ZP11052902 - 29-05-2011
Permalink: http://www.zenit.org/article-28078?l=portuguese
Por Élizabeth Montfort
ROMA, domingo, 29 de maio de 2011 (ZENIT.org)
- Uma andorinha só não faz verão, mas um Estado Europeu, e não dos
menores, cuja constituição é “eurocompatível” e respeita a Carta
Europeia dos Direitos Fundamentais e a Declaração Universal dos Direitos
do Homem, é um exemplo a ser seguido.
No último 18 de abril, cumprindo-se um compromisso assumido pelo
primeiro ministro Viktor Orban, que em abril de 2010 venceu
esmagadoramente as eleições com 2/3 da câmara dos deputados, foi
modificada a constituição húngara no espírito e na letra. O texto de
1990, adotado logo depois da queda do Muro de Berlim, era considerado
liberal demais e ainda influenciado por resquícios comunistas.
O poder foi repartido entre os três partidos principais: O Fidesz,
partido de centro-direita, cujos representantes no Parlamento Europeu
fazem parte do Partido Popular Europeu; os Socialistas, completamente
desacreditados depois da desastrosa gestão do primeiro-ministro Ferenc
Gyurcsany, que mentiu sobre as proporções do déficit das contas do
Estado, o que o obrigou a pedir ao Fundo Monetário Internacional uma
ajuda de 20 bilhões de euros para salvar o país da falência; e o partido
Jobbik, de extrema-direita, que tem como objetivo a defesa dos valores e
a identidade da Hungria.
A nova constituição proposta pelo primeiro-ministro e pelo Fidesz foi
aprovada com 262 votos contra 44 e uma abstenção. O texto foi
ratificado pelo Presidente da República Húngara, Pal Schmitt, no último
25 de abril, e entrará em vigor em 1º de janeiro de 2012. Durante o
debate, a oposição não fez nenhuma intervenção, o que não a impediu, até
agora, de apoiar os opositores desta nova lei fundamental.
As mudanças da constituição:
1- A primeira tem a ver com a referência às raízes cristãs da
Hungria. O preâmbulo diz que “a constituição é inscrita na continuidade
da Santa Coroa” e recorda “o papel do cristianismo” na “sua história
milenar”.
Surpreendem as reações negativas a esse texto, já que, na redação do
Tratado Constitucional da União Europeia, todos os países membros
aprovaram a referência “à nossa herança cristã”, exceto a França. O
pedido europeu, promovido pela Fondation de Service Politique com algum
deputado europeu, tinha obtido 1,4 milhão de assinaturas em 2004, sendo
apoiado por cerca de 60 associações que representavam 50 milhões de
associados. Um recorde na história europeia. Este pedido foi recebido na
Comissão sobre Pedidos, mas a Comissão Europeia não lhe deu
continuidade, como ocorre quando os pedidos são acolhidos.
A referência às raízes cristãs não é uma questão de opinião, mas uma
verdade histórica. É necessário recordar que a nação húngara se
organizou a partir do batismo de Santo Estêvão, coroado rei da Hungria.
Este é o motivo de a Coroa de Santo Estêvão estar hoje no Parlamento
húngaro, porque lhe dá legitimidade para fazer as leis.
2- A segunda modificação tem a ver com a união entre duas pessoas: “A
Coroa protege o matrimônio, considerado como a união natural entre um
homem e uma mulher e como fundamento da família”.
Esta referência retoma, em seu espírito, a Declaração Universal dos
Direitos do Homem, que, apesar das pressões para introduzir a união
entre duas pessoas do mesmo sexo, é um texto de referência para todos os
Estados. A nova constituição húngara não questiona a união entre duas
pessoas do mesmo sexo, mas não a considera equivalente ao matrimônio.
3- A terceira modificação tem a ver com a vida de todos os seres
humanos antes do nascimento: “Desde o momento da concepção, a vida
merece proteção como um direito humano fundamental” e “a vida e a
dignidade são invioláveis”, retomando em certo modo o primeiro artigo da
Carta Europeia de Direitos Fundamentais: “A dignidade humana é
inviolável. Deve ser respeitada e protegida”.
Houve pessoas indignadas com esta volta à ordem moral. Devemos
deduzir que a ordem humana é uma ordem amoral? A nova constituição
húngara é “euroincompatível”? Os opositores se questionam. Se não fosse,
então quer dizer que todos os textos de referência são letra morta,
considerando que a União Europeia se ergueu a partir do respeito aos
direitos do homem, cuja universalidade é expressa na Declaração dos
Direitos do Homem de 1948, reconhecida como patrimônio comum da
humanidade, e não sobre direitos abstratos e subjetivos reivindicados
sem referência a um patrimônio comum.
É verdade que a decisão pertence aos legisladores. Mas eles votam em
nosso nome. Calar seria uma irresponsabilidade da nossa parte. As leis
afetam a todos. É nosso dever reunir os nossos deputados e senadores
para lhes dizer que respeitamos os nossos princípios fundamentais.
--- --- ---
Élizabeth Montfort é deputada do Parlamento Europeu e porta-voz daFondation de Service Politique(Paris), em www.libertepolitique.com
terça-feira, 31 de maio de 2011
A remodelação da Europa começa pela Hungria?
domingo, 29 de maio de 2011
A ancestral Igreja na Etiópia
ZP11052904 - 29-05-2011
Permalink: http://www.zenit.org/article-28080?l=portuguese
Entrevista com o arcebispo de Addis Abeba
ROMA, domingo, 29 de maio de 2011 (ZENIT.org) - A Igreja na Etiópia remonta ao apóstolo Felipe, que, conforme os Atos dos Apóstolos, batizou um etíope. O país mantém até hoje a maioria cristã, embora apenas 1% do povo seja católico.
O arcebispo da capital Addis Abeba e presidente da Conferência Episcopal da Etiópia e da Eritreia, Berhneyesus Souraphiel, conversa com o programa de televisão Deus chora na Terra, da Catholic Radio and Television Network (CRTN), em colaboração com Ajuda à Igreja que Sofre.
