domingo, 28 de agosto de 2011

Continua emergência humanitária no Nordeste Africano

ZP11082605 - 26-08-2011
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Cada 11 semanas, morre 10% da população somali menor de 5 anos

ROMA, sexta-feira, 26 de agosto de 2011 (ZENIT.org) – Pouco mais de um mês após o dramático apelo lançado por Bento XVI, no domingo, 17 de julho, por ocasião da oração mariana do Ângelus, continua a catástrofe humanitária no Chifre da África, particularmente na já martirizada Somália: depois do Bakool Meridional e da Baixa Shabelle (especialmente os distritos de Balcad e Cadale), a de Benadir, que compreende a área da capital Mogadíscio, e o chamado corredor de Afgoye.
E tudo indica que as coisas não mudarão muito. “Não cometamos o erro de acreditar que o pior já passou, advertiu em Genebra o porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (UNHCR), Adrian Edwards (Agência EFE, 12 de agosto). “A situação não melhorará, pelo menos até janeiro”, confirmou, por sua vez, a coordenadora das intervenções humanitárias da Fundação Cooperação Internacional (COOPI) na Somália, Gemma Sammartin (Repubblica.it, 4 de agosto).
A emergência se estende também ao norte da Somália, em particular ao Puntland, ou seja, à região semi-autônoma que forma a ponta extrema da África Oriental. “As populações perderam 85% do gado pela seca e a porcentagem de desnutrição aguda chegou a 25% nos campos de refugiados de Bosaso, e a 23,6% na região do Karkaar”, declarou Daniele Timarco, de Save the Children Italia.
Segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), disponíveis em seu site (www.unicef.it, 17 de agosto), pelo menos 12,4 milhões de pessoas afetadas pela seca nos quatro países têm “necessidade imediata, urgente de ajuda humanitária”. As estimativas falam, de fato, de 4,8 milhões no leste da Etiópia, 3,7 milhões na Somália (das quais 2,8 milhões no sul do país), outros 3,7 milhões no nordeste do Quênia e, finalmente, 165 mil no pequeno Jibuti.
Ainda segundo a UNICEF, somente na Somália, 1,85 milhões de crianças precisam de assistência e mais de 780 mil estão desnutridas – 640 mil nas áreas meridionais. Deste último grupo, 310 mil crianças – isto é, quase a metade – sofrem de desnutrição aguda grave. Em todo o Chifre da África, 600 mil crianças se encontram em perigo imediato de morte, ao serem afetadas pela desnutrição grave. “Calcula-se – lê-se no Situation Report da Cáritas Somália, enviado à agencia Fides  (20 de agosto) – que, a cada 11 semanas, morre 10% da população somali abaixo dos 5 anos.”
Enquanto isso, prossegue o êxodo dos refugiados. Os dados do UNHCR, que na semana passada havia criado um novo site para a emergência no Chifre da África [1], impressionam. Basta pensar na situação de Dadaab, a empoeirada cidade do nordeste do Quênia que acolhe atualmente o maior complexo de campos de refugiados. Segundo estimativas da agência da ONU, os diversos campos de Dadaab – Ifo, Dagahaley e Hagadera, mais a chamada "Extension Ifo", com os setores Ifo 2 e Ifo 3 – acolhem quase 440 mil refugiados somalis, um número de habitantes de cidades italianas como Bari (320 mil). Fugindo da carestia, da seca e da violência em seu país, atualmente mais de 140 mil somalis chegaram este ano ao Quênia, dos quais 700 mil nos meses de junho e julho (www.unhcr.it, 19 de agosto).
A constante afluência de refugiados coloca as agências humanitárias diante de uma imensa tarefa. A situação higiênica e sanitária nos campos superpopulados está frequentemente no limite, com todas as consequências, como demonstra o aparecimento de doenças como o cólera, o sarampo e a coqueluche. No complexo dos campo de Dollo Ado (Etiópia), por exemplo, foram registrados, segundo o UNHCR, 166 casos suspeitos de sarampo e 15 falecimentos ligados a esta doença.
Para enfrentar esta enésima emergência, as agências internacionais lançaram uma série de programas de vacinação massiva. Precisamente no complexo Dollo Ado, concluiu na semana passada, no campo de Kobe, uma primeira campanha de imunização contra o sarampo em todas as crianças na faixa dos 6 meses aos 15 anos, e se colocou em marcha uma segunda em Melkadida, que, com seus 40 mil prófugos, é a maior região da Etiópia.
Outro desafio para os agentes humanitários é a contínua violência. Na sexta-feira, 5 de agosto, um tiroteio ocorrido durante a distribuição de alimentos no maior campo de refugiados da capital somali, Mogadíscio (Badbado), provocou 12 vítimas. Segundo algumas testemunhas, a violência começou quando soldados governamentais ou milicianos próximos do fraco governo de transição tentaram roubar uma parte das quase 300 toneladas de ajuda do Programa Alimentar Mundial (WFP). O primeiro-ministro somali, Abdiweli Mohamed Ali, visitou o lugar e se declarou “profundamente incomodado” (guardian.co.uk, 5 de agosto).
Violência e abusos afetam também os prófugos somalis, que, depois de terem caminhado durante dias e noites inteiras, conseguem chegar aos campos do Quênia e da Etiópia. Um novo informe de Human Rights Watch (HRW), divulgado neste mês com o título “You Don't Know Who to Blame”. War Crimes in Somalia [2], denuncia abusos contra os direitos humanos, cometidos inclusive por parte das tropas do AMISOM (a missão da União Africana na Somália) e da polícia do Quênia. Não faltam notícias sobre as mulheres somalis estupradas em Dadaab e nas proximidades por policiais quenianos.
Um capítulo à parte são os combatentes do movimento islâmico extremista al-Shabab, que se retiraram de Mogadíscio, permitindo às tropas governamentais que estendessem o controle a toda a capital, que, segundo estimativas, acolhe cerca de 475 mil refugiados internos, dos quais 100 mil chegaram nos últimos meses. “Eu me pergunto se a de Chabab não é uma retirada estratégica para fazer confluir em Mogadíscio as ajudas humanitárias, para depois voltar de repente e tomar uma parte, ou talvez seus dirigentes tenham advertido a fortíssima pressão internacional (…) e tenham decidido deixar temporalmente a cena da capital somali”, explicou a Fides (8 de agosto) Dom Giorgio Bertin, bispo de Jibuti e administrador apostólico de Mogadíscio.
A ONG americana International Christian Concern (ICC), que denuncia a perseguição dos cristãos no mundo, acusa, por outro lado, os milicianos de al-Shabab de negar deliberadamente, aos cristãos que moram nos territórios controlados por eles, o acesso às ajudas ou a possibilidade de fugir a regiões sob controle governamental, um movimento que faz parte de uma estratégia para erradicar o cristianismo da Somália. “Qualquer somali suspeito de ser cristão ou amigo de um cristão não recebe ajuda humanitária alguma”, afirmou o chefe de uma igreja clandestina (ICC, 15 de agosto). Segundo fontes locais, pelo menos 18 cristãos morreram de inanição nas cidades de Afgoye, Baidawa e Kismayo, após terem sido excluídos das ajudas humanitárias.
Como se sabe, os al-Shabab, que no último verão vetaram três agências humanitárias cristãs, acusando-as de ser missionárias, mostraram-se sempre ferozes diante dos cristãos. Basta recordar as impactantes imagens da degolação, em 2008, de um convertido ao cristianismo, o jovem de 25 anos Mansur Mohammed, por parte dos milicianos islâmicos.
Enquanto isso, a comunidade cristã internacional mantém, junto às demais agências humanitárias, seu compromisso a favor das populações afetadas. Enquanto a Cáritas Somália está coordenando as ajudas procedentes das demais cáritas do Mundo, a organização católica irlandesa Trócaire assiste cerca de 220 mil pessoas no centro-sul da Somália (Fides, 20 de agosto). Por outro lado, os bispos católicos do Quênia lançaram, há algumas semanas, um fundo de emergência – o Catholic Charity Emergency Fund – e dirigiram um apelo para contribuições a favor desta iniciativa (Fides, 4 agosto).
Em nome do Papa Bento XVI, o Conselho Pontifício Cor Unum enviou uma “substanciosa ajuda” a 5 dioceses do Quênia e a 6 dioceses da Etiópia, que “estão enfrentando a emergência humanitária com os poucos meios que têm à sua disposição. Quem fez esta declaração foi o secretário do dicastério, Dom Giampietro Dal Toso, em uma entrevista à Radio Vaticano (12 de agosto). “A presença da comunidade internacional está garantida, mas repito: acho que a atenção deve estar sempre disposta, porque atualmente é a crise financeira que ocupa a maior parte da informação. Mas nesses países e em muitos outros do mundo, existem pessoas que morrem de fome, e no terceiro milênio isso é inadmissível”, afirmou o prelado.
[1] http://data.unhcr.org/horn-of-africa/
[2] http://www.hrw.org/sites/default/files/reports/somalia0811webwcover.pdf

