segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A Igreja Católica e a escravidão



Ricardo da COSTA
Texto encomendado pelo Jornal Gazeta do Povo1

Negras novas a caminho da Igreja para o batismo. Jean Baptiste Debret (1768-1848).2
Vivemos em uma época conturbada. Qualquer coisa afirmada levianamente ganha auréola de verdade. Por exemplo, recentemente, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) disse que sessenta por cento dos congressistas brasileiros utilizavam serviços de prostitutas e que, por isso, eles gostariam de gozar essa atividade em “locais mais seguros”. Conclusão: para o deputado, deveríamos regulamentar a vida das meninas.3 Rapidamente a notícia ganhou as manchetes dos jornais. Contudo, dias depois, Wyllys voltou atrás – em uma matéria infinitamente menor, claro: disse que baseou sua afirmação em sua “percepção da sociedade brasileira”, e que, de fato, desconhecia casos de pagamento de prostitutas por colegas.4
Bem, cito o deputado do PSOL porque o próprio se valeu de um trecho de uma mensagem do papa Bento XVI no XLVI Dia Mundial da Paz para mais uma de suas afirmações bombásticas. O papa defendera a “estrutura natural do matrimônio” – a união entre um homem e uma mulher – quando negou que quaisquer outras formas radicalmente diversas de união fossem igualmente consideradas, pois elas “prejudicam, desestabilizam e obscurecem a função insubstituível do casamento”. Fazer essa equiparação constituía uma “ofensa contra a verdade da pessoa humana e uma ferida grave infligida à justiça e à paz”. Parafraseando o papa, o deputado afirmou que “ferida grave infligida à justiça e à paz foi a escravidão de negros africanos apoiada pela Igreja Católica”.5
Nesse caso, Jean Wyllys não está só. Essa é uma das acusações costumeiras feitas à Igreja. Teria ela, segundo seus detratores, apoiado o sistema escravocrata, especialmente o ocorrido na África no período moderno (séculos XVI-XIX). Isso é verdade? Não. A verdade é exatamente o contrário disso. Vamos (mesmo que brevemente) aos fatos?
Na Bíblia há várias passagens relativas a escravos (especialmente o Antigo Testamento). Quase sempre são prescrições atenuantes. Por exemplo: não se deve entregar um escravo fugitivo6, nem utilizá-lo em tarefas degradantes ou serviços desnecessários7; ao escravo é reservado o dia de descanso (sábado).8 Em resumo: apesar de reconhecer a escravidão, a religião a atenuava. Essa foi basicamente a herança do mundo antigo no que diz respeito aos preceitos religiosos.
Com a ascensão social e política da Igreja na Idade Média e a consequente cristianização das monarquias, a pressão a favor dos pobres, das mulheres e dos escravos tornou-se maior. Por exemplo, uma lei do século VI (sob influência da Igreja) afirmava que nenhum escravo poderia ser preso caso estivesse em um altar católico: seu dono deveria pagar uma pesada multa caso fizesse isso. Nesses séculos conhecidos pelos especialistas como Alta Idade Média (V-X) o Catolicismo que se difundiu na Europa pressionou aquelas sociedades a considerar a escravidão algo ultrajante aos seres humanos, já que, pela fé em Jesus Cristo, somos todos filhos de Deus.9
Apesar disso, a escravidão só lentamente diminuiu – para dar lugar, pouco a pouco, à servidão. Com ela, a dignidade humana estava muito acima da escravidão. Nessa, o escravo era uma coisa que falava; naquela, o servo tinha deveres (e muitos!) – mas também direitos (como, por exemplo, a inalienabilidade da terra).
Mas os homens são dificilmente civilizados (e com revezes regulares). Mesmo com a pregação regular da Igreja, na Europa medieval a escravidão continuou tão comum que teve que ser reiteradamente condenada pela Igreja (Concílios de Koblenz, em 922, de Londres, em 1022, e no Conselho de Armagh, ocorrido na Irlanda em 1171). Naquele Concílio de Londres, por exemplo, foi decidido: “Que futuramente, na Inglaterra, ninguém queira entrar naquele comércio nefasto no qual estavam acostumados a vender homens como animais irracionais” (artigo 27).
O problema era que as antigas leis romanas, seu código civil, reorganizado nos anos 529-534 pelo imperador bizantino Justiniano I como Corpus Iuris Civilis (Conjunto do Direito Civil), regulamentava a escravidão. Segundo ele, embora o estado natural da Humanidade fosse a liberdade, os direitos dos povos poderiam, no entanto, substituir a lei natural e escravizar pessoas. Basicamente um escravo era: 1. alguém cuja mãe era escrava, 2. qualquer pessoa capturada em batalha, 3. qualquer um que se vendeu para pagar uma dívida (fato comum nos primeiros séculos medievais).
Com a ascensão do Cristianismo, o direito também se cristianizou. Os advogados medievais, a partir do século XI, chegaram à conclusão que a escravidão era contrária ao espírito cristão. Isso para cristãos (e que não me venha nenhum fariseu acusar a Igreja de não legislar para não cristãos). Em contrapartida, por exemplo, foi o Islã quem difundiu largamente a escravidão. Vejamos isso com mais pormenor.
Começo com uma citação do grande historiador Fernand Braudel (1902-1985): “O tráfico negreiro não foi uma invenção diabólica da Europa. Foi o Islã, desde muito cedo em contato com a África Negra através dos países situados entre Níger e Darfur e de seus centros mercantis da África Oriental, o primeiro a praticar em grande escala o tráfico negreiro (...). O comércio de homens foi um fato geral e conhecido de todas as humanidades primitivas. O Islã, civilização escravista por excelência, não inventou, tampouco, nem a escravidão nem o comércio de escravos”.10
