sábado, 11 de junho de 2011

Discurso do Papa a seis novos embaixadores

ZP11060906 - 09-06-2011
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“A técnica que domina o homem o priva da sua humanidade”, adverte

CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 9 de junho de 2011 (ZENIT.org) – Apresentamos, a seguir, o discurso que Bento XVI dirigiu hoje aos novos embaixadores da Moldávia, Guiné Equatorial, Belize, República Árabe da Síria, Gana e Nova Zelândia, ao recebê-los em audiência no Vaticano por ocasião da apresentação das suas cartas credenciais.
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Senhora e senhores embaixadores:
Recebo-vos com alegria nesta manhã, no Palácio Apostólico, para a apresentação das cartas que vos acreditam como embaixadores extraordinários e plenipotenciários dos vossos respectivos países ante a Santa Sé: Moldávia, Guiné Equatorial, Belize, República Árabe da Síria, Gana e Nova Zelândia. Agradeço-vos pelas amáveis palavras que me dirigistes da parte dos vossos respectivos Chefes de Estado. Por gentileza, transmiti-lhes minha cordial saudação e meus votos respeitosos pelas suas pessoas e pela alta missão que cumprem ao serviço dos seus países e do seu povo. Também desejo saudar, através de vós, todas as autoridades civis e religiosas das vossas nações, assim como ao conjunto dos vossos compatriotas. Minhas orações e meus pensamentos se dirigem também, naturalmente, às comunidades católicas presentes em vossos países.
Como tive a oportunidade de encontrar-me com cada um de vós de maneira particular, desejo agora falar-vos de maneira mais ampla. O primeiro semestre deste ano esteve marcado por inúmeras tragédias que atingiram a natureza, a tecnologia e as pessoas. A magnitude dessas catástrofes nos interroga. O homem é o primeiro, é bom recordar isso. O homem, a quem Deus confiou a boa gestão da natureza, não pode ser dominado pela tecnologia e tornar-se seu súdito. Esta consciência deve levar os Estados a refletirem juntos sobre o futuro a curto prazo do planeta, frente às suas responsabilidades sobre a nossa vida e a tecnologia. A ecologia humana é uma necessidade imperativa. Adotar em tudo uma maneira de viver respeitosa do ambiente e apoiar a pesquisa e a exploração de energias limpas que preservem o patrimônio da criação e não sejam perigosas para o homem devem ser prioridades políticas e econômicas. Neste sentido, é necessário revisar totalmente nosso enfoque da natureza. Esta não é unicamente um espaço por explorar ou lúdico. É o lugar de nascimento do homem, sua “casa”, por assim dizer. É essencial para nós. A mudança de mentalidade neste âmbito, ainda com as contradições que carrega, deve permitir chegar rapidamente à arte de viver juntos, que respeite a aliança entre o homem e a natureza, sem a qual a família humana corre o risco de desaparecer. Deve ser realizada, portanto, uma reflexão séria e devem ser propostas soluções precisas e viáveis. O conjunto dos governantes deve se comprometer a proteger a natureza e a ajudar a que desempenhe sua função essencial na sobrevivência da humanidade. Nas Nações Unidas me parece que são o marco adequado desta reflexão, que não deverá se obstaculizar por interesses políticos e econômicos cegamente partidários, para dar prioridade à solidariedade sobre o interesse particular.
Convém também perguntar-se sobre o justo lugar da técnica. As proezas das quais é capaz caminham lado a lado com desastres sociais e ecológicos. Ao ampliar-se o aspecto relacional do trabalho no planeta, a técnica imprime à globalização um ritmo especialmente acelerado. No entanto, a base do dinamismo do progresso corresponde ao homem que trabalha e não à tecnologia, que não é mais que uma criação humana. Apostar tudo nela ou acreditar que é o único agente de progresso ou de felicidade entranha uma coisificação do homem que conduz à cegueira e à miséria quando ele mesmo lhe atribui e delega a ela poderes que não tem. Basta constatar os “estragos” do progresso e os perigos que apresenta à humanidade uma técnica todo-poderosa e finalmente não controlada. A técnica que domina o homem o priva da sua humanidade. O orgulho que gera faz nascer em nossas sociedades um economicismo intratável e certo hedonismo que determina os comportamentos de maneira subjetiva e egoísta. O enfraquecimento da primazia do humano entranha uma confusão existencial e uma perda do sentido da vida. Porque a visão do homem e das coisas sem referência à transcendência desarraiga o homem da terra e, mais fundamentalmente, empobrece a própria identidade. É, portanto, urgente chegar a conjugar a técnica com uma forte dimensão ética, já que a capacidade que o homem tem de transformar e, de certa forma, de criar o mundo através do seu trabalho se baseia sempre no primeiro dom original das coisas, realizado por Deus (João Paulo II, Centesimus annus, 37). A técnica deve ajudar a natureza a prosperar na linha querida pelo Criador. Trabalhando assim, o pesquisador e o cientista aderem ao desígnio de Deus, que quis que o homem seja o cume e o gestor da criação. As soluções baseadas neste fundamento protegerão a vida do homem e sua vulnerabilidade, assim como os direitos das gerações presentes e as vindouras. E a humanidade poderá continuar beneficiando-se do progresso que o homem, pela sua inteligência, consegue realizar.
Conscientes do risco que a humanidade corre frente a uma técnica vista como uma “resposta” mais eficiente que a vontade política ou o paciente esforço educativo por civilizar os costumes, os governantes devem promover um humanismo respeitoso da dimensão espiritual e religiosa do homem. Porque a dignidade da pessoa humana não varia com a flutuação das opiniões. Respeitar sua aspiração à justiça e à paz permite a construção de uma sociedade que promove a si mesma, quando apoia a família ou rejeita, por exemplo, a primazia exclusiva das finanças. Um país vive da plenitude da vida dos cidadãos que o compõem, cada um sendo consciente das suas próprias responsabilidades e podendo fazer valer suas próprias convicções. Por outro lado, a tensão natural ao verdadeiro e ao bem é fonte de um dinamismo que gera a vontade de colaborar para realizar o bem comum. Assim, a vida social pode se enriquecer constantemente, integrando a diversidade cultural e religiosa através da partilha de valores, fonte de fraternidade e de comunhão. A vida em sociedade deve ser considerada, antes de tudo, como uma realidade de ordem espiritual, e os responsáveis políticos têm a missão de guiar os povos rumo à harmonia humana e à sabedoria tão desejadas, que devem culminar na liberdade religiosa, autêntico rosto da paz.
Ao começar vossa missão ante a Santa Sé, eu vos asseguro, excelências, que encontrareis sempre em meus colaboradores a escuta atenta e a ajuda que podeis necessitar. Sobre vós, vossas famílias, os membros das vossas missões diplomáticas e sobre todas as nações que representais, invoco a abundância das bênçãos divinas.
[Tradução: Aline Banchieri.

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