quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

"Após a morte de Kim Jong-il, a reunificação das duas Coreias é possível"

Monsenhor Peter Kang, lider dos bispos de Seul, expressou otimismo para o futuro SEUL, segunda-feira, 19 de dezembro, 2011 (ZENIT.org) - A morte do ditador Kim Jong-il poderia representar uma virada para a reunificação das duas Coreias. Entre os bispos coreanos há um otimismo sobre o destino geopolítico da região após a morte do ditador de Pyonyang. *** "Esperamos que o Senhor de luz e coragem para os irmãos norte-coreanos para retornarem a uma política centrada no diálogo, na paz, na reconciliação", disse à Agência Fides, Dom Peter Kang, presidente da Conferência Episcopal sul coreana ". "Nós não esperávamos um evento como esse - acrescentou o prelado -. Desejamos que este seja um motivo para desenvolver um processo de reunificação. Não conhecemos os detalhes da atual situação política na Coreia do Norte. " Kim Jong-il foi sucedido por seu filho Kim Jong-un, trinta anos, um personagem sem "nenhuma experiência política", de acordo com o líder dos bispos da Coreia do Sul e que "parece haver muita confiança por parte do povo coreano". A situação política na Coreia do Norte poderia, então,passar por um período mais ou menos longo de transição, cheio de incerteza e instabilidade, com o resultado do possível declínio do Partido Comunista no poder há 60 anos. A morte de Kim Jong-il poderia, na verdade, marcar uma virada na história da Coréia. "Poderia ser um sinal de que o Senhor quer uma transformação fundamental no país", disse monsenhor Kang. Mais cauteloso forams os comentários do reverendo Kim Tea Sung, secretário-geral da Conferência coreana da Religião para a Paz, segundo o qual "o futuro do país é uma questão muito delicada neste momento". "A morte do 'caro líder' - disse à Fides o reverendo Kim - poderia deixar um vazio e criar problemas muito sérios na vida social e política. Esperamos que no Norte não acontece agora um momento de conflito, que traria sofrimento para a população." Kim, no entanto, esperava que continue e se reforce a cooperação e o diálogo entre os líderes religiosos das duas Coreias. Um reunião está marcada para a próxima quinta-feira, 22 de dezembro, na Coreia do Norte, após um precedente encontro em Pyongyang, enquanto uma delegação de norte-coreanos é esperada no Sul, no próximo ano. "Nossa esperança é que este processo de troca continue, mesmo com a nova liderança política no Norte, para reforçar um clima de cordialidade e amizade entre o Norte e e Sul da Coreia", concluiu o Rev. Kim. Tradução: MEM

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Igreja Católica na Coreia do Norte II