- A Etiópia é mencionada 78 vezes na Bíblia e foi o segundo país a reconhecer oficialmente o cristianismo. A Igreja na Etiópia é uma das mais antigas do mundo. E hoje, como está a Igreja etíope?
Dom Souraphiel: A Igreja da Etiópia remonta aos tempos apostólicos, quando Felipe batizou o eunuco etíope. Ela é mencionada no capítulo oitavo dos Atos dos Apóstolos. Virou religião do estado oficialmente, no século IV. O primeiro bispo, São Frumêncio, foi ordenado por Santo Atanásio de Alexandria. Com esse primeiro bispo, que foi um sírio, a Etiópia se tornou oficialmente um país cristão. Foi o segundo país que declarou o cristianismo como religião do estado, depois da Armênia.
- E como é a vida dos fiéis de hoje?
Dom Souraphiel: É surpreendente dizer isso, mas o cristianismo é tão inculturado que não dá mais para separar a cultura e a religião na Etiópia. As pessoas vivem a religião, está no sangue, está na nossa história. Ela está na terra da Etiópia porque os monges, no século IX, construíram muitos mosteiros e traduziram muitos escritos espirituais de várias línguas para o etíope; então as pessoas compreenderam o cristianismo desde o início na sua própria língua.
- Os cristãos representam 60% da população, mas os católicos só 1%. Quais são as tradições cristãs que existem na Etiópia?
Dom Souraphiel: Os cristãos são a maioria na Etiópia. A Igreja ortodoxa tem cerca de 44%, os protestantes uns 18%, os católicos 1%. Ou seja, 62% da população é cristã. A Etiópia sempre perseverou como um país cristão, e isso é por proteção divina, como nós dizemos. Se você olhar, vários antigos países cristãos, do Egito até Marrocos, todo o norte da África, onde nós temos grandes santos como Agostinho, Tertuliano, Cipriano, eles não têm mais a maioria cristã. Como nós dizemos na Etiópia, aqui continua sendo um país de maioria cristã, graças à proteção de Deus e de Nossa Senhora.
- É interessante, porque o islã, desde o começo, procurou refúgio na Etiópia, por causa da perseguição, e a Etiópia foi o único país que acolheu os seguidores de Maomé...
Dom Souraphiel: Pois é. Quando o profeta Maomé foi perseguido em Meca e não sabia para onde mandar os seguidores dele, para salvá-los, o primeiro país que ele pensou foi a Etiópia. Ele falou para eles: “Vão para a Etiópia, lá tem um imperador cristão. Ele vai receber vocês e vocês ficam lá até as coisas melhorarem”. Eles vieram para cá e foram bem recebidos. Graças a esse acolhimento, está escrito no Hadith: “Não toqueis os etíopes. Não toqueis o país dos elefantes. Eles foram bons para conosco”. E é assim, tradicionalmente, historicamente, existe uma coexistência pacífica entre os muçulmanos e os cristãos aqui na Etiópia.
- Todo cristão na Etiópia, no batismo, recebe um mateb. O que é o mateb e o que ele significa?
Dom Souraphiel: O mateb é um cordão que se usa no pescoço. Ele é entregue no batismo, a pessoa usa sempre, é um sinal de quem é cristão. Não importa se é praticante, se vai à igreja; é cristão. E qualquer um que vê o mateb sabe que aquela pessoa é um cristão, que segue as normas cristãs, que cumpre os mandamentos da Igreja, como o jejum, etc. É um sinal externo de quem é cristão.
- É comum os etíopes tatuarem a cruz no pulso. É uma tradição só dos ortodoxos ou dos católicos também?
Dom Souraphiel: Dos ortodoxos, principalmente. Veja só, a cruz é um sinal de vitória para os cristãos, Cristo destruiu o pecado e a morte. Na Etiópia a cruz está em toda parte, em cima das igrejas, em cima das casas, nas tatuagens na testa ou na mão, na roupa das pessoas, nos escritos, manuscritos. Existem mais de duzentos desenhos da cruz etíope. Os sacerdotes seguram a cruz na mão para as pessoas beijarem e venerarem. Nós celebramos a Festa do Achado da Cruz, que nos lembra que a rainha Helena, a mãe de Constantino, achou três cruzes numa escavação em Jerusalém e descobriu a verdadeira cruz em que Jesus foi crucificado, através da cura de um doente. A cruz tem um papel enorme na Etiópia, e uma parte da cruz verdadeira está num dos mosteiros da Etiópia, o Gishen Mariam.
- A Etiópia também carrega muitas cruzes. É um dos países mais pobres do mundo. Quais são os desafios concretos hoje na Etiópia?
Dom Souraphiel: O maior desafio é a pobreza material. A população aumentou. A Etiópia tem cerca de 80 milhões de pessoas, e a seca e a fome, além dos conflitos, da guerra civil, viraram as grandes cruzes da Etiópia. A Etiópia passou muita fome durante muito tempo. O problema número um na Etiópia é a pobreza, como derrotar a pobreza. É isso que o governo está tentando fazer e o que a Igreja quer vencer.
- A Igreja oferece 90% dos serviços sociais na Etiópia. Como ela pode ser tão ativa, apesar de ser minoritária?
Dom Souraphiel: Você tem razão; a Igreja católica é uma minoria, cerca de 1%, e realiza a maior parte dos serviços sociais: centros de saúde, escolas e centros sociais. A Igreja começou buscando e perguntando: que necessidades tem a Etiópia? As necessidades estão, evidentemente, relacionadas com a pobreza. Por exemplo, se uma criança de menos de cinco anos não tem acesso a água potável, morrerá, porque a água potável pra ela é fundamental. Os que superam os cinco anos normalmente têm garantido viver até os 48 ou 50 anos – que é a expectativa de vida na Etiópia. A Igreja luta pela vida. As crianças precisam de educação. Temos mais de 200 escolas na Etiópia, sobretudo nas zonas rurais.
