sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Quo vadis, Europa?

ZP11100703 - 07-10-2011 Permalink: http://www.zenit.org/article-29009?l=portuguese A Grécia segue longe dos objetivos da UE e do FMI Paul De Maeyer ROMA, sexta-feira, 7 de outubro de 2011 (ZENIT.org) – Os 17 países da zona do euro deram um breve suspiro de alívio: mais dois países ratificaram o chamado “fundo salva-países”. Em 29 de setembro, o Bundestag, Câmara Baixa do parlamento alemão, aprovou com gritante maioria (523 votos contra 85 e 3 abstenções) a ampliação do fundo. Foi acompanhado pelo parlamento austríaco. Assim, os países que ratificaram a reforma são agora 14. O fundo em questão é o EFSF, ou European Financial Stability Facility, mecanismo de estabilização financeira criado em maio de 2010 para ajudar os países membros em dificuldades, como Grécia e Portugal, e manter a estabilidade na zona do euro. A sociedade, com sede em Luxemburgo, dispunha inicialmente de um teto máximo de 440 bilhões de euros de garantias concedidas pelos estados membros, e podia emitir materialmente até 250 bilhões de euros em bônus de qualificação “triplo A”. A confirmação do EFSF aumenta as garantias para 780 bilhões de euros, permitindo uma capacidade efetiva de intervenção de 440 bilhões. Na Alemanha, a proposta foi acolhida com pouco entusiasmo. A população da primeira economia europeia, que “sacrificou”o marco pela moeda única, está se revelando cada vez menos disposta a pagar pelos erros dos outros. O EFSF implica, além disso, obrigações arriscadas para a Alemanha, que vê aumentar o volume das garantias fornecidas por Berlim de 123 para 211 bilhões de euros. O reforço do fundo europeu era apoiado pelas duas grandes formações da oposição no Bundestag, o Partido Social Democrático (SPD) e o Partido Verde (Die Grünen), mas a chanceler Angela Merkel temia uma rebelião dentro do próprio partido, o CDU, especialmente no partido gêmeo bávaro, o CSU, cujo líder, o ministro-presidente da Baviera, Horst Seehofer, se mostrava muito crítico. Merkel, no entanto, superou amplamente a maioria necessária de 311 votos favoráveis no Bundestag, que conta com 620 cadeiras. Ela manteve a “maioria do chanceler” (Kanzlermehrheit), com 315 votos favoráveis nas filas dos 330 deputados da sua coalizão (CDU/CSU) e dos liberais (FDP), evitando uma crise de governo. Um dos 15 dissidentes, Wolfang Bosbach (CDU), foi criticado tão duramente por seu colega Ronald Pofalla, que não descarta retirar-se da política em 2013 (Domradio, 30 de setembro). Segundo as últimas projeções, com 8,5% do PIB, o déficit público grego será este ano superior ao objetivo de 7,6% estabelecido com a UE e o FMI para a liberação das ajudas. A agênciaReuters (2 de outubro) recorda que nem em 2012 Atenas conseguirá o objetivo de uma relação déficit/PIB de 6,5%. Ficará em torno de 6,8%. O governo do primeiro-ministro Georgios Papandreou continua tomando medidas drásticas, como “mandar à reserva” 30.000 funcionários públicos e cortar em 20% as pensões que superam 1.200 € mensais. Mas muitos analistas consideram a insolvência do país inevitável. “A Grécia já fracassou”, afirma Nicholas Economides, consultor financeiro do governo grego (Carta 43, 29 de setembro). Segundo Economides, que dá aulas nos Estados Unidos, os planos da UE “servem para salvar os institutos bancários europeus, mas não a Grécia”. O fracasso e a conseguinte saída da Grécia da zona do euro seria um golpe tremendo. Segundo os cálculos do ministro de Economia da Polônia, Jacek Rostowski, cujo país ostenta atualmente a presidência de turno da UE, o custo da exclusão de um país da zona do euro equivaleria a 25% do PIB no primeiro ano e a 10% nos anos seguintes, e faria o índice de desemprego da zona do euro subir para 15%. Os próprio gregos temem o pior. Segundo pesquisa publicada no jornal To Vima, 67% da população prevê a insolvência da Grécia. Enquanto 70% não quer que Atenas saia da moeda única, apenas um quinto espera uma volta à velha moeda, a dracma. Como revela o Spiegel Online (2 de outubro), outra pesquisa, do sensacionalista Ethnos, diz que 57% dos gregos quer acima de tudo a paz social, e quase 50% pedem um governo de unidade nacional. Convém recordar algumas palavras e reflexões dedicadas à economia e às finanças pelo papa Bento XVI na encíclica Caritas in Veritate (29 de junho de 2009). “Toda decisão econômica tem uma consequência de caráter moral. Reta intenção, transparência e busca de bons resultados são compatíveis e não devem se separar”. Voando para Madri, Bento XVI voltou ao tema. “A economia não pode ser medida segundo a máxima do benefício, mas segundo o bem de todos”, explicou o papa aos jornalistas a bordo do avião, recordando que isto “inclui a responsabilidade pelo outro”, “responsabilidade pela própria nação e não só por si mesmos, responsabilidade pelo mundo, já que uma nação não está isolada, nem a Europa está isolada” (Rádio Vaticano, 18 de agosto). Palavras que podem , talvez, inspirar os políticos que lidam com as consequências da crise e acalmar as bolsas, que estão tempestuosas por medo de um fracasso grego.

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