Aqui chegamos à escravidão negra. Muitos séculos ANTES da chegada dos brancos europeus à África, tribos, reinos e impérios negros africanos praticavam largamente o escravismo, exatamente como os berberes (e demais etnias muçulmanas). Os europeus do século XVI tinham verdadeiro pavor de deixar o litoral ou mesmo desembarcar de seus navios e avançar para longe da costa e capturar escravos. Estes eram trazidos pelos próprios africanos, que tinham grandes mercados espalhados pelo interior do continente, abastecidos por guerras entre as tribos, ou mesmo puro sequestro. Isso pode ser facilmente comprovado, por exemplo, com a descrição do império de Mali feita pelo cronista muçulmano Ibn Batuta (1307-1377), um dos maiores viajantes da Idade Média, e o depoimento de al-Hasan (1483-1554) sobre Tumbuctu, capital do império de Songai. Ademais, havia tribos africanas que praticavam sacrifícios humanos, naturalmente de escravos. Às vezes, para interromper a chuva, mulheres negras (e escravas) eram crucificadas.11
Entrementes, a Igreja Católica, reiteradamente, condenava a escravidão. Há inúmeras bulas papais a respeito: Sicut Dudum (1435) – Eugênio IV manda libertar os escravos das ilhas Canárias; em 1462, Pio II instrui os bispos a pregarem contra o tratamento de escravos negros etíopes, e condena a escravidão como um tremendo crime; Paulo III, na bula Sublimus Dei (1537) recorda aos cristãos que os índios são livres por natureza (isto é, ao contrário dos negros, eles não praticavam a escravidão); em 1571 o dominicano Tomás de Mercado declarou desumana e ilícita a escravidão; Gregório XIV (Cum Sicuti, de 1591) e Urbano VIII (Commissum nobis, de 1639) condenaram a escravidão. 12
Paro no século XVII. Há muito mais.13 Mas qual é o resumo da ópera? Devemos estudar o passado, não inventá-lo.
Notas
·         1.Esse é o texto integral. Para o Jornal, por motivos de espaço, ele foi diminuído.
·         2.Paris: Firmin Didot Frères, 1839. “Embora tenha caído em desuso o artigo da primitiva lei sobre a escravidão, que prescrevia aos brasileiros mandarem batizar seus negros novos dentro de um determinado prazo, deixou, entretanto, vestígios de seu objetivo moral no coração dos proprietários indígenas. É raro, com efeito, encontrar-se hoje em dia um negro que não seja cristão; por outro lado, do ponto de vista político, esse freio de uma religião tão tolerante torna-se também uma garantia para os senhores obrigados a dirigir uma centena de escravos reunidos. A observância desse costume é tanto mais fácil para o citadino quanto circulam nas ruas alguns velhos negros livres, corretores de profissão, professores dos princípios da religião católica e que são principalmente apreciados porque têm a vantagem de falar várias línguas africanas, o que facilita os progressos dos novos catecúmenos (...) É em geral o escravo mais antigo que serve de padrinho e nas casas ricas concede-se essa honra aos mais virtuoso. Entretanto, isso não acarreta nenhuma obrigação em relação ao escravo e o senhor se desobriga de seus escrúpulos mediante uma simples esmola oferecida à Igreja.” – Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, Jean Baptiste Debret. Belo Horizonte: Itatiaia, 1978, Tomo II, Volume III, Prancha 8, p. 166.
·         3.“Eu diria que 60% da população masculina do Congresso Nacional faz uso dos serviços das prostitutas, então acho que esses caras vão querer fazer uso desse serviço em ambientes mais seguros”. Internet.
·         4.Folha de São Paulo, sexta, 18 de janeiro de 2013. Internet.
·         5.Tweeter.
·         6.“Não entregarás a seu senhor o servo que, tendo fugido dele, se acolher a ti” – Deuteronômio 23:15.
·         7.“Porque são meus servos, que tirei da terra do Egito; não serão vendidos como se vendem os escravos. Não te assenhorearás dele com rigor, mas do teu Deus terás temor.” – Levítico 25:42-43.
·         8.“Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR teu Deus; não farás nenhum trabalho nele, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal algum teu, nem o estrangeiro que está dentro de tuas portas; para que o teu servo e a tua serva descansem como tu.” – Deuteronômio 5:14.
·         9.“Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos crentes. Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar. De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados. Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio. Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” – Gálatas 3:22-28.
·         10.BRAUDEL, Fernand. Gramática das Civilizações. São Paulo: Martins Fontes, 1989, p. 138.
·         11.COSTA, Ricardo da. “A expansão árabe na África e os Impérios Negros de Gana, Mali e Songai (sécs. VII-XVI)”.In: NISHIKAWA, Taise Ferreira da Conceição. História Medieval: História II. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009, p. 34-53. 
·         13.Indico, como um excelente resumo da posição da Igreja, a leitura da Carta Apostólica In Supremo, de 03 de dezembro de 1839, sobre a condenação da escravidão dos indígenas e do comércio dos negros. Site.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Um engodo chamado Método Paulo Freire




