Nenhum
lutador mais impetuoso, mais tenaz e mais capaz que D. Vital, bispo de
Olinda, e a impressão que este me deixou foi extraordinária"
Machado de Assis
Machado de Assis
"Peçam-nos
o sacrifício de nossos cômodos; peçam-nos o sacrifício de nossas
faculdades, peçam-nos o sacrifício de nossa saúde; peçam-nos o sangue de
nossas veias... Mas pelo santo amor de Deus não nos peçam o sacrifício
de nossa consciência, porque nunca o faremos. Sic nos Deus adjuvet. Nunca!"
D. Vital, bispo de Olinda
D. Vital, bispo de Olinda
A
infiltração maçônica no Brasil e suas atividades contra a Igreja sempre
deram aos observadores a impressão de que os maçons daqui seriam menos
rancorosos que os da Europa. De fato, os maçons do Brasil são, como os
brasileiros em geral, menos enérgicos, mas não menos rancorosos que os
da França. Nem por isso deixam de odiar a Igreja e trabalhar contra ela.
O episódio de D. Vital é prova disso.
D.
Vital parece ter sido realmente um homem de valor e é uma beleza
contemplar o olha que mostra o retrato de capa do livro abaixo referido
em que colhemos os dados aqui apresentados. Seus olhos mostram uma tal
mansidão e uma tal força, que ninguém pode deixar de se impressionar.
D.
Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira nasceu em Pernambuco, num
engenho de açúcar, a 27 de novembro de 1844. Seu nome civil foi Antônio
Júnior. Estudou no Seminário de Olinda, primeiro, e depois em S. Sulpice
em Paris, onde resolveu ser capuchinho (ramo franciscano) sendo
recebido no Seminário de Versalhes onde os seus superiores, procurando
prová-lo, trataram-no com tal aspereza e tanta falta de atenção que ele
pegou uma doença de garganta de que nunca mais se pode curar
completamente e da qual provavelmente morreu. No dia em que os
religiosos da comunidade franciscana decidiram aceitar (contra a
oposição do Pe. Mestre) a sua profissão definitiva, este Padre Mestre
disse-lhe: "Você nunca prestará para coisa alguma. Não poderá ser
sacerdote e terá muito que sofrer". Tirando a última parte, que se
mostrou verdadeira (mas parece que para o bem de D. Vital), no mais não
apenas falhou na sua "profecia" como mostrou uma dureza de coração
incrível contra um pobre seminarista franciscano que nunca teve nenhuma
rebeldia, nenhuma má vontade, nenhuma queixa. Àquela palavra dura do seu
Padre Mestre, ele respondeu: "Não pedi a entrada em religião para me
tornar notável em trabalhos além dos que Deus me destina. Nem mesmo a
glória do sacerdócio procurei. Vim para glória de Deus e salvação de
minha alma. Se não puder ser bom padre, pedirei para ficar como simples
leigo e que Nosso Senhor tenha pena de mim até o fim". Apesar de tudo,
quando a comunidade indagou o Pe. Mestre qual o conceito que fazia do
candidato à profissão definitiva, ele declarou que o comportamento de D.
Vital tinha sido sempre irrepreensível.
D.
Vital foi depois para o convento franciscano de Perpignan e mais tarde
para o Seminário de Toulouse onde foi ordenado em 2 de Agosto de 1868.
No fim deste mesmo ano de 1868 voltou para o Brasil onde foi mandado
para ensinar no Convento dos franciscanos em São Paulo. Em março de 1872
foi sagrado bispo por indicação do Governo do Império do Brasil (que
então tinha tais privilégios) e aceitação do Papa Pio IX que hesitou
muito porque D. Vital tinha apenas 26 anos! Mas como, em face da demora
de Roma em aprovar seu nome, D. Vital, a conselho do Núncio, escrevera a
Pio IX pedindo para ser dispensado do cargo (o que realmente desejava
para manter-se como um simples religioso), o Papa percebeu todo o seu
desprendimento e resolveu nomeá-lo. Foi nomeado bispo de Olinda e Recife
e tomou posse de seu cargo em 24 de Maio de 1872.
