Dom Fernando Arêas Rifan*
Estamos
na Quaresma, tempo de penitência e oração, cujo ponto alto é a
Semana Santa,
como preparação para a celebração da Festa da Páscoa. Na
Quaresma, no Brasil,
também se faz a Campanha da Fraternidade que, conforme explica
a mesma CNBB, é
uma campanha quaresmal, que une em si as exigências da
conversão, da oração, do
jejum e da doação, convocando os cristãos a uma maior
participação nos sofrimentos
de Cristo, vendo-o na pessoa dos pobres, que merecem nossa
ajuda.
A
Campanha da Fraternidade vem a ser, pois, um grande
instrumento para
desenvolver o espírito quaresmal, que é de conversão e
renovação interior. Ela pretende
renovar a vida da Igreja e transformar a sociedade, a partir
de temas
específicos, tratados sob a visão cristã, à luz do projeto de
Deus.
No
Credo do
Povo de Deus, Paulo VI exprimiu bem o pensamento da Igreja: “Nós
professamos
que o Reino de Deus iniciado aqui na Terra, na Igreja de Cristo,
não é deste
mundo, cuja figura passa, e que seu crescimento próprio não se
pode confundir
com o progresso da civilização..., mas consiste em conhecer cada
vez mais
profundamente as insondáveis riquezas de Cristo, em esperar cada
vez mais corajosamente
os bens eternos, em responder cada vez mais ardentemente ao
amor de Deus e
em difundir cada vez mais amplamente a graça e a santidade
entre os homens.
Mas é este mesmo amor que leva a Igreja a preocupar-se
constantemente com o
bem temporal dos homens,... suas necessidades, alegrias e
esperanças, seus
sofrimentos e seus esforços...”.
O tema da campanha
nesse ano está bem explicado na mensagem enviada à CNBB pelo
Santo Padre, o
Papa Bento XVI, que transcrevemos a seguir.
“É
com viva satisfação que venho
unir-me, uma vez mais, a toda Igreja no Brasil que se propõe
percorrer o
itinerário penitencial da quaresma, em preparação para a Páscoa
do Senhor
Jesus, no qual se insere a Campanha da Fraternidade cujo tema
neste ano é: ‘Fraternidade
e vida no Planeta’, pedindo a mudança de mentalidade e atitudes
para a
salvaguarda da criação”.
“Pensando no lema da referida
Campanha, ‘a criação geme em dores de parto’, que faz eco às
palavras de São
Paulo na sua Carta aos Romanos (8,22), podemos incluir entre os
motivos de tais
gemidos o dano provocado na criação pelo egoísmo humano.
Contudo, é igualmente
verdadeiro que a ‘criação espera ansiosamente a revelação dos
filhos de Deus’ (Rm
8,19). Assim como o pecado destrói a criação, esta é também
restaurada quando
se fazem presentes ‘os filhos de Deus’, cuidando do mundo para
que Deus seja
tudo em todos (cf. 1 Co 15, 28)”.
“O primeiro passo para uma reta
relação com o mundo que nos circunda é justamente o
reconhecimento, da parte do
homem, da sua condição de criatura: o homem não é Deus,
mas a Sua
imagem; por isso, ele deve procurar tornar-se mais sensível à
presença de Deus
naquilo que está ao seu redor: em todas as criaturas e,
especialmente, na
pessoa humana há uma certa epifania de Deus. Quem sabe
reconhecer no cosmos os
reflexos do rosto invisível do Criador, é levado a ter maior
amor pelas
criaturas. O homem só será capaz de respeitar as criaturas na
medida em que
tiver no seu espírito um sentido pleno da vida; caso contrário,
será levado a
desprezar-se a si mesmo e àquilo que o circunda, a não ter
respeito pelo
ambiente em que vive, pela criação. Por isso, a primeira
ecologia a ser defendida
é a ‘ecologia humana’. Ou seja, sem uma clara defesa
da vida humana,
desde sua concepção até a morte natural; sem uma defesa da
família baseada no
matrimônio entre um homem e uma mulher; sem uma verdadeira
defesa daqueles que
são excluídos e marginalizados pela sociedade, sem esquecer,
neste contexto,
daqueles que perderam tudo, vítimas de desastres naturais, nunca
se poderá
falar de uma autêntica defesa do meio-ambiente”.
“O dever de cuidar do
meio-ambiente é
um imperativo que nasce da consciência de que Deus confia a Sua
criação ao
homem não para que este exerça sobre ela um domínio
arbitrário, mas que
a conserve e cuide como um filho cuida da herança de seu pai, e
uma grande
herança Deus confiou aos brasileiros”.
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