- O governo tem confiança no trabalho.
Dom Souraphiel: Sim, porque não há discriminação. Os serviços oferecidos pela Igreja estão abertos a todos – cristãos e muçulmanos.
- Foi concedido à Igreja um maior espaço devido aos serviços que presta ao país?
Dom Souraphiel: É um desafio para os católicos: ser testemunhas da doutrina social da Igreja, ser bons vizinhos, respeitar os demais, e fazer mais, porque as expectativas da Igreja são altas. Gostaria de agradecer ao apoio da Igreja universal. Trabalhamos junto à Igreja universal e junto a todos que estão com ela, como, por exemplo, Ajuda à Igreja que Sofre. Apoiam-nos em muitos projetos que temos, em todas as dioceses, e podemos fazer esse trabalho graças a nossos benfeitores na Europa e nos Estados Unidos.
- Que contribuição a Igreja na África pode dar à Igreja universal?
Dom Souraphiel: Eu diria que seus valores. A Igreja na África tem os valores familiares. A família é muito importante. Recordo o Santo Padre em Camarões. Nós o recebemos e nos alegramos de ver tantos africanos o acolhendo no estádio. O arcebispo de Yaoundé disse-lhe: “Sabe, santidade, na África, chamados os bispos de avôs, e o senhor é nosso bisavô”. O Papa estava feliz. Temos respeitos pelos pais, pelos nossos anciãos, por nossos antepassados e por todos que nos cercam. Todo ser humano tem um valor, que não se pode medir só por coisas materiais. A África pode contribuir com esse valor para o mundo.
--- --- ---
Esta entrevista foi realizada por Mark Riedemann para "Deus chora na terra", um programa rádio-televisivo semanal produzido por ‘Catholic Radio and Television Network', (CRTN), em colaboração com a organização católica Ajuda à Igreja que Sofre.
Mais informação em www.aisbrasil.org.br, www.fundacao-ais.pt.
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Entrevista com o arcebispo de Addis Abeba
ROMA, domingo, 29 de maio de 2011 (ZENIT.org) - A Igreja na Etiópia remonta ao apóstolo Felipe, que, conforme os Atos dos Apóstolos, batizou um etíope. O país mantém até hoje a maioria cristã, embora apenas 1% do povo seja católico.
O arcebispo da capital Addis Abeba e presidente da Conferência Episcopal da Etiópia e da Eritreia, Berhneyesus Souraphiel, conversa com o programa de televisão Deus chora na Terra, da Catholic Radio and Television Network (CRTN), em colaboração com Ajuda à Igreja que Sofre.
- A Etiópia é mencionada 78 vezes na Bíblia e foi o segundo país a reconhecer oficialmente o cristianismo. A Igreja na Etiópia é uma das mais antigas do mundo. E hoje, como está a Igreja etíope?
Dom Souraphiel: A Igreja da Etiópia remonta aos tempos apostólicos, quando Felipe batizou o eunuco etíope. Ela é mencionada no capítulo oitavo dos Atos dos Apóstolos. Virou religião do estado oficialmente, no século IV. O primeiro bispo, São Frumêncio, foi ordenado por Santo Atanásio de Alexandria. Com esse primeiro bispo, que foi um sírio, a Etiópia se tornou oficialmente um país cristão. Foi o segundo país que declarou o cristianismo como religião do estado, depois da Armênia.
- E como é a vida dos fiéis de hoje?
Dom Souraphiel: É surpreendente dizer isso, mas o cristianismo é tão inculturado que não dá mais para separar a cultura e a religião na Etiópia. As pessoas vivem a religião, está no sangue, está na nossa história. Ela está na terra da Etiópia porque os monges, no século IX, construíram muitos mosteiros e traduziram muitos escritos espirituais de várias línguas para o etíope; então as pessoas compreenderam o cristianismo desde o início na sua própria língua.
- Os cristãos representam 60% da população, mas os católicos só 1%. Quais são as tradições cristãs que existem na Etiópia?
Dom Souraphiel: Os cristãos são a maioria na Etiópia. A Igreja ortodoxa tem cerca de 44%, os protestantes uns 18%, os católicos 1%. Ou seja, 62% da população é cristã. A Etiópia sempre perseverou como um país cristão, e isso é por proteção divina, como nós dizemos. Se você olhar, vários antigos países cristãos, do Egito até Marrocos, todo o norte da África, onde nós temos grandes santos como Agostinho, Tertuliano, Cipriano, eles não têm mais a maioria cristã. Como nós dizemos na Etiópia, aqui continua sendo um país de maioria cristã, graças à proteção de Deus e de Nossa Senhora.
- É interessante, porque o islã, desde o começo, procurou refúgio na Etiópia, por causa da perseguição, e a Etiópia foi o único país que acolheu os seguidores de Maomé...
Dom Souraphiel: Pois é. Quando o profeta Maomé foi perseguido em Meca e não sabia para onde mandar os seguidores dele, para salvá-los, o primeiro país que ele pensou foi a Etiópia. Ele falou para eles: “Vão para a Etiópia, lá tem um imperador cristão. Ele vai receber vocês e vocês ficam lá até as coisas melhorarem”. Eles vieram para cá e foram bem recebidos. Graças a esse acolhimento, está escrito no Hadith: “Não toqueis os etíopes. Não toqueis o país dos elefantes. Eles foram bons para conosco”. E é assim, tradicionalmente, historicamente, existe uma coexistência pacífica entre os muçulmanos e os cristãos aqui na Etiópia.
- Todo cristão na Etiópia, no batismo, recebe um mateb. O que é o mateb e o que ele significa?
Dom Souraphiel: O mateb é um cordão que se usa no pescoço. Ele é entregue no batismo, a pessoa usa sempre, é um sinal de quem é cristão. Não importa se é praticante, se vai à igreja; é cristão. E qualquer um que vê o mateb sabe que aquela pessoa é um cristão, que segue as normas cristãs, que cumpre os mandamentos da Igreja, como o jejum, etc. É um sinal externo de quem é cristão.