(Paul De Maeyer)

TRAÇOS GERAIS DA HISTÓRIA DA EVANGELIZAÇÃO EM ANGOLA


 Dado que os Portugueses mostravam mais interesse por Angola do que pelo Reino do Congo, a vida religiosa daquele país decresceu por falta de missionários. Os poucos que apareciam nem sempre eram exemplares. D. Alvaro II enviou uma embaixada a Roma. Mons. João Baptista Vives, espanhol, apresentou oficialmente o pedido e sugeriu o envio de Capuchinhos. Entretanto, é fundada a Congregação da Propaganda fide (1622). O Papa Urbano VIII, pede, por intermédio dessa Congregação, o envio de missionários para o Congo e em 1640 cria-se prefeitura Apostólica do Congo e Frei Boaventura de Alessano nomeado Prefeito Apostólico. O grupo chegou a Lisboa, mas não pôde seguir para Angola por este Reino ter caído na mão dos holandeses.
Em 1643 prepara-se nova expedição sob a direcção do mesmo Frei Boaventura de Alessano. O grupo, composto por 7 italianos e 5 espanhóis, parte de um porto espanhol e viaja com passaporte espanhol. O embarque deu-se a 20 de Janeiro de 1645 e o desembarque na foz do rio Zaire foi em Junho do mesmo ano, após uma viagem acidentada. No Soyo são recebidos como verdadeiros salvadores. Os frades capuchinhos organizam o serviço religioso, a catequese e confessam muita gente. Muitos cristãos aproveitam para regularizarem a sua situação matrimonial. São baptizadas 1500 pessoas.
Clero indígena ou angolano O problema do clero indígena é dos mais graves e delicados nas actividades missionária. As dificuldades tanto vinham dos evangelizados como dos evangelizadores. Sobretudo os familiares dos evangelizandos dificilmente aceitavam as exigências da vida consagrada. Os evangelizadores, por sua vez, estavam imbuídos de preconceitos que os levavam a não acreditar que o negro pudesse desempenhar dig­namente as funções sacerdotais. Existem relatórios sobre tais preconceitos nos arquivos. No entanto, os missionários procuraram formar clero indígena, desde o princípio, no Congo. D.Afonso I mandou o seu filho D.Henrique para Portugal e outros jovens de boa índole, a fim de se prepararem para o sacerdócio. Vários ordenaram-se e D.Henrique foi proposto para Bispo. Devido aos preconceitos de que falámos, a nomeação foi feita com bastante relutância. O Papa Leão X, escrevendo para D.Manuel, rei de Portugal, que apadrinhava a candidatura, dizia;
 
Religiosos que trabalharam no Congo
 
1- Cónegos de são João Evangelista, também chamados Padres Loios, por viverem no Convento de 2- Padres Dominicanos; 3-Padres Franciscanos; 4-Padres da Companhia de Jesus; 5-Frades Menores Capuchinhos; 6-Sacerdotes Diocesanos angolanos e portugueses.
4. Igrejas construídas no Congo
1- Igreja da Sé, consagrada ao SS. Salvador, que deu o nome à cidade de Mbanza.
2- Igreja de. S.Tiago Maior 3- Igreja de Nossa Senhora do Rosário 4- Igreja de Nossa Senhora da Conceição 5- Igreja de Santa Cruz 6- Igreja de São João Baptista 7 - Igreja de São Miguel 8- Igreja de Santa Isabel 9- Igreja de Nossa Senhora das Vitórias
Nas Províncias havia: Igreja do Nsundi Igreja do Pemba Igreja do Pinda Igreja do Uandu Igreja do Bamba
Sabe-se que em 1519, o ngola do Dongo pediu, por intermédio de Dom Afonso do Congo, homens brancos e sacerdotes para se converter e comerciar, como se fazia no Congo. Dom Afonso transmitiu este pedido a Dom Manuel I de Portugal, fazendo acompanhar o pedido duma oferta de prata proveniente, talvez, de Angola.
Em 1517, o Papa Leão X nomeou bispo o Príncipe D. Henrique, que foi o primeiro Bispo da África Negra. Em 1534, foi criada a diocese de São Tomé, desmembrada da do Funchal. O Congo passou a depender da diocese de São Tomé. Em 1596, o Papa Clemente VIII criou a diocese de São Salvador, que abrangia os reinos do Congo e de Ngola. Os Jesuítas chegaram ao Congo em 1548, e os Dominicanos, em 1570. Paulo Dias de Novais, em 1575, funda a cidade de Luanda e ali permaneceram os Jesuítas, vindos na sua armada. Em 1584, foi a vez dos Carmelitas Descalços.
 
A segunda metade do século XVII foi já de decadência nos trabalhos missionários. Causas políticas tiveram um influxo multo acentuado na acção religiosa. Luanda e quase todo o litoral de Angola foram ocupados pelos holandeses, protestantes calvinistas. Esta ocupação levou à destruição de várias obras e à deslocação de populações.
Restaurado o domínio português em 1648, Angola passou praticamente a constituir um domínio do Brasil, que em África encontrava o mercado de escravos de que precisava para a agricultura e, mais tarde, para o trabalho das minas. O século XVIII foi já de profunda decadência, principalmente com a expulsão dos jesuítas e com a decadência das Ordens Religiosas em quase toda a Europa.
Os sacerdotes diocesanos, angolanos, portugueses e brasileiros, que se encontravam em Angola eram pouco numerosos e geralmente faltava-lhes organização, zelo missionário e métodos apropriados ao apostolado missionário. O encerramento das casas religiosas em Portugal pelo Governo Liberal em 1834 tirou a esperança da recuperação durante muitos anos. Um bispo do século XIX pedia para Portugal que se acudisse à sua "moribunda diocese e a um outro, de meados deste século atribui-se esta frase de desalento: "Das Missões de Angola e Congo só resta a memória". Na realidade o número de sacerdotes chegou ao índice mais baixo em 1853: 5 angolanos, encontrando-se 4 em Luanda I em Benguela. As antigas paróquias e igrejas tinham desaparecido quase todas, missões propriamente ditas no interior não havia nenhuma.
Várias foram as causas:
-          A prioridade dada pelos reis de Portugal aos assuntos do Brasil;
-           - A falta de pessoal missionário;
-          - A inclemência do clima que vitimava os missionários;
-           - Os exemplos pouco edificantes dos comerciantes portugueses:
-          - A ausência do clero indígena;
-          - A expulsão dos Jesuítas e das Ordens Religiosas pelo Marquês de Pombal (1759) e por Joaquim Ant6nio de Aguiar (1834).
 