A
luta entre a Igreja e a Maçonaria no Brasil tornou-se acesa pouco
depois, em virtude de um incidente ocorrido no Rio de Janeiro. Naquela
época e apesar das diversas condenações da maçonaria pelos Papas, havia
muitos padres que pertenciam a lojas maçônicas. Também muitos homens
notáveis da época eram maçons, alguns por simples ignorância, outros,
embora tendo seus nomes ligados à história do Brasil, por convicções
maçônicas e mau espírito contra a Igreja. Em março de 1872, pouco antes
de D. Vital ser eleito bispo, houve uma festa da maçonaria que
comemorava a Lei do Ventre Livre, obtida pelo então principal Ministro
do Imperador, Presidente do Conselho (chefe de governo), o Visconde de
Rio Branco, pai do Barão do Rio Branco, homem realmente capaz, de
notável inteligência e também grau 33 da loja maçônica da Rua do
Lavradio. Um dos oradores da festa foi um padre, chamado Almeida
Martins. O bispo do Rio, D. Pedro Maria de Lacerda, escandalizado,
chamou o Padre Martins em particular para ponderar-lhe que ele não podia
ser padre e maçom ao mesmo tempo. O Padre recusou atender a qualquer
ponderação. O Bispo suspendeu-o de ordens. A maçonaria considerou-se
atingida e fez uma grande assembléia que foi presidida pelo Chefe do
governo, o Visconde do Rio Branco. Decidiram então iniciar uma grande
campanha contra a Igreja e a essa campanha uniram-se os maçons de uma
ala dissidente. Coletaram fundos e começaram os ataques. Fundaram
inúmeros jornais para a campanha: no Rio, o jornal "A Família"; em São
Paulo, o "Correio Paulistano"; em Porto Alegre, "O Maçom"; no Pará, o
"Pelicano"; no Ceará, "A Fraternidade"; no Rio Grande do Norte, "A Luz";
em Alagoas, "O Labarum" e em Recife, dois, "A Família Universal" e "A
Verdade".
Assim,
quando D. Vital chegou ao Recife, já encontrou em atividade os jornais
maçons que todos os dias procuravam atingi-lo com sarcasmos e injúrias. O
bispo não respondia, é claro. A 27 de Julho começaram a provocá-lo.
Primeiro anunciaram que iria haver uma missa em ação de graças numa
loja. Diante da proibição sigilosa do bispo, nenhum padre ousou
celebrá-la. Depois, pediram missas por maçons falecidos sem
arrependimento e, é claro, nenhum padre aceitou. Finalmente, diante do
silêncio do bispo que não respondia as provocações, nos dias 22,23,24,25
e 26 de Outubro, o jornal "A Verdade" publicou uma série de artigos
contra a Santíssima Eucaristia, a Virgindade e a Maternidade divina de
Nossa Senhora e a Imaculada Conceição. E para atingir melhor o alvo, uma
Irmandade religiosa (várias estavam infiltradas de maçons) elegeu o
autor daqueles artigos como seu presidente. Finalmente, a 21 de
Novembro, o bispo D. Vital publica um protesto contra os ataques aos
nossos dogmas exortando a população a protestar também. Mais tarde fez
um sermão público na catedral, repetindo o protesto e acusando a
maçonaria. O jornal, para zombar dele, publica uma lista de padres e
cônegos filiados à maçonaria local. O bispo chama-os um por um, em
particular, e obtém de todos que se retratem publicamente e se desliguem
das lojas, exceto dois. O jornal publica então os nomes de presidentes,
secretários e tesoureiros de irmandades que também pertenciam às lojas.
O bispo faz o mesmo, mas aqui esbarra na obstinação de várias
irmandades que se recusam a acatá-lo. Só duas aceitaram e as demais ou
recusaram ou nem foram à entrevista. D. Vital procurou obter com amigos
comuns que elas, as Irmandades, se submetessem à sua autoridade. Não
conseguiu nada. Resolveu então mandar um primeiro aviso canônico aos
vigários assistentes das irmandades para que exortassem os irmãos maçons
a renunciarem à maçonaria ou se demitirem. As irmandades recusaram
aceitar isso. Mais dois avisos se seguem e são recusados. O bispo lança
então um interdito sobre as irmandades Santo Antônio e Espírito Santo,
impedindo a realização de missas ou quaisquer religiosos nas suas
capelas. Os maçons começaram a promover tumultos de rua. Primeiro
fecharam capelas e igrejas, roubando chaves de sacrários ou de arquivos.
D. Vital publica uma "Carta Pastoral contra as ciladas da Maçonaria".
Nela, além de historiar as atividades perniciosas da organização,
assinala que não há diferença entre a maçonaria no Brasil e na Europa,
que todas obedecem aos mesmos planos. Proíbe a leitura do jornal "A
Verdade" e excomunga os maçons que não abjurarem.
