ZP11072907 - 29-07-2011
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Dados publicados pela fundação Pave the Way
Por Jesús Colina
ROMA, sexta-feira, 29 de julho de 2011 (ZENIT.org)
– Conforme documentação descoberta recentemente por historiadores, a
ação direta do papa Pio XII salvou a vida de mais de 11.000 judeus em
Roma durante a II Guerra Mundial.
O representante da fundação Pave the Way na Alemanha, o
historiador e pesquisador Michael Hesemann, descobriu muitos documentos
originais de grande importância ao pesquisar os arquivos da igreja de Santa Maria dell'Anima, a igreja nacional da Alemanha em Roma.
A Pave the Way, com sede nos Estados Unidos, fundada pelo judeu Gary Krupp, anunciou o achado em declaração enviada a ZENIT.
“Muitos criticaram Pio XII por guardar silêncio durante as prisões e
quando os trens partiram de Roma com 1.007 judeus, que foram enviados
para o campo de concentração de Auschwitz”, declarou Krupp. “Os críticos
não reconhecem nem sequer a intervenção direta de Pio XII para dar fim
às prisões, em 16 de outubro de 1943”.
“Novos achados provam que Pio XII agiu diretamente nos bastidores
para impedir as prisões às 2 horas da tarde do mesmo dia em que elas
começaram, mas não conseguiu deter o trem que tinha aquele destino tão
cruel”, acrescentou.
Segundo um estudo recente do pesquisador Dominiek Oversteyns, havia em Roma 12.428 judeus no dia 16 de outubro de 1943.
“A ação direta do papa Pio XII salvou a vida de mais de 11.400
judeus”, explica Krupp. “Na manhã de 16 de outubro de 1943, quando o
papa soube da prisão dos judeus, enviou imediatamente um protesto
oficial vaticano ao embaixador alemão, que sabia que não teria resultado
algum. O pontífice mandou então seu sobrinho, o príncipe Carlo Pacelli,
até o bispo austríaco Alois Hudal, cabeça da igreja nacional alemã em
Roma, que, conforme relatos, tinha boas relações com os nazistas. O
príncipe Pacelli disse a Hudal que tinha sido enviado pelo papa e que
Hudal devia escrever uma carta ao governador alemão de Roma, o general
Stahel, pedindo que as prisões fossem canceladas”.
A carta do bispo Hudal ao Generale Stahel dizia: “Precisamente agora,
uma fonte vaticana [...] me informou que nesta manhã começou a prisão
dos judeus de nacionalidade italiana. No interesse de um diálogo
pacífico entre o Vaticano e o comando militar alemão, peço-lhe
urgentemente que dê ordem para parar imediatamente estas prisões em Roma
e nas regiões circundantes. A reputação da Alemanha nos países
estrangeiros exige esta medida, assim como o perigo de que o papa
proteste abertamente”.
A carta foi entregue em mãos ao general Stahel por um emissário de
confiança do papa Pio XII, o sacerdote alemão Pancratius Pfeiffer,
superior geral da Sociedade do Divino Salvador, que conhecia Stahel
pessoalmente.
Na manhã seguinte, o general respondeu ao telefone: “Transmiti
imediatamente a questão à Gestapo local e a Himmler pessoalmente. E
Himmler ordenou que, considerado o status especial de Roma, as prisões
sejam interrompidas imediatamente”.
Estes fatos são confirmados também pelo testemunho obtido durante a
pesquisa do relator da causa de beatificação de Pio XII, o padre jesuíta
Peter Gumpel.
Gumpel declarou ter falado pessoalmente com o general Dietrich
Beelitz, que era o oficial de ligação entre o escritório de Kesselring e
o comando de Hitler. O general Beelitz ouviu a conversa telefônica
entre Stahel e Himmler e confirmou que o general Stahel tinha usado com
Himmler a ameaça de um fracasso militar se as prisões continuassem.
Institutos religiosos isentos de inspeções nazistas
Outro documento, “As ações para salvar inumeráveis pessoas da nação
judaica”, afirma que o bispo Hudal conseguiu, através dos contatos com
Stahel e com o coronel von Veltheim, que “550 instituições e colégios
religiosos ficassem isentos de inspeções e visitas da polícia militar
alemã”.
Só numa destas estruturas, o Instituto San Giuseppe, 80 judeus estavam escondidos.
A nota menciona também a participação “em grande medida” do príncipe
Carlo Pacelli, sobrinho de Pio XII. “Os soldados alemães eram muito
disciplinados e respeitavam a assinatura de um alto oficial alemão...