Coréia do Norte Nos últimos dois anos não ocorreram quaisquer mudanças significativas em termos de liberdade religiosa na Coréia do Norte... Iisto apesar de uma maior abertura demonstrada pelo regime comunista de Pyongyang em relação aos missionários da Igreja Católica e da Igreja Protestante, os quais, devido ao seu trabalho humanitário, puderam entrar no país com maior facilidade. A prática religiosa permanece, na realidade, estritamente proibida. Na Coréia do Norte, apenas o culto da personalidade de Kim Jong-Il e do seu pai Kim Il-Sung é permitido. O regime comunista tentou sempre impedir a prática da religião, especialmente por parte de budistas e de cristãos. Os crentes são obrigados a aderir a organizações controladas pelo partido. Os crentes não registrados e qualquer indivíduo envolvido em atividades missionárias são frequentemente sujeitos a uma perseguição brutal e violenta. Desde que o regime comunista foi estabelecido, em 1953, que cerca de 300 mil cristãos desapareceram, e dos padres e das religiosas que na altura viviam na Coréia do Norte nada se sabe, sendo que se parte do princípio que tenham sido perseguidos até à morte. De momento, pensa-se que cerca de oitenta mil pessoas se encontram a definhar em campos de trabalho, sujeitas à fome, à tortura e até mesmo à morte; no entanto este número baixou dos cerca de cem mil do último ano. Ninguém sabe se estes números (providenciados pelas ONGs que operam no país e que desejam manter o anonimato) são ou não precisos; e, no caso de o serem, não se apresentam razões para a diminuição nos valores. Antigos funcionários norte-coreanos e ex-prisioneiros afirmaram que os cristãos que estão nos campos de reeducação e nas prisões são tratados de forma pior do que os restantes detidos. De acordo com um documento secreto enviado a todos os quartéis militares do país em Setembro de 2007, a religião "está a espalhar-se como um cancro no seio das forças armadas da Coréia do Norte, cuja missão é defender o socialismo". Por esta razão a religião “deve ser erradicada sem demora pois provém dos nossos inimigos em todo o mundo". O documento foi tornado público por um membro do Comitê para a Democratização da Coréia do Norte, um grupo de exilados e refugiados políticos que o mandaram traduzir e publicar. "Não devemos ler os documentos, escutar ou ver as emissões de rádio ou de televisão, ou os materiais vídeo ou áudio elaborados pelo inimigo. O inimigo está a usar a rádio e a televisão para lançar falsa propaganda [religiosa e anti-socialista] através de notícias estratégicas e de intriga, muito bem-feitas", advertia o folheto. "Estão a colocar espiões em delegações internacionais que atravessam as nossas fronteiras para disseminar as suas religiões e convicções supersticiosas". Este material “é como um veneno que corrompe o socialismo e paralisa a consciência de classe" até mesmo entre os nossos soldados e "agora mais do que nunca" os soldados têm de o extirpar e montar guarda para prevenir o seu regresso”. Na Coréia do Norte, o Estado definiu cinquenta e uma categorias sociais. Um indivíduo que pratique uma religião que não se encontra sob o controle do Governo encontra-se evidentemente no fundo da tabela social, com menos oportunidades de educação, de emprego, de ajuda para obter alimentos, e encontra-se constantemente sujeito a uma violência brutal. As autoridades reivindicam que o país desfruta de liberdade religiosa e que esta está protegida pela Constituição. De acordo com números oficiais do Governo, existem dez mil Budistas, dez mil Protestantes e quatro mil Católicos no país, mas estas estimativas referem-se apenas a membros de associações oficialmente sancionadas. Em Pyongyang, existem três igrejas, duas protestantes e uma católica. Estas duas igrejas protestantes são usadas para difundir a propaganda do regime e os pastores no seu seio comparam o "querido líder", Kim Jong-Il, a um semi-deus. Na única igreja católica existente, não existe nenhum padre norte-coreano, mas as orações em grupo têm lugar uma vez por semana e, em casos excepcionais, as cerimônias religiosas são levadas a cabo por padres de etnia coreana, embora de nacionalidade estrangeira. A fome e a perseguição religiosa estão a fazer com que muitos norte-coreanos fujam do país. Se forem capturados, são frequentemente condenados à morte ou a trabalhos forçados. Um acordo entre a China e a Coréia do Norte tornou ainda pior uma situação que já era grave, pois os líderes chineses concordaram, na prática, em tratar os refugiados norte-coreanos como sendo "imigrantes ilegais" e repatriarão todos os que forem descobertos em território chinês, se necessário à força. Uma refugiada norte-coreana de 28 anos, identificada apenas pelo pseudônimo Park Sun-ja de modo a proteger a sua identidade, testemunhou perante uma conferência internacional sobre as violações de direitos humanos na Coréia do Norte. Foi citada pela LifeSiteNews como tendo dito que o infanticídio e o aborto forçado são práticas comuns nos campos de detenção da Coréia do Norte "e são levados a cabo de forma ainda mais brutal se a mãe for uma crente religiosa, qualquer que seja a sua religião". O que ela tem para dizer é chocante. "Eu ouvi os gritos tanto da mãe como da criança através das cortinas (num hospital). E testemunhei, através duma cortina parcialmente aberta, uma enfermeira a cobrir a face da criança com uma toalha molhada, em cima de uma mesa, sufocando-a. O bebe deixou de chorar cerca de dez minutos depois", disse Park. "Todos os prisioneiros que ali estavam acreditam que todas as crianças são imediatamente mortas à nascença e embrulhadas num pedaço de pano antes de serem queimadas numa colina ali perto", disse ela, acrescentando que o método habitual para induzir o nascimento precoce da criança era através de injeção. "Eu não consigo sequer imaginar como ela [a mulher acima mencionada] se deve ter sentido", afirmou Park. "Ouvi dizer que este tipo de atos tinha lugar no passado, mas depois de eu os ter visto com os meus próprios olhos, não senti que estivesse a viver numa sociedade civilizada". Park foi apanhada na China no ano 2000 e foi enviada durante dois meses para o campo de detenção da província de Shinuiju, onde viu o infanticídio acontecer. Conseguiu fugir para a Coréia do Sul em 2002. Igreja Católica Em várias ocasiões, Bento XVI mencionou os nossos "irmãos norte-coreanos" e convidou o mundo a rezar por eles. "Eu estou [. . .] consciente dos gestos práticos de reconciliação empreendidos para o bem-estar de todos na Coréia do Norte", disse o Papa durante a visita ad Limina Apostolorum feita pelos bispos coreanos em Dezembro de 2007. "Eu apoio estas iniciativas e invoco o cuidado providencial de Deus todo-poderoso sobre todos os norte-coreanos", acrescentou. O Papa estava a referir-se às muitas iniciativas caridosas empreendidas pela Igreja na Coréia do Sul em nome da população do Norte. Mas algo mudou desde o ano passado: a atitude do regime norte-coreano. Enquanto que dantes os trabalhadores cristãos declarados eram tratados como espiões ocidentais, eles são agora bem-vindos. Como parte desta "nova atitude", o Ministério dos Negócios Estrangeiros em Pyongyang deu a sua bênção à construção do Centro de Reconciliação Nacional do Povo Coreano em Paju, na província de Gyeonggi-do, perto da fronteira com a Coréia do Norte. A decisão sobre este projeto partiu da Arquidiocese de Seul para "promover as relações com a Igreja norte-coreana" e "favorecer uma abordagem amistosa" aos habitantes do Norte. O regime comunista chamou-lhe "uma idéia positiva". O centro irá incluir um edifício de dois andares, um servindo como seminário, o outro para uso litúrgico, com uma igreja expiatória, um pequeno santuário e um auditório. O seminário, que poderá alojar cerca de cem pessoas, inclui uma área de estudo e um museu religioso. O Comitê de Reconciliação Nacional, presidido pelo Bispo Kim Un-hwi, tem a seu cargo o projeto e selecionou recentemente o arquiteto que irá projetar a estrutura. Os primeiros desenhos já se encontram disponíveis para exame público. O projeto irá cobrir uma área de 2.200 pyong (um pouco menos do que um hectare) e será construído de modo a refletir o velho estilo da