A ressurreição da múmia comunista chamada Paulo Freire não se observa apenas nos campi cada vez mais estéreis das faculdades, mas também nos campos improdutivos do “messetê”.

Em 1943, foi introduzida no Brasil a Cruzada ABC (Ação Básica Cristã), com sede em Recife, Pernambuco. A Cruzada era um programa de alfabetização baseado no Método Laubach, que incluía, ainda, a bolsa-escola para famílias pobres. (E ainda dizem que o pernambucano Cristovam Buarque, que, com certeza, conhecia o Método Laubach, é o criador do bolsa-escola.) O missionário norte-americano Frank Charles Laubach desenvolveu seu método de alfabetização de adultos inicialmente nas Filipinas, onde, em 30 anos, conseguiu alfabetizar 60% de sua população.
No Brasil, o Método Laubach foi deturpado e substituído pelo Método Paulo Freire:
“Concomitante e subitamente, começaram a aparecer em Pernambuco cartilhas semelhantes às de Laubach, porém com teor filosófico totalmente diferente. As de Laubach, de cunho cristão, davam ênfase à cidadania, à paz social, à ética pessoal, ao cristianismo e à existência de Deus. As novas cartilhas, utilizando idêntica metodologia, davam ênfase à luta de classes, à propaganda da teoria marxista, ao ateísmo e a conscientização das massas à sua ‘condição de oprimidas’. O autor dessas outras cartilhas era o genial Sr. Paulo Freire, diretor do Sesi, que emprestou seu nome à essa ‘nova metodologia’ - da utilização de retratos e palavras na alfabetização de adultos - como se a mesma fosse da sua autoria” (David Gueiros Vieira, in Método Paulo Freire ou Método Laubach?).
O Movimento de Educação de Base (MEB) era uma organização criada pela Igreja Católica, financiada pelo governo João Goulart e administrada por militantes da esquerda católica, muitos dos quais eram membros da Ação Popular, que mais tarde se tornaria um grupo terrorista e promoveria um atentado no Aeroporto de Guararapes, Recife, em 1966. Baseado nas ideias marxistas de Paulo Freire, autor do livro pauleira Pedagogia do Oprimido, o MEB funcionava através de escolas radiofônicas, sob a direção de um líder local (padre ou camponês), em contato com as Ligas Camponesas.
Afinal, o que vem a ser o Método Paulo Freire, tão enaltecido pelos esquerdistas que tomaram de assalto as salas de aula das escolas e das universidades brasileiras? Ninguém melhor do que o historiador Paul Johnson para explicar esse engodo da mais pura ideologia marxista:
“O professor brasileiro Paulo Freire (...) descobriu que qualquer adulto pode aprender a ler em quarenta horas suas primeiras palavras que conseguir decifrar se estiverem carregadas de significação política; (...) apenas a mobilização de toda a população pode conduzir à cultura popular. As escolas são contraprodutivas (...) O melhor caminho a seguir é um rompimento com a educação institucional rumo à educação popular. O método se baseia no uso de palavras e expressões empregadas conscientemente de forma dúbia e duvidosa, de acordo com o conceito que seu autor tem de ‘educação libertadora’ e que pode ser assim resumido no conhecido jargão esquerdista: ‘(...) há uma incompatibilidade estrutural entre os interesses da classe dominante e a verdade...; a verdade está do lado dos oprimidos e não pode ser conquistada senão na luta contra a classe dominante...; a verdade é revolucionária, não deve ser buscada e sim feita’ ”
(Paul Johnson, in Inimigos da Sociedade - cit. COUTO, 1984: 39).
“O avanço do processo revolucionário comunista antes de Março de 1964, na área da educação, foi em grande parte creditado ao uso do Método Paulo Freire, que tem potencial para materializar, com inegável eficiência, aquela afirmativa de Fred Schwarz: ‘O primeiro passo na formação de um comunista é a sua desilusão com o capitalismo’. Hoje, o método e seu autor vêm sendo reabilitados em vários pontos do país, aparentemente com a mesma função revolucionária de antes. A alfabetização que propicia, baseada nas condições reais em que vive o aluno, explora largamente as contradições internas da sociedade para desmoralizar o capitalismo, e através dele a democracia, deixando a porta aberta para a opção socialista”.
(COUTO, 1984: 38-9) 
A ressurreição da múmia comunista chamada Paulo Freire não se observa apenas nos campi cada vez mais estéreis das faculdades, mas também nos campos improdutivos do “messetê”: 
“De acordo com os ideais socialistas e coletivos, calcados no princípio da solidariedade, o projeto educacional do MST tem como base teórica Paulo Freire, Florestan Fernandes, Che Guevara, o cubano José Martí, o russo A. Makarenko e clássicos como Marx, Engels, Mao Tsé-Tung e Gramsci”.
(revista Sem Terra, Out-Nov-Dez 1997, pg. 27).
Periodicamente, o mito de palha, que foi secretário de Educação do governo Luíza Erundina na cidade de São Paulo, é incensado na mídia para adoração, como o artigo da Gazeta do Povo, de 19/01/2013, Pela união na construção do saber. Sem direito a contraditório.
Em 2012, o plagiário de Laubach foi declarado por lei patrono da educação brasileira. Não há nome melhor para explicar o grau de mediocridade de nossas escolas e universidades, principalmente as faculdades ligadas à área da educação.