- É comum os etíopes tatuarem a cruz no pulso. É uma tradição só dos ortodoxos ou dos católicos também?
Dom Souraphiel: Dos ortodoxos, principalmente. Veja só, a cruz é um sinal de vitória para os cristãos, Cristo destruiu o pecado e a morte. Na Etiópia a cruz está em toda parte, em cima das igrejas, em cima das casas, nas tatuagens na testa ou na mão, na roupa das pessoas, nos escritos, manuscritos. Existem mais de duzentos desenhos da cruz etíope. Os sacerdotes seguram a cruz na mão para as pessoas beijarem e venerarem. Nós celebramos a Festa do Achado da Cruz, que nos lembra que a rainha Helena, a mãe de Constantino, achou três cruzes numa escavação em Jerusalém e descobriu a verdadeira cruz em que Jesus foi crucificado, através da cura de um doente. A cruz tem um papel enorme na Etiópia, e uma parte da cruz verdadeira está num dos mosteiros da Etiópia, o Gishen Mariam.
- A Etiópia também carrega muitas cruzes. É um dos países mais pobres do mundo. Quais são os desafios concretos hoje na Etiópia?
Dom Souraphiel: O maior desafio é a pobreza material. A população aumentou. A Etiópia tem cerca de 80 milhões de pessoas, e a seca e a fome, além dos conflitos, da guerra civil, viraram as grandes cruzes da Etiópia. A Etiópia passou muita fome durante muito tempo. O problema número um na Etiópia é a pobreza, como derrotar a pobreza. É isso que o governo está tentando fazer e o que a Igreja quer vencer.
- A Igreja oferece 90% dos serviços sociais na Etiópia. Como ela pode ser tão ativa, apesar de ser minoritária?
Dom Souraphiel: Você tem razão; a Igreja católica é uma minoria, cerca de 1%, e realiza a maior parte dos serviços sociais: centros de saúde, escolas e centros sociais. A Igreja começou buscando e perguntando: que necessidades tem a Etiópia? As necessidades estão, evidentemente, relacionadas com a pobreza. Por exemplo, se uma criança de menos de cinco anos não tem acesso a água potável, morrerá, porque a água potável pra ela é fundamental. Os que superam os cinco anos normalmente têm garantido viver até os 48 ou 50 anos – que é a expectativa de vida na Etiópia. A Igreja luta pela vida. As crianças precisam de educação. Temos mais de 200 escolas na Etiópia, sobretudo nas zonas rurais.
- O governo tem confiança no trabalho.
Dom Souraphiel: Sim, porque não há discriminação. Os serviços oferecidos pela Igreja estão abertos a todos – cristãos e muçulmanos.
- Foi concedido à Igreja um maior espaço devido aos serviços que presta ao país?
Dom Souraphiel: É um desafio para os católicos: ser testemunhas da doutrina social da Igreja, ser bons vizinhos, respeitar os demais, e fazer mais, porque as expectativas da Igreja são altas. Gostaria de agradecer ao apoio da Igreja universal. Trabalhamos junto à Igreja universal e junto a todos que estão com ela, como, por exemplo, Ajuda à Igreja que Sofre. Apoiam-nos em muitos projetos que temos, em todas as dioceses, e podemos fazer esse trabalho graças a nossos benfeitores na Europa e nos Estados Unidos.
- Que contribuição a Igreja na África pode dar à Igreja universal?
Dom Souraphiel: Eu diria que seus valores. A Igreja na África tem os valores familiares. A família é muito importante. Recordo o Santo Padre em Camarões. Nós o recebemos e nos alegramos de ver tantos africanos o acolhendo no estádio. O arcebispo de Yaoundé disse-lhe: “Sabe, santidade, na África, chamados os bispos de avôs, e o senhor é nosso bisavô”. O Papa estava feliz. Temos respeitos pelos pais, pelos nossos anciãos, por nossos antepassados e por todos que nos cercam. Todo ser humano tem um valor, que não se pode medir só por coisas materiais. A África pode contribuir com esse valor para o mundo.
--- --- ---
Esta entrevista foi realizada por Mark Riedemann para "Deus chora na terra", um programa rádio-televisivo semanal produzido por ‘Catholic Radio and Television Network', (CRTN), em colaboração com a organização católica Ajuda à Igreja que Sofre.
Mais informação em www.aisbrasil.org.br, www.fundacao-ais.pt.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
“Urbano VI, o Papa que não deveria ser eleito”
ZP11052311 - 23-05-2011
Permalink: http://www.zenit.org/article-28039?l=portuguese
Um livro para descobrir a origem divina da Igreja
ROMA, segunda-feira, 23 de maio de 2011 (ZENIT.org) – “Urbano VI, o Papa que não deveria ser eleito” é o título provocador do livro escrito pelo jornalista italiano Mario Prignano, no qual se mostra como, inclusive nos momentos mais duros da vida da Igreja, é possível ver sua origem divina.
O lançamento foi realizado no dia 20 de maio, na sede do Centro Internacional de Comunhão e Libertação, em Roma, e contou com a intervenção do autor e da docente de história contemporânea da universidade La Sapienza de Roma, Lucetta Scaraffia; com a presença do cardeal Walter Brandmuller, bem como do diretor de L'Osservatore Romano, Giovanni Maria Vian.
Urbano VI (1318-1389) foi eleito sucessor de Pedro em um dos conclaves mais curtos e conflituosos da história – 3 dias -, pouco depois de o papado voltar de Avinhão a Roma (longo período que durou de 1309 a 1377).
O conclave teve início em 7 de abril de 1378, na presença de apenas 16 dos 22 cardeais que formaram o Colégio Cardinalício, já que não aguardaram a chegada dos cardeais que estavam em Avinhão.