arquitetura sacra norte-coreana conforme existia antes da divisão. A arquitetura das igrejas norte-coreanas é conhecida como um 'estilo arquitetônico inculturado' porque tem por base conceitos tradicionais coreanos de arquitetura. Além disso, e graças ao empenho dos Católicos da Coréia do Sul, o Hospital Católico Internacional Rason da Coréia do Norte foi ampliado. De acordo com a AsiaNews, as instalações ficam situadas na província de Hamgyeongbuk-do, no Leste do país. O hospital, que abriu as suas portas em 2005, foi construído com a ajuda do Serviço Médico da Cooperação Católica Internacional, graças à cooperação entre a Congregação de Santo Otílio da Ordem Beneditina e a Igreja Católica da Coréia. O edifício de três andares cobre uma área de 25.000 m² e está apetrechado com equipamento terapêutico e de diagnóstico. Possui cem camas e emprega oitenta médicos, enfermeiras e pessoal médico. "Os hospitais católicos dão esperança para a paz e a cooperação. Espero que este hospital, em particular, possa abrir caminho para uma futura cooperação", disse Notker Wolf, O.S.B (Ordem de São Bento), abade da congregação de Santo Otílio, no dia da sua inauguração. "Que um hospital possa abrir na Coréia do Norte com a ajuda e a assistência da Igreja é uma ocasião feliz", afirmou o Monsenhor Paul Ri Moun-hi, Arcebispo de Daegu (Coréia do Sul), presidente da fundação católica que providencia os fundos para o projeto. "Os esforços da Igreja Católica a favor da reconciliação e da unidade das duas Coreias não só constituem uma missão importante para a população coreana, como também para a paz e para a humanidade como um todo". Porém, apesar dos esforços da igreja, ninguém deverá pensar durante um minuto que seja que o regime comunista está a facilitar o seu trabalho. A situação para a Igreja Católica na Coréia do Norte permanece atroz. Com o fim da guerra civil em 1953, as três jurisdições eclesiásticas locais e toda a comunidade católica foram brutalmente apagadas do mapa pelo regime estalinista. Nem um único padre local foi deixado vivo e todos os clérigos estrangeiros foram expulsos. Nos primeiros anos de perseguição por Kim Il-Sung, o primeiro ditador da Coréia do Norte, cerca de 300 mil católicos desapareceram. Ainda assim, o Papa manteve vivo o clero ao atribuir sedi vacanti et ad nutum Sanctae Sedis (ou seja, sés vagas, sob a administração de bispos externos designados por Roma) a ordinários sul-coreanos. Neste momento, além do Cardeal Cheong, de Seul, que administra a diocese de Pyongyang, o Monsenhor John Chang Yik, Bispo de Ch'unch'on no Sul, é o administrador para Hamhung, e o Frei Simon Peter Ri Hyeong-u, abade do Mosteiro Beneditino de Waegwan, é o administrador para Tokwon, na Coréia do Norte. Para sublinhar a perseguição pelo regime norte-coreano, o Annuario pontificio, o Anuário Pontifício do Vaticano, ainda lista o Monsenhor Francis Hong Yong-ho como Bispo de Pyongyang. Embora ele não seja visto desde 10 de Março de 1962, nunca foi declarado morto oficialmente (se estivesse vivo, teria 101 anos de idade). A partir deste momento, não existe nenhuma instituição da Igreja, nem padres residentes na Coréia do Norte. Depois da inauguração da primeira igreja Ortodoxa em Agosto último na capital da Coréia do Norte, os Católicos são a única comunidade sem um sacerdote. Oficialmente, o número de Católicos é de 800, bem menos do que os três mil recentemente reconhecidos pelo Governo. A auto-denominada Associação Católica da Coréia do Norte, uma organização criada e dirigida pelo regime, ainda reivindica representar os Católicos locais, mas a Santa Sé sempre desencorajou as visitas dos seus líderes a Roma devido às contínuas dúvidas sobre o seu estatuto legal e canônico. Existem fortes indicações de que são na realidade funcionários do Partido Comunista e não católicos. A única igreja católica não tem padre mas organiza um momento de oração semanal em grupo. Mas tais locais de culto não são mais do que "montras" para os poucos turistas que conseguem visitar o país. Outras confissões religiosas cristãs Em Dezembro de 2005 que quatro cristãos ortodoxos norte-coreanos se encontram a estudar na cidade russa de Vladivostok para atualizar o seu sacerdócio, por um período de três meses. O grupo incluía um padre, dois diáconos e um estudante de música sacra. Para completarem os seus estudos, encontravam-se na Catedral de Svyato-Nikolsky, estudos esses que incluíam explicações teóricas e exemplos práticos de liturgia ortodoxa eslava. O grupo era liderado por Peter Kim Chkher, presidente da Comissão Ortodoxa Norte Coreana, e incluía os dois diáconos, Theodore e Ioann, e Kim En Chang, um diplomado da Escola de Música de Gnesiny. A Comissão Ortodoxa foi criada pelo Governo norte-coreano em 2002. O Frei Dionisy Pozdnyayev, padre ortodoxo do Patriarcado de Moscou, que tem sido o sacerdote dos estrangeiros que vivem na capital da Coréia do Norte a convite do Governo norte coreano, chama à Comissão "um sinal do reconhecimento oficial da Ortodoxia". Os quatro membros convidaram o Arcebispo Veniamin, de Vladivostok e Primorye, para a consagração da nova Igreja da Trindade, em Pyongyang, cerimônia que teve lugar em 2006. O chão da nova igreja foi benzido no dia 24 de Junho de 2003 pelo Arcebispo Ortodoxo Kliment Kapalin. Os representantes norte-coreanos disseram na ocasião que era "importante" para os crentes ortodoxos em Pyongyang terem a oportunidade de praticar a sua fé, e expressaram a "esperança" de que a construção da igreja fortalecesse os laços entre a Rússia e a Coréia do Norte. Para o embaixador russo na Coréia do Norte, Andrei Karlov, a igreja marcou "o regresso da Ortodoxia à Coréia depois de uma longa ausência". No início do século XX, cerca de dez mil coreanos converteram-se à Ortodoxia em cidades como Seul (Coréia do Sul), Wonsan (Coréia do Norte) e em muitas aldeias, em resultado do trabalho de missionários russos. Mas a regência colonial japonesa e o regime estalinista puseram fim à evangelização. Mais tarde, a atividade missionária viria a recomeçar na Coréia do Sul, país que conta atualmente com quatro igrejas ortodoxas. A delegação que veio a Vladivostok não é a primeira do gênero a chegar à Rússia proveniente da Coréia do Norte. Quatro norte-coreanos prosseguiram os estudos no Seminário Teológico do Patriarcado de Moscou entre 2003 e 2005, enquanto dois estudantes russos da Academia Teológica de Moscou estudaram o idioma e a cultura coreana na Universidade Kim Il-Sung, em Pyongyang. O Frei Dionisy afirmou que os quatro estudantes coreanos em Vladivostok se estão a concentrar no estudo da língua russa (incluindo o eslavo eclesiástico, que é usado na liturgia) e o catecismo, de modo a que possam preparar outros para o batismo. O Patriarca Alexis II de Moscou e de Toda a Rússia aprovou a escolha de Vladivostok como o local de formação do clero coreano. Graças a esta "ponte", uma delegação de cristãos ortodoxos russos, incluindo clérigos e membros da hierarquia da Igreja, puderam celebrar o Pentecostes com a pequena comunidade ortodoxa coreana. De acordo com uma declaração emitida pela diocese ortodoxa de Vladivostok, a "visita à capital da Coréia do Norte coincide com a celebração do Pentecostes. Neste dia, o primeiro templo ortodoxo, que foi aberto em Pyongyang em Agosto de 2006 e consagrado em honra da Trindade geradora da vida, celebra a sua festa de dedicatória". Muitos peritos vêem esta abertura inesperada como um sinal da "necessidade desesperada" de Pyongyang do apoio da comunidade internacional. Como resultado de políticas agrícolas e econômicas desastrosas, o país está à beira do colapso. A população vive só com um terço do que as Nações Unidas consideram o mínimo de calorias diárias necessárias para um ser humano. Mas apesar destes problemas, Kim Jong-Il manteve uma atitude de aparente indiferença à situação e continuou a bradar à "vitória do sistema socialista" no país. Deste modo a ajuda da Rússia, assim como a da China, tornou-se a única maneira do ditador manter a dignidade, permitindo, ao mesmo tempo, que os norte-coreanos possam sobreviver. Dados do País • Área (km²) 120.538 • População 23.912.000 • Cristãos 502.152 • Católicos --- • Dioceses --- • Refugiados ---