Milhares de judeus locais em Roma, Assis, Loreto, Pádua e outras cidades
foram salvos graças a esta declaração”.
Michael Hesemann afirma que é óbvio que qualquer protesto público do
papa quando o trem partiu teria provocado o recomeço das prisões.
Ele ainda explica que a fundação Pave the Way tem no seu
site a ordem original das SS de prender 8.000 judeus romanos, que
deveriam ser enviados para o campo de trabalho de Mauthausen e ser
retidos como reféns, e não para o campo de concentração de Auschwitz.
Pode-se pensar que o Vaticano acreditasse em negociar a libertação
deles.
Soube-se também que o Vaticano reconheceu que o bispo Hudal ajudou
alguns criminosos de guerra nazistas a fugir da prisão no fim do
conflito.
Por causa de sua postura política, o bispo era persona non grata
no Vaticano, e foi repreendido por escrito pelo secretário de Estado
vaticano, o cardeal Giovanni Battista Montini (futuro papa Paulo VI),
por sugerir que o Vaticano ajudasse os nazistas a fugir.
Gary Krupp, diretor geral da Pave the Way, comentou que a
fundação “investiu grandes recursos para obter e difundir publicamente
todas estas informações para historiadores e peritos. Curiosamente,
nenhum dos maiores críticos do papa Pio XII se deu ao trabalho de vir
até os Arquivos Vaticanos abertos (e abertos completamente, desde 2006,
até o ano de 1939) para fazer estudos originais. Também não consultaram o
nosso site gratuito”.
Krupp afirma ter a sincera esperança de que os representantes dos
peritos da comunidade judaica romana pesquisem o material original, que
se encontra a poucos passos de sua casa.
“Creio que descobriram que mesma existência hoje da que o papa Pio
XII chamava ‘esta vibrante comunidade’ deve-se aos esforços secretos
deste papa para salvar cada vida”, disse. “Pio XII fez o que pôde,
quando estava sob a ameaça de invasão, de morte, cercado por forças
hostis e com espiões infiltrados”.
Elliot Hershberg, presidente da Pave the Way Foundation,
acrescenta: “No serviço de nossa missão, nos empenhamos em tentar
oferecer uma solução para esta controvérsia, que atinge mais de 1 bilhão
de pessoas”.
“Temos usado nossos links internacionais para obter e inserir em
nosso site 46.000 páginas de documentos originais, artigos originais,
testemunhos oculares e entrevistas com especialistas para oferecer esta
documentação pronta a historiadores e especialistas.”
“A publicidade internacional deste projeto tem levado, a cada semana,
nova documentação, que mostra como estamos nos movendo para eliminar o
bloqueio acadêmico que existe desde 1963.”
Por Antonio Gaspari
ROMA, segunda-feira, 11 de julho de 2011 (ZENIT.org)
– A caridade é a chave de compreensão da doutrina social cristã,
explica Dom Angelo Casile, diretor do Departamento nacional para os
problemas sociais e o trabalho, da Conferência Episcopal Italiana.
Com um novo livro, La Carità al centro, (Tau editorial), Dom
Casile ilustra as relações entre a prática da caridade e a doutrina
social da Igreja. Ele concedeu esta entrevista a ZENIT.
- Por que um livro sobre a Doutrina Social da Igreja?
- Dom Casile: O sentido deste livro sobre a Doutrina Social da Igreja
está num pensamento de Santo Agostinho. Alguns cristãos se lamentavam
do momento histórico difícil que eles viviam, e Agostinho respondeu:
“Vocês dizem: os tempos são maus; os tempos são pesados; os tempos são
difíceis. Vivam bem e vocês mudarão os tempos” (Discurso 311, 8). Nós
perguntamos: os tempos são maus ou os homens não estão à altura dos
tempos? Eu tenho certeza de que se cada um de nós vivesse com a
fidelidade e a valentia que nascem do Evangelho, o próprio testemunho de
fé seria uma contribuição essencial para a mudança desse tempo difícil,
cheio de cenários pouco confiáveis. Agora, a Doutrina Social da Igreja,
que é simplesmente o Evangelho se encarnando na história de cada dia,
conhecida, aprofundada e vivida, nos faz viver a bondade e a beleza da
nossa fé todos os dias, e, assim, os tempos serão melhores. O texto, na
primeira parte, tenta apresentar o caminho histórico da DSC, a partir da
experiência viva de Jesus e da Igreja; na segunda parte, aprofunda
alguns temas relevantes do anúncio cristão e da Doutrina Social da
Igreja (pessoa, família, sociedade, trabalho); e na terceira parte, os
percursos que combinam o Evangelho e a Doutrina Social da Igreja na
sociedade.