Nota:


COUTO, A. J. Paula. O desafio da subversão. Impresso na Gráfica FEPLAM, Porto Alegre, RS, 1984.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Liberalismo


Porque não sou liberal nem marxista, muito pelo contrário

Perguntaram-me se sou liberal (corrente político-econômica de natureza capitalista). Respondi que:

Não sou liberal, nem marxista. Sou, no entanto, 100% anti-marxista (afinal sou católico!), embora não seja 100% anti-liberal em termos econômicos. Explico: em termos econômicos, e puramente econômicos, o liberalismo tem coisas interessantes a oferecer, além de uma visão de mundo que pode, com as devidas cautelas, ser colocada em harmonia com a Doutrina Social da Igreja. Foi isso, por exemplo, que o Pinochet tentou fazer com os Chicago boys. Ele salvou a economia do Chile usando o receituário liberal, "temperado" com doses de intervenção estatal que fariam Adam Smith e Mises virarem no túmulo. As minas de cobre, por exemplo, principal produto de exportação do Chile, nunca foram privatizadas.

Um liberal 100% liberal acharia isso o horror dos horrores. Eu não acho. Acho até uma boa idéia, na medida em que isso garante uma maior autonomia econômica para o governo e permite que haja menos impostos engessando a economia.

Note que não considero - longe disso! - o Pinochet um modelo a ser seguido! Em termos econômicos, porém, é fácil perceber que enquanto os nossos governantes militares lançaram o Brasil em uma espiral de estatolatria e inflação, que ainda por cima possibilitou tremendamente a ação dos comunistas infiltrados no aparato estatal, o Chile foi um oásis de prosperidade na América Latina.

Meu ideal de governo para o Brasil seria uma monarquia constitucional, nos modelos do Império (voto censitário, o Imperador exercendo o Poder Moderador, emissão de moeda só com lastro, etc.), com uma economia (uma economia, só uma economia. Não uma imprensa, não um "mercado religioso", não uma TV...) aberta e organizada em moldes liberais e de livre-concorrência. Nem um welfare state nem um "cada um por si e Deus por todos" liberal. O liberalismo puro é a elevação da ganância a princípio organizativo. A idéia liberal, porém, quando conjuminada a um governo que obedeça o princípio de subsidariedade, incentivando as associações civis livres (dentre as quais os partidos, que não deveriam ser obrigatórios para participação política, e especialmente as associações locais de moradores, consumidores, conselhos profissionais como o CRM, etc.), pode ser uma boa solução.

Algo que, creio, é inquestionável, é o tamanho absurdo do Estado no Brasil. O MEC, por exemplo - aí a questão já fica pessoal!, sou professor! - mete o bedelho em questões que não são absolutamente da alçada do governo, infringindo os direitos dos pais (ao tornar a "educação sexual" compulsória, a frequência a escolas compulsória, o currículo anti-católico compulsório...), impedindo a ação dos educadores particulares (vc sabia que se alguém não paga uma fita de vídeo pornô que alugou pode ir preso, mas se não pagar a escola por dois anos não acontece rigorosamente nada?). A enorme quantidade de funcionários vivendo do Estado no Brasil para não fazer absolutamente nada é espantosa. A dificuldade para qualquer pessoa estabelecer um negócio é igualmente apavorante (e mais apavorante ainda quando vemos que há no Brasil mais gente que trabalha por conta própria, tanto em termos absolutos qto relativos, que nos EUA, e a imensa maioria não consegue legalizar seu negócio). E por aí vai.