Igreja Católica na Coreia do Norte

por Alberto Garuti Cinqüenta anos de ditadura tentaram apagar todos os sinais visíveis da Igreja católica no país. Será que a semente, que antes foi lançada, morreu? ão existe nenhuma estrutura de Igreja na Coréia do Norte, mas isso não quer dizer que não existam católicos. A perseguição contra a pequena Igreja católica deste país começou no fim do ano 1945, quando as forças de ocupação soviéticas impuseram um regime comunista. Em 9 de maio de 1949, os 123 missionários do vicariato apostólico de Wonsan foram presos, em seguida os 14 de Pyongyang, alguns dias depois. Em pouco tempo, não havia nenhum padre católico em liberdade. O governo comunista norte-coreano decidiu eliminar totalmente a fé católica: cinco bispos, 82 padres, 25 monges, 34 religiosas e quatro seminaristas morreram mártires. Havia cerca de 50 mil católicos na Coréia do Norte, no momento da tomada do poder pelos comunistas: alguns conseguiram fugir para a Coréia do Sul e o que aconteceu aos outros, ninguém ficou sabendo nada. Contudo, em 1985, o governo norte-coreano convidou ao país uma delegação do Conselho Ecumênico das Igrejas, e esta constatou a presença de vários milhares de cristãos, especialmente protestantes, sem templos nem igrejas. A SEMENTE NÃO MORREU Atualmente, os cristãos são poucos, mas é muito provável que, se a evangelização pudesse recomeçar, muitas pessoas abraçariam o cristianismo. Eis alguns exemplos. O padre Gerard Hammond, missionário de Maryknoll, está na Coréia do Sul desde 1960. Ele já visitou várias vezes a Coréia do Norte em missões humanitárias. Durante uma dessas viagens, viajando de carro e sentado ao lado do motorista norte-coreano, ele começou a rezar o terço, enquanto o outro o olhava. Num certo momento, o carro deu um solavanco, o padre fez um movimento brusco e, por causa disso, o terço que estava segurando quebrou. O padre pediu ao motorista que parasse um momento para descansar e lhe perguntou se tinha por acaso uma pinça. O motorista perguntou para que serviria e o padre lhe mostrou o terço quebrado. O motorista disse que ele mesmo o consertaria, mas para isso saiu do carro e se afastou, indo além de uma curva, para não ser visto pelos ocupantes do carro que vinha atrás. Pouco depois, voltou com o terço consertado e disse: "Eu sei o que é. Minha avó tinha um". Em seguida perguntou para que servia e o padre disse que servia para rezar, especialmente para pedir a Deus a unificação do povo coreano. O motorista ficou muito satisfeito e sorriu a viagem toda. Outra vez, o mesmo padre estava visitando um hospital e viu um homem idoso, muito doente, que perguntava ao médico quem ele era. O médico disse isso ao padre e acrescentou que o paciente não tinha muito tempo de vida. O padre se apresentou e disse ser um sacerdote católico. O doente respondeu, chorando, que conhecia os padres católicos. O padre não poderia fazer um discurso religioso pois isso era proibido e havia outros pacientes na mesma sala. Então, ele se expressou nestes termos: "Eu sei o que existe no seu coração. Aperte a minha mão. Sei que você irá para um lugar onde estará muito feliz". E, bem baixinho, ao ouvido, lhe disse que Jesus o estava esperando. Também aquela pessoa sorriu, contente. Provavelmente é isso o que restou dos antigos cristãos. Os filhos, nascidos sob o novo regime, ouviram alguma coisa dos pais ou dos amigos, guardaram uma lembrança e uma impressão em seu coração de algo que seria muito bonito seguir, mas que não puderam porque, durante muitos anos, foi taxativamente proibido. A SEMENTE COMEÇA BROTAR Mas algo começa a mudar. Todo domingo na igreja católica da capital, Pyongyang, os cristãos agora se reúnem para a oração dominical. Não há missa porque não há padre: todos foram mortos ou exilados no começo da revolução e nunca mais foi permitido ter um. Os cristãos se reúnem para um culto; se por acaso estiver presente algum padre estrangeiro, de passagem, esse pode celebrar. No total, seriam três mil católicos em todo o país, dos quais 800 na capital. Existem até uns pequenos grupos engajados, por exemplo, a Associação Católica Romana da Coréia (Acrc), formada por católicos nascidos depois da guerra da Coréia (1950-53), que procura manter os contatos com os católicos que moram longe da capital, visitam freqüentemente os católicos em suas cidades e orientam sua vida de fé. Mas isso é muito pouco no meio dos 23 milhões de norte-coreanos. Além desses poucos sinais visíveis, certamente existem traços de religiosidade na população. É o que os exemplos já citados mostram. Mas será sempre pouca coisa, se pensarmos que o regime, durante cinqüenta anos, proibiu qualquer manifestação religiosa. O pouco que restou começará a brotar com força, tão logo haja uma maior abertura no país. Coréia do Norte: um país de contrastes Quem tiver que ir da capital Pyongyang à cidade de Nampo pode usar uma das mais modernas estradas do mundo: cinco pistas asfaltadas em cada direção, bem separadas por firmes divisões entre um sentido e o outro. Ela foi construída por 50 mil voluntários num trabalho que durou dois anos. Um pequeno detalhe chama a atenção: quase não se encontram carros trafegando por ela. Se alguém perguntar a um norte-coreano por que construíram uma estrada como essa, se há tão poucos carros no país, ele responderá: "Para o futuro". Um futuro, contudo, que parece muito distante. No fim dos anos noventa, uma carestia matou dois milhões de habitantes. Agora o problema diminui, mas a fome continua. Conforme estatística da Unicef, em 2001, 45% das crianças abaixo dos cinco anos eram subnutridas. As terras cultiváveis são muito poucas nas duas Coréias. A do Sul importa 70% dos alimentos que consome, a do Norte deveria fazer a mesma coisa, mas não há dinheiro, pois as indústrias são poucas e quase todas a caminho da falência. Apesar disso, continuam os trabalhos faraônicos, para alimentar no povo ideais de grandeza, e o investimento na compra de armamentos. As Igrejas cristãs da Coréia do Sul fazem grandes esforços para ajudar os irmãos do Norte, enviando grandes quantidades de arroz, fertilizantes e vários gêneros alimentícios. A mesma coisa fazem os budistas. O governo, agora, permite e aprova essas atividades.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Marxismo cultural é a nova ameaça à sociedade, diz Pe. Paulo Ricardo