- Conforme o seu livro, a história da caridade é a mesma da Doutrina Social da Igreja. O que isso quer dizer?
- Dom Casile: A caridade é o coração da fé cristã. Jesus, no fundo,
recapitulou e cumpriu a Lei no mandamento do amor. Ele revelou, através
do dom perfeito da sua própria vida, que salvar a vida é possível só
quando nós a oferecemos, e que a verdadeira alegria está no dar-se. A
caridade, então, não é uma simples ética do ser cristão, mas o único
modo de concretizar na história e na sociedade essa fé que nós
professamos. Este livro pretende, por isso, nos resumir a “história da
caridade”, quer dizer, da Doutrina Social da Igreja, desde as suas
raízes até os nossos dias. A encíclica Caritas in veritate, do papa Bento XVI, contém também afirmações precisas sobre a natureza da Doutrina Social da Igreja, definida como “'caritas in veritate in re sociali',
anúncio da verdade do amor de Cristo na sociedade. Essa doutrina é
serviço da caridade, mas na verdade” (nº5). Significa que a Doutrina
Social da Igreja é, antes de tudo, um “elemento essencial de
evangelização [...] É instrumento e fonte imprescindível para educar-se
nela” (nº15), “está a serviço da verdade que liberta” para a “vida
concreta sempre nova da sociedade dos homens e dos povos” (nº 9).
- O ponto mais polêmico da pastoral social tem a ver com a
relação entre Doutrina e princípios não negociáveis. De que modo a
defesa da vida, o apoio à família e a liberdade de educação têm a ver
com a Doutrina Social?
- Dom Casile: Eu acho muito apropriadas as palavras de Dom Mariano
Crociata, Secretário Geral da CEI, que escreveu o seguinte na
apresentação da série “Teologia: fé, busca e vida”, da qual o texto faz
parte: “A teologia não é um saber fechado em si mesmo, distante da
história e dos temas concretos da vida, encastelado em fórmulas
adaptadas só aos especialistas do setor. Pelo contrário, ela se
fundamenta no dom da fé e se coloca, no interior da Igreja, a serviço da
Igreja, como reflexão para favorecer o acolhimento na vida dos crentes e
no seu contexto histórico e cultural”.
As palavras e as ações de Jesus, nos Evangelhos, constituem o
paradigma da Doutrina Social da Igreja quando ela fala da sacralidade da
pessoa, da sua natureza sociável e da relação da caridade e da verdade,
da justiça e da paz, do valor e do significado do trabalho, da família e
da vida, da economia e da política, da tutela da criação, do destino
universal dos bens, do primado do reino de Deus a respeito de todas as
realidades terrenas.
Sustentados pela graça do Evangelho e pelas reflexões da DSC,
inclusive neste contexto de crise, não só econômica, nós salvamos o
essencial e decidimos começar de Deus para renovar o homem através de um
processo educativo profundo, que revele o homem para si mesmo. Através
da Doutrina Social da Igreja, num laço fecundo de evangelização e de
educação, a Igreja continua a obra do seu Mestre. Como afirma o cardeal
Angelo Bagnasco, presidente da Conferência Episcopal Italiana, na
Apresentação às Orientações Pastorais: “Anunciar a Cristo, verdadeiro
Deus e verdadeiro homem, significa levar a humanidade à plenitude, e,
portanto, semear cultura e civilização. Não há nada, em nossa ação, que
não tenha um importante valor educativo”.
A Caritas in veritate mostra a profunda unidade entre “a
questão social” e “a questão antropológica”: “A questão social se
tornou, radicalmente, uma questão antropológica” (nº75). A aparente
contraposição entre as duas problemáticas se resolve a partir de outra
questão, a “teológica”, ou seja, a primazia de Deus e do seu lugar no
mundo. É o Evangelho que nos ajuda a encontrar a solução para a questão
social, como já afirmava a Rerum novarum; que permite toda forma de desenvolvimento dos povos, como diz a Populorum Progressio; que garante à Igreja o direito de cidadania na sociedade, como explica a Centesimuns annus;
que ajuda o homem a entender a si mesmo, chamar Deus de Pai e
reconhecer em cada um dos homens o seu irmão, como deseja ardentemente a
Caritas in veritate.