Eleito sob o medo
Dado que os cardeais estavam divididos em facções, na eleição papal, o povo romano teve um papel decisivo de pressão, temendo que o eleito fosse um cardeal francês, que voltaria à sede de Avinhão.
As pessoas concentraram-se na entrada do conclave com gritos de "Romano lo volemo” ("Romano o queremos") e "al manco italiano" ("Pelo menos italiano").
Neste ambiente de pressão, os cardeais elegeram o napolitano Bartolomeo Prignano, arcebispo de Bari, que, ao não cardeal, não estava participando do conclave.
O Cisma do Ocidente
Depois de ser eleito papa, Urbano VI se mostrou desconfiado e colérico nas suas relações com os cardeais que o elegeram. Suas intervenções políticas, em particular com Nápoles, também levantaram muitas tensões.
Por esta razão, os cardeais, salvo quatro italianos, reuniram-se em Agnani, onde, em 9 de agosto, divulgaram uma declaração para toda a cristandade, na qual anulavam a eleição de Urbano, por ter sido realizada sob o medo à violência do povo.
Em 20 de setembro de 1379, esperando que Urbano VI abdicasse, todos os cardeais, incluindo os romanos, reuniram-se em Fondi, no território de Nápoles, e elegeram Clemente VII, dando início ao Cisma do Ocidente, que durou até 1417.
Origem divina apesar de seus homens
A professora Scaraffia, no seu discurso, abriu o contexto histórico, lembrando que, naquela época, Avinhão tinha uma administração impecável, algo que não existia em Roma.
Sob a influência da França, o Papa não corria um risco cotidiano, como acontecia em Roma. Isso explica como Avinhão não era apenas um capricho do rei da França, esclareceu.
O livro conta, em suas quase 250 páginas, "as obras e até os roubos que eram realizados em nome do bem, um pouco como as hoje chamadas guerras humanitárias".
Aquelas lutas medievais entre os cardeais, em que o Papa estava envolvido, segundo a professora, "colocam-nos diante do mistério da Igreja, que se manteve de pé depois da crise de Avinhão e outros dados históricos".
Isso se explica porque sua missão consiste em dar continuidade à mensagem de salvação em Cristo, disse.
Pois bem, um papa como Urbano VI, "com um comportamento pelo menos discutível, manteve a corrente da transmissão petrina".
Recordou que o Papa recebeu, durante o cisma, o apoio de Santa Catarina de Siena (1347-1380), exemplo clamoroso da participação das mulheres na história do cristianismo, embora o Pontífice, após a morte da Doutora da Igreja, tornou-se mais parecido aos papas da Igreja que teria querido mudar e, portanto, "um homem de reforma torna-se um homem de poder".
O livro conta com a introdução do historiador e diretor de L'Osservatore Romano, Gian Maria Vian.
Permalink: http://www.zenit.org/article-28039?l=portuguese
Um livro para descobrir a origem divina da Igreja
ROMA, segunda-feira, 23 de maio de 2011 (ZENIT.org) – “Urbano VI, o Papa que não deveria ser eleito” é o título provocador do livro escrito pelo jornalista italiano Mario Prignano, no qual se mostra como, inclusive nos momentos mais duros da vida da Igreja, é possível ver sua origem divina.
O lançamento foi realizado no dia 20 de maio, na sede do Centro Internacional de Comunhão e Libertação, em Roma, e contou com a intervenção do autor e da docente de história contemporânea da universidade La Sapienza de Roma, Lucetta Scaraffia; com a presença do cardeal Walter Brandmuller, bem como do diretor de L'Osservatore Romano, Giovanni Maria Vian.
Urbano VI (1318-1389) foi eleito sucessor de Pedro em um dos conclaves mais curtos e conflituosos da história – 3 dias -, pouco depois de o papado voltar de Avinhão a Roma (longo período que durou de 1309 a 1377).
O conclave teve início em 7 de abril de 1378, na presença de apenas 16 dos 22 cardeais que formaram o Colégio Cardinalício, já que não aguardaram a chegada dos cardeais que estavam em Avinhão.
Eleito sob o medo
Dado que os cardeais estavam divididos em facções, na eleição papal, o povo romano teve um papel decisivo de pressão, temendo que o eleito fosse um cardeal francês, que voltaria à sede de Avinhão.
As pessoas concentraram-se na entrada do conclave com gritos de "Romano lo volemo” ("Romano o queremos") e "al manco italiano" ("Pelo menos italiano").
Neste ambiente de pressão, os cardeais elegeram o napolitano Bartolomeo Prignano, arcebispo de Bari, que, ao não cardeal, não estava participando do conclave.
O Cisma do Ocidente
Depois de ser eleito papa, Urbano VI se mostrou desconfiado e colérico nas suas relações com os cardeais que o elegeram. Suas intervenções políticas, em particular com Nápoles, também levantaram muitas tensões.
Por esta razão, os cardeais, salvo quatro italianos, reuniram-se em Agnani, onde, em 9 de agosto, divulgaram uma declaração para toda a cristandade, na qual anulavam a eleição de Urbano, por ter sido realizada sob o medo à violência do povo.
Em 20 de setembro de 1379, esperando que Urbano VI abdicasse, todos os cardeais, incluindo os romanos, reuniram-se em Fondi, no território de Nápoles, e elegeram Clemente VII, dando início ao Cisma do Ocidente, que durou até 1417.
Origem divina apesar de seus homens
A professora Scaraffia, no seu discurso, abriu o contexto histórico, lembrando que, naquela época, Avinhão tinha uma administração impecável, algo que não existia em Roma.
Sob a influência da França, o Papa não corria um risco cotidiano, como acontecia em Roma. Isso explica como Avinhão não era apenas um capricho do rei da França, esclareceu.
O livro conta, em suas quase 250 páginas, "as obras e até os roubos que eram realizados em nome do bem, um pouco como as hoje chamadas guerras humanitárias".