Dado que os Portugueses mostravam maisde Matamba, dependente da Sagrada Congregação da Propagação Fide, sendo nomeado Prefeito Apostólico o padre Serafim de Corto na, que passou a viver em Massangano, sede da Prefeitura. Tentou várias vezes visitar a Rainha, mas sem resultado. Seguia os progressos da evangelização da Matamba pelas informações do padre António de Gaeta. A Rainha mandou o padre António a Roma com carta ao Papa em que o reconhecia como chefe da Igreja e pedia que o padre António fosse nomeado Prefeito Apostólico da Matamba. O Governo de Luanda não viu com bons olhos que a Rainha se comunicasse directamente com Roma.
Foi decidido enviar as cartas a Roma pelo padre Serafim de Cortona, amigo pessoal do novo Papa Alexandre VII. A embaixada partiu bastante tempo depois, via Brasil e Portugal, além de bastante acidentada. Ao chegar a Roma, o padre Serafim desempenhou a sua missão. O Papa enviou uma carta à rainha da Matamba e a Sagrada Congregação da Propaganda Fide outra nomeando o padre António Gaeta Prefeito Apostólico da Matamba. Ao receber as cartas pela mão do padre Antônio de Gaeta, a Rainha chorou de comoção. Padre António despediu-se da Rainha e passou a viver em Luanda. Jinga ficou chocada com a retirada do padre António e pediu-lhe que lhe deixasse um hábito "gasto e velho", para vestir o seu cadáver depois da morte.
Envio de uma embaixada ao Papa Por D. Alvaro, embaixada chefiada por D.António Manuel, Duque de Funesta. O embaixador morreu em Roma antes de entregar as suas cartas credenciais. Foi sepultado com todas as honras na igreja de Santa Maria Maior, onde tem um busto; A criação da Diocese de Congo e de Angola em 20 de Maio de 1596 sem limites definidos.
Os Institutos que trabalharam no Reino do Ndongo e Matamba foram vários dentre os quais destacamos 1. Clero secular angolano e português 2. Padres da Companhia de Jesus 3. Padres Carmelitas Descalços 4. Franciscanos Terciários 5. Orde interesse por Angola do que pelo Reino do Congo, a vida religiosa daquele país decresceu por falta de missionários. Os poucos que apareciam nem sempre eram exemplares. D. Alvaro II enviou uma embaixada a Roma. Mons. João Baptista Vives, espanhol, apresentou oficialmente o pedido e sugeriu o envio de Capuchinhos. Entretanto, é fundada a Congregação da Propaganda fide (1622). O Papa Urbano VIII, pede, por intermédio dessa Congregação, o envio de missionários para o Congo e em 1640 cria-se prefeitura Apostólica do Congo e Frei Boaventura de Alessano nomeado Prefeito Apostólico. O grupo chegou a Lisboa, mas não pôde seguir para Angola por este Reino ter caído na mão dos holandeses.
Em 1643 prepara-se nova expedição sob a direcção do mesmo Frei Boaventura de Alessano. O grupo, composto por 7 italianos e 5 espanhóis, parte de um porto espanhol e viaja com passaporte espanhol. O embarque deu-se a 20 de Janeiro de 1645 e o desembarque na foz do rio Zaire foi em Junho do mesmo ano, após uma viagel11 acidentada. No Soyo são recebidos como verdadeiros salvadores. Os frades capuchinhos organizam o serviço religioso, a catequese e confessam muita gente. Muitos cristãos aproveitam para regularizarem a sua situação matrimonial. São baptizadas 1500 pessoas.
Clero indígena ou angolano O problema do clero indígena é dos mais graves e delicados nas actividades missionária. As dificuldades tanto vinham dos evangelizados como dos evangelizadores. Sobretudo os familiares dos evangelizandos dificilmente aceitavam as exigências da vida consagrada. Os evangelizadores, por sua vez, estavam imbuídos de preconceitos que os levavam a não acreditar que o negro pudesse desempenhar dig­namente as funções sacerdotais. Existem relatórios sobre tais preconceitos nos arquivos. No entanto, os missionários procuraram formar clero indígena, desde o princípio, no Congo. D.Afonso I mandou o seu filho D.Henrique para Portugal e outros jovens de boa índole, a fim de se prepararem para o sacerdócio. Vários ordenaram-se e D.Henrique foi proposto para Bispo. Devido aos preconceitos de que falámos, a nomeação foi feita com bastante relutância. O Papa Leão X, escrevendo para D.Manuel, rei de Portugal, que apadrinhava a candidatura, dizia;
 
Religiosos que trabalharam no Congo1- Cónegos de são João Evangelista, também chamados Padres Loios, por viverem no Convento de 2- Padres Dominicanos; 3-Padres Franciscanos; 4-Padres da Companhia de Jesus; 5-Frades Menores Capuchinhos; 6-Sacerdotes Diocesanos angolanos e portugueses.
4. Igrejas construídas no Congo1- Igreja da Sé, consagrada ao SS. Salvador, que deu o nome à cidade de Mbanza.
2- Igreja de. S.Tiago Maior 3- Igreja de Nossa Senhora do Rosário 4- Igreja de Nossa Senhora da Conceição 5- Igreja de Santa Cruz 6- Igreja de São João Baptista 7 - Igreja de São Miguel 8- Igreja de Santa Isabel 9- Igreja de Nossa Senhora das Vitórias
Nas Províncias havia: Igreja do Nsundi Igreja do Pemba Igreja do Pinda Igreja do Uandu Igreja do Bamba
Sabe-se que em 1519, o ngola do Dongo pediu, por intermédio de Dom Afonso do Congo, homens brancos e sacerdotes para se converter e comerciar, como se fazia no Congo. Dom Afonso transmitiu este pedido a Dom Manuel I de Portugal, fazendo acompanhar o pedido duma oferta de prata proveniente, talvez, de Angola.
Em 1517, o Papa Leão X nomeou bispo o Príncipe D. Henrique, que foi o primeiro Bispo da África Negra. Em 1534, foi criada a diocese de São Tomé, desmembrada da do Funchal. O Congo passou a depender da diocese de São Tomé. Em 1596, o Papa Clemente VIII criou a diocese de São Salvador, que abrangia os reinos do Congo e de Ngola. Os Jesuítas chegaram ao Congo em 1548, e os Dominicanos, em 1570. Paulo Dias de Novais, em 1575, funda a cidade de Luanda e ali permaneceram os Jesuítas, vindos na sua armada. Em 1584, foi a vez dos Carmelitas Descalços.
A segunda metade do século XVII foi já de decadência nos trabalhos missionários. Causas políticas tiveram um influxo multo acentuado na acção religiosa. Luanda e quase todo o litoral de Angola foram ocupados pelos holandeses, protestantes calvinistas. Esta ocupação levou à destruição de várias obras e à deslocação de populações.
Restaurado o domínio português em 1648, Angola passou praticamente a constituir um domínio do Brasil, que em África encontrava o mercado de escravos de que precisava para a agricultura e, mais tarde, para o trabalho das minas. O século XVIII foi já de profunda decadência, principalmente com a expulsão dos jesuítas e com a decadência das Ordens Religiosas em quase toda a Europa.
Os sacerdotes diocesanos, angolanos, portugueses e brasileiros, que se encontravam em Angola eram pouco numerosos e geralmente faltava-lhes organização, zelo missionário e métodos apropriados ao apostolado missionário. O encerramento das casas religiosas em Portugal pelo Governo Liberal em 1834 tirou a esperança da recuperação durante muitos anos. Um bispo do século XIX pedia para Portugal que se acudisse à sua "moribunda diocese e a um outro, de meados deste século atribui-se esta frase de desalento: "Das Missões de Angola e Congo só resta a memória". Na realidade o número de sacerdotes chegou ao índice mais baixo em 1853: 5 angolanos, encontrando-se 4 em Luanda I em Benguela. As antigas paróquias e igrejas tinham desaparecido quase todas, missões propriamente ditas no interior não havia nenhuma.
Várias foram as causas:
-          A prioridade dada pelos reis de Portugal aos assuntos do Brasil;
-           - A falta de pessoal missionário;
-          - A inclemência do clima que vitimava os missionários;
-           - Os exemplos pouco edificantes dos comerciantes portugueses:
-          - A ausência do clero indígena;
-          - A expulsão dos Jesuítas e das Ordens Religiosas pelo Marquês de Pombal (1759) e por Joaquim Ant6nio de Aguiar (1834).
 
