ZP11040407 - 04-04-2011
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Onda de violência atinge o país
Por Paul de Maeyer
ROMA, segunda-feira, 4 de abril de 2011 (ZENIT.org)
- A "tempestade perfeita" causada pelos pastores evangélicos
americanos Terry Jones e Wayne Sapp, que, após um breve "julgamento",
queimaram em público, em 20 de março, uma cópia do Alcorão em
Gainesville (Flórida), continua ceifando vidas.
O epicentro da
ira muçulmana foi neste fim de semana, no Afeganistão, onde uma onda de
manifestações e protestos de grupos muçulmanos locais terminou com um
resultado terrível: 20 pessoas mortas, incluindo 7 estrangeiros que
trabalhavam para as Nações Unidas, e dezenas de feridos.
A
violência explodiu na sexta-feira, 1º de abril, na província
setentrional de Balkh, quando, na cidade de Mazar-i-Sharif - considerada
relativamente calma -, uma turba enfurecida invadiu a sede da ONU
depois da oração no famoso santuário da Mesquita Azul (o nome da cidade
significa "Nobre Santuário").
Tendo atacado e desarmado os
seguranças, que haviam recebido a ordem de não atacar, os manifestantes
destruíram os escritórios e começou a caça aos funcionários no prédio.
Alguns deles, que tentaram se refugiar em um ‘bunker', também foram
mortos. Trata-se de três funcionários europeus da ONU, incluindo uma
mulher, a norueguesa Siri Skare. Os outros dois europeus são Joakim
Dungel e Filaret Motco, de nacionalidade sueca e romena,
respectivamente. Pelo menos 4 manifestantes foram mortos durante o
assalto, bem como 4 guardas de segurança nepaleses (ex Ghurka) da ONU.
A
Missão das Nações Unidas de Assistência ao Afeganistão (UNAMA) está
presente no país da Ásia Central desde 2002 e atualmente é dirigida pelo
diplomata sueco Staffan de Mistura, nomeado enviado especial pelo
secretário-geral, Ban Ki-moon, em janeiro de 2010. A missão está
dividida em 8 escritórios regionais e 15 escritórios provinciais, e
emprega 1.500 pessoas; quase 80% delas são afegãs. O ataque de
sexta-feira foi o mais sangrento realizado contra a ONU no país.
No
último sábado, 2 de abril, houve uma manifestação na cidade sulista de
Kandahar. Segundo o ‘New York Times', milhares de manifestantes, entre
os quais havia pessoas armadas, haviam se infiltrado na marcha,
incendiaram em primeiro lugar uma escola secundária para meninas,
financiada pelos Estados Unidos - a ‘Zarghona Ana High School for
Girls'; em seguida, incendiaram carros e um ônibus; quando tentaram
chegar ao escritório local da Organização das Nações Unidas,
intervieram forças de segurança afegãs, que abriram fogo. Embora o
chefe da polícia provincial, Khan Mohammad Mojayed, tenha negado que
seus homens atiraram diretamente contra os manifestantes, também em
Kandahar falamos de um resultado terrível: pelo menos 9 mortos e 90
feridos.
Enquanto isso, houve manifestações mais pacíficas, no
domingo 3 de abril, em Jalalabad; e nos dias passados, na capital
Cabul, na cidade ocidental de Herat e na província de Takhar.
Segundo
um porta-voz do governo da província de Balkh, Sher Jan Durani, entre
20 manifestantes detidos após os distúrbios na cidade de
Mazar-i-Sharif, havia várias pessoas armadas. O suposto cérebro por
detrás da violência - assim especificou o número dois da polícia da
província, Rawof Taj - é da província de Kapisa, um reduto da
insurgência. E em Kandahar, alguns manifestantes agitaram bandeiras
brancas, a cor do movimento talibã, tal como referido pelo ‘Washington
Post'. Por outro lado, o movimento fundamentalista negou seu
envolvimento. Também o diretor da missão da ONU no Afeganistão acusou o
movimento dos talibãs ou grupos de insurgentes afiliados aos chamados
"estudantes".
Por sua vez, o presidente americano, Barack Obama,
expressou suas condolências às famílias das vítimas do assalto e
definiu a recente queima do Alcorão como "um ato de extrema
intolerância e de fanatismo". Ao mesmo tempo, pode-se ler num
comunicado da Casa Branca que o gesto de Jones e Sapp não justifica a
matança de pessoas inocentes, que "é repugnante e uma afronta à
decência e à dignidade humana" (‘Associated Press', 2 de abril).
Mas
Terry Jones não demonstrou arrependimento. Inclusive o pastor da ‘Dove
World Outreach Center ‘- uma pequena igreja evangélica fundada em 1986 -
aumentou a dose. "Devemos considerar esses países e essas pessoas
responsáveis por tudo aquilo que fizeram e de qualquer desculpa que
usaram para promover suas atividades terroristas. Chegou a hora de
responsabilizar o Islã", disse (‘The Daily Mail', 2 de abril). "O Islã
não é uma religião de paz", continuou ele, convidando o governo dos
EUA e as Nações Unidas a tomarem medidas contra aqueles que espalham o
ódio contra os cristãos e as minorias.
Em qualquer caso, para a
BBC, que na sexta-feira publicou um perfil de Jones, o pastor já era
uma pessoa problemática antes de seu polêmico projeto do "Burn a Koran
Day". Antes de assumir a liderança do ‘Dove World Outreach Center',
Jones havia fundado, em Colônia (Alemanha), uma igreja evangélica - a
‘Christliche Gemeinde Köln' - que abandonou por causa das divergências
em 2008. Um tribunal administrativo falhou contra Jones em 2002, pelo
uso indevido do título de "doutor". O pastor também foi acusado pela
própria filha, Emma Jones, e por um ex-membro de sua igreja de abusos
financeiros. O pastor também teve problemas com as autoridades fiscais
da Flórida, por violar o status de isenção fiscal que a sua igreja tem.
Para
a missão da ONU e as forças internacionais presentes no Afeganistão, a
nova violência é fonte de preocupações. Enquanto a transferência da
responsabilidade da segurança para os afegãos deveria estar concluída
antes de 2014, há pouco mais de uma semana, o presidente Hamid Karzai
anunciou que certamente a cidade de Mazar-i-Sharif será uma das
primeiras áreas a voltar sob o controle do Afeganistão. A transferência
das indicações deveria ocorrer no próximo dia 1º de julho, como
observado pela agência ‘France-Presse' (3 de abril).
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