Aquelas lutas medievais entre os cardeais, em que o Papa estava envolvido, segundo a professora, "colocam-nos diante do mistério da Igreja, que se manteve de pé depois da crise de Avinhão e outros dados históricos".
Isso se explica porque sua missão consiste em dar continuidade à mensagem de salvação em Cristo, disse.
Pois bem, um papa como Urbano VI, "com um comportamento pelo menos discutível, manteve a corrente da transmissão petrina".
Recordou que o Papa recebeu, durante o cisma, o apoio de Santa Catarina de Siena (1347-1380), exemplo clamoroso da participação das mulheres na história do cristianismo, embora o Pontífice, após a morte da Doutora da Igreja, tornou-se mais parecido aos papas da Igreja que teria querido mudar e, portanto, "um homem de reforma torna-se um homem de poder".
O livro conta com a introdução do historiador e diretor de L'Osservatore Romano, Gian Maria Vian.
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Aliados pressionaram Pio XII a guardar silêncio ante nazistas
ZP11051601 - 16-05-2011
Permalink: http://www.zenit.org/article-27972?l=portuguese
Revelados documentos britânicos e norte-americanos
Por Jesús Colina
ROMA, segunda-feira, 16 de maio de 2011 (ZENIT.org) - Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha pressionaram Pio XII a guardar silêncio perante a brutalidade nazista, com o objetivo de evitar que o protesto papal gerasse consequências piores. É o que revelam documentos até agora inéditos.
Os textos foram descobertos pela fundação Pave the Way, criada pelo judeu norte-americano Gary Krupp. Krupp considera que as revelações podem esclarecer melhor as circunstâncias em que o papa Eugenio Pacelli atuou.
Entre os documentos, achados em arquivos dos Estados Unidos, está a correspondência entre o representante britânico junto à Santa Sé, sir D'Arcy Osborne, e Myron Taylor, representante do presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, perante o Vaticano.
Na missiva, assinada por Franklin C. Gowen, assistente de Taylor, às 12h45 do dia 7 de novembro de 1944, explica-se que D'Arcy Osborne "ligou e disse temer que o Santo Padre lance um apelo via rádio em favor dos judeus da Hungria e que critique o que os russos estão fazendo nos territórios ocupados".
"Sir D'Arcy disse que é preciso fazer alguma coisa para conseguir que o papa não se pronuncie dessa forma, porque isso teria repercussões políticas muito graves", acrescenta o diplomata dos EUA.
Documentos destruídos
"Outro documento sobre a ajuda aos refugiados judeus afirma com clareza que a carta devia ser destruída para não cair na mão dos inimigos", explicou Krupp num comunicado enviado a ZENIT.
Numa carta enviada por D'Arcy Osborne em 20 de abril de 1944 a Harold Tittman, assistente de Myron Taylor, o representante britânico junto ao Vaticano pede a destruição dos documentos enviados para ajudar organizações norte-americanas judaicas, pois eles poderiam pôr em risco a vida de quem os tivesse entregado, mencionando particularmente o perigo que estava correndo um padre chamado Benedetto.
Gary Krupp explicou que "esse procedimento foi aplicado normalmente durante a guerra e ainda existem críticos que parecem não entender que esse é o motivo de tantas ordens escritas terem sido destruídas".
O achado desses documentos teve a participação de Ronald Rychlak, professor na Faculdade de Direito da Universidade do Mississippi e autor de livros sobre Pio XII.
Outros documentos
Por sua vez, Dimitri Cavalli, jornalista, pesquisador e colaborador da fundação Pave the Way, encontrou documentos altamente significativos da agência internacional JTA (Jewish Telegraph Agency).
Um documento da agência, de 28 de junho de 1943, informa as denúncias da Rádio Vaticano sobre o tratamento dado aos judeus na França.
Cavalli encontrou o número publicado em 19 de maio de 1940 da revista Jewish Chronicle, da B'nai B'rith (associação judaica de ação social). Pio XII aparece na capa. A matéria principal revela que o papa estava contratando professores judeus que tinham sido expulsos das instituições italianas pelas leis raciais de Benito Mussolini.
A JTA, em 15 de janeiro de 1943, publicou a resposta do cardeal Pierre-Marie Gerlier, arcebispo de Lyon, às autoridades nazistas que propuseram deixar a Igreja católica em paz desde que ela se calasse quanto ao tratamento dado aos judeus. O cardeal respondeu ao comandante nazista: "Você não sabe que o Santo Padre (o papa Pio XII) condenou as leis antissemitas e todas as medidas antijudaicas?". E com esta frase encerrou o encontro.
A revista judaica Advocate publicou em 5 de fevereiro de 1943: "Cardeal húngaro ataca as teorias raciais", em referência ao duro discurso do cardeal Jusztinián Györg Serédi, O.S.B., arcebispo de Esztergom-Budapeste.
O pronunciamento, veiculado pela Rádio Vaticano, condenou com força as teorias raciais nazistas e pediu que a Hungria protegesse "todos os que estão ameaçados por causa das suas crenças ou raça".
Na mesma página, um breve artigo relata que Mussolini estava abrandando as leis raciais com o objetivo de retomar as relações com o Vaticano.
O Jewish Chronicle de Londres, em 9 de setembro de 1942, informava que Joseph Goebbels, ministro de Propaganda da Alemanha nazista, tinha mandado imprimir dez milhões de panfletos em vários idiomas e distribuí-los na Europa e na América Latina, condenando Pio XII pela posição pró-judeus.
Gary Krupp afirma a ZENIT que esses documentos não são mais do que uma gota no mar das 46 mil páginas de matérias informativas, documentos originais, material de pesquisa e testemunhos oculares que confirmam a obra de ajuda de Pio XII aos judeus e que foram publicados pela Fundação Pave the Way.
O material escrito, além de vídeos com testemunhos históricos, pode ser consultado em www.PTWF.org.