Nessa hora a crítica liberal é válida. Se, porém, eu um dia fosse feito ditador plenipotenciário do Brasil - que isso nunca aconteça, pelo bem de minh'alma! - provavelmente os liberais ficariam horrorizados com minhas posições em tudo o que não é estritamente econômico.

Este foi, aliás, o erro dos militares. Eles fizeram o Estado crescer tremendamente, e gastaram toda a sua energia combatendo meia-dúzia de jornalistas e universitários armados com fuzis M-1 enferrujados no meio do mato. Ao mesmo tempo, eles deixaram acontecer uma enorme infiltração comunista em todo o aparato estatal (ao ponto de hoje em dia a maneira mais fácil de ter um livro didático não aprovado pelo MEC é fazer um que não seja marxista e igualitarista), uma revolução cultural (em bom português: deixaram a Leila Diniz quieta e mobilizaram dezenas de milhares de soldados para prender meia-dúzia de comunistas no Araguaia), etc. Se eu fosse o governante - mais uma vez, que isso não aconteça! -, faria exatamente o contrário. Diminuiria tremendamente o poder do Estado, a ingerência do Estado na vida das pessoas, e procuraria reverter a revolução cultural. Melhor seria não a ter deixado acontecer, mas agora é tarde. Não adianta chorar sobre o leite derramado.

O Estado brasileiro, meu caro, é ainda patrimonial. A diferença é que de repente o Estado-patrimônio passou a ser um monopólio, coisa que nunca havia sido! A minha proposta é justamente diminuir o tamanho do Estado até que seja só umas dez vezes maior que o Estado patrimonial tradicional. Na monarquia portuguesa, de que somos herdeiros, jamais houve, por exemplo, nem um milésimo das restrições e obrigatoriedades que hoje o Estado coloca à educação (sei, estou voltando ao mesmo ponto. A questão é que não só é esta a minha profissão, logo algo que conheço bem, mas é tbm o que forma os futuros súditos). Do mesmo modo, jamais houve tamanha dependência do Estado em termos de sustento da população (funcionalismo público direto e indireto, etc.). O Estado era e é patrimônio do governante. A diferença é que o Estado era infinitamente menor e os governantes não eram uma Nomenklatura comunista dedicada a fazer valer pela força suas utopias igualitárias.

O Estado que é patrimônio do governante (e das autoridades supostamente delegadas) é o que faz com que o Brasil seja, graças a Deus, um país em que, apesar de todos os problemas, há enorme estabilidade. As relações entre o público e o governo-provedor são ainda relações de amizade, parentesco, clientela. Isso impede os confrontos violentos que houve e há na França por exemplo, desde que foi quebrada a ordem feudal e o povo passou a não ser mais retido pelo juramento que ainda retém a ação do governo.

Creio que agora já deu para entender a minha posição nesta questão, não? Não sou liberal, mas acho que a crítica liberal ao Estado inchado brasileiro é perfeitamente correta e pode conduzir a um sistema que esteja de acordo com o que realmente já acontece. Explico: temos, como afirmei acima, uma visão de governo que é completamente patrimonialista. E temos um sistema teórico de governo que não o é, em absoluto. Assim, para o brasileiro médio, o policial que multa ou deixa de multar está exercendo um poder *pessoal*, assim como o está um vereador que, sei lá, bota um posto de saúde em um bairro. Pela lei, no entanto, não é isso que acontece. O vereador seria em teoria um legislador (como se já não houvesse mais leis que o que um sábio poderia estudar ao longo de toda a sua vida); os grupos de interesse político, constantemente cambiantes em sua composição, seriam em tese partidos dedicados a uma posição política definida. O policial teria uma autoridade delegada impessoal. E por aí vai.

A visão política (no sentido grego; não quero usar a palavra "cidadania", pois se presta a incompreensões) do brasileiro médio é, assim como a de seus (teoricamente, muito teoricamente) "representantes" eleitos, completamente patrimonial. Precisamos é de uma legislação que se adeqüe à realidade, não de tentar a ferro e fogo adequar a realidade à legislação (mesmo pq isso não funciona; basta ver os conflitos constantes na França quando se passou a basear a legislação política francesa na visão de contrato social). Há porém um problema enorme a resolver, algo aliás que só seria possível resolver dentro do quadro de uma ditadura: o tamanho do Estado. Patrimônio sim, monopólio não. Enquanto o Estado é gigantesco, é inviável assumir o patrimonialismo. Quem consegue segurar o Leviatã pela coleira?

