quinta-feira, 31 de maio de 2012

Santa Joana D'Arc


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Quis Deus libertar os hebreus do jugo dos egípcios, e suscitou um Moisés, que se apresenta diante do orgulhoso faraó, faz milagres para comprovar sua missão divina, lança pragas sobre o Egito, e ostenta o poder divino, abrindo diante de si as águas do Mar Vermelho, enelas sepultando para sempre os exércitos inimigos.
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Quis Deus salvar a França do domínio inglês, na Idade Média, e em vez de fazer nascer entre os filhos dessa nação um grande general, chamou para realizar sua obra uma donzela, inocente pastorinha da Lorena.
De repente, um país derrotado e decadente, retalhado pela ambição, governado por um príncipe fraco e hesitante, ressuscita ao ouvir a convocação de Joana. Sua voz virginal dá força aos fracos, coragem aos covardes e fé aos descrentes. Sua inocência infunde terror nos inimigos, restaura a pureza dos devassos. Seu nome é um brado de guerra. Sua figura, um estandarte imaculado.
Em sua curta vida, conheceu os esplendores da glória e as humilhações da mais vil perseguição: a da calúnia - último recurso dos invejosos, arma traiçoeira dos infames, que poupa o corpo e fere a honra.
Condenada à morte como bruxa, reduzida a cinzas pelo fogo, sua inocência triunfou nos altares para todo o sempre: Santa Joana d'Arc.
No tempo em que a frança feudal, a França do heroísmo e da cavalheirosidade, encontrava-se sob o pé conquistador da Inglaterra, uma pastorinha foi suscitada por Deus numa aldeia muito humilde, cujo nome soa como toque de sino: Domremy.
Desde muito cedo,tinha o costume de rezar enquanto se achava sozinha no campo, apascentando o rebanho de seus pais. Certo dia ouviu vozes misteriosas, que acabaram por identificar-se como sendo de São Miguel e de duas santas. Urgiram-na a apresentar-se ao rei de França e comunicar-lhe que Deus a enviava a fim de anunciar seu auxílio para expulsar os ingleses do território francês.
Aquela virgem encantadora resolveu então partir e apresentar-se ao soberano.
Logo que chegou à corte, passou-se com ela um belíssimo fato que veio provar a autenticidade de sua missão. Numa época como aquela, em que não havia imprensa nem televisão, só restava um modo de se conhecer o semblante do rei: olhá-lo diretamente. Quem nunca o houvesse visto, não saberia identificá-lo pela fisionomia no meio de muitas pessoas. No dia em que o rei Carlos VII condescendeu em ouvir Santa Joana d'Arc, vestiu-se ele como um simples nobre e, no salão de audiências, repleto de pessoas, retirou-se para um lugar secundário, mandando que outro se colocasse no lugar central, trajado como se fosse monarca.
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Santa Joana d'Arc entrou, olhou para todos e, sem titubear, foi em direção àquele que se ocultava num dos cantos, dizendo-lhe:" Ó Rei, eu venho vos falar!"
Na conversa que se seguiu, Carlos VII pôs dificuldades `a jovem pastora, contudo ela venceu-as todas. Convencido de sua missão, o monarca colocou-a, frágil e débil, à frente de um dos exércitos mais fortes da Europa. E ela, na sua debilidade virginal e encantadora, comandou-o e empurrou os ingleses quase completamente para fora da França.
Certa feita, santa Joana d'Arc dirigiu-se a Carlos VII, dizendo querer dele um inapreciável presente, e perguntou se o monarca estava disposto a dá-lo. Disse ele que sim. Ela, então, afirmou que desejava o Reino da frança! Surpreso e contrafeito, o rei entretantocondescendeu.
Santa Joana d'Arc imediatamente mandou chamar quatro tabeliães e lavrou um ato pelo qual recebia de Carlos VII a França, despojando-se o soberano, em favor dela, de todos os seus direitos sobre o Reino. Após ter ele assinado o documento, santa Joana d'Arc mandou lavrar um outro, pelo qual ela, em nome de Deus, entregava novamente ao monarca o Reino da França!
Em Carlos VII, que ainda não havia sido coroado, a realeza se achava bastante viva para não ser morta, mas bastante morta para não reviver. Na verdade, encontrava-se a ponto de expirar, e quase estorvava o curso da História. Santa Joana d'Arc pediu a sua desistência, e reinstaurou nele - por mandato divino - aquilo que estava morrendo, dando ao reino da França uma nova vida.
Era uma pastora chamada a brilhar na corte de um rei. Era uma virgem chamada a viver num campo militar onde, infelizmente, tantas e tantas vezes a linguagem é impura, e a presença das mulheres perdidas se faz notar. Ela ali reluziu como um círio de puríssima cera em plena noite.
Sua virgindade tinha algo de imaculadamente prateado, tinha refulgências de uma arquiprata.