Marxismo cultural é a nova ameaça à sociedade, diz Pe. Paulo Ricardo SÃO PAULO, Brasil, 21 de dezembro de 2011 (Notícias Pró-Família) - Embora pareça ter morrido com a queda da União Soviética, o marxismo só passou por uma metamorfose, e agora está ameaçando a cultura de muitas nações em todos os níveis, de acordo com um dos padres mais famosos do Brasil. Numa exclusiva entrevista de vídeo para LifeSiteNews, o Pe. Paulo Ricardo diz para LifeSiteNews que os marxistas invadiram a esfera cultura depois que suas opiniões sobre economia caíram em descrédito, e agora estão buscando subverter todas as instituições da sociedade a partir de dentro. "Eles querem ter o controle de tudo o que produz a cultura. Portanto, acima de tudo, a Igreja é importante. Mas também as universidades, e as escolas, os jornais, os meios de comunicações e tais. E é claro que na batalha em que estão, eles têm tudo nas mãos agora", Paulo Ricardo disse para LifeSiteNews. Contudo, acrescentou ele, precisamos compreender que "Deus está conosco". De acordo com Paulo Ricardo, o marxismo cultural não só incorpora as premissas de Marx, mas também de Nietzsche e Freud. A meta nada mais é do que destruir a civilização ocidental pelas raízes. Dessa destruição, nos asseguram, surgirá uma utopia. Entre as instituições visadas para extermínio, disse Paulo Ricardo, está a família. "Eles acham que a família é opressão. Por isso, logo que há uma família, aí há um homem, que está oprimindo a mulher, e oprimindo os filhos, pois ele está fazendo imposições sobre eles", disse Paulo Ricardo. "Por isso, logo que há uma família tradicional, aí há um homem como governante da família e eles acham que devem destruir isso e para se ter uma sociedade igual, eles querem pessoas crescendo num ambiente diferente". No Brasil, o país com a maior população católica do mundo, os marxistas têm visado a Igreja, e grande número de padres e bispos adotou uma ideologia que substitui os ensinos espirituais de Cristo por uma imitação marxista conhecida como "teologia da libertação". "Agora o que eles estão tentando fazer é alcançar o Cristianismo e mudá-lo de dentro", disse Paulo Ricardo. "Por isso, eles mantêm as palavras religiosas, mas mudam o conceito interior da palavra". "Quando eles falam sobre o reino de Deus, nós como cristãos, quando falamos sobre o reino de Deus, cremos que estamos falando sobre o reino do céu. Por isso, estamos falando sobre algo que não está aqui neste mundo". "Pois bem, eles começam dizendo que estão trabalhando aqui para o reino de Deus, e querem produzir o reino aqui neste mundo. Portanto, na realidade o assunto sobre o qual eles estão falando é a sociedade socialista com a qual eles sonham, a utopia que eles pensam vai acontecer, é o reino de Deus". "Eles usam as mesmas palavras. Parece algo católico, parece algo cristão, mas ao mesmo tempo percebemos que há algo estranho nisso, pois há alguma coisa faltando, e o que está faltando é tudo o que tem relação com o transcendental, com o céu, com a vida após a morte. Tudo o que eles fazem é aplicar aqui na Terra". Essa rejeição das realidades espirituais se junta à exaltação do homem como o "super-homem" de Nietzsche, que pode decidir por si mesmo o bem e o mal, como a serpente prometeu no Jardim do Éden, disse Paulo Ricardo. Os cidadãos do Brasil e dos Estados Unidos estão desarmados diante do marxismo cultural, disse Paulo Ricardo, pois eles ingenuamente creem que o marxismo morreu com a queda da União Soviética. "Nós realmente estamos diante de um monstro que está destruindo tudo o que estimamos, tudo o que consideramos precioso e sagrado", disse ele. O Pe. Paulo Ricardo é famoso no Brasil por suas explicações claras e firme defesa da fé católica, que ele apresenta em seu programa de TV para a Rede Canção Nova, bem como seu blog, Christo Nihil Praeponere. Por Matthew Cullinan Hoffman