Além disso, seria impossível diminuir o Estado enquanto tivessem poder os que dele vivem e querem que ele aumente cada vez mais (ACMs e PTs da vida). Se um presidente, em seu primeiro dia de mandato, tentasse, por exemplo, fechar o MEC (e mandar os burocratas do MEC colonizar a Amazônia se quisessem manter seus salários públicos. Ah, aí seria perfeito...), todos os deputados, governadores, prefeitos... todos os que vivem de verbas públicas e alojam seus cupinchas nas graciosas tetas MECquianas se levantariam contra o governo.

Então o Estado só não pode é liberar o aborto e proibir as armas? Isto basta, o resto é coisa de comuna comedor de criancinha?

Não, em absoluto. O que prego é que a União só pode fazer o que o governo estadual não pode fazer, e este só pode fazer o que o município não pode fazer, e este só pode fazer o que o bairro não pode fazer, e este só pode fazer o que a família não pode fazer... Não se trata de liberalismo puro (que pressupõe, como vc mesmo lembrou, relativismo religioso, etc.), mas de simples aplicação na prática à situação brasileira (Estado patrimonialista aumentado ao ponto de dominar completamente cada momento da vida dos cidadãos) do princípio da subsidariedade, somado à adeqüação da legislação à realidade.

O povo brasileiro é empreendedor. A livre iniciativa privada, no Brasil, tem muito mais chances de funcionar se for permitida que, por exemplo, na França ou no Peru. Se o Estado não coibisse tanto a livre iniciativa privada, provavelmente o Brasil seria mais rico que os EUA. Assim, aqui seria relativamente fácil fazer com que a iniciativa privada cubra aquilo que não é função do Estado cobrir.

Do mesmo modo, a visão política do povo brasileiro é patrimonialista. Todos os políticos de sucesso são "clientelistas", ou seja, têm uma prática política de dispor pessoalmente de favores, considerados como seus. Assim - mais ainda quando consideramos o absurdo que é a idéia de mudar toda a realidade para que se adeqüe à legislação, como se tem tentado fazer há décadas - a legislação deve ser adeqüada à realidade: monarquia constitucional. O que é do Estado deve ser do Rei, não de ninguém (ou de quem pegar primeiro...).

O Estado, porém, é grande demais. Jamais houve um Estado tão grande sem derramamento de sangue e/ou pobreza e miséria generalizada. Nós temos impostos como se fôssemos um welfare state, mas não somos. O INSS tem uma burocracia proporcional e absolutamente maior que qualquer outro instituto de seguridade social estatal, sem que a população tenha algo em troca. O MEC se imiscui em cada detalhe do ensino (gastando fortunas e sustentando multidões de burocratas ineptos) sem que em doze anos as escolas sejam capazes de alfabetizar um aluno. E por aí vai. Assim, com um Estado gigantesco que impede uma população empreendedora de progredir e garantir seu próprio sustento, ao mesmo tempo sem que o Estado o garanta, a coisa fica preta. É aí que entra a crítica - econômica - liberal, que está neste ponto substancialmente correta.

A diferença é que o liberal vai ver o Estado como fruto de contrato, o que não ocorre no Brasil. Aqui a "otoridade" não recebeu do povo seu poder. O poder é dele.


©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor

domingo, 13 de janeiro de 2013

Sobre o modo de estudar - o De Modo Studendi de Santo Tomás de Aquino








Estudo Introdutório

Jean Lauand
(Estudo introdutório e tradução)
(Orig. publ.: "Cadernos de História e Filosofia
da Educação" EDF-FEUSP, vol. II, No.3, 1994)