Foram tão grandes as vitórias de Santa Joana d'Arc que, antes mesmo de os ingleses estarem fora do território francês, surgiram condições propícias para a coroação de Carlos VII na catedral de Reims.
Conduziu ela até ali Carlos VII e este foi coroado em meio a uma glória indizível. Santa Joana d'Arc assistiu a cerimônia no lugar de honra, portando o seu estandarte azul e branco, no qual estavam bordados os nomes de Jesus e Maria. Como ela sempre tivera inimigos entre os franceses, um deles lhe perguntou:
- O que faz o seu estandarte aqui? É um estandarte para a guerra e não para festas! Ao que ela respondeu:
- Ele esteve comigo na hora da luta e do esforço, é natural que esteja comigo na hora da glória!
Após a coroação de Carlos VII, restava ainda uma parte da França a ser reconquistada.
Na batalha de Compiège, a traição, imunda como a serpente, enroscou-se na heróica pastora. Os borguinhões, vassalos revoltados contra o rei da França, prenderam-na e, mediante dinheiro, entregaram-na aos ingleses.
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As vozes que ela ouvira parece lhe haverem prometido que só morreria quando o poderio inglês estivesse quebrado na França. E ela de tal maneira esperava salvar aquele nobre país, que chegou a pular de uma torre onde se achava prisioneira, para fugir e continuar a luta. Em seus insondáveis desígnios, Deus não fez o milagre de ajudá-la, as vozes também não a auxiliaram, e ela foi presa novamente!
Os ingleses entraram em entendimento com um Bispo francês expulso há pouco de sua Diocese por seu apoio ao invasor estrangeiro, e acusaram santa Joana d'Arc de ser bruxa. Diziam que suas vitórias eram fruto de pacto com o demônio.
Durante o julgamento, ela se defendeu como uma leoa. Suas respostas às perguntas dos juízes eram castas como uma couraça e pontiagudas como uma lâmina de espada. Porém, contra toda a expectativa, ela foi condenada pelo tribunal da Inquisição a ser queimada viva, como vil feiticeira!
Deus, que estivera tão presente em todos os combates dela, agora fazia-se ausente. Na manhã da morte, vestem-na com uma túnica infamante e a conduzem numa carreta, de pé, com mãos amarradas às costas, como se fosse malfeitora, em direção ao local do suplício. O povo enche as vias por onde ela passa, e no caminho era lido a sentença, toda feita de infames e falsas acusações.
Continuando seu trajeto, a carreta chega à praça onde está armada a fogueira. Santa Joana d'Arc desce e caminha em sua direção. Pode-se bem imaginar a perplexidade que invafia sua alma: "Mas, então, aquelas vozes não eram verdadeiras? Aquelas vozes teriammentido? Meu Deus, será que minha vida não foi senão um engano? É a Inquisição que me condena! É um tribunal eclesiástico, dirigido por um Bispo, composto por teólogos e por homens de lei... Será que eu não me enganei, ó meu Deus?!"
Acende-se a fogueira. Não demora, e a supliciada vai sentindo crescerem as dores da morte. Em certo momento, ela parece haver tido uma visão e ouvem-na gritar de dentro das chamas: "As vozes não mentiram! As vozes não mentiram!"
O fogo tomou conta de seu corpo, ela morreu com todas as dores de quem é queimada viva, porém repetindo até o último momento: "As vozes não mentiram! As vozes não mentiram!" Como que a dizer: "Há um mistério, mas eu morro contente, porque estou fazendo a vontade de Deus!"
O mistério se explicou para ela: as vozes não tinham mentido.
O ímpeto dado por Santa Joana d'Arc na ofensiva contra os invasores ingleses havia sido tão grande que eles não ousaram resistir ao exército francês. Pouco após o sacrifício da heroína, foi derrubado o poderio inglês na França. Ela morreu sem poder ver o desmoronamento da muralha. Entretanto, as vozes não lhe haviam mentido. Cerca de 120 anos depois, Calais, a última cidade inglesa na França, tombou, terminando a reconquista do território francês.
A Inglaterra, durante este tempo, tornara-se protestante, e Calais se transformara numa cidade herética: era a unha da heresia encravada no solo bendito da França. Mas as vozes não mentiram, e a obra de Santa Joana d'Arc chegara ao fim.
Para Deus não há pressa. Ele é eterno. Passaram-se mais de trezentos anos... Somente em 1908 quis o Altíssimo que São Pio X, numa cerimônia magnífica, em meio a jubilosos repiques de sinos, canonizasse a virgem guerreira de Domremy. O triunfo da santa pastorinha coberta de armadura constituía mais uma cintilação que a Igreja emitia de dentro de si.