Quando os Portugueses chegaram pela primeira vez à foz do Zaire em 1482, o espaço geográfico que hoje forma Angola estava dividido por vários reinos, mais ou menos independentes. Depois de meio século de presença no Congo, os Portugueses travaram relações com os reinos limítrofes, a começar pelo reino governado por príncipes chamados "NGOLA", donde veio a palavra Angola.
Paulo Dias de Novais, Conquistador e Governador do reino do Ndongo Como a expedição tinha carácter político e religioso foi necessário criar dois grupos. O grupo político foi foramado por Paulo Dias de Novais e o religioso pelo Padre Francisco de Gouveia que agregou a si o padre Agostinho lacerda e os irmãos portugueses Manuel Pinto e Amónio Mendes. A expedição chegou à foz do Kuanza a 3 de Maio de 1560. Paulo Dias de Novais mandou emissários ao rei do Ndongo a informar a sua chegada. Regressaram trazendo carta confidencial de um residente Português dizendo ser perigoso ir até à côrte do rei. Depois de muitas hesitações resolveram ir até Angola. Cedo o entusiasmo da chegada se transformou em frieza. O rei recusou-se a receber o Baptismo.
Assim, quando Paulo Dias de Novais chegou à ilha de Luanda em 1575, já lá encontrou uma capela construída pelos portugueses em honra de Nossa Senhora da Conceição e havia alguns africanos baptizados, segundo pode deduzir-se das cartas dos primeiros jesuítas. Mas foi só depois da fundação da cidade, em 1575, que o cristianismo se propagou no reino de Angola.
Datam de 1590 as primeiras Paróquias de Angola: Luanda - N." S." da Conceição. Massangano - N. Srª da Vitória. Em 1605 chegam os Franciscanos da Terceira Ordem.
Em 27 de Dezembro de 1654 foi criada a Prefeitura Apostólica m dos Frades Menores Capuchinhos
Em termos de infra estruturas construídas no Reino de Ndongo e Matamba ressaltamos 1. Capela de São Sebastião 2. Igreja de Nossa Senhora da Conceição 3. Capela do Espírito Santo 4. Igreja de São João dos Europeus 5. Igreja de Santo António 6. Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos 7. Igreja de São José 8. Ermida de Santo Amaro 9. Capela de Santa Efigénia e Santo Estrabão 10. Igreja do Carmo 11. Capela de São Miguel 12. Igreja de Nossa Senhora do Cabo 13. Igreja de Nossa Senhora da Guia ou da Glória 14. Ermida de Nossa Senhora do Desterro 15. Igreja de Nossa Senhora da Esperança 16. Igreja de Jesus 17. Igreja de São João Baptista Estas igrejas estavam na cidade de Luanda e ilhas circunvizinhas.
No interior foram construí as seguintes: 18. Igreja de São José de Calumbo 19. Igreja de Nossa Senhora da Muxima 20. Igreja de Nossa Senhora das Vitórias (Massangano) 21 Igreja de São Benedito (Luinha) 22. Igreja de Santo António (Luinha) 23. Igreja de Nossa Senhora da Conceição (Conga Andala) 24. Igreja de Santo António (Kibanzo) 25. Igreja de Santa Ana (Loabo) 26. Igreja de São Bartolomeu (Tamba) 27. Igreja de Nossa Senhora do Desterro (Quaxoto ) 28. Igreja de São João (Cacuso) 29. Igreja de Nossa Senhora do Rosário (Cambambe) 30. Igreja de Santo Hilarião (Golungo Alto) 31 Igreja de Nossa Senhora da Assunção (Ambaca) 32 Igreja de Nossa Senhora do Rosário (Pungo Andongo) 33. Igreja de São José do Encoje 34. Igreja de Santa Ana em Caxito 35. Igreja de São José (Libongos) 36. Igreja de São João (Talamatumbo) 37. Igreja de São João Evangelista(Kilombo) 38. Igreja de Nossa Senhora do Desterro (Combe) 39. Igreja de Nossa Senhora do Livramento (Chocolo) 40. Igreja de Santa Ana (Quilengues) 41. Igreja de São Joaquim 42. Igreja de Nossa Senhora do Pópulo (Benguela) 43. Igreja de Nossa Senhora da Conceição (Caconda ).
 
A SEGUNDA EVANGELIZAÇÃO DE ANGOLA
Em meados do século XIX era trágica a situação religiosa de Angola. A sé estava vaga desde 1826. Só em 1852 chegaria um novo bispo, Dom Joaquim Moreira Reis, que se demorou apenas três anos, desanimado com o estado da diocese e com falta de meios para dar remédio a tantas necessidades que o acabrunhavam. Foi durante o seu curto episcopado que o Governo Português criou oficialmente o Seminário de Luanda, que só dez anos mais tarde podia abrir.
Dom Manuel de Santa Rita Barros, novo bispo, trouxe consigo de Portugal alguns sacerdotes para o seminário e 12 seminaristas já adiantados do seminário de Santarém. Mas tanto o bispo como alguns sacerdotes e 4 seminaristas viriam. a falecer de febre amarela, quatro meses depois da chegada a Luanda. No intervalo dos dois bispos, chegaram uns oito sacerdotes para paroquiar em Angola e mais alguns foram vindo nos anos seguintes.
No tempo do Bispo Dom José Lino de Oliveira chegaram ao Ambriz os primeiros missionários espiritanos franceses.
Tinham estes já algumas missões no Gabão e, sabendo que os capuchinhos italianos haviam nos séculos passados missionado no Congo, onde para eles tinha sido criada uma prefeitura apostólica, pediram à Sagrada Congregação da Propaganda que lhes concedesse esta Missão nas mesmas condições em que os capuchinhos ali haviam trabalhado. A Propaganda, depois de ter consultado os superiores dos capuchinhos, que responderam não dispor de pessoal.
O seu pedido foi aceite e o padre Schwindenhamer foi nomeado Prefeito Apostólico do Congo. Feitas as "demarches" políticas e diplomáticas achadas convenientes, organizou-se a primeira expedição formada pelos veteranos das missões, os padres: José Maria Poussot, Vice- Prefeito Apostólico, António Ansclmo Espitallié Estêvão Billon, irmão leigo. Partiram de Paris no dia 28 de Janeiro 1866; passaram discretamente por Lisboa, e chegaram ao Ambriz a 14 de Março de 1866. Em consequência de várias circunstancias, os primeiros missionários do Espírito Santo retiram-se para a Europa.
As dificuldades encontradas pelos Padres do Espírito Santo da primeira expedição levaram os Superiores Maiores a encerrar a Missão do Congo. Mas as notícias sobre Lândana entusiasmaram o Conselho Geral da Congregação, pelo que retomou a ideia da reabertura da" Missão do Congo a partir de Lândana. Desta forma, retomaram-se os contactos com a Propaganda Fide e, pelo Decreto de 25 de Julho de 1873, foi criada a Missão de S.Tiago de Lândana.
Fundada a Missão de Lândana, a Sagrada Congregação da Propaganda Fide, sempre a pedido do Superior Geral, criou a Prefeitura Apostólica de Cimbebásia (Cubango) a 3 de de Julho de 1873, cujos limites são os seguintes: Ao norte pelo curso do rio Cassai e Liba, a leste pela margem ocidental de Zambeze, pelo rio Haart e pela república da Transvaal, a oeste pelo Ocêano Atlântico e a sul pelo rio Cunene.
Dez anos depois, em 1883, chegaram as Irmãs de São José de Cluny a Lândana. Foram as primeiras Religiosas a enfrentar as hostilidades do clima africano. Acompanharam quase sempre os Padres do Espírito Santo, destacando-se sobretudo na formação cristã da mulher angolana
Os sacerdotes seculares vindos de Portugal (a maior parte formados em Cernache do Bonjardim) e da arquidiocese de Goa, trabalharam geralmente nas antigas paróquias dos séculos passados e noutras que se foram erigindo de novo. Estes párocos até 1910 acumulavam as funções do ministério paroquial com o exercício do magistério primário.
 
