As
tropas de Muamar Kadafi avançam para o Leste. Conforme o previsto, a
cidade de Ajdabiya, a 160 km de Benghazi, centro da resistência armada,
está sendo alvo de ataques aéreos. O general rebelde Mohamed Abdel-Rahim
voltou a pedir à comunidade internacional que forneça armas aos
rebeldes, o que foi descartado hoje pelo chanceler britânico, William
Hague, em entrevista à BBC. Quem não fornece armamento estaria disposto a
intervir militarmente no país?
Hillary
Clinton, secretária de Estado dos EUA, está em Paris e se encontra hoje
com líderes europeus para tratar da crise. Representantes da oposição
armada líbia estarão presentes. O governo de Nicolas Sarkozy reconhece o
Conselho de Governo Interino como o legítimo governo do país. Muito
bem! Kadafi dispõe de armas, dinheiro e tropas leais — apostava-se que
não — que lhe permitem esmagar a insurreição. Se chegar a Benghazi, a
expectativa é que haja um banho de sangue. Está ganhando terreno dia a
dia.
Volto
a indagar: que diabo de papel é este que está sendo desempenhado pelos
patetas do Ocidente? Kadafi é um facínora? Nem me digam! Há mais de 40
anos! Mas tinha sido reabilitado por esses mesmos que se apressaram em
dar apoio a um desconhecido movimento armado contra o regime. Estamos
diante de uma questão que também é de método: cabe aos governos
ocidentais, em nome da democracia — ou de algum outro valor qualquer —,
escolher com qual força armada dialogam?
O
conflito líbio, especialmente em razão do apoio nada velado dos líderes
ocidentais aos insurrectos, evoluiu vertiginosamente para uma guerra
civil. A depender dos desdobramentos, o que dirá Sarkozy? “Não falo com
vitoriosos”???
Há um
quê de surrealismo nessa coisa toda. Barack Obama, Nicolas Sarkozy e
David Cameron resolveram se colocar ao lado da arena, torcendo para um
dos contendores, insuflando-o para a batalha. Qual foi a aposta? Que a
elite militar líbia resolvesse fazer com Kadafi o que a elite militar
egípcia fez com Mubarak. Não aconteceu.
E agora? Um vagabundo como Kadafi conseguiu dar um nó nos brilhantes estrategistas das impotências ocidentais…
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