Enquanto
isso, também o bispo de Belém do Pará, D. Antônio Macedo Costa, combate
a maçonaria. As notícias a respeito, chegando ao Rio, provocaram enorme
abalo. O Governo reuniu-se, ao saber que irmandades haviam sido
interditadas e também por causa da Carta Pastoral. O próprio Governo,
isto é, certamente o seu Chefe, Visconde do Rio Branco, e seus ajudantes
maçons, mandaram dizer às irmandades que deviam apelar para o Governo
Central com um, então vigente, "recurso à Coroa", apesar de a lei
brasileira de então dizer que em causas estritamente religiosas os
bispos estavam submetidos ao Papa e só ao Papa podiam ser apresentados
recursos contra sua decisões. Não obstante, uma das irmandades
interditadas apresentou o recurso ao governo. O próprio Imperador D.
Pedro II, cuja mentalidade era liberal, não gostou da atitude do bispo
que, em carta a um Conselheiro de Estado, apontou a ilegalidade do
recurso à Coroa e declarou com simplicidade que havia cumprido seu dever
de bispo e só estava submetido ao Papa em matéria religiosa. Os
historiadores acham que, sem apoio do Imperador, o Visconde do Rio
Branco teria recuado. mas, com esse apoio, foi em frente. Antes de
publicar sua Carta Pastoral, Dom Vital havia escrito ao Papa indagando o
que devia fazer diante da situação que descrevia. O Papa respondeu-lhe
com um "Breve" datado de 29 de maio, aprovando os atos de D. Vital e
dando-lhe amplas faculdades para enfrentar a situação. Diante do
"recurso à Coroa" da Irmandade, o Governo mandou a D. Vital um aviso com
ordem de levantar o interdito sob pena de ser processado. O bispo
responde com toda a calma e, depois de apresentar sua homenagens ao
Imperador e seu respeito pelo Governo, acrescenta que se deve obedecer
antes a Deus que aos homens e que recebia, no mesmo dia, do Governo, o
aviso para suspender o interdito, e, do Papa, seu Breve aprovando seus
atos. Assim, como bispo, não podia atender ao aviso. Isso, explicou, não
era desobediência, mas dever de consciência. Em seguida o bispo
suspendeu de ordens o Deão do cabido da diocese que era maçom e se
recusava a deixar a maçonaria. Os maçons então fizeram uma manifestação
pública de apoio ao Deão. Depois saíram para invadir, depredar e saquear
a capela do Colégio dos Jesuítas, que estava cheia de fiéis que
comemoravam o mês de Maio. Quebraram o púlpito, os confessionários, os
quadros, imagens, espancando os fiéis, roubando objetos de valor.
Empastelaram em seguida os jornais católicos, "O Católico" e "A União"
agredindo os empregados. Agrediram os jesuítas, alguns dos quais foram
apunhalados e um dos quais morreu mais tarde. Depois arrombaram o
Colégio Santa Dorotéia e em seguida foram para o palácio do Bispo. O
Bispo, avisado, mandou iluminar todo o palácio e se apresentou diante da
quadrilha que estava no portão. Eles não ousaram invadir o palácio e
acabaram se retirando. Só então chegou a polícia. D. Vital publicou um
Breve, "Quamquam dolores" comunicando aos demais bispos do Brasil o que
ocorria e recebendo deles todos integral apoio, sobretudo do bispo do
Rio de janeiro e do bispo de Belém do Pará. O Governo manda um aviso à
Irmandade que havia feito seu recurso e declara ele, o Governo,
levantado o interdito, o que é evidentemente ridículo, já que nenhum
padre aceitaria isso. O Governou suspendeu o pagamento dos ordenados dos
padres, que, naquele tempo, eram sustentados com recursos públicos e
também dos padres professores do Seminário. Finalmente o Governo mandou
processar D. Vital por desobediência e desacato. Veio a ordem de prender
o bispo e mandá-lo para o Rio de Janeiro para ser julgado pelo Supremo
Tribunal. Foram prendê-lo no palácio, em Recife, um Juiz, o Chefe de
Polícia e um Coronel da polícia. Quando o Juiz entrou no palácio e bateu
na porta do quarto do bispo, este saiu totalmente paramentado, com
mitra e báculo, e assim foi preso. Mas quando chegaram à rua, os
