domingo, 28 de agosto de 2011

A marca pessoal de Bento XVI na diplomacia da Santa Sé


Pe. Fernando Silva de Matos, Conselheiro Eclesiástico da Embaixada de Portugal junto da Santa Sé.
A marca pessoal do Papa Bento XVI na diplomacia da Sé Apostólica transparece num quadro de dados historicamente significativos, bem como nas preocupações sentidas e nos fins desejados, decifráveis, não apenas nas linhas (e entrelinhas) dos seus numerosos discursos ligados a este contexto, como nas múltiplas e importantes decisões tomadas neste âmbito ao longo do seu pontificado.
Atualmente são 178 os países que possuem plenas relações diplomáticas com a Santa Sé. Mais quatro do que no início deste pontificado: Montenegro, em 2006, Emirados Árabes Unidos, em 2007, Botswana, em 2008 e a Rússia em, 2009.
Acrescem a estes dados os contactos formais com países como Afeganistão, Arábia Saudita, Malásia, Oman e Vietname, tendo o presidente deste último, Minh Triet, efectuado recentemente uma visita ao Vaticano com vista a reforçar as relações bilaterais.
Se tivermos em conta que em relação à China também se encetaram contatos semi-oficiais, os países sem quaisquer relações diplomáticas com o Vaticano, em todo o mundo, não são mais de dez e a maior parte destes é de população maioritariamente muçulmana, situados no continente asiático.
No seu primeiro discurso ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, cerca de um mês após a sua eleição como Papa, Bento XVI apresentou como missão principal da diplomacia apostólica o «diálogo entre todos os homens, para vencer todas as formas de conflitos e de tensões, e para fazer da nossa terra uma terra de paz e fraternidade».
Nos encontros com os Embaixadores, com os Chefes de Estado, com os Governantes das nações, quer no Vaticano, quer nos países visitados, torna-se evidente a sensibilidade do Chefe da Igreja Católica em relação à causa da paz. É no contexto desses encontros que emergem algumas vias tidas pelo Papa como fundamentais para alcançar este objectivo:
1. A via do diálogo inter-religioso. Tendo em conta a violência por motivos religiosos que afeta sobretudo as comunidades cristãs minoritárias, a Santa Sé dá uma importância grande ao diálogo com as outras religiões, nomeadamente o judaísmo e o islamismo. A nomeação do cardeal Jean-Louis Tauran, diplomata de enorme experiência, para presidir ao dicastério competente é disso um claro sinal.
2. A via da renúncia às armas e à violência para a resolução dos conflitos. É extensa a lista dos apelos feitos pelo Papa, ou pelos seus representantes na diplomacia vaticana, para que as partes em conflito abandonem os caminhos da guerra ou de qualquer forma de violência, como contrários à própria dignidade humana. A Santa Sé tem oferecido, com frequência, o seu contributo como mediadora em casos de conflito ou disputa de interesses. A última viagem do Papa à Terra Santa revestiu-se também deste papel de mediação para o diálogo entre israelitas e palestinianos.
3. A via da eliminação da pobreza e da fome nos países subdesenvolvidos, sobretudo no continente africano. Para além de clamar atenção e solidariedade para com os países em situação de pobreza e de miséria, insistindo numa distribuição mais justa e equitativa dos recursos naturais, em organismos internacionais, o Papa, na visita apostólica que realizou em Março de 2009 aos Camarões e a Angola, pretendeu, para além de importantes objectivos de natureza espiritual, atrair sobre a África o olhar sensível e solidário da Comunidade Internacional.
4. A via da laicidade positiva. A presença da Igreja no mundo não pode ser escondida. Frente a uma atitude que nasce do laicismo, caracterizada pelo desprezo e hostilidade em relação à religião cristã e pela negação da importância social do fenómeno religioso, a Santa Sé propõe a autonomia das duas esferas, temporal e espiritual e, ao mesmo tempo, uma sã colaboração e partilha de responsabilidades.
Fica claro, também neste pontificado, que o princípio sobre o qual assentam estas vias para a paz está ligado à concepção cristã do Homem, da sua vida e do seu destino; é a consciência da centralidade da pessoa humana criada à imagem de Deus e, por isso, portadora de uma dignidade merecedora de todo o respeito.

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