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Kim Jong-il e Vaclav Havel

Kenneth Maxwell Não se sabe muito sobre Kim Jong-il. Ele nasceu na União Soviética, em 1941 ou 1942. Seu pai, Kim Il-sung, comandava o 1º Batalhão da 88ª Brigada Soviética, formado por comunistas chineses e coreanos exilados. Sua mãe, Kim Lok-suk, ativista comunista, morreu de parto em 1949. Kim Il-sung foi apontado pelos soviéticos em 1945 para a presidência do Comitê Popular Provisório da Coreia, e depois disso liderou a Coreia do Norte por 46 anos. Kim Jong-il sucedeu o pai em 1994. Conhecido como "Querido Líder", comandava um regime comunista dinástico impiedoso, armado com bombas nucleares. O ditador morto era infame por seu amor ao conhaque. Era o maior cliente mundial da Hennessy. Usava óculos grandes e de lentes escuras, salto alto e um penteado com topete. George W. Bush o chamou de "pigmeu". Seu filho mais velho, e herdeiro presuntivo, foi exilado para Macau, na China, depois de ser detido tentando entrar no Japão com passaporte falso, a caminho da Disney World de Tóquio. A sucessão por seu terceiro filho, Kim Jong-un, um jovem na casa dos 30 anos e com apenas um ano de treinamento no governo, é vista com medo e apreensão pelos vizinhos da Coreia do Norte e em Washington. A Coreia do Norte só tem um aliado, a China. Os riscos são evidentes. Vaclav Havel também morreu. Mas era um homem de espécie muito diferente. Dramaturgo na Tchecoslováquia da era comunista, jamais foi agente da ditadura, e sim seu maior inimigo. Tratado como "inimigo de classe" depois da tomada do poder em seu país pelos comunistas, Vaclav Havel se viu forçado a deixar a escola aos 15 anos e não pôde se matricular na universidade. Mas suas peças ofereciam crítica vigorosa e irônica aos anos sombrios da repressão. Aprisionado depois que tanques russos esmagaram a Primavera de Praga, em 1968, ele foi um dos fundadores do grupo Carta 77 e, em 1989, liderou as demonstrações de massa pacíficas da Revolução de Veludo, que puseram fim ao domínio comunista. Havel se tornou presidente da Tchecoslováquia, promoveu uma reaproximação com a Alemanha e comandou o "divórcio de veludo" entre a República Tcheca e a Eslováquia. Não foram tarefas fáceis para ele. No entanto, nos tempos sombrios em que vivemos, a escala e a força moral dessas realizações costumam ser esquecidas. A Europa se reintegrou. E boa parte do crédito por isso cabe a Havel, que praticou aquilo que definia como "a arte do impossível, ou seja, a arte de melhorar a nós mesmos e ao mundo". Um legado muito superior ao de Kim Jong-il.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O discurso de Bento XVI aos novos embaixadores junto à Santa Sé

[normal] [medium] [big] ZP11121505 - 15-12-2011 Permalink: http://www.zenit.org/article-29386?l=portuguese A interdependência entre os povos não é uma ameaça CIDADE DO VATICANO, quinta-feira 15 dezembro, 2011 (ZENIT.org) - "A unidade da família humana é agora vista como um fato." O afirmou o Papa Bento XVI durante o seu discurso, pronunciado em francês, durante a audiência com os onze embaixadores junto à Santa Sé, por ocasião da apresentação das suas cartas credenciais. Bento XVI referiu-se, em particular, "aos meios de comunicação social que conectam todas as partes do mundo entre si", aos "transportes que facilitam os intercâmbios humanos", às "relações comerciais que fazem as economias interdependentes", aos desafios relativos ao ambiente e fluxos migratórios. Todos esses fenômenos nos fazem ver como a humanidade tem "um destino comum", disse o Pontífice. Porém, "diante dos aspectos positivos", a toma de consciência de tudo o que é percebido por muitos como "um fardo". No entanto, o Santo Padre recordou que "o olhar da própria humanidade sobre si mesma deve evoluir no sentido de descobrir nesta interdependência, não uma ameaça, mas um benefício: Os homens que trabalham uns com os outros e uns para os outros". Uma vez que todos nós somos "responsáveis por tudo", torna-se importante "ter uma concepção positiva da solidariedade", por meio da qual pode ser realizado o "desenvolvimento humano integral que permite a humanidade alcançar a sua realização." A solidariedade que o Papa falou é, em primeiro lugar, uma solidariedade "entre as gerações" que "está enraizada na família que deve ser mantida, para continuar a cumprir sua missão na sociedade." Outro instrumento privilegiado para a promoção da solidariedade é "a educação da juventude"; a este respeito é essencial que os governos "invistam os recursos necessários para dar aos jovens as bases éticas fundamentais" para ajudá-los a lutar contra os "males sociais" do nosso tempo: "o desemprego, as drogas, a criminalidade e o desrespeito da pessoa." Bento XVI também destacou que o "pluralismo cultural e religioso não se opõem à busca comum do bem, do Belo e do verdadeiro". A Igreja, portanto, "sustentada pela luz da Revelação," encoraja as pessoas "a confiarem na razão que, se purificada pela fé" é capaz de elevá-los e de colocá-los em busca insondável do mistério. Os "novos desafios", portanto, apelam para a "mobilização das inteligências e da criatividade do homem para lutar contra a pobreza e para um uso eficaz e saudável das energias e dos recursos disponíveis." Outra questão levantada pelo Santo Padre é o da "responsabilidade de todos", para que sejam garantidos "o respeito e a promoção da dignidade humana". O "primado do espírito", então, não é uma prerrogativa exclusiva das religiões, mas também deve ser incentivado pelas autoridades estaduais, obrigadas a colocar "políticas culturais que incentivem o acesso de qualquer um aos bens do espírito”, sem desencorajar nunca o homem do “buscar livremente a sua calma espiritual".