O nome de Santa Joana d'Arc permanecerá como uma saga, um mito, um poema, até o fim do mundo: a virgem heróica e débil, que expulsou os ingleses do doce Reino da França e realizou, assim, a vontade de Nossa Senhora, Rainha do Céu e da terra. (Mons. João Clá Dias, EP)
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Santa Joana D'Arc: exemplo de santidade na política
Em uma de suas audiências gerais (26/01/2011) o Papa Bento XVI falou sobre Santa Joana D'Arc e destacou seu "belo exemplo de santidade para os leigos empenhados na vida política, sobretudo nas situações de maior dificuldade".
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O Sumo Pontífice lembrou que Santa Catarina de Siena e Santa Joana D'Arc são as figuras mais características de "mulheres fortes"que, no fim da Idade Média, mostraram sem medo a luz do Evangelho em momentos difíceis da história.
O Santo Padre salientou a força das mulheres em episódios cruciantes da história. Recordou o exemplo de Nossa Senhora e de Santa Maria Madalena: "Podemos escutar as santas mulheres que permaneceram no Calvário, próximas a Jesus crucificado e a Maria, Sua mãe, enquanto os apóstolos fugiram e o próprio Pedro negou Jesus três vezes."
Santa Joana D'Arc
Bento XVI lembrou que Santa Joana D'Arc viveu num período conturbado da história da Igreja e da França: ela nasceu em 1412, quando existia um Papa e dois anti-papa. Junto com este cisma na Igreja, aconteciam contínuas guerras entre as nações cristãs da Europa. A mais dramática delas foi a "Guerra dos Cem Anos", entre França e Inglaterra.
"A compaixão e o empenho da jovem camponesa francesa diante do sofrimento do seu povo tornou mais intenso o seu relacionamento místico com Deus", explicou o Papa.
Santidade na Contemplação e ação
O Pontífice recordou que um dos aspectos mais originais da santidade desta jovem foi a ligação entre a experiência mística e contemplativa e a missão e ação política: "Depois dos anos de vida oculta e crescimento interior, seguem dois anos, curtos, mas intensos, de sua vida pública: um ano de ação e um ano de paixão".
Paz e justiça entre os cristãos
O futuro Rei da França, Carlos VII, rendeu-se aos conselhos da camponesa de Domremy, depois de ela passar por exames de teólogos.
A proposta que ela tinha era de uma verdadeira paz e justiça entre os povos cristãos, à luz dos nomes de Jesus e Maria. Esta proposta foi rejeitada e Joana, então, se engaja na luta pela libertação de seu país em 8 de maio 1429.
"Joana vive com os soldados, levando a eles uma verdadeira missão de evangelização. Muitos testemunham sua bondade, sua coragem e sua extraordinária pureza. É chamado por todos, como ela mesma se definia, ‘la pucelle', a virgem", conta o Papa.
Condenação de uma santa
Em 1430, ela é presa por seus inimigos, que a julgaram. "Os juízes de Joana eram radicalmente incapazes de compreender, de ver a beleza de sua alma, não sabiam que condenavam uma santa".
Na manhã do dia 30 de maio, recebe pela última vez a Comunhão na prisão e, em seguida, é conduzida à praça do velho mercado. Pede a um dos sacerdotes para manter diante dela um crucifixo e, assim, morre "olhando Jesus Crucificado e pronuncia mais vezes e em alta voz o Nome de Jesus".
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O nome de Jesus, confiança e amor a Deus
"O Nome de Jesus, invocado por essa santa até os últimos momentos de sua vida terrena, era como o contínuo respirar de sua alma, um hábito do seu coração, o centro da sua vida", ressaltou o Santo Padre. Para o Pontífice, o "mistério da caridade de Joana D'Arc é aquele total amor de Jesus que está sempre em primeiro lugar na sua vida. "Amá-lo, significa obedecer sempre a sua vontade. Ela afirmava com total confiança e abandono: ‘Confio-me a Deus, meu Criador, amo-o com todo meu coração'", destacou o Papa.
Oração: diálogo contínuo com Deus
Esta santa viveu a oração como um diálogo contínuo com Deus que iluminava também seu diálogo com os juízes e dava paz e segurança. "Em Jesus, Joana contempla também a realidade da Igreja, a ‘Igreja triunfante' do Céu, como a ‘Igreja militante' da Terra. Segundo suas palavras, ‘é tudo uma coisa só: Nosso Senhor e a Igreja'.
Amar a Igreja
"No amor de Jesus, Joana encontra a força para amar a Igreja até o fim, também no momento de sua condenação", enfatiza o Santo Padre.
Por fim, Bento XVI afirma que o luminoso testemunho de Santa Joana D' Arc convida a um alto padrão de vida cristã: "fazer da oração o fio condutor dos nossos dias, tendo plena confiança no cumprimento da vontade de Deus, seja ele qual for; viver a caridade sem favoritismos, sem limites, e atingindo, como ela, no Amor de Jesus, um profundo amor pela Igreja". Santa Joana D'Arc, foi canonizada pelo Papa Bento XV, em 1920. (JG).
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