1. O De modo studendi de Tomás.
De modo studendi é uma carta de autoria de Tomás de Aquino [1] , aconselhando sobre o modo de estudar. Tomás dava muita importância à correspondência. Victor White observa que não é raro que Tomás deixe de lado seu trabalho em obras maiores para elaborar respostas a cartas, especialmente de seus irmãos dominicanos [2] .
O destinatário da carta De modo studendi, um tal "irmão João", é um dominicano jovem [3] , iniciando seus estudos, e afoito por mergulhar no "oceano da sabedoria", resolveu escrever ao mestre consumado, perguntando sobre atalhos.
Tomás, que - no Comentário à Ética de Aristóteles - afirma ser o tempo o grande colaborador (bonus cooperator), começa por responder ao impaciente Frei João que não há atalhos, mas caminhos: pelos riachos é que se chega ao mar e o "difícil deve ser atingido a partir do fácil" (DMS, intr.).
Já no início da carta, Tomás, referindo-se à tarefa de obter o conhecimento, emprega sugestivamente o gerúndio - acquirendo, adquirindo - como que a indicar que a formação intelectual é mais um contínuo processo do que pacífica posse decorrente de uma ação que se perfaz de uma vez. Significativo, nesse sentido, é o uso do verbo incedere, caminhar, marchar. Com efeito, já na primeira questão da Summa, referindo-se à busca pela razão humana da verdade mais elevada, Tomás diz que "só poucos, depois de muito tempo e com mistura de muitos erros, podem chegar". O tempo ébonus cooperator, o grande aliado de quem almeja o "tesouro do conhecimento" (DMS, intr.).
De modo studendi é um espelho em que se reflete uma concepção de educação totalmente diferente da que prevalece em nosso tempo. Se um grande educador de hoje fosse consultado sobre "o modo de estudar" ou sobre como "adquirir conhecimentos", certamente sua reposta dirigir-se-ia a questões técnicas, programático-curriculares, motivacionais...: o conhecimento é, para nós, compartimentado, separado da existência. Já Tomás, que pensa no saber como algo integrado à existência, ante as mesmas perguntas, aconselha "sobre como deve ser tua vida" (DMS, intr.).
Se o objetivo da escola, hoje, é formar o bom profissional, ou, quando muito, "educar para a cidadania" ou formar para uma análise crítica do mundo; os conselhos de Tomás, no século XIII, incidem sobre a própria estrutura nuclear íntima do ser humano.
2. A educação para a sabedoria.
Assim, já na primeira questão da Suma Teológica, ao procurar caracterizar o que é a sabedoria, Tomás explica que a sabedoria não deve ser entendida somente como conhecimento que advém do frio estudo, mas como um saber que se experimenta e saboreia. Tomás, sempre muito atento aos fenômenos da linguagem, à fala do povo, como fonte de profundas descobertas filosóficas, encanta-se com o fato - para ele experiência pessoal vivida - de que em sua língua latina sapere signifique tanto "saber" como "saborear". Esta coincidência de significados na linguagem do povo - Tomás bem o "sabe" - não é casual: se há quem saiba porque estudou, verdadeiramente sábio, porém, é aquele que sabe porque saboreou...
Se a sabedoria não pressupõe só uma dimensão intelectual, mas está integrada ao todo da existência, não é de estranhar, que, dentre os conselhos dados por Tomás sobre o modo de estudar, encontremos a exortação ao silêncio, à vida de oração, à amabilidade, à humildade, à pureza de consciência, à santidade...
Nesse sentido, deve-se observar também que o alcance semântico da própria palavra studium em latim é muito mais abrangente do que a nossaestudoStudium significa amor, afeição, devotamento, a atitude de quem se aplica a algo porque ama e, não por acaso, esse vocábulo acabou especializando-se em dedicação aos estudos. Assim, o próprio título do opúsculo de Tomás Sobre o modo de estudar, sugere algo assim como: Sobre o modo de aplicar-se amorosamente...
E, na verdade, o que Tomás propõe é nada menos do que uma dedicação integral, uma consagração à vida intelectual. Um estilo de vida muito exigente, que supõe uma ascese de relacionamento do homem com Deus (cfr. p. ex. DMS, 3), com os outros (cfr. p. ex. DMS, 5) e consigo mesmo (cfr. p. ex. DMS, 12).
Na visão compartimentada do conhecimento que temos hoje, esperamos que nosso aluno demonstre teoremas, calcule empuxos, balanceie equações químicas, escreva redações sugestivas e conjugue corretamente os verbos; o que ele é enquanto homem, isto é lá com ele... Já para Tomás, como se vê no De modo studendi, alguém dedicado ao estudo deve, antes de mais nada, cuidar das atitudes da alma.
3. O silêncio como pressuposto da vida intelectual.
Talvez não haja nada mais oposto ao espírito de nosso tempo do que os conselhos de Tomás que recomendam o cultivo do silêncio. E, no entanto, trata-se, como explica, um dos principais filósofos da educação contemporâneos, Josef Pieper (Viver do Silêncio), de uma das regras fundamentais da vida intelectual e da vida do espírito.
4. A descoberta da realidade como objetivo da vida intelectual.
No que se refere à vida intelectual, Tomás afirma a existência de uma ordo, de uma dinâmica própria do conhecimento, daí que o Aquinate freqüentemente compare o sábio ao arquiteto. Certamente, essa ordo exige uma ordenação do próprio objeto de estudo: do mais fácil para o mais difícil; do riacho para o alto mar. Mas a aquisição do tesouro do saber exigirá também uma ordenação interior do sujeito que estuda. A essa ordo interius referem-se os conselhos do De modo studendi. Afinal, o conhecimento da realidade é, para Tomás, o objetivo da educação, e mais, a própria realização do homem.