Permalink: http://www.zenit.org/article-27972?l=portuguese
Revelados documentos britânicos e norte-americanos
Por Jesús Colina
ROMA, segunda-feira, 16 de maio de 2011 (ZENIT.org) - Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha pressionaram Pio XII a guardar silêncio perante a brutalidade nazista, com o objetivo de evitar que o protesto papal gerasse consequências piores. É o que revelam documentos até agora inéditos.
Os textos foram descobertos pela fundação Pave the Way, criada pelo judeu norte-americano Gary Krupp. Krupp considera que as revelações podem esclarecer melhor as circunstâncias em que o papa Eugenio Pacelli atuou.
Entre os documentos, achados em arquivos dos Estados Unidos, está a correspondência entre o representante britânico junto à Santa Sé, sir D'Arcy Osborne, e Myron Taylor, representante do presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, perante o Vaticano.
Na missiva, assinada por Franklin C. Gowen, assistente de Taylor, às 12h45 do dia 7 de novembro de 1944, explica-se que D'Arcy Osborne "ligou e disse temer que o Santo Padre lance um apelo via rádio em favor dos judeus da Hungria e que critique o que os russos estão fazendo nos territórios ocupados".
"Sir D'Arcy disse que é preciso fazer alguma coisa para conseguir que o papa não se pronuncie dessa forma, porque isso teria repercussões políticas muito graves", acrescenta o diplomata dos EUA.
Documentos destruídos
"Outro documento sobre a ajuda aos refugiados judeus afirma com clareza que a carta devia ser destruída para não cair na mão dos inimigos", explicou Krupp num comunicado enviado a ZENIT.
Numa carta enviada por D'Arcy Osborne em 20 de abril de 1944 a Harold Tittman, assistente de Myron Taylor, o representante britânico junto ao Vaticano pede a destruição dos documentos enviados para ajudar organizações norte-americanas judaicas, pois eles poderiam pôr em risco a vida de quem os tivesse entregado, mencionando particularmente o perigo que estava correndo um padre chamado Benedetto.
Gary Krupp explicou que "esse procedimento foi aplicado normalmente durante a guerra e ainda existem críticos que parecem não entender que esse é o motivo de tantas ordens escritas terem sido destruídas".
O achado desses documentos teve a participação de Ronald Rychlak, professor na Faculdade de Direito da Universidade do Mississippi e autor de livros sobre Pio XII.
Outros documentos
Por sua vez, Dimitri Cavalli, jornalista, pesquisador e colaborador da fundação Pave the Way, encontrou documentos altamente significativos da agência internacional JTA (Jewish Telegraph Agency).
Um documento da agência, de 28 de junho de 1943, informa as denúncias da Rádio Vaticano sobre o tratamento dado aos judeus na França.
Cavalli encontrou o número publicado em 19 de maio de 1940 da revista Jewish Chronicle, da B'nai B'rith (associação judaica de ação social). Pio XII aparece na capa. A matéria principal revela que o papa estava contratando professores judeus que tinham sido expulsos das instituições italianas pelas leis raciais de Benito Mussolini.
A JTA, em 15 de janeiro de 1943, publicou a resposta do cardeal Pierre-Marie Gerlier, arcebispo de Lyon, às autoridades nazistas que propuseram deixar a Igreja católica em paz desde que ela se calasse quanto ao tratamento dado aos judeus. O cardeal respondeu ao comandante nazista: "Você não sabe que o Santo Padre (o papa Pio XII) condenou as leis antissemitas e todas as medidas antijudaicas?". E com esta frase encerrou o encontro.
A revista judaica Advocate publicou em 5 de fevereiro de 1943: "Cardeal húngaro ataca as teorias raciais", em referência ao duro discurso do cardeal Jusztinián Györg Serédi, O.S.B., arcebispo de Esztergom-Budapeste.
O pronunciamento, veiculado pela Rádio Vaticano, condenou com força as teorias raciais nazistas e pediu que a Hungria protegesse "todos os que estão ameaçados por causa das suas crenças ou raça".
Na mesma página, um breve artigo relata que Mussolini estava abrandando as leis raciais com o objetivo de retomar as relações com o Vaticano.
O Jewish Chronicle de Londres, em 9 de setembro de 1942, informava que Joseph Goebbels, ministro de Propaganda da Alemanha nazista, tinha mandado imprimir dez milhões de panfletos em vários idiomas e distribuí-los na Europa e na América Latina, condenando Pio XII pela posição pró-judeus.
Gary Krupp afirma a ZENIT que esses documentos não são mais do que uma gota no mar das 46 mil páginas de matérias informativas, documentos originais, material de pesquisa e testemunhos oculares que confirmam a obra de ajuda de Pio XII aos judeus e que foram publicados pela Fundação Pave the Way.
O material escrito, além de vídeos com testemunhos históricos, pode ser consultado em www.PTWF.org.
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domingo, 15 de maio de 2011
João Paulo II, um santo de A a Z
Madrid 3 de Abril de 2011.-
São muitos os episódios de João Paulo II que revelam e tornam
manifesto estarmos perante um santo, do princípio ao fim, de A a Z. O
motor da sua vida foi a oração e a devoção a Nossa Senhora. Ele próprio
dizia: “tentam perceber quem sou pelo exterior; mas só chegarão a
entender-me pelo interior”.
A recente publicação do livro Porqué es santo, escrito pelo
postulador da causa de canonização, oferece múltiplas facetas do seu
carácter. Limitamo-nos a recolher alguns episódios publicados nesse e
noutros livros.
O anúncio da próxima beatificação do inventor das Jornadas Mundiais,
no dia 1 de Maio, despertou uma onda de alegria em muitas pessoas. Em
mais de uma ocasião, Bento XVI animou os jovens a seguir o rasto de luz
dos santos: “na história da Igreja, os santos encontraram na fé a força
para vencer as próprias fraquezas e superar toda a adversidade. Foram
construtores de paz, promotores de justiça, animadores de um mundo mais
humano. Também vós, se tiverdes fé, se fordes capazes de viver e dar
testemunho em cada dia da vossa fé, sereis um instrumento que ajudará
outros jovens como vós a encontrar o sentido e a alegria de viver, que
nasce do encontro com Cristo.” (Mensagem para as JMJ de Madrid)
Deus queira que o olhar para João Paulo II ajude todos os jovens do
mundo a preparar o caminho para as Jornadas Mundiais de Madrid.
