quarta-feira, 2 de março de 2011

O que a Al Jazeera diz de si mesma e o que os fatos dizem da Al Jazeera

Não tem jeito! Eu não tenho o menor receio que me acusem disso ou daquilo. Meu compromisso é com os fatos. O verdadeiro Twitter e o verdadeiro Facebook da “revolução” do Oriente Médio atendem pelo nome de “Al Jazeera”, a emissora estatal do Qatar. Leiam o que vai abaixo. Volto em seguida:
“Esta revolução é a melhor chance para a paz”, diz diretor da Al Jazeera
Por Fernanda Ezabella, na Folha Online:
Wadah Khanfar nasceu numa cidade palestina, tem 43 anos e se pergunta, desde criança, se teria chance de ver ainda em vida uma mudança real no mundo árabe que não fosse apenas através de intervenções externas. “Eles tiraram Saddam Hussein, mas também tiraram a dignidade do povo [iraquiano]“, disse Khanfar, diretor-geral da rede árabe Al Jazeera, numa palestra que aconteceu ontem no TED, evento que reúne especialistas de várias áreas em Long Beach, Califórnia. “Mas estou aqui para dizer que o futuro que estávamos sonhando está acontecendo. A nova geração, conectada, inspirada por valores universais, criou uma nova realidade para a nós, uma nova confiança, um novo significado de liberdade.”
Para o executivo, a Al Jazeera não é uma ferramenta para criar revoluções. “Amplificamos a voz do povo tunisiano e a levamos para o mundo árabe. Estamos testemunhando uma mudança histórica.” Khanfar entrou para a Al Jazeera em 1997, um ano depois do lançamento da rede, hoje o canal em árabe mais visto no Oriente Médio e com um serviço em inglês que chega a 230 milhões de residências pelo mundo.
Ele foi primeiro correspondente na África do Sul e, em 2001, foi cobrir a guerra no Afeganistão e depois na região curda ao norte do Iraque. Antes de virar diretor-geral, em 2006, foi chefe de redação em Bagdá, maior operação de mídia dentro do Iraque. Para Khanfar, os jovens que tomaram as ruas do Egito, da Tunísia e da Líbia são bem “mais espertos e capazes” do que os políticos e das elites dos velhos regimes ideológicos. “A revolução democrática que está tomando o mundo árabe é a melhor chance para a paz”, completou. “A internet criou uma nova mentalidade no mundo árabe. Uma mentalidade que segue fiel à região [não foi imposta ou importada].”
Ele contou que a rede foi durante anos banida da Tunísia, mas que pessoas comuns que tiveram coragem de sair às ruas viraram seus repórteres, mandando vídeos, fotografias e relatos. “Elas se libertaram do medo de inferioridade”, disse. No Egito, o escritório da Al Jazeera chegou a ser invadido, jornalistas foram presos. Ainda assim, a rede continuou a investir no jornalismo. “Eu me lembro quando me ligaram no meio da noite, direto da praça Tahrir [no Cairo]. E eles diziam: ‘Por favor, não desliguem suas câmeras, caso contrário vai acontecer um genocídio aqui. Vocês estão nos protegendo’.”
A Al Jazeera é uma emissora pública, financiada pelo Estado do Qatar. O TED, que acontece desde os anos 80 na Califórnia, vai até sexta-feira e contará com nomes como Bill Gates, fundador da Microsoft, e Roger Ebert, crítico de cinema.
Comento
Tudo muito bom, tudo muito bem! A Al Jazeera, sem dúvida, excita a imaginação libertária do Ocidente. O que o texto acima não informa — e, obviamente, Wadah Khanfar não toca no assunto — é que, se uma revolução eclodisse no Qatar, a Al Jazeera estaria impedida de cobrir porque é submetida a uma rigorosa censura quando trata dos assuntos do emirado.
A Al Jazeera merece ser acompanhada de perto. Um dos humanistas que têm um programa na emissora, com uma audiência estimada em 40 milhões de pessoas, é o xeque egípcio Yusuf Al Qaradawi, o principal líder da Irmandade Muçulmana no Egito. É aquele que acha que “pode até haver algumas mulheres que não concordem em apanhar do marido e vejam a punição como humilhação.” Segundo ele, no entanto, “muitas mulheres gostam de apanhar e consideram adequado que o marido bata nelas apenas para fazê-las sofrer”.
“Ah, o Reinaldo e o Kadafi não gostam da Al Jazeera!”. Besteira! Quem gosta de Kadafi é Lula. Eu gosto dos fatos.
Por Reinaldo Azevedo

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