DE MODO STUDENDI

Quia quaesisti a me, in Christo mihi charissime frater Joannes, quomodo oportet incedere in thesauro scientiae acquirendo, tale a me tibi super hoc traditur consilium: ut per rivulos et non statim in mare, eligas introire, quia per facilia ad difficilia oportet devenire. Huiusmodi est ergo monitio mea de vita tua:
1. Tardiloquum te esse iubeo, et tarde ad locutorium accedentem.
2. Conscientiae puritatem amplecti.
3. Orationi vacari non desinas.
4. Cellam frequenter diligas, si vis in cellam vinariam introduci ( [4] ).
5. Omnibus amabilem te exhibeas, vel exhibere studeas, sed nemini familiarem te multum ostendas; quia nimia familiaritas parit contemptum et retardationis materiam a studio subministrat.
6. Et de factis et verbis saecularium nullatenus te intromittas.
7. Discursum super omnia fugias.
8. Sanctorum et proborum virorum imitari vestigia non omittas.
9. Non respicias a quo, sed quod sane dicatur memoriae recommenda.
10. Ea quae legis fac ut intelligas, de dubiis te certificans.
11. Et quidquid poteris, in armariolo mentis reponere satage sicut cupiens vas implere.
12. Altiora ne te quaeras.
13. Illius beati Dominici sequere vestigia, qui frondes, flores et fructus, utiles ac mirabiles, in vinea Domini Sabaoth, dum vitam comitem habuit, protulit ac produxit.
Haec si sectatus fueris, ad id attingere poteris, quidquid affectas.
Vale.

SOBRE O MODO DE ESTUDAR
Tomás de Aquino
Já que me pediste, frei João - irmão, para mim, caríssimo em Cristo -, que te indicasse o modo como se deve proceder para ir adquirindo o tesouro do conhecimento, devo dar-te a seguinte indicação: deves optar pelos riachos e não por entrar imediatamente no mar, pois o difícil deve ser atingido a partir do fácil. E, assim, eis o que te aconselho sobre como deve ser tua vida:
1. Exorto-te a ser tardo para falar e lento para ir ao locutório.
2. Abraça a pureza de consciência.
3. Não deixes de aplicar-te à oração.
4. Ama freqüentar tua cela, se queres ser conduzido à adega do vinho da sabedoria.
5. Mostra-te amável com todos, ou, pelo menos, esforça-te nesse sentido; mas, com ninguém permitas excesso de familiaridades, pois a excessiva familiaridade produz o desprezo e suscita ocasiões de atraso no estudo.
6. Não te metas em questões e ditos mundanos.
7. Evita, sobretudo, a dispersão intelectual.
8. Não descuides do seguimento do exemplo dos homens santos e honrados.
9. Não atentes a quem disse, mas ao que é dito com razão e isto, confia-o à memória.
10. Faz por entender o que lês e por certificar-te do que for duvidoso.
11. Esforça-te por abastecer o depósito de tua mente, como quem anseia por encher o máximo possível um cântaro.
12. Não busques o que está acima de teu alcance.
13. Segue as pegadas daquele santo Domingos que, enquanto teve vida, produziu folhas, flores e frutos na vinha do Senhor dos exércitos.
Se seguires estes conselhos, poderás atingir o que queres.
Saudações.


( [1] ) Martin Grabmann - em seu Die Werke des Hl. Thomas von Aquin, Münster, Verlag der Aschendorffschen Verlagsbuchhandlung, 2a. ed., 1931, p. 372-373 - considera o De modo studendi um opúsculo autêntico. Contra as reservas (embora mínimas) que Mandonnet guarda a propósito da autoria do De modo studendi - incluído por ele entre os vix dubia de Tomás, Opusculum XLIV, opúsculos de que dificilmente se pode duvidar de que o autor seja o Aquinate (S. Thomae Aquinatis: Opuscula Omnia cura et studio R.P. Petri Mandonnet, vol. IV Paris, Lethielleux, 1927) -, Victor White, em seu How to study, 2a. ed., Oxford, Blackfriars, 1949, aponta razões intrínsecas que confirmam a tese da autenticidade desse opúsculo. Para a tradução, valemo-nos do texto latino apresentado por White.
( [2] ) Como é o caso de sua carta Resposta a Seis Questões do Ir. Gerardo de Soissons: "Embora esteja muito ocupado em diversos assuntos, cuidei de responder logo que me foi possível, para não desatender a vosso pedido". E o mesmo diz a um importuno veneziano que escreveu uma carta dirigindo-lhe 36 questões exigindo, como ironicamente frisa Tomás, "resposta em quatro dias".
( [3] ) White observa que S. Tomás, seguindo o uso do século XIII, sempre se vale do tratamento "vós" para superiores ou iguais; nesta carta, porém, emprega o "tu".
( [4] ) Citação implícita da Bíblia: "Introduxit me in cellam vinariam" Cant. 2, 4.