O
afecto que nutria pelos seus amigos e companheiros de juventude sempre
se manteve vivo nele não obstante o passar dos anos. Encontrava-se com
eles para comer, organizava excursões, escrevia e em mais do que uma
ocasião, quando já era Papa, reatou o relacionamento com pessoas que de
há muito tempo não via.
Foi o que aconteceu, por exemplo, como o
engenheiro judeu Jerzy Kluger, um amigo de infância da época de
Wadowice, com o qual Wojtyla desejara entrar em contacto após os
trágicos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial e da deportação dos
judeus para os campos de concentração nazis. Depois de ter sido eleito
papa, os dois amigos voltaram a encontrar-se várias vezes, tanto no
Vaticano como em Castel Gandolfo, até à morte de João Paulo II.
Também
teve muitas delicadezas e provas de afecto com os colaboradores da
Cúria Romana, que em muitas ocasiões felicitou no seu dia onomástico ou
aniversário de ordenação sacerdotal ou episcopal. No seu último dia de
vida quis despedir-se dos mais altos dignitários do Vaticano, mas também
de Franco, a pessoa que tinha a seu cargo os aposentos pontifícios; e
de Arturo, o fotógrafo que o acompanhou durante muitos anos.
Fonte: Por qué es santo. Slawomir Oder. Pág. 20-27.
Em
certa ocasião perguntaram a uma pessoa muito próxima do Papa, o que é
que mais a impressionava de João Paulo II, ao que ela respondeu que era o
seu bom humor: “à primeira vista pode parecer que o bom humor é algo de
conatural à pessoa. Mas a mim parece-me que é uma constante na vida dos
santos. Aos 80 anos, manter o mesmo bom humor de quando se é jovem… só
pode encontrar explicação no facto de saber-se criado por Deus”.
Já vergado ao peso dos anos, João Paulo II tinha de se apoiar num
bastão para poder caminhar. Aceitou com serenidade esta nova situação.
Foi assim que o mostrou, rodando com o bastão, como se fosse um
brinquedo, perante milhões de jovens durante a vigília da JMJ de Manila
(1995). Houve até ocasiões em que brincava com isso, recorrendo ao seu
habitual bom humor. Em 1998, num dos seus discursos disse: “Gostava de
vos perguntar: Porque é que o papa anda de bastão?... Estava à espera
que respondêsseis: Porque está velho! Mas não; vós destes a resposta
certa: Porque é ‘pastor’! O Pastor leva um bastão para apoiar-se e para
manter em ordem o rebanho».
Fonte: Por qué es santo. Slawomir Oder. Pág. 129.
Todas
as sextas-feiras santas João Paulo II ia confessar à basílica de S.
Pedro. Não resistimos em contar um episódio que demonstra a confiança de
João Paulo II no sacramento da confissão.
Um sacerdote de Nova York entrou numa igreja de Roma para rezar, e
nisto deu de caras com um mendigo. Depois de observá-lo durante
instantes, apercebeu-se de que conhecia aquele homem. Era um companheiro
de seminário, ordenado sacerdote no mesmo dia que ele. O padre, depois
de identificar-se e de o saudar, escutou da boca do mendigo como tinha
perdido a sua fé e a sua vocação. Ficou profundamente consternado.
No
dia seguinte o sacerdote americano teve a oportunidade de estar com o
Papa. Ao chegar a sua vez pediu ao santo Padre que rezasse pelo seu
antigo companheiro de seminário, e descreveu por alto a sua situação ao
Papa.
Um dia depois recebeu um convite do Vaticano para ir jantar com
o Papa e que levasse consigo o tal mendigo. O sacerdote voltou à igreja
onde se tinha encontrado com o seu amigo para transmitir-lhe o desejo
do Papa. Uma vez convencido o mendigo, levou-o ao seu alojamento,
ofereceu-lhe roupa e disse-lhe para se preparar para o encontro com o
Papa.
O Pontífice, depois do jantar fez sinal ao sacerdote para os deixar
sós, e pediu ao mendigo que o ouvisse de confissão. O homem,
impressionado, respondeu-lhe que já não era sacerdote, ao que o Papa
respondeu "uma vez sacerdote, sacerdote para sempre". "Mas eu estou
destituído das minhas faculdades de presbítero", insistiu o mendigo. "Eu
sou o bispo de Roma, tenho poder para tas devolver", disse o Papa.
O homem escutou a confissão do Santo Padre e pediu-lhe por sua vez
para que o ouvisse também a ele de confissão». Depois dela chorou
amargamente. No fim João Paulo II perguntou-lhe em que paróquia tinha
estado a mendigar, e nomeou-o assistente do pároco da mesma e
encarregado de atender os mendigos. Fonte: Aciprensa.
Também pode ler-se o episódio em Por qué es santo. Pág 41.
Devoção à Divina MisericórdiaEntre
os milhares de homens e mulheres de Deus que elevou aos altares, a
figura que mais apreciava foi a da religiosa polaca Faustina Kowalska
(1905- 1938), apóstola da devoção da Divina Misericórdia.
Em Agosto
de 2002, em Lagiewniki, onde a ir. Faustina viveu e morreu, João Paulo
II confiou o mundo à Divina Misericórdia, à confiança ilimitada em Deus
Misericordioso.Quanta necessidade da misericórdia de Deus tem o mundo de
hoje! Onde reinam o ódio e a sede de vingança, onde a guerra leva à dor
e à morte dos inocentes é necessária a graça da misericórdia para
acalmar as mentes e os corações, e fazer que brote a paz. Onde não se
respeita a vida e