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Apelo do Papa a um Ocidente que parou de se amar
MADRI, quinta-feira, 23 de junho de 2011 (ZENIT.org)
- Bento XVI acaba de visitar a Croácia, país de quase 5 milhões de
habitantes, 89% dos quais são católicos. Antes, em 11 de abril, ao
receber o novo embaixador croata, o Papa tinha ressaltado as “raízes
cristãs” do país. E disse que a entrada croata na União Europeia deveria
acontecer “com total respeito pela sua cultura e pela sua vida
religiosa”. Por que esta advertência?
A resposta foi dada em 4 de
junho, primeiro dia da visita papal à capital Zagreb, diante de ampla
representação do mundo político, acadêmico, cultural e diplomático da
Croácia. O papa voltou ao tema, agora a partir do humanismo de base
católica, que foca “a consciência do ser humano, sua abertura
transcendente e ao mesmo tempo sua realidade histórica, capaz de
inspirar projetos políticos diversificados, mas convergentes, na
construção de uma democracia substancial, baseada nos valores éticos
arraigados na própria natureza humana".
Era uma reivindicação da consciência “objetiva”, baseada na busca da
verdade. Sua advertência foi clara. Relegar a religião e a moral ao
mundo instável da subjetividade seria um passo atrás, que levaria a
Europa à involução.
Reflito brevemente sobre esta sentença dura, do ponto de vista
jurídico. De acordo com uma visão difundida da lei, sua origem tenderia a
residir exclusivamente na chamada “consciência comum da sociedade”,
manifestada normalmente na vontade geral, reflexo dessa ambígua
expressão que é a opinião pública. Quando, através do mecanismo
parlamentar, ela toma forma de lei, o positivismo legalista a reforça
com este duplo postulado: “A lei é todo o direito; a lei é toda
direito”. Por cima dessa “comum opinião” não cabe a referência a uma
consciência moral superior. Uma consciência construída sobre a verdade e
sobre os valores que dela derivam.
Diante desta visão estreita, o foco clássico da justiça pensa que, na
sociedade democrática, além da lei positiva, existem outras instâncias
jurídicas; e que, para que o direito realize a verdadeira justiça, não
basta que a lei tenha sido aprovada pela maioria: é necessário que ela
concorde com padrões objetivos de justiça. Faz algumas semanas, nesta
mesma seção de ZENIT, elogiamos os julgamentos de Nuremberg contra o
nazismo. É claro que naqueles processos houve irregularidades. Entre
outras, o fato de terem participado entre os julgadores alguns
representantes da União Soviética, que também cometera crimes contra a
humanidade. Mas, ao rejeitar a tese da obediência à lei
nacional-socialista e às autoridades quando exigem ações contrárias à
lei objetiva, Nuremberg fez verdadeira justiça. Potencializou a função
ética que na teoria clássica corresponde à consciência pessoal. Uma
justiça que nem sempre achava precedente nas leis positivas, mas sim
naquele direito escrito na consciência de todo homem. Ou seja,
demonstrou que a cultura democrática ocidental se fundamenta em valores
jurídicos radicais, que estão acima de eventuais maiorias ou imposições
plebiscitárias. Esses valores jurídicos radicais são “a consciência
moral” a que o papa aludiu na Croácia.
Hoje está sendo reinventada uma espécie de consciência civil,
desgalhada demais do seu tronco original. Ao se tornar o Estado uma
espécie de terra de ninguém, pronta para ser colonizada por qualquer
ideologia com vocação de “religião”, a sociedade civil, uma vez
ideologicamente colonizada, se torna refratária a toda outra influência e
se transforma em intolerante. A afirmação de que o relativismo é
consubstancial à democracia supõe uma visão pessimista diante das
possibilidades reais da pervivência do sistema.
Alguns anos atrás, o próprio cardeal Ratzinger, num debate com o
presidente do senado italiano, Marcello Pera, atribuía os elementos da
atual crise europeia a estes fatores: paralisia das forças espirituais,
envelhecimento demográfico, destruição da consciência moral, banalização
da dimensão religiosa do homem. Em contraste com outras culturas
—outras religiões—, o Ocidente renuncia à defesa da verdade, que está
nas suas raízes cristãs. Em suma: “Aqui há um ódio do Ocidente contra si
mesmo, que é estranho e que só pode ser considerado como patológico. O
Ocidente tenta, de maneira louvável, se abrir, cheio de compreensão, a
valores externos, mas parou de amar a si mesmo. Da sua própria história
ele vê somente o que é execrável e destrutivo, e já não está em situação
de perceber o que tem de grande e de puro”.