policiais viram que a multidão engrossava dando vivas ao bispo e ficaram
com medo. Meteram-se num carro e levaram-no para o Arsenal de Marinha
onde ficou preso à espera do navio que devia levá-lo ao Rio. Em
Salvador, trocaram-no de navio para que chegasse ao Rio sem ser
esperado. E no Rio foi logo encarcerado no Arsenal, embora com todo o
respeito e conforto. Deve-se dizer que, em toda parte, no Recife, em
Salvador, no Rio, multiplicavam-se as demonstrações de apreço, homenagem
e protestos de outros bispos, do clero, do povo. Aí o Governo
encarregou o embaixador do Brasil em Londres, Marquês de Penedo, de
tentar obter do Papa um pronunciamento contra o bispo. O embaixador,
hábil e insinuante, contou à sua maneira os fatos e conseguiu que o
Secretário de Estado, Cardeal Antonelli (cujo comportamento futuro iria
mostrar-se muito estranho) escrevesse com autorização do Papa uma carta a
Dom Vital, "Gesta tua non laudantur", em que, embora louvando o bispo,
censura-o como tendo pressa em executar, com excesso de zelo, o que o
Papa havia escrito antes, e manda que ele levante o interdito para
"depois" procurar eliminar os maçons das irmandades. O Barão e o Governo
ficaram satisfeitíssimos com o resultado da missão e logo noticiaram o
fato, mas D. Vital, perplexo, guardou a carta no bolso e escreveu ao
Papa pedindo explicações, apresentando os fatos e mostrando os
inconvenientes do que lhe estava ordenado, especialmente mandando dizer
ao Papa (que até então não sabia) que ele, D. Vital, estava preso. E, de
fato, logo veio a resposta do Papa mandando destruir a carta do Cardeal
Antonelli. Enquanto isso, o Governo frustrou-se porque queria que D.
Vital publicasse a carta recebida antes e este, que não era bobo,
guardou-a, é claro. Afinal, veio o processo. Intimado a se defender em
oito dias, o bispo respondeu apenas com esta frase: "'Jesus autem
tacebat'. Assinado em minha prisão no Arsenal de Marinha do Rio de
Janeiro. Frei Vital." Foi julgado em sessão solene do Supremo Tribunal,
cheias as galerias. Dois Senadores católicos o defenderam, Zacarias de
Goes e Candido Mendes de Almeida (bisavô desta triste figura de mesmo
nome). Mas toda a defesa foi inútil, já que a maçonaria governava. D.
Vital foi condenado a 4 anos de prisão com trabalhos forçados. Há uma
nota interessante: com base naquela lei que falava em "recurso à Coroa",
D. Vital foi a 163a. pessoa processada, um dos dois únicos
condenados e o único que cumpriu pena. Também o bispo de Belém foi
condenado à pena de prisão. O bispo foi levado à Fortaleza de S. João
(na Urca) onde entrou em 21 de Março de 1874 para cumprir a pena que,
antes de começar, já o Imperador havia convertido em prisão simples, sem
os trabalhos forçados, por instâncias da Princesa Isabel, que admirava
Dom Vital. D. Macedo Costa, por sua vez, foi encarcerado na Ilha das
Cobras. Enquanto cumpriam suas penas, o Governo perseguia os dirigentes
católicos do Recife, encarcerando vários outros e expulsando de
Pernambuco os Jesuítas. Mesmo preso, D. Vital escreveu e mandou publicar
uma carta, "A Maçonaria e os Jesuítas", com 139 páginas, em que
defendia a estes e atacava aquela. Na fortaleza, sucediam-se as visitas
de multidões de fiéis e clero, inclusive bispos estrangeiros. Inúmeras
petições ao Imperador, com milhares de assinaturas, pedindo a libertação
dos bispos. A própria Princesa Isabel vai à fortaleza visitá-lo e, com a
ajuda dela, D. Vital pôde chamar à fortaleza os seminaristas de Recife
que já estavam prontos para ordená-los ali mesmo. O Papa começou a
protestar e escreveu ao Imperador do Brasil pedindo que libertasse os
bispos, sem deixar de afirmar que eles se conduziram como deviam
fazê-lo. O Imperador parece que não ligou muita importância à carta do
Papa, mas o Duque de Caxias propôs ao Imperador uma anistia. O Imperador
hesitava. Por razões políticas, caiu o gabinete do Visconde do Rio
Branco e o Duque de Caxias foi chamado para sucedê-lo. Ele aceitou com a