VIDA RELIGIOSA DE 1910 A 1940
 
Em 1908 chegaram as Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria que ali se têm mantido até aos nossos dias.
Desde 1885 até 1910 a vida religiosa foi-se desenvolvendo com certa intensidade: o pessoal missionário - padres, irmãos e irmãs - iam aumentando progressivamente e as populações iam-se abrindo à evangelização. Mas algumas guerras de ocupação do território tornaram certos povos impermeáveis por algum tempo, como os cuanhamas.
Era de esperança a acção religiosa em 1910, com a chegada anual de vários sacerdotes, irmãos e irmãs. Em 5 de Outubro daquele ano, a revolução que suprimiu a monarquia e instaurou o regime republicano em Portugal mostrou-se logo de início contra a Igreja Católica e suas instituições: supressão dos Institutos religiosos, dos seminários e do ensino religioso nas escolas, nacionalização dos bens eclesiásticos - seminários, residências episcopais e paroquiais e das comunidades religiosas - imposição do casamento civil, admissão do divórcio, etc. Ao mesmo tempo, na imprensa intensificou-se a propaganda, que já vinha detrás, contra a Igreja e a vida católica.
Em Angola, os reflexos destas leis e da campanha anti-religiosa encontravam numerosos adeptos, mesmo em algumas autoridades. Vários missionários, sobretudo estrangeiros, foram perseguidos, foram expulsas as religiosas que trabalhavam em Luanda e Moçâmedes, e suprimidos os subsídios que o Estado vinha concedendo a várias missões e outras instituições católicas. Mas a supressão dos Institutos Religiosos e dos seminários em Portugal tinha consequências mais desastrosas em Angola e nas outras colónias portuguesas. Quanto às Religiosas sucedia o mesmo: as Franciscanas Hospitaleiras retiraram-se para Portugal e não voltaram mais.
 Em 1940 a Santa Sé e o Governo Português estabeleceram dois acordos: A Concordata e o Acordo Missionário, aos quais o Governo Português acrescentou o Estatuto Missionário. Estes documentos condicionaram o funcionamento das missões. Tais documentos comsagraram o nacionalismo missionário, como afirmaram alguns responsáveis do tempo. O Cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira, referindo-se ao Acordo Missionário, declara a 10 de Dezembro de 1940: "Pelo Acordo Missionário continua no Ultramar a nossa vocação de dilatar a Fé e o Império". " A constituição da hierarquia nas nossas mais importantes Colónias é um acto simbólico da sua ocupação, para Cristo e para Portugal", A 25 de Maio do mesmo ano, Salazar acrescenta: "Não pode pôr-se, entre nós, o problema de qualquer incompatibilidade entre a política da Nação e a liberdade da evangelização; pelo contrário, uma faz parte da outra. O governo condiciona a evangelização à formação patriótica do clero". Monsenhor Alves da Cunha concluiu: "Com o Acordo Missionário a Santa Sé favorece os altos interesses nacionais de Portugal. A Organização Missionária Católica será essencialmente portuguesa".
Entre 1926 e 1940, a expansão da Igreja Católica foi visivelmente impulsionada com a fundação de 29 novas missões. De 1930 a 1960, mais de 20 Congregações missionárias enviaram pessoal para Angola: Beneditinos, Beneditinas, Doroteias, Irmãs do SS. Salvador, Irmãs de la Salette, Capuchinhos, Franciscanas Missionárias de Maria, Reparadoras, Teresianas, Redentoristas, Ordem Trapista, Irmãozinhos de Jesus, Irmãos Maristas, Irmãs do Amor de Deus, Dominicanas de Se. Catarina, Espiritanas, Missionárias Médicas de Maria, Dominicanas do Rosário, Irmãs da Misericórdia.
Em 28 anos (1940-1968), o número de Padres angolanos passou de 8 a 71. Durante a 2." Guerra Mundial (1939-1945), não foi possível a entrada de pessoal missionário estrangeiro; mas, finda a Guerra, muitas Congregações acorreram ao apelo e dedicaram-se ao apostolado missionário em Angola.
Em 1954, ANO SANTO MARIANO, a revista O Apostolado deu início à campanha para a fundação de uma Emissora Católica de Angola (E.C.A.). No dia 8 de Dezembro de 1954 (encerramento das comemorações marianas) realizou-se a I." emissão da Rádio Ecclesia, Emissora Católica de Angola.
Na cidade de Luanda, em 15 anos (1960-1975), as paróquias passaram de 5 a 14. A expansão missionária prosseguia com novas dioceses e novos seminários diocesanos, com frequência muito animadora. A evangelização foi feita com mais profundidade e, em muitos lugares, era uma autêntica pré-evangelização.
 
A Igreja e a questão Social
A população, que os missionário evangelizavam, estava estratificada. Os brancos, naturais de Portugal, tinham mais privilégios do que os naturais de Angola. Os mestiços (assimilados por natureza) tinham direito ao ensino oficial, mas não ao serviço militar. Os pretos que sabiam ler e escrever eram assimilados por promoção e tinham os mesmos direitos que os mestiços.
Para prestar serviço religioso aos três grupos estavam os padres Diocesanos (europeus, euroafricanos e assimilados). Tinham estruturas paroquiais, à maneira de Portugal, diria Monsenhor Alves da Cunha.
Os indígenas (pretos que viviam segundo os usos tradicionais) estavam entregues aos missionários religiosos, salvo raras excepções. As relações entre os diversos grupos sociais eram, teoricamente, abertas. Mas, na prática, cada um procurava conviver com pessoas da sua condição social. A condição do assimilado era a mais dramática. Não convivia nem com o europeu nem com o indígena.
O ensino indígena Todos os governos coloniais tiveram sempre medo da promoção intelectual dos indígenas. Portugal Confiou a instrução dos indígenas às Missões Católicas, mas sem lhes atribuir verbas para isso. Os missionários alfabetizaram Angola à sua custa. A situação mudou um pouco depois de 1961, mas estava longe de corresponder às necessidades da população indígena. O ensino indígena começou por se chamar ENSINO RUDIMENTAR e durava três anos. Depois passou-se a chamar ENSINO DE ADAPTAÇÃO com duração também de três anos. Em ambos os casos, no terceiro ano, a criança podia fazer o exame oficial. Mas, na prática, não o fazia, por os pais não poderem apresentar Bilhete de Identidade, por serem indígenas. O indígena, que queria aprender mais, tinha de ir para o seminário ou jogar futebol. Os missionários sofriam com os entraves que encontravam na promoção dos indígenas. Para o povo português, as Missões eram um meio, não só de difundir o catolicismo (religião oficial do país), mas de promover as populações. A escola, a oficina e o trabalho rural, eram actividades que não faltavam na grande maioria das Missões. A Missão era frequentemente o único centro de ensino intelectual e profissional para a grande maioria das populações rurais.
A guerra da independência, que durou.13 anos, trouxe grandes sofrimentos e muitos benefícios. Foi extinta a Lei do Indigenato. As escolas oficiais foram abertas a todos. Os contratados começaram a ser tratados condignamente. Construíram-se estradas e aeroportos. Na década de 60, a fuga das populações rurais para as cidades motivou especial atenção por parte da Igreja. Neste trabalho de evangelização, foi notório e imprescindível o papel desempenhado pelos catequistas. Começou a elaborar-se para eles uma formação cultural, pedagógica e religiosa, em cursos de dois anos, já segundo as orientações do Vaticano II.
Em 1961, foi fundado o Instituto de Educação e Serviço Social Pio XII, em Luanda, com orientação católica. Este Instituto formou, durante anos, assistentes sociais, educadoras de família e da infância. Os Serviços de Saúde solicitavam Irmãs para os hospitais, centros de saúde e dispensários
A construção de igrejas, nas cidades e sedes de Missão, revela florescimento religioso. Proliferaram igualmente os Movimentos católicos: Apostolado da Oração, Legião de Maria, Cursos de Cristandande, Conferências Vicentinas, Escuteiros.
 
Novas Dioceses em Angola
Para que o trabalho da Igreja possa render, são necessárias estruturas. No Acordo Missionário de 1940 foi criada a Arquidiocese de Luanda, e as Dioceses de Nova Lisboa (Huambo) de Silva Porto (Kwito-Bié). D. Moisés Alves de Pinho foi nomeado Arcebispo de Luanda; D. Daniel Gomes Junqueira, Bispo de Nova Lisboa e D. Ildefonso dos Santos, Bispo de Silva Porto. Em 1955 foi criada a Diocese de Sã da Bandeira (Lubango) e, em 1957, a Diocese de Malanje. Cada bispo esforçou-se por mandar vir mais missionários e o raio da acção aumentou. O primeiro Bispo de Sã da Bandeira, D. Altino Ribeiro Santa na, era do clero diocesano de Goa. O primeiro de Malanje é um antigo missionário de Angola, Reitor do Seminário de Luanda durante 25 anos, D. Manuel Nunes Gabriel.
Paulo VI, em 1975, criou quatro novas dioceses: Saurimo, Sumbe, Menongue e Onjiva. Da população, 52% era católica; 12% protestante.[1]
 
Novas circunscrições eclesiástica
Em 1 de Junho de 1963 foi criada a Diocese de Luso, sendo nomeado para Bispo D. Francisco Esteves Dias, da Ordem Beneditina. A 14 de Março de 1967 foi criada a Diocese de Carmona e S. Salvador, à frente da qual foi colocada o Capuchinho D. Francisco da Mata Mourisca. Os Portugueses conseguiram controlar a guerrilha, confinando-a aos distritos de Cabinda, Zaire, Uije e Moxico. Com o aparecimento de estradas asfaltadas, a evangelização tornou-se mais fácil. Nas zonas de guerra a luta é feroz, são frequentes as operações de limpeza, como a Operação Robusta que despovoou Kikulungo, e o assassinato de 220 angolanos no Ana (Camabatela)no dia 7 de Abril de 1971.
 
