Em dez anos, 20 milhões de alunos usaram livro polêmico
São Paulo - A coleção de livros didáticos Nova História Crítica, do
autor Mario Schmidt, já foi usada nos últimos dez anos por mais de 20
milhões de estudantes no país. O livro foi rejeitado neste ano pela
avaliação do MEC (Ministério da Educação) e tem sido acusado de veicular
propaganda ideológica.
Segundo a Editora Nova Geração, responsável pela publicação,
foram comprados e distribuídos a escolas de todo o país 9 milhões de
exemplares nos últimos anos. Como o governo só compra livros didáticos a
cada três anos, o exemplar deve ser repassado para os colegas mais
novos duas vezes, ou seja, é usado por três alunos.
Segundo o ministério, 50 mil escolas receberam a coleção desde
1998. Na compra feita pelo MEC em 2005, ela representava 30% - a maior
parte - do total de livros de história escolhidos. A opção pelo livro é
feita pelos próprios professores a partir de um guia do PNLD (Programa
Nacional do Livro Didático) do MEC. Nele, há uma avaliação de
especialistas de universidade federais contratados para o serviço.
"Esse livro é o maior sucesso do mercado editorial didático dos
últimos 500 anos", diz o editor da Nova Geração, Arnaldo Saraiva. Na
quarta-feira (19), a editora e o autor divulgaram carta conjunta sobre o
artigo do jornalista Ali Kamel publicado no jornal "O Globo", na
terça-feira (18), que transcreveu trechos da coleção. "Não publicamos
livros para fazer crer nisso ou naquilo, mas para despertar nos
estudantes a capacidade crítica de ver além das aparências e de levar em
conta múltiplos aspectos da realidade", diz o comunicado. Procurado,
Schmidt não quis dar entrevistas.
Incoerência metodológica
A coleção, com livros para alunos de 5ª a 8ª
séries, menciona que a propriedade privada aumenta o egoísmo e o
isolamento entre as pessoas e que o MST (Movimento dos Sem-Terra) se
tornou um importante instrumento na luta pela justiça social no Brasil.
Além disso, critica o acúmulo de capital da burguesia e faz elogios ao
regime cubano.
"O problema do livro do Schmidt é que ele não propõe um debate
historiográfico, além das incorreções e do preconceito", afirma o
professor de metodologia de ensino de história da pós-graduação da PUC
(Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, Alexandre Godoy.
Ele diz ainda que as incorreções identificadas pela equipe de
avaliação do PNLD na coleção Nova História Crítica, como "erro
conceitual", "doutrinação ideológica" e "incoerência metodológica"
também aparecem na maioria dos livros didáticos recomendados pelo MEC.
"Não existe um livro ideal, livre de ideologia", afirma Godoy.
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