Hoje, Bento XVI volta a insistir na necessidade de um redescobrimento
da consciência moral da Europa. Um lugar “de escuta da verdade e do
bem, lugar da responsabilidade perante Deus e os irmãos em humanidade,
que é a força mais forte contra qualquer ditadura”.
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Rafael Navarro-Valls é catedrático da Faculdade de Direito da
Universidade Complutense de Madri e secretário geral da Real Academia de
Jurisprudência e Legislação da Espanha.
CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 9 de junho de 2011 (ZENIT.org) - Bento XVI reafirmou nesta quinta-feira a “necessidade imperativa” de estabelecer a “ecologia humana”.
Segundo
o pontífice, as prioridades políticas e econômicas devem ser “adotar em
tudo uma maneira de viver respeitosa com o entorno e apoiar a pesquisa e
o uso de energias limpas, que preservem o patrimônio da criação e não
sejam perigosas para o homem”.
O Papa dirigiu-se em discurso a seis novos embaixadores que
apresentavam suas credenciais no Vaticano hoje, de: Moldávia, Guiné
Equatorial, Belize, Síria, Gana e Nova Zelândia.
O Papa falou da ecologia no discurso geral lido aos embaixadores,
apesar de ter entregue a cada um deles um discurso específico sobre a
realidade dos países representados.
Bento XVI afirmou que é necessário “revisar totalmente nosso enfoque
da natureza”. “Esta não é unicamente um espaço a se explorar, ou lúdico.
É o lugar de nascimento do homem, sua ‘casa’, por assim dizer. É
essencial para nós”.
“A mudança de mentalidade neste âmbito, ainda com as contradições que
carrega, deve permitir chegar rapidamente à arte de viver juntos, que
respeite a aliança entre o homem e a natureza, sem a qual a família
humana corre o risco de desaparecer.”
“Deve ser realizada, portanto, uma reflexão séria e devem ser
propostas soluções precisas e viáveis. O conjunto dos governantes deve
se comprometer a proteger a natureza e a ajudar a que desempenhe sua
função essencial na sobrevivência da humanidade.”
O Papa indicou a ONU como “o marco adequado desta reflexão, que não
deverá se obstaculizar por interesses políticos e econômicos cegamente
partidários, para dar prioridade à solidariedade sobre o interesse
particular”.
Bento XVI falou ainda sobre o “justo lugar da técnica” na atividade humana.
“A base do dinamismo do progresso corresponde ao homem que trabalha e não à tecnologia, que não é mais que uma criação humana.”
Apostar tudo na técnica e na tecnologia, ou acreditar que são o único
agente do progresso ou da felicidade, implica uma “coisificação do
homem, que conduz à cegueira e à miséria”.
“A técnica que domina o homem o priva da sua humanidade. O orgulho
que gera faz nascer em nossas sociedades um economicismo intratável e
certo hedonismo que determina os comportamentos.”
Segundo o Papa, o enfraquecimento da primazia do humano traz consigo uma confusão existencial e uma perda do sentido da vida.
“Porque a visão do homem e das coisas sem referência à transcendência
desarraiga o homem da terra e, mais fundamentalmente, empobrece a
própria identidade.”
“É, portanto, urgente chegar a conjugar a técnica com uma forte dimensão ética”, disse.
“A técnica deve ajudar a natureza a prosperar na linha querida pelo
Criador. Trabalhando assim, o pesquisador e o cientista aderem ao
desígnio de Deus, que quis que o homem seja o cume e o gestor da
criação.“
“As soluções baseadas neste fundamento protegerão a vida do homem e
sua vulnerabilidade, assim como os direitos das gerações presentes e as
vindouras. E a humanidade poderá continuar beneficiando-se do progresso
que o homem, pela sua inteligência, consegue realizar”, afirmou o Papa.
Bento XVI pediu que todos trabalhem na promoção de um humanismo respeitoso da dimensão espiritual e religiosa do homem.
“Porque a dignidade da pessoa humana não varia com a flutuação das
opiniões. Respeitar sua aspiração à justiça e à paz permite a construção
de uma sociedade que promove a si mesma, quando apoia a família ou
rejeita, por exemplo, a primazia exclusiva das finanças”, disse.