja ortodoxa. Também é mal visto na região o fato que muitos professores do Ensino Médio de Olenkomi sejam evangélicos.

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