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

No Enem, a saudação ao Duce

10 de novembro de 2011 Demétrio Magnoli, sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP. E-mail: demetrio.magnoli@terra.com.br - O Estado de S.Paulo Questão do Enem, 2001: "A Lei 9.491, de 9 de setembro de 1997, criou o Programa Nacional de Desestatização, que reordena a posição estratégica do Estado na economia, transferindo à iniciativa privada atividades indevidamente exploradas pelo setor público . A referida lei representa um avanço não só para a economia nacional, mas também para a sociedade brasileira, porque (...)". Resposta, segundo o gabarito: "amplia os investimentos produtivos e a riqueza geral da nação". A questão acima é uma invenção minha: nunca foi proposta num Enem. Mas o que diria Fernando Haddad se, no governo FHC, o MEC a tivesse inserido num exame nacional que decide o futuro universitário de milhões de estudantes brasileiros? Desconfio que, coberto de razão, ele classificaria a prova como um gesto de covardia autoritária pelo qual os candidatos seriam forçados a se curvar à doutrina política do poder de turno, repetindo compulsoriamente o credo expresso no site do Planalto sob pena de exclusão do ensino superior. Pois o atual ocupante do MEC acaba de produzir um gesto assim, indigno de uma nação democrática, na mais recente edição do Enem. Eis o texto da questão: "A Lei n.º 10.639, de 9 de janeiro de 2003, inclui no currículo dos estabelecimentos de ensino (...) a obrigatoriedade do ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira e determina que o conteúdo programático incluirá o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil (...) . A referida lei representa um avanço não só para a educação nacional, mas também para a sociedade brasileira, porque (...)". Resposta, segundo o gabarito: "impulsiona o reconhecimento da pluralidade étnico-racial do país". Sob Haddad, o Enem converteu-se em campo de reeducação ideológica para jovens. Diante disso, pouco significam os sucessivos espetáculos de incompetência gerencial que o atormentam. A lei que os candidatos estão obrigados a celebrar não é uma ferramenta de combate ao preconceito racial, mas a condensação da doutrina racialista. Seu pressuposto é a divisão da humanidade em raças. Segundo ela, as pessoas não são indivíduos mas componentes de "famílias raciais" definidas por ancestralidades supostas e involucradas em culturas singulares. As escolas, prega a lei, devem ensinar uma história particular do "povo negro" (por oposição implícita ao "povo branco"). Desde a mais tenra idade, os estudantes aprenderiam a enxergar a si mesmos como participantes de uma comunidade racial. O gabarito da questão está errado e inexiste resposta correta entre as alternativas apresentadas no exame. Mas a resposta certa, segundo o próprio MEC, consta de um parecer do Conselho Nacional de Educação no qual se explica que a lei "deve orientar para (...) o esclarecimento de equívocos quanto a uma identidade humana universal". Tal resposta não aparece entre as alternativas, pois ela explicitaria a insolúvel contradição entre a lei da educação racial e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que repousa sobre a afirmação da realidade de "uma identidade humana universal". O contrato constitucional das democracias está amparado no princípio da pluralidade. O princípio significa que não se reconhece doutrina ou ideologia oficialmente verdadeira, à qual a nação deveria fidelidade ou obediência. Dele se extrai um corolário: o sistema de ensino não pode promover catequese ideológica. Escolas, livros didáticos e exames vestibulares não têm o direito de doutrinar - isto é, de atribuir estatuto de verdade científica ao que não passa de um ponto de vista político. Haddad evidencia no Enem a sua visceral aversão ao princípio da pluralidade. Ele é ministro num Estado democrático, mas sonha ser comissário de um Estado totalitário. A questão escandalosa não é um raio no céu claro. Nos últimos anos, enquanto se metamorfoseava em vestibular nacional, o Enem converteu-se num pátio de folguedos da pedagogia da doutrinação. O desfile de catecismos ideológicos abrange, ao lado de versões cômicas de um marxismo primitivo, constrangedores panfletos do ambientalismo apocalíptico e manifestos rudimentares do multiculturalismo pós-moderno. Os exames, especialmente suas seções de ciências humanas, parecem emanar de um acordo de partilha territorial firmado entre os arautos acadêmicos do cortejo de ONGs e "movimentos populares" associados ao governo. Contudo, mesmo sobre esse deplorável pano de fundo, exigir que milhões de jovens estudantes repitam como autômatos as sílabas, palavras e frases escritas pelo Palácio do Planalto equivale a ultrapassar a fronteira da obscenidade. Meu avô materno, um antifascista perseguido pelo regime de Mussolini, deixou a Itália com a esposa e dois filhos pequenos na hora da eclosão da guerra mundial. No Brasil, beneficiando-se de uma bolsa de estudos baseada no mérito, minha mãe pôde ser matriculada no prestigioso Dante Alighieri, que era um colégio da comunidade italiana de São Paulo. Por uma dessas amargas ironias, durante dois anos, até a declaração brasileira de guerra ao Eixo, ela tinha a obrigação, compartilhada com todos os colegas, de fazer a saudação ao Duce à entrada da escola. A exposição a desenhos animados violentos não transforma crianças em adultos assassinos. A rotina da saudação diária a Mussolini em nada reduziu o desprezo devotado por minha mãe ao fascismo. Os estudantes não aderirão ao credo identitário do racialismo por serem compelidos a pagar pedágio à verdade ideológica oficial no Enem. Mas a democracia brasileira fica um pouco menor quando o ministro da Educação veste a fantasia do Duce.

Fundamentalismo ateu

Ives Gandra da Silva Martins Além dos avanços na ciência feitos por sacerdotes, a Igreja ofereceu ao mundo moderno o seu maior instrumento de cultura, ou seja, a universidade Voltávamos, Francisco Rezek e eu, de uma posse acadêmica em Belo Horizonte quando ele utilizou a expressão "fundamentalismo ateu" para se referir ao ataque orquestrado aos valores das grandes religiões que vivemos na atualidade. Lembro-me de conversa telefônica que tive com meu saudoso e querido amigo Octavio Frias, quando discutíamos um editorial que estava para ser publicado sobre encíclica do papa João Paulo 2º, do qual discordava quanto a alguns temas. Argumentei que a encíclica era destinada aos católicos e que quem não o era não deveria se preocupar. Com inteligência, perspicácia e bom senso, Frias manteve o editorial, mas acrescentou a observação de que o papa, embora cuidando de temas universais, dirigia-se fundamentalmente aos de fé cristã. Quando fui sustentar, pela CNBB, perante o STF, a inconstitucionalidade da destruição de embriões para fins de pesquisa científica -pois são seres humanos, já que a vida começa na concepção-, antes da sustentação fui hostilizado, a pretexto de que a Igreja Católica seria contrária à ciência e que iria falar de religião, não de ciência e direito. Fui obrigado a começar a sustentação informando que a Academia de Ciências do Vaticano tinha, na ocasião, 29 Prêmios Nobel, enquanto o Brasil até hoje não tem nenhum, razão pela qual só falaria de ciência e direito. Mostrei todo o apoio emprestado pela Academia às experiências com células-tronco adultas, que estavam sendo bem-sucedidas, enquanto havia um fracasso absoluto nas experiências com células-tronco embrionárias. De lá para cá, o sucesso com as experiências utilizando células tronco adultas continuam cada vez mais espetaculares. Já as pesquisas com células embrionárias permanecem em estágio "embrionário". Trago essas reminiscências, de velho advogado provinciano, para demonstrar minha permanente surpresa com todos aqueles que, sem acreditar em Deus, sentem necessidade de atacar permanentemente os que acreditam nos valores próprios das grandes religiões, que, como diz Toynbee em seu "Estudo da História", terminaram por conformar as grandes civilizações. Por outro lado, Thomas E. Woods Jr., em seu livro "Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental", demonstra que, além dos fantásticos avanços na ciência feitos por sacerdotes cientistas, a Igreja ofereceu ao mundo moderno o seu maior instrumento de cultura e educação, ou seja, a universidade. Aos que direcionam essa guerra ateia contra aqueles que vivenciam a fé cristã e cumprem seu papel, nas mais variadas atividades, buscando a construção de um mundo melhor, creio que a expressão do ex-juiz da Corte de Haia é adequada. Só não se assemelham aos "fundamentalistas" do Oriente Médio porque não há terroristas entre eles. Num Estado, o respeito às crenças e aos valores de todos os segmentos da sociedade é a prova de maturidade democrática, como, aliás, o constituinte colocou no artigo 3º, inciso IV, da nossa Constituição Federal, ao proibir qualquer espécie de discriminação. ________________________________________ IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, 76, advogado, professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra, é presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Quinhentos anos de direitos humanos