– Original e muito interessante é o capítulo que o senhor
dedica ao trabalho, no qual explica a continuidade entre o trabalho de
Deus e o trabalho do homem. Pode nos explicar este ponto de vista?
- Dom Casile: A Bíblia começa falando de Deus que trabalha e que cria
o homem à sua imagem. Bento XVI nos recorda que: “O verdadeiro e único
Deus é também o Criador. Deus trabalha; continua trabalhando em e sobre a
história dos homens. Em Cristo, Ele entre como Pessoa no trabalho
cansativo da história. ‘Meu Pai trabalha sempre e eu também’. O próprio
Deus é o criador do mundo, e a criação não está ainda terminada”
(Encontro com o mundo da cultura, Paris, 12 de setembro de 2008).
Através do trabalho, o homem realiza-se, já que o trabalho, para ser
plenamente verdade, deve-nos falar mais além do homem e de sua
dignidade, deve-nos falar também de Deus. De Deus que trabalha seis dias
e no sétimo descansa, que celebra e se alegra, considerando bela a obra
de suas mãos (Gn 2, 2); de Deus que se identificou, durante quase
trinta anos de sua vida terrena, com o trabalho de carpinteiro de Nazaré
(Mc 6,3); de Deus que redimiu o trabalho e chamou seus discípulos a
segui-lo enquanto trabalhavam, convidando-os a se converter em
pescadores de homens (Lc 5, 10); de Deus que “trabalhou com mãos
humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade
humana, amou com um coração humano” (Gaudium et spes, 22).
O trabalho é para todo homem uma vocação: a expressão, já usada pelo Papa Paulo VI na Populorum progressio, foi retomada por Bento XVI na forma “Todo trabalhador é um criador” (Caritas in Veritate,
41). É próprio da pessoa, por cujo bem a todo trabalhador é dada a
oportunidade de dar sua própria contribuição, expressar a si mesmo, seu
próprio talento, suas capacidades. É expressão da própria criatividade a
imagem do Criador, de um Deus que “trabalha” na Criação e na Redenção.
- Seu livro conclui com a invocação de “viver a esperança como um dever cotidiano”. Como alimentar a esperança?
- Dom Casile: A escuta do Evangelho e a graça de poder vivê-lo a cada
dia em nossas ocupações cotidianas, também no atual contexto de crise,
faz florescer a esperança em nossos corações e nos permite viver na
confiança em Deus. Jesus, falando dos últimos tempos (poderíamos definir
como a “crise” do final do cosmos), descreve “sinais no sol, na lua e
nas estrelas. Na terra, as nações ficarão angustiadas. apavoradas com o
bramido do mar e das ondas. As pessoas vão desmaiar de medo”. Depois,
dirigindo-se aos discípulos, afirma: “Quando estas coisas começarem a
acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação
está próxima” (Lc 21, 25-28). Só Deus, perante um cenário apocalíptico,
pode nos convidar a estar serenos, a estar confiantes. Seguindo sua
Palavra, compreendemos como o Senhor está sempre conosco, e enquanto por
um lado nos adverte: “separados de mim, nada podem fazer” (Jo 15, 5),
por outro nos anima: “eu estarei sempre com vocês até o fim do mundo”
(Mt 28, 20).
Na noite e na escuridão da atual situação, nosso dever de cristãos
que vivem nas cidades dos homens é anunciar e viver o Evangelho da
esperança e da confiança no Senhor, que não nos abandona nunca. Vivamos
nosso compromisso cotidiano seguindo o estilo de nosso Mestre, que nos
convida a aprender dele, “manso e humilde de coração” (Mt 10, 16). Somos
conscientes de que – segundo as palavras de São João Crisóstomo –
“sendo cordeiros, venceremos e, ainda que estejamos cercados de muitos
lobos, conseguiremos superá-los”. Mas se nos convertermos em lobos,
seremos derrotados, porque estaremos privados da ajuda do pastor. Ele
não apascenta lobos, mas cordeiros. Por isso irá e te deixará sozinho,
porque o impede de manifestar sua potência (homilia sobre o evangelho de
Mateus 33, 1-2).
Que o Senhor Jesus nos ajude a todos, unidos como sua Igreja, a
realizar sua obra: viver bem nossa fé todos os dias, para que os tempos
sejam melhores e demos Deus ao mundo na caridade e na verdade.