Novas Dioceses e novos Bispos
A 11 de Agosto de 1975 foram criadas as Dioceses de: Novo Redondo (Sumbe) Henrique de Carvalho (Saurimo) Serpa Pinto (Menongue) Pereira d'Eça (Ondjiva). Ao som de metralhadoras, eram ordenados bispos: Padre Alexandre do Nascimento, Bispo de Malanje, Padre Francisco Viti, Bispo de Serpa Pinto, Cónego Manuel Franklin da Costa, Bispo de Henrique de Carvalho, Padre Oscar Lopes Fernandes Braga, Bispo de Benguela, Padre Paulino do Livramento Évora, Bispo de Carbo Verde.
D.Eduardo André Muaca foi tranferido de Malanje para Luanda; D.Zacarias Kamwenho, de Luanda para Novo Redondo. Os padres diocesanos portugueses partiram quase todos para Portugal. Os Religiosos e Irmãs, uns' partiram e regressaram, outros mudaram de campo de acção. A maioria dos Organismos Católicos, (Cursos de Cristandade, por exemplo) desapareceram. Os serviços das cúrias diocesanas estavam desorganizados. Os seminários estavam vazios. Um ou outro noviciado feminino abandonado. Várias dioceses tinham o clero reduzido a 3 ou 4 unidades. No Saurimo não havia padre algum. Foram as Irmãs que receberam o Bispo.
Esta era a situação da Igreja no 11 de Novembro de 1975. Praticamente foi necessário recomeçar.
 
Restruturação da Igreja em Angola
 
Em 2 de Março de 1977 a Santa Sé, por proposta da Delegação Apostólica de Angola, fez uma reestruturação da Igreja em Angola. Criaram-se mais duas Províncias Eclesiásticas com sede no Huambo e Lubango. Nomearam-se mais Bispos e transferiram-se outros.
Actual mente as Dioceses estão assim assistidas: A Arquidiocese de Luanda tem como sufragâneas as Dioceses de Cabinda, Mbanza Congo, Uíje, Malanje, Saurimo, Novo Redondo e Ndalatando. A Arquidiocese de Huambo tem como sufragâneas as Diocese de Benguela, Kwito-Bié e Lwena. A Arquidiocese de Lubango tem como sufragâneas as Diocese de Menongue e Ondjiva.
Chamaram-se novos missionários. Vieram, sobretudo, da América Latina. O trabalho missionário retomou o seu antigo ritmo. A Igreja desenvolveu-se. Aumenta o número de crianças da catequese. As jovens descobrem o valor da vida consagrada. O número de seminaristas maiores duplicou. Nascem Congregações Religiosas Femininas de origem angolana. Os noviciados femininos passam de 5 para 25. Apesar da guerra, a Igreja cresce e desenvolve-se[2].


[1] Cfr. e., a. muaca, Breve História da Evangelização de Angola 1491-1991;Biblioteca Evangelização e Culturas, Cucujães, 1991; id., História sobre a Evangelização de Angola 1491-1991, Luanda, Oficinas Gráficas São José-CEAST- 1990; m. n. Gabriel, Angola Cinco séculos de Cristianismo, Braga, LITERAL, 1978.
[2]Cfr. e., a. muaca, Breve História da Evangelização de Angola 1491-1991;Biblioteca Evangelizaçõo e Culturas, Cucujães, 1991; id., História sobre a Evangelização de Angola 1491-1991, Luanda, Oficinas Gráficas São José-CEAST- 1990;
 

Igreja em África: Sonhos para o séc. XXI


Por: JOHN MARY WALLIGO, Teólogo ugandês



Como sempre, no penúltimo domingo deste mês – no dia 24 de Outubro – celebramos o Dia Mundial das Missões. O Especial que se segue, dedicado à Igreja africana, procura rever as suas alegrias e angústias do passado, avaliar criticamente o presente e apresentar uma visão do futuro. Essa visão tem em conta dois pontos de viragem da História da África e da sua Igreja, a saber: o genocídio ruandês e o Sínodo Africano.

Dentro de três meses, começaremos oficialmente a celebração do Grande Jubileu do Ano 2000, em memória do nascimento de Jesus Cristo, o salvador e o libertador da humanidade, o Senhor do mundo e do cosmos. Há três anos que a Igreja Católica se prepara para este grande evento, através da renovação de si enquanto instituição e dos seus membros. Tem-no feito através de uma profunda reflexão sobre o que é que Jesus Cristo significa realmente para os cristãos, sobre o papel do Espírito nas suas vidas e sobre o impacte que o Deus de amor e misericórdia, o Pai de todos tem sobre a história humana.
Somos privilegiados em viver neste tempo especial. A transição do século XX para o século XXI deve ser para nós cristãos uma ocasião importante. O discurso de Pedro à multidão em Jerusalém no dia de Pentecostes aplica-se a nós que entramos nesta nova era. Citando o profeta Joel, ele diz: «Nos últimos dias – diz o Senhor – derramarei o Espírito sobre toda a criatura. Os vossos filhos e as vossas filhas hão-de profetizar; os vossos jovens terão visões, e os vossos velhos terão sonhos. Certamente, sobre os meus servos e as minhas servas derramarei o meu Espírito.» (Actos, 2, 17-18)
Este é um tempo apropriado para fazer uma análise crítica da presença do cristianismo em África durante estes dois mil anos e, em particular, durante este último século. É o tempo próprio para os cristãos africanos se sentarem à volta da tradicional fogueira ou debaixo das árvores, para partilharem histórias e experiências de vida sobre o que a mensagem cristã lhes deu e o que por ela fizeram durante o longo processo de relacionamento. Este é o tempo propício para avaliar o nosso passado, ver o que foi bem feito, o que se fez de errado e o que fica para ser feito na evangelização da África. Este é o tempo adequado para ter sonhos e novas visões para o futuro do cristianismo em África.

Alegrias e angústias passadas

A história do cristianismo africano durante os primeiros séculos é uma fonte de grandes alegrias, mas também de profundas angústias e amargas lições. O cristianismo floresceu na África do Norte, tendo como centros Alexandria e Cartago. A África produziu excelentes teólogos, intelectuais, santos e mártires, tanto homens como mulheres. O cristianismo difundiu-se na Etiópia e na Núbia, no coração do continente. A África produziu pelo menos três papas durante este período e introduziu na Igreja a vida monástica, que depressa se estendeu a leste e a ocidente. De facto, durante os primeiros séculos, a África contribuiu grandemente para o crescimento da doutrina e da moral cristãs.
Este primitivo cristianismo africano, todavia, não conseguiu resistir à ameaça islâmica. Aliás, foi totalmente varrido da zona norte do continente, excepto do Egipto, onde sobreviveu em alguns lugares. Até na Núbia, depois de um período florescente entre os séculos VIII e XIII, que culminou com a criação do reino cristão da Núbia, a fé desapareceu como resultado da invasão turca. A Igreja sobreviveu só na Etiópia, mas sem dinâmica missionária. As várias tentativas, ao longo dos séculos, para fazer reviver a cristandade primitiva no Norte de África fracassaram. A lição é clara: o que aconteceu uma vez pode acontecer de novo. A história, não obstante tudo, repete-se.
A segunda vaga de evangelização da África – a partir do século XV e tendo como objectivo levar a fé cristã aos territórios sub-sarianos – foi um fracasso maior que o anterior. Tendo chegado a Angola, a Moçambique, a Madagáscar, ao Reino do Congo, às principais ilhas da costa ocidental e oriental do continente, ela desapareceu, sem deixar marcas, no princípio do século XVIII. Apesar de numerosos africanos terem aceite a nova fé e muitos se terem tornado eles mesmos evangelizadores. De entre eles ficou famoso o príncipe Henrique, filho de Afonso, rei cristão do Congo, que foi consagrado bispo em Roma em 1521, tornando-se, assim, o primeiro bispo africano a sul do Sara.
As causas deste segundo desaparecimento do cristianismo foram bem analisadas pelos historiadores. As principais são duas. A primeira é que o cristianismo não podia coexistir com o abominável comércio de escravos. A segunda deve-se ao facto que o sistema do Padroado – pelo qual ao rei de Portugal era confiado pelo Papa a fundação e dotação de sedes episcopais, capelanias e conventos, e o direito de nomear párocos e cobrar as contribuições eclesiásticas – era caracterizado por uma rejeição obstinada dos missionários de outros países, que eram vistos como uma potencial ameaça para o império português. Daí que, cedo, a falta de pessoal missionário não permitiu continuar com o trabalho começado.
A lição que fica é importante: se, depois de 300 anos de evangelização, o cristianismo levado e tutelado pelo padroado português desapareceu, então nunca devemos tomar as coisas por adquiridas. O optimismo ingénuo não deve ter lugar no trabalho de evangelização.
O terceiro encontro de África com o Evangelho começou no século XIX e estendeu-se aos nossos dias. Alguém o definiu como «a época de conversão mais próspera em toda a história da Igreja». Muitos cristãos africanos, institutos missionários estrangeiros e a Igreja Católica como um todo estão muito satisfeitos com o que se conseguiu com esta nova tentativa de evangelização. Hoje, o continente conta com mais de 500 dioceses, muitas delas com bispos africanos. Padres, religiosos e religiosas africanos são aos milhares. Catequistas a tempo inteiro são mais de dez mil. Os baptizados são cerca de 110 milhões. Escolas, clínicas, projectos de desenvolvimento são numerosos. A teologia africana – nas suas várias correntes – avançou muito. O Vaticano II trouxe nova vida à Igreja africana; o Sínodo Africano de 1994 sugeriu novas iniciativas e direcções.
Ao mesmo tempo que temos o direito de estar contentes com tudo o que se conseguiu, cometeríamos um erro fatal se não reconhecêssemos os grandes problemas, preocupações e desafios que se põem ao cristianismo africano. Só uma análise crítica dos mesmos pode ajudar-nos a forjar uma nova visão para o século vindouro. A atitude correcta para celebrar o Jubileu 2000, consequentemente, não é nem uma complacência envaidecida nem um pessimismo desencorajante. Temos, efectivamente, motivos de júbilo, mas a situação presente força-nos a repensar todos os nossos planos.