condição de conceder anistia aos bispos. Finalmente, o Imperador teve
que aceitar e, em 17 de Setembro de 1875, decreta a anistia que liberta
D. Vital e os demais presos. Logo em Outubro D. Vital vai a Roma onde é
recebido paternalmente e com alegria por Pio IX (o Papa, comovido, só o
chamava de "Mio Caro Olinda", "Mio Caro Olinda") mas, ao visitar o
Cardeal Antonelli, em seguida, foi recebido com as seguintes palavras:
"Eu não havia escrito a V. Excia. mandando levantar o interdito e
publicar minha carta?..." D. Macedo Soares, aliás, dá notícia de que a
presença de D. Vital em Roma causara sinais de contrariedade em "certas
rodas". D. Vital respondeu pedindo as instruções precisas e Antonelli as
deu. No novo encontro do dia seguinte com Pio IX, D. Vital mostrou ao
Papa o que o Cardeal Antonelli lhe havia dado e o assombro do Papa foi
enorme. Pio IX pede um relatório a D. Vital e este lho entrega dias
depois, mostrando que a carta de D. Antonelli representava desdizer os
Breves anteriores. Pio IX reúne uma comissão de Cardeais e teólogos aos
quais D. Vital fez uma exposição escrita e outra oral. Pelo jeito,
comparecera gente hostil. A impressão que nos fica é a de que o Cardeal
Antonelli, se não era maçom, era pelo menos liberal e antipatizava com
D. Vital. Finalmente o Papa beija Dom Vital, manifesta-lhe apoio e
publica a Encíclica "Exortae" em que condenava mais uma vez a Maçonaria e
apoiava os bispos brasileiros mas, ao mesmo tempo, o Cardeal Antonelli,
autorizado pelo Papa, telegrafou ao Núncio no Brasil mandando suspender
os interditos das Irmandades sem a exigência de prévia eliminação dos
maçons. São dessas coisas... Em todo caso, houve a reiteração da
condenação dos maçons. Bem... Há que se conviver com isso, pelo menos
naquele tempo... Afinal, hoje seria pior.
D.
Vital visita diversos lugares e amigos em França e na Itália. Volta a
Recife, onde procura recompor as instituições fechadas, especialmente o
Seminário e recuperar os recursos negados pelo Governo. Afinal, consegue
os recursos e reabre o Seminário. Faz visitas pastorais, mas sua saúde,
sempre precária, abate-o e ele tem de voltar à Europa para tratar-se,
ajudado pela Princesa Isabel. Da França escreve ao Papa, pedindo que
aceitasse sua renúncia. O Papa pede-lhe que espere e se trate. No Brasil
subia ao Governo um dos mais rancorosos maçons, Saldanha Marinho. Pio
IX morre em fevereiro de 1878 e pouco depois morre D. Vital, aos 33 anos
de idade, em Paris. Seu corpo foi enterrado na cripta dos franciscanos
em Versalhes, de onde, mais tarde, foi trasladado para o Recife. Está
enterrado na Basílica de N. Sra. da Penha, em Recife.
Termina
um pouco melancolicamente esta bela página de nossa história católica,
mas não é culpa dele, D. Vital, e nem sequer dos católicos brasileiros, o
que há de melancolia nela. Exceto num ponto: falta dizer que hoje, para
infinita vergonha dos católicos brasileiros, mancha a diocese de Olinda
e Recife um indivíduo (será ainda bispo?), Dom Helder Camara, exemplar
bem representativo daqueles eclesiásticos brasileiros cujo vazio
interior Gustavo Corção havia notado, conforme artigo que publicamos em
nosso número 148-149. Estes eclesiásticos, como pretexto do que chamam
"opção pelos pobres", não escondem e todos os dias, ao contrário,
publicam suas afinidades e simpatias com o pior, mais grotesco e
estúpido subproduto da maçonaria, que é o comunismo, intrinsecamente
perverso, assim condenado explicitamente por Pio XI. Encontraram no
comunismo, parece, uma terrível solução para o vazio espiritual em que
viviam. Ali, na simpatia pelos agitadores e subversivos, no ativismo
temporal que não tem tempo para os "moralismos" puderam, finalmente,
achar sentido para suas vidas. E se isto que dizemos parece excessivo,
lembro que são eles mesmos que no-lo dizem todos os dias.
(Permanência, Novembro/Dezembro de 1981)
0 comentários:
Postar um comentário