segunda-feira, 4 de abril de 2011

Maçonaria, laicismo e catolicismo


Entrevista a Manuel Guerra, autor de «A trama maçônica»
BURGOS, terça-feira, 3 de abril de 2007 (ZENIT.org)
É verdade que existe uma conspiração maçônica? Católico e maçom, compatível? O Parlamento Europeu está dominado por maçons? São perguntas que o professor Manuel Guerra, autor de vinte e cinco livros sobre seitas e outras questões, se formulou e tenta responder nas 444 páginas de «A trama maçônica», de Styria Edições.
Manuel Guerra Gómez (Villamartín de Sotoscueva, 1931) é doutor em filosofia clássica e em teologia patrística e membro da Real Academia de Doutores da Espanha.
O professor Guerra foi presidente da Faculdade de Teologia do Norte da Espanha, sedes de Burgos e Vitória.
«O método maçônico, intimamente unido ao laicismo, reflete o relativismo historicista e conduz ao relativismo sócio-cultural promovendo-o», afirma à agência Zenit.
–A famosa conspiração maçônica com o poder é uma realidade?
–Guerra: É preciso distinguir entre maçonaria e maçons. A maçonaria enquanto tal e em teoria não aspira a possuir o poder ou, ao menos, a tê-lo ao serviço de seus princípios e interesses.
Mas, de fato, os maçons estão presentes em quase todos os organismos internacionais decisórios e nas multinacionais de poder econômico e político.
É lógico que tentem fazer presentes seus princípios ideológicos (relativismo, laicismo, gnose) onde quer que se encontrem e desde seus lugares para fora, por irradiação.
Também, no mundo anglo-saxão e nos países nórdicos, na Turquia, etc., não é que aspirem a ter o poder, é que eles são o poder.
Assim ocorre quando o rei é o Grão-Mestre da Grande Loja Unida da Inglaterra (GLUI) e das mais de 150 Grandes Lojas (uma em cada nação, nos EUA uma em cada Estado). No ano 1995, a GLUI contava com 750.000 membros em 8.000 lojas de todo o mundo.
Também, como impera o segredo, não há modo de precisar onde atuam e até onde chega seu influxo direto, muito menos o indireto.
O governo de Tony Blair impulsionou um movimento que reclama a obrigação dos maçons a declarar sua pertença à maçonaria, sobretudo se são funcionários do Estado, especialmente na judicatura e na polícia. É incomensurável a resposta de mais de 1.400 juízes ingleses que declararam voluntariamente sua afiliação à maçonaria. Evidentemente, são muitos mais.
Após o affaire da loja encoberta P2 (Licio Gelli), os funcionários italianos em determinados âmbitos da administração pública, se são maçons, estão obrigados a declará-lo ou, em caso contrário, eles se expõem a perder seu posto (lei do ano 1983 da região de Toscana com Florença como capital).

–O famoso 60% de maçons no Parlamento Europeu, é um dado certo?