Mensagem da vida

Na nossa avaliação do actual cristianismo africano, a ênfase deve ser posta na própria «mensagem da vida», nos evangelizadores, nos agentes pastorais e nos seus métodos e meios de evangelização. A natureza e profundidade da conversão e o impacte do cristianismo no mundo africano deve ser avaliado examinando a qualidade de vida dos africanos, a sua identidade e história, as suas culturas e religiões tradicionais, a sua moralidade e filosofia, a sua visão do mundo, as suas lutas de libertação e o seu contributo para o enriquecimento do cristianismo e da Igreja universal.
De entre as perguntas que devemos colocar ao fazermos esta avaliação e encontrarmos uma visão para o futuro, as seguintes merecem particular atenção: qual é a novidade particular que o cristianismo introduziu e desenvolveu em África durante os últimos dois mil anos e especialmente durante o século XX? Terá a vida dos cristãos africanos melhorado em relação à dos seus antepassados pré-cristãos? Terão conseguido tornar sua a mensagem do Evangelho e a Igreja, ou são as duas realidades ainda consideradas como «estrangeiras»? A maioria dos cristãos africanos aprecia a sua nova identidade ou considera-a como um peso insuportável? Terão os cristãos tido a liberdade suficiente para enriquecer a Igreja universal e a mensagem cristã, ou foram vistos sobretudo como meros receptores de um pacote comercial?
Neste contexto, é importante definir «missão». Por missão eu entendo o povo africano, os católicos africanos, possuidores da mensagem cristã. Quem são? Em que categorias podemos classificá-los? Quais são os seus actuais problemas e tensões? Quais são as formas da sua sistemática escravidão e exploração? Que ameaças e injustiças institucionalizadas ainda experimentam? Obviamente, nunca se deve generalizar. Os líderes eclesiais têm as suas alegrias e angústias. As famílias católicas, os sectores sociais vulneráveis, todo o Povo de Deus tem também as suas alegrias e angústias. Todo o Povo de Deus tem os seus medos e esperanças. Entre os baptizados há muitos com uma fé e convicção superficial. Muitos deles falharam em integrar o cristianismo com as exigências da sua religião e moralidade tradicionais e, por isso, conduzem uma existência «dualística». Outros, pelo contrário, fazem o seu melhor para serem simultânea e verdadeiramente africanos e cristãos. Qualquer visão do cristianismo em África deve tomar seriamente em consideração estas duas categorias de cristãos.

Tarefa inacabada

A primeira evangelização em África está longe de ter acabado. Na proclamação massiva da Boa Nova aos povos africanos durante este século, várias sociedades e inteiras áreas foram deixadas de lado, por uma razão ou por outra. No caso do Uganda, os Ik, povo das montanhas, no Karamoja, e os Bambuti da Província Ocidental foram negligenciados por causa das duras condições em que vivem. Em cada país africano há povos que foram ignorados pelos evangelizadores.
Ao mesmo tempo, muitas sociedades africanas resistiram à Boa Nova, principalmente porque era apresentada duma maneira irrelevante, senão mesmo perigosa para a maneira de viver do povo. Estas sociedades são sobretudo de cultura nómada e pastoril por natureza. Tais grupos étnicos incluem os Karimojong, os Turkana, os Masai e outros na África oriental. Gostam dos aspectos materiais da Igreja, mas a sua mensagem não os atrai. O modo como o cristianismo lhes foi – e ainda é – apresentado parece-lhes apropriado para povos sedentários e agrícolas, ou povos com uma «fraca» cultura tradicional. Por último, outras sociedades africanas ouviram a mensagem cristã, mas mantiveram-na o mais superficialmente possível, de modo que não penetra nas suas vidas reais, culturas e visões do mundo. Quando muito, são meros simpatizantes da Igreja.
Todos estes grupos humanos nos desafiam, como agentes da mensagem evangélica e, sobretudo, desafiam os nossos métodos pastorais. Esta tarefa incompleta da evangelização pede-nos uma nova visão, uma nova preparação de agentes pastorais e uma nova proclamação da mensagem da vida. Para fazê-lo de uma maneira aceitável, a Igreja africana precisa de maior liberdade do que tem tido até agora para pensar, planear e implementar a evangelização.
Mesmo onde o Evangelho chegou, a evangelização foi parcial. Em muitos lugares, ela concentrou-se meramente na libertação espiritual; noutros, dirigiu-se ao desenvolvimento humano e espiritual, mas deixou de fora a libertação mental; em muitos casos, esquivou-se completamente à libertação económica e política. Demasiadas vezes, a evangelização foi tímida a confrontar as muitas injustiças sociais, que ainda oprimem os sectores vulneráveis da sociedade. Houve acordos indignos e conspiração de silêncio. Em muitas ocasiões, a maneira como a mensagem cristã foi apresentada não deu a impressão clara de que era contra todos os tipos de servidão que ofendem a dignidade e os direitos humanos. Estes falhanços parciais reclamam uma mudança, uma nova ênfase, uma nova coragem. A visão que queremos ter para o século XXI deve ter em conta estes desafios.

Inculturação

Na exortação pós-sinodal - A Igreja em África - João Paulo II insiste na ideia que a inculturação é a chave para o cristianismo africano: «O Sínodo considera a inculturação uma prioridade e uma urgência na vida das Igrejas particulares, para a real radicação do Evangelho em África, uma exigência da evangelização, uma caminhada rumo a uma plena evangelização, um dos maiores desafios para a Igreja no continente ao avizinhar-se o terceiro milénio.» (A Igreja em África, 59)
Todavia, uma vez mais, a mensagem do Papa encontrou em muitos líderes eclesiais africanos ouvidos moucos. Muitos bispos e padres falam de inculturação, mas negam-na na prática. Ora, sem genuína, profunda e sapiente inculturação, os cristãos africanos nunca se apropriarão da fé. Se o cristianismo não se africanizar, o seu futuro, no longo andar, não pode ser totalmente garantido. A inculturação que «salvará» o cristianismo africano não pode ser superficial, a mera tradução da fé para a cultura, mas aquela que também começa na cultura e no contexto real e chega à fé, parte da injustiça para a libertação. O século vindouro deve ser visto nesta perspectiva. Requer-se coragem, liberdade de pensamento e participação activa de todos os cristãos africanos. Não haverá desculpa para a ignorância das realidades e exigências africanas. Devemos aceitar totalmente ou a responsabilidade pelo reforço do cristianismo através da inculturação ou pelo seu enfraquecimento pelo facto de não se atenderem os desafios que os cristãos enfrentam.

