Intuo
que uma das coisas que os mantêm ligados ao blog, além do fato de esse
ser um ponto de encontro para o diálogo entre vocês, é o fato de o
blogueiro jamais passar vontade de dizer o que pensa, sem perguntar a
quem está exatamente incomodando — menos ainda com medo de ser mal
interpretado. Não ligo para o que pensam a meu respeito. Se eu fizesse a
vontade “deles”, seria ou um deles ou seu servo. Não preciso ir a
Benghazi ou a Trípoli — e nada contra quem vai, muito pelo contrário —
para perceber certos desvãos da lógica, que têm de ser iluminados.
(I)modestamente, noto que algumas questões aqui propostas desde sempre
sobre a crise da Líbia começam a despertar a curiosidade da imprensa
americana — e, em alguns casos, a indignação. Barack Obama, hoje,
humilha a ONU e até o Congresso do seu país. Vamos com calma.
Só agora o New York Times se dá ao trabalho de perguntar, numa “análise” de David D. Kirkpatrick, se o que ocorre na Líbia é uma luta por democracia ou uma guerra civil.
O autor, talvez patrulhado pelo politicamente correto, não chega a dar
“a” resposta. Mas demonstra com fatos: é uma guerra civil! Acho que
vocês leram isso primeiro aqui, não é mesmo? Já disse que uma das minhas tarefas mais caras é revelar… o óbvio!
O
autor apela à dúvida decorosa de um acadêmico — essa gente morre de medo
de ver o tal óbvio —-, que vem com uma advertência. Indagado se é luta
por democracia ou guerra civil, afirma Paul Sullivan, cientista político
da Universidade de Georgetown: “É uma questão importante,
terrivelmente difícil de responder. Quando Kadafi deixar o poder,
podemos ter uma surpresa muito grande ao descobrir com o que estamos
lidando”. Sullivan sabe a resposta, claro, mas deve temer que
não o considerem um amante da liberdade. Se os dois lados da batalha
estão armados de fuzis, tanques, aviões e baterias antiaéreas, é guerra
civil!
Kirkpatrick
lembra que, a exemplo do governo de Kadafi, também o dos rebeldes é
formado por laços familiares e tribais. Assim como a imprensa oficial da
Líbia mente, os seus opositores não têm qualquer compromisso com a
verdade, reivindicando vitórias inexistentes no campo de batalha,
declarando que cidades estão em disputa quando já controladas pelo
coronel e, ATENÇÃO!, exagerando enormemente ao acusar o comportamento bárbaro do adversário.
TUDO, AQUILO, LEITORES, QUE VOCÊS, CANSARAM DE LER POR AQUI. Ontem, por
exemplo, correu o mundo a imagem do funeral de um — sim, de um! —
rebelde. Havia protesto e gritaria. Se podem fazer aquela cena ganhar o
planeta, por que não espalharam as dos chamados massacres? É inaceitável
que a imprensa ocidental, a nossa inclusive, não se coloque essa
questão. Kirkpatrick, em suma, está dizendo que os rebeldes mentem um
pouquinho…
O
autor observa que responder se é luta por democracia ou guerra civil
poderia decidir até mesmo o futuro da intervenção das potências
ocidentais. Eu diria, discordando um pouco dele, QUE A RESPOSTA DECIDE,
NO MÁXIMO, A MORALIDADE DA INTERVENÇÃO. O resultado já está definido. Ou
se imagina possível que o coronel resista àquela gigantesca máquina de
guerra?
ONU E CONGRESSO DOS EUA
Há dois absurdos em curso. A resolução aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU fala expressamente na proteção a civis, mas prevê que qualquer medida pode ser adotada para garanti-la. Também exige o cessar-fogo e anuncia a implementação da zona de exclusão aérea. Muito bem! As potências acusam Kadafi de mentir e de não respeitar o cessar-fogo. Mas ele não deveria valer para os dois lados? Não! Segundo um assessor de Obama, “rebeldes são civis”. Assim, os aliados estariam apenas “garantindo a sua segurança” quando permitem que avancem contra forças de Kadafi previamente atacadas. ATENÇÃO! NUNCA SE VIU UMA RESOLUÇÃO COMO ESSA!
Há dois absurdos em curso. A resolução aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU fala expressamente na proteção a civis, mas prevê que qualquer medida pode ser adotada para garanti-la. Também exige o cessar-fogo e anuncia a implementação da zona de exclusão aérea. Muito bem! As potências acusam Kadafi de mentir e de não respeitar o cessar-fogo. Mas ele não deveria valer para os dois lados? Não! Segundo um assessor de Obama, “rebeldes são civis”. Assim, os aliados estariam apenas “garantindo a sua segurança” quando permitem que avancem contra forças de Kadafi previamente atacadas. ATENÇÃO! NUNCA SE VIU UMA RESOLUÇÃO COMO ESSA!
Voltemos
um pouquinho àquele que foi visto como o Grande Satã também pela
imprensa ocidental. Bush suou para conseguir a autorização dos
congressistas para travar a guerra no Iraque. Obama mandou bombardear a
Líbia sem lhes dar a menor pelota. Enviou uma carta depois de iniciado o
ataque afirmando que a ação americana será limitada etc e tal e que não
haverá envio de tropas terrestres. Ah, bom! Como se ele pudesse também
enviar tropas sem prévia autorização! É patético! Afirmar que o que se
vê no país é só proteção a civis e implementação da zona de exclusão
aérea é uma piada macabra. Aquilo, obviamente, é uma guerra.
A
imprensa americana começa a acordar do torpor. A nossa, com as exceções
de sempre — deveria escrever “a” exceção? — ainda pisa nos astros
distraída. Críticos contumazes de Bush, aquele que queria ser “policial
do planeta”, mostram-se agora engajados no esforço “humanista” de
Obama, Sarkozy e Cameron…
Não
dá! Eu não lido bem com baguncismo institucional, pouco importa o lugar —
na minha casa (sim, há “instituições” aqui), em Dois Córregos, no
Brasil, nos EUA ou na ONU. É um bem para a humanidade que Kadafi vá para
o quinto dos infernos? É, sim! Mas as instituições não têm de ir junto
com ele. E Obama está se mostrando um grande bagunceiro! Muitos achavam
que seria temerário ter na Presidência dos EUA um homem tão
inexperiente. Era um juízo convencional, conservador. Convencional,
conservador e correto!
Por Reinaldo Azevedo
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