ZP11120103 - 01-12-2011 Permalink: http://www.zenit.org/article-29313?l=portuguese Comemoração do discurso histórico de Montesinos MADRI, quinta-feira, 1º de dezembro de 2011 (ZENIT.org) - No próximo dia 21 será comemorado o 500º aniversário da homilia histórica do frade dominicano Antón Montesino (ou Antón de Montesinos) na ilha caribenha de Hispaniola. No sermão, ele denunciou a exploração dos nativos e reivindicou a sua dignidade como filhos e filhas de Deus. Era o quarto domingo do Advento, 21 de dezembro de 1511, quando Montesinos fez o sermão na ilha que hoje é dividida entre o Haiti e a República Dominicana, em nome da comunidade dominicana que chegara um ano antes, conforme recordou Frei Iván Calvo Alonso, OP, em conversa com ZENIT. O sermão denunciou a situação de exploração a que tinham sido submetidos os habitantes daquelas terras. Os dominicanos, disse Calvo Alonso, "foram profetas" e incorporaram a figura do Bom Samaritano. "Eles ouviram o clamor dos índios maltratados, ficaram horrorizados com o sofrimento dos inocentes e falaram em nome de Deus: com que direito e com que justiça esses índios são mantidos em servidão tão cruel e horrível? Acaso eles não são homens?". A denúncia sacudiu a consciência das autoridades espanholas, que responderam promulgando as "Leis de Burgos" (1512) e as "Leis de Valladolid" (1513), para melhorar as condições dos nativos. Não sendo suficiente, a Igreja continuou a defesa da dignidade de homens e mulheres daquelas terras. "O sermão e o papel desses primeiros monges têm um lugar importante na história dos direitos humanos", reiterou Frei Calvo Alonso. Para relembrar o evento histórico, a Ordem dos Pregadores (OP) organizou uma série de congressos, conferências e celebrações em todo o mundo. O evento principal acontecerá em Madri no dia 21 de dezembro, na "Casa de América", com presença do Mestre da Ordem, Frei Bruno Cadoré, além de José Antonio Pastor Ridruejo, professor de direito e especialista em direitos humanos, e do filósofo Mate Reyes. Haverá ainda uma representação da peça As primeiras notícias do desastre, do famoso dramaturgo espanhol Juan Mayorga. O evento será organizado pelo Conselho Ibérico das Províncias Dominicanas da Espanha, juntamente com a "Casa de América". No dia seguinte, 22 de dezembro, o Mestre dos dominicanos presidirá as Vésperas na Basílica de Atocha, em Madri. Ainda por ocasião do centenário, o último Capítulo Geral dos Dominicanos, realizado em Roma, pediu que no IV Domingo do Advento de 2011, ou 18 de dezembro próximo, o sermão histórico seja lido em todas as igrejas da ordem. Os dominicanos dizem que este evento "merece ser conhecido" porque representa o "embrião" da Declaração dos Direitos Humanos, e por isso eles prepararam um especial sobre Montesinos e seu sermão, incluindo material biográfico e informações sobre Pedro de Córdoba e a primeira comunidade dominicana. O material contém o texto completo do sermão, tal como conservado por Frei Bartolomé de las Casas. No especial, há também material de reflexão e estudo, com testemunhos de membros da família dominicana em todo o mundo sobre a intenção de continuar vivendo o espírito dos primeiros dominicanos da Nova América "com um trabalho silencioso em defesa da dignidade humana", dizem os organizadores. O especial está disponível em: www.dominicos.org/500-sermon-montesino

Farc recorria à bruxaria para "bloquear" operações contrárias à guerrilha

De acordo com o jornal colombiano El Tiempo (30/9/2011), uma investigação revelou que os guerrilheiros marxistas da Frente 29 das Farc utilizavam a prática da bruxaria para tentar barrar as atividades das forças públicas contrárias ao movimento. Entre os 12 guerrilheiros capturados, em uma operação da Inteligência colombiana no departamento de Cauca, estava uma mulher misteriosa com um olhar desconfiado e grandes brincos na orelha. Tratava-se de Clara Maria Fernandez, uma bruxa que costumava atender seus clientes em um cybercafé na capital de Cauca, Popayán. Uma investigação policial havia revelado que Clara Maria tinha um estranho cliente. Via telefone, ela fornecia, à Frente 29 das Farc, seus relatórios sobre as bruxarias que realizava, a pedido dos guerrilheiros, contra o chefe de Polícia, o general Óscar Naranjo - atual vicepresidente da interpol, e o comandante de Cauca, o coronel Carlos Rodriguez. O objetivo era deter as operações anti-Farc. A bruxa também fazia "trabalhos" para auxiliar a concretização de negócios do tráfico de drogas. Segundo os investigadores, há um ano e meio as Farc tinham contratado a bruxa para prever o futuro e prevenir a guerrilha contra as operações nessa região. "Ela lhes dizia: 'Troquem de lugar porque vão fazer uma operação, vejo coisas obscuras, movimentos que podem vos prejudicar", contou um oficial que participou das investigações. Em setembro último, as Farc pediram á bruxa, de 33 anos, que fizesse um "trabalho" contra o general Naranjo para mudar o destino de uma operação que estava em andamento. Em quase todos os casos, quando ela os advertia sobre as supostas operações, não havia nenhum registro de atividade das forças de segurança contra esse grupo. Parafraseando Bertrand Quinquet, quando a chama da Fé se apaga, a lâmpada da superstição se reanima. *** Fonte: http://www.eltiempo.com/justicia/ARTICULO-WEB-NEW_NOTA_INTERIOR-10475686.html