ANÁLISE ONDA DE REVOLTAS
Peso de laços familiares segue padrão similar entre rebeldes e governistas
DAVID D. KIRKPATRICK
DO "NEW YORK TIMES", EM TRÍPOLI
A pergunta paira desde o
momento em que o primeiro
comandante de tanques desertou para unir-se a seus primos que protestavam em
Benghazi: a batalha pela Líbia é o choque de um ditador
brutal contra a oposição democrática ou é, fundamentalmente, guerra civil tribal?
A resposta pode determinar tanto o rumo do levante líbio quanto os resultados da
intervenção ocidental.
Na cadeia de acontecimentos que o Ocidente preferiria ver, os ataques aéreos
permitem aos rebeldes e aos residentes do oeste unir-se sob a bandeira de uma revolução democrática que depõe Muammar Gaddafi.
Este, porém, previu o contrário: que a revolta é uma guerra tribal do leste da Líbia
contra o oeste do país e que terminará ou com sua vitória ou com caos prolongado.
Há poucas pistas sobre a natureza real dos rebeldes.
Seu conselho governante é
composto de advogados,
acadêmicos e empresários
que falam de democracia,
transparência, direitos humanos e Estado de Direito.
Mas seu compromisso com esses princípios está sendo
testado só agora, quando enfrentam o espectro de potenciais espiões de Gaddafi com
justiça tribal sumária ou processo legal mais comedido.
Como o governo Gaddafi, a operação em torno do conselho rebelde é repleta de laços
familiares. E, como os chefes
da mídia noticiosa estatal líbia, os rebeldes não sentem
lealdade à verdade quando formulam sua propaganda.
Os céticos quanto ao compromisso dos rebeldes com a
democracia apontam para a
curta e brutal história líbia.
Até Gaddafi tomar o poder, em 1969, a Líbia mal podia
ser considerada um país, dividida em três províncias e
miríades de tribos de pastores seminômades. Assassinatos tribais retaliatórios eram
a principal fonte de justiça.
A Líbia de Gaddafi só lançou um verniz sobre as antigas hostilidades
entre as tribos. A região oriental em volta de Benghazi sempre foi
repleta de oposicionistas, em
parte porque suas tribos gozavam do favoritismo do rei Idris 1º, deposto
pelo ditador.
Mas o legado das rivalidades tribais na Líbia pode estar perdendo força graças em
parte às transformações que Gaddafi ajudou a promover.
Cerca de 85% da população líbia está aglomerada em torno dos principais centros
urbanos, Trípoli e Benghazi.
Embora muitas das pessoas em volta das cidades continuem a identificar-se por tribos, elas vivem misturadas.
Além disso, hoje há um grupo crescente de líbios jovens, ricos, que falam inglês
e estudaram no exterior, como o próprio filho anglófilo do coronel, Seif al Islam.
As diferenças da rebelião
atual dependerão de ela conseguir transcender seu pano
de fundo tribal e atrair novos apoios do Ocidente.
Tradução de CLARA ALLAIN
0 comentários:
Postar um comentário