Libertação integral

A África, não obstante ser rica em humanidade, culturas e recursos naturais, tornou-se no século XX o continente mais pobre de todos. Frequentemente é referido como «o continente doente e sem futuro». Está a ser estrangulado por uma insuportável dívida externa, cuja amortização está a enriquecer diariamente as opulentas sociedades ocidentais. Está a ser dizimado pela epidemia da sida e por outras doenças, que já foram erradicadas em outras partes do mundo. É em África que o analfabetismo, a pobreza, a ignorância, a doença e a exploração podem ser testemunhadas no seu pior. A moralidade cristã e humana nunca poderão tolerar que menos de metade da população do mundo seja livre e viva abundantemente, enquanto a maior parte é escravizada pela pobreza, e não consegue satisfazer as necessidades básicas da vida. A libertação económica da África é o maior desafio para o cristianismo africano no século XXI. Os países ricos, de acordo com as exigências do jubileu bíblico, deviam cancelar a sua dívida externa. A solidariedade humana devia unir-se para eliminar a pobreza em África. A pregação cristã devia apontar claramente como prioridade o desenvolvimento ecodesfavorecidos deve tornar-se o âmago do cristianismo africano. A justiça social deve tornar-se a sua pedra-de-toque no novo século. Os cristãos africanos devem unir-se com todas as pessoas de boa vontade para conseguir a libertação política da África. É tempo de levantar-se e dizer não às guerras em África, não ao comércio de armamento, não ao genocídio, não às condições que causam milhões de refugiados, não à ditadura, não ao abuso de poder e não à exploração do Povo de Deus. O que a África precisa e requer é paz para todos, justiça para todos, democracia para todos e desenvolvimento para todos. A Igreja em África tem um mandato claro para ser um verdadeiro agente de libertação e para dizer, juntamente com todo o Povo de Deus, não a tudo o que torna o continente escravo, pobre e repudiado.
Esta visão deve tornar-se parte integral da experiência cristã em África. Ela tem que imbuir as mentes e os corações de todos os agentes pastorais e dos líderes eclesiais. Sem esta tomada de posição, o cristianismo e a Igreja perderão a sua credibilidade no continente. O manifesto de Jesus Cristo, tal como é apresentado em Lucas 4,18-19, deve tornar-se a bandeira do cristianismo africano no século XXI: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar um ano favorável da parte do Senhor.»

Uma Igreja adulta

Um sonho pode, obviamente, ser pura fantasia; uma visão o mero resultado de uma alucinação. Há, todavia, condições para que um sonho seja realístico e para que uma visão seja verdadeiramente inspiradora. Relativamente à Igreja africana do terceiro milénio, as condições são três: que possa auto-sustentar-se, ser auto-suficiente a nível ministerial e seja missionária.
Já em meados do século XIX, Henry Venn, da Sociedade da Igreja Missionária, se referiu a estas três condições indispensáveis para que uma Igreja local o fosse realmente. Infelizmente, uma fraca teologia da Igreja e da missão contribui para deixar a Igreja africana ao nível de «missão», em vez de levá-la ao pleno estatuto de Igreja local, que é: uma Igreja capaz de agir e tomar decisões por si; capaz de servir o seu próprio povo através de ministros surgidos no seu seio; capaz de recolher entre os seus fiéis dinheiro suficiente para continuar o seu trabalho; e preparada para se abrir ao resto do mundo com verdadeiro espírito missionário.
Não seria preciso afirmar que a aceitação destes desafios nunca deve pôr em causa a universalidade da fé cristã, nem dos evangelizadores. Mas também é verdade que só sendo uma Igreja autenticamente local e continental a Igreja Católica africana será capaz de cumprir o mandato de se evangelizar a si e aos outros continentes.
Em síntese, esta é a visão que tenho para a Igreja africana do próximo século. Estou consciente de que não está completa. Cada um deve acrescentar-lhe qualquer coisa. Todavia, estou convencido que só a partir desta visão – ou de uma que se lhe assemelhe – podemos planear o nosso futuro e escolher os meios correctos para a implementar com esperança e entusiasmo.
O meu apelo dirige-se a cada Igreja local em África para que tenha tempo de sonhar, ter visões e ter ideais para o futuro. Repito: nós os cristãos africanos temos boas razões para celebrarmos o Grande Jubileu em acção de graças pelo que recebemos nos últimos dois mil anos, especialmente no século XX. Mas o nosso principal cuidado deve ser fazer uma avaliação crítica do passado e do presente e planear esta visão da nossa futura Igreja. Enquanto recordamos com gratidão todos os homens e mulheres que fizeram do cristianismo africano o que ele é, devemos fixar-nos a preparar os futuros agentes pastorais, que terão o grande dever de melhorar o que temos e realizar esta visão da Igreja que queremos no século XXI.



A Igreja como família de Deus

Os bispos presentes no Sínodo não se limitaram a falar da inculturação, mas também a aplicaram concretamente, assumindo o conceito da Igreja família de Deus como a ideia-chave para o futuro da evangelização da África. O Papa confirmou-o plenamente: «A imagem acentua a atenção pelo outro, a solidariedade, as calorosas relações de acolhimento, de diálogo e de mútua confiança. A nova evangelização tenderá, portanto, a edificar a Igreja como família.» (Igreja em África, 63).
As razões que explicam a escolha dos bispos são muitas e podem ser encontradas nas «propostas» finais que apresentaram ao Papa. Os bispos enumeraram os desafios à África de hoje e à sua Igreja e também sugeriram respostas.
- Necessidade urgente de unidade e solidariedade entre os africanos, qualquer que seja a sua identidade étnica, filiação religiosa e pensamento ideológico – Unidade e solidariedade é o que a Igreja africana deve sublinhar.
- A construção das nações é um processo difícil em todo o continente – A Igreja deve envolver-se completamente na sua construção.
- A falta de cooperação entre os vários povos africanos é escandalosa, ainda que a família africana os englobe a todos – A Igreja, como família de Deus, deve esforçar-se por unir e não por dividir.
- A religião tradicional africana é ainda forte em África – A Igreja Católica deve tratá-la com grande respeito e estima e empenhar-se num diálogo sereno com ela.
- O Islão é uma das maiores religiões africanas – A Igreja deve encontrar maneiras de com ele conviver pacífica e amigavelmente.
- Muitas denominações protestantes estão presentes em África – O catolicismo africano deve estabelecer com elas laços ecuménicos.
- Muitos católicos não tomam parte activa na vida da sua Igreja. Mas, na família africana, todos participam – Deve haver diálogo a todos os níveis dentro da Igreja, entre bispos, conferências episcopais e a Sé Apostólica e, também dentro de uma Igreja particular, entre bispos, o presbitério, pessoas consagradas, agentes pastorais e leigos, de modo a alimentar uma solidariedade pastoral orgânica e um verdadeiro espírito de responsabilidade conjunta.
Eis, portanto, a visão. A visão de uma Igreja «família de Deus», fundada no diálogo, colaboração, comunicação, justiça e paz. A visão de uma Igreja que tudo abraça e inclui, em que cada qual tem lugar, é bem recebido e tem alguma coisa para dar. É, de facto,  um sonho. Que devemos não só acalentar mas fazer o possível para torná-lo uma realidade. Será o maior contributo que a Igreja africana pode oferecer a toda a Igreja.




Esperar contra todas as esperanças

A África tem à sua frente um acesso difícil ao terceiro milénio. Parece ser o continente perdedor, pouco interessante como parceiro económico. Hoje, os olhares fixam-se de preferência no Leste europeu. Os preços das matérias-primas africanas caem, enquanto o preço dos produtos manufacturados na Europa aumenta.
Nesta contingência, as igrejas em África têm como papel não apenas «salvar as almas» mas também demarcar com clareza a dimensão terrena da salvação. Não podem unicamente falar do amor de Deus mas também tornar possível a sua experiência, fazendo tudo ao seu alcance para que todos os seres humanos possam viver em dignidade, da mesma forma que Jesus fez.
Nas cartas pastorais, os bispos e as conferências episcopais denunciam os abusos dos políticos. Mas, para além disto, têm a oportunidade de, nas longas e atraentes liturgias dominicais, exortarem os fiéis à reconciliação concreta, à solidariedade fora do seu clã e das restritas iniciativas de ajuda interpessoal.
Espera-se que os africanos não percam, apesar das dificuldades, a sua inata alegria de viver. Que possam resistir à escassez provisória, na expectativa da plenitude de vida que Deus lhes prometeu, sem renunciar à esperança. Porque a esperança não morre enquanto a própria pessoa for esperança.

WALBERT BUHLMANN, Missionário capuchinho