–Guerra: Esta porcentagem ou uma similar é a designada por Josep Corominas, Grão-Mestre da Grande Loja da Espanha (GLE) até março de 2006. Em 9 de fevereiro de 2007, ele abandonou a GLE ainda que afirme continuar sendo maçom e deseje ser considerado como tal.
Uma nova cisão e obediência maçônica ou sua incorporação a outra das já existentes? De fato, todas as propostas familiares, bioéticas, em dissenso com a doutrina da Igreja e inclusive com a lei natural, foram aprovadas pelo Parlamento Europeu. Recorda-se também o caso do italiano Rocco Buttiglione, rejeitado pela maioria laicista.
–Em Roma se acaba de celebrar um congresso no qual se recorda a incompatibilidade entre catolicismo e maçonaria, mas se convida a dialogar com os maçons em assuntos sócio-culturais. Como se faz isso?
–Guerra: Apesar da incompatibilidade objetiva entre a maçonaria e o catolicismo, os católicos podem dialogar com os maçons em vários planos, não no que a Santa Sé, consciente dos riscos, reservou como competência exclusiva sua: «Não compete às autoridades eclesiásticas locais pronunciar-se sobre a natureza das associações maçônicas com um juízo que implique a derrogação do que foi estabelecido acima» (Declaração sobre as associações maçônicas, 26. XI. AAS 76, 1984, pág. 100).
Também convém levar em conta a realidade e as conseqüências do segredo maçônico. Como dialogar com alguém que está mascarado? Não obstante, pode dialogar-se em assuntos sócio-culturais. As religiões e as ideologias terminam por formar e conformar sua respectiva cultura, ainda que há uma base comum.
O cultural, ao menos na teoria, é um setor mais fácil para o diálogo que o especificamente religioso e ideológico. É mais cômodo estabelecer o diálogo intercultural (sobre a fome, a alfabetização, a ecologia, a saúde, a globalização, etc.) que o inter-religioso.
Mas, até neste campo, o diálogo com a maçonaria encontra sérias dificuldades, pois o laicismo maçônico, aberto ou não, pretende desprezar o especificamente religioso, o que não for comum a todas as religiões e éticas, fechando-o como em «prisão domiciliar» no foro da consciência individual e dentro dos templos.
Por isso, procura apagar os traços sócio-culturais cristãos nos países tradicionalmente cristãos, por exemplo, os «presépios» ou representações do mistério natalino e sua simbologia (estrelas com ou sem figuras dos Magos, incensários nas ruas durante o Natal, etc).
–A maçonaria é um substituto da religião?
–Guerra: A maçonaria, em sintonia com um de seus produtos, a Nova Era, prefere usar «espiritualidade», termo de ressonâncias mais subjetivas, em vez de «religião».
Os maçons, além disso, declaram-se cristãos, negam que a maçonaria seja religião. Se o afirmassem, reconheceriam sua pertença a duas religiões: a católica e a maçônica.
Mas, de fato, ao menos para muitos, especialmente para os maçons agnósticos, deístas, é um substituto da religião. Mais ainda, a maçonaria é chamada «religião» e inclusive «a religião» em escritos maçônicos e dos maçons.
–Como você se aproximou deste mundo, se é secreto?
–Guerra: Dediquei muitas horas a estudar as constituições, os regulamentos e os rituais das diferentes Obediências ou federações de lojas maçônicas, assim como a conversar com maçons e ex-maçons na Espanha e no México, também a ler livros sobre maçonaria, escritos por maçons e por não-maçons.
No México, há uns dez anos, permaneci dois verões falando diariamente sobre maçonaria com professores de suas universidades, maçons e não maçons. Dedicava as tardes a visitar centros de diferentes seitas, algumas para-maçônicas, que costumavam encontrar-se na periferia urbana.
–A maçonaria é mais um método que um conteúdo?
–Guerra: O homem, além de pensar, sente e imagina. Os sentimentos e as imaginações podem provocar interferências perturbadoras da lucidez mental. Não obstante, as idéias e crenças orientam o homem, os princípios e as instituições humanas, ao mesmo tempo que as conformam. Mas para alcançar a meta, é necessário utilizar o «método» adequado.
Precisamente a etimologia grega desta palavra designa o «caminho» (g. odós) que deve percorrer-se para chegar «mais além» (gr. Met), ou seja, à meta. Na maçonaria, seu método alcança a máxima categoria e eficácia, pois, de fato, converteu-se em um de seus «princípios», talvez o básico e configurador dos outros.
Precisamente o método maçônico é um dos motivos pelo qual a maçonaria é incompatível com a doutrina cristã.
O método maçônico, intimamente unido ao laicismo, reflete o relativismo historicista e conduz ao relativismo sócio-cultural, promovendo-o.
Alain Gérard, um dos dirigentes do Grande Oriente da França, reconhece que «a maçonaria é somente um método». Segundo ele, um maçom pode ter «opiniões», ou seja, crenças próprias de uma religião determinada, mas o método maçônico o obriga a «questionar» suas opiniões e a aceitar a possibilidade de que sejam declaradas falsas se forem superadas em uma síntese de razões mais sólidas e com o apoio da maioria.
«Não existe uma verdadeira posta em discussão se previamente se declara que, seja qual for o resultado da discussão, há pontos nos quais um estará sempre convencido de ter razão», afirma.
Daí a alergia maçônica aos dogmas e às religiões qualificadas de dogmáticas, reveladas, especialmente a cristã.
Daí também que os maçons tendam a considerar a democracia como uma obra da maçonaria e o método democrático (aprovação por maioria de votos) como algo co-natural ao maçônico, que o estende a todas as realidades, também à verdade, ao bem, etc.
Precisamente o atual Grão-Mestre do Grande Oriente da França, Jean Michel Quilardet, em declarações a «La Voz de Asturias» (20 de janeiro de 2007, Oviedo/Espanha) reconhece: «Pode-se pensar que existe uma democracia não leiga (= não laicista, não maçônica), mas a minha forma de ver e segundo meu pensamento, o laicismo é um avanço na democracia». Conseguintemente, os democratas, que não são laicistas ou maçons, se são democratas, são como de segunda categoria.
–Os maçons são uma minoria criativa. Os cristãos também?
–Guerra: Evidentemente, os maçons não monopolizam a criatividade. Ainda que de diferente forma, corresponde também, em não menor grau, aos cristãos com a ajuda da graça divina e o influxo do Espírito Santo.
Para comprová-lo, basta repassar a história da Igreja e sua adaptação evangelizadora às circunstâncias sócio-culturais tão mutáveis nos dois mil anos de sua existência. «A mão ou o poder de Deus não se recortou» (Is 59, 1) em nossos dias.
Quando, há poucos anos, João Paulo II chamava os Movimentos eclesiais de «florescimento primaveral», «novo Pentecostes», «dom particular do Espírito Santo à Igreja em nosso momento histórico», inicialmente o atribuía à sua grande bondade.
O bom, o santo, não vê senão bondade em tudo, como o avarento descobre lucro e o luxurioso, prazer sexual.
Quando tive de realizar um estudo, «Os movimentos eclesiais na Espanha» (Real Academia de Doutores da Espanha, «O estado da Espanha», 2005, páginas. 80-94) e descobri a realidade, fiquei impressionado. Que criatividade a dos filhos da Igreja, movidos e inspirados pelo Espírito Santo, em nossos dias!
Como ficariam a Igreja e o mundo se os Movimentos eclesiais, as obras docentes e assistenciais, etc., desaparecessem como por arte mágica, deixando uma espécie de gigantesco «buraco negro» na galáxia eclesial e na sócio-cultural?

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