A coleção foi aprovada com ressalvas pelo Programa
Nacional do Livro Didático, em 2000. Na reavaliação dos títulos a serem
adquiridos em 2005, os professores contratados para definir o Guia do
Livro Didático a rejeitaram, criticando-a por sua “visão maniqueísta e
simplificada dos processos sociais”. A coleção voltou a ser reprovada na
escolha dos livros a serem comprados pelo MEC entre 2008 e 2010, desta
vez sob a alegação de que contém erros conceituais, falhas de informação
e incoerência metodológica.
Apesar do veto a novas aquisições, em 2005, e de sua
exclusão do Guia do Livro Didático de 2008, a Nova História Crítica
continuou sendo distribuída pelo MEC. Só este ano, já foram enviados 89
mil exemplares da coleção a escolas públicas. O governo gastou R$ 12
milhões com uma obra que, pela quantidade de imbecilidades e grosseiras
falsificações da história que contém, jamais deveria ter entrado numa
sala de aula.
Alguns parágrafos dão o padrão da sua “qualidade”. O
quadro de Pedro Américo, por exemplo, retratando a Proclamação da
Independência, é comparado a “um anúncio de desodorante, com aqueles
sujeitos levantando a espada para mostrar o sovaco”. D. Pedro II é um
“velho, esclerosado e babão”. A princesa Isabel é uma mulher “feia como a
peste e estúpida como uma leguminosa” e o Conde d’Eu é um “gigolô
imperial” que enviava meninas paraguaias para os bordéis do Rio de
Janeiro. “Quem acredita que a escravidão negra acabou por causa da
bondade de uma princesa branquinha, não vai achar também que a situação
dos oprimidos de hoje só vai melhorar quando aparecer algum princezinho
salvador?”
Por outro lado, Mao Tsé-tung é apresentado como um
“grande estadista” que “amou inúmeras mulheres e por elas foi
correspondido”. A Revolução Cultural Chinesa é descrita como “uma
experiência muito original” onde, “em todos os cantos, se falava da luta
contra os quatro velhos: velhos hábitos, velhas culturas, velhas
idéias, velhos costumes”. A ditadura de Fidel Castro é elogiada a
começar pelos fuzilamentos no paredón. A derrocada da União Soviética é
atribuída aos profissionais com curso superior, por terem “inveja” da
classe média dos países desenvolvidos. “Queriam ter dois ou três carros
importados na garagem de um casarão, freqüentar bons restaurantes,
comprar aparelhagens eletrônicas sofisticadas, roupas de marcas famosas,
jóias.”
As distinções ideológicas também são um primor. O
capitalismo é definido como o regime econômico onde “terras, minas e
empresas são propriedade privada” e “as decisões econômicas são tomadas
pela burguesia, que busca o lucro pessoal”, enquanto no socialismo
“terras, minas e empresas pertencem à coletividade” e “as decisões
econômicas são tomadas democraticamente pelo povo trabalhador, visando o
bem-estar social. Os produtores são os próprios consumidores, por isso
tudo é feito com honestidade para agradar à toda a população”. A verdade
factual é desprezada pela obra, que em momento algum se refere aos
milhões de assassinados pelo regime de Mao, ao arquipélago Gulag do
regime soviético e ao fracasso do socialismo e do comunismo.
Diante de tanta desonestidade intelectual, custa crer
que o MEC só tenha se manifestado sobre o problema após a publicação de
artigo do jornalista Ali Kamel, do jornal O Globo (reproduzido na página
A2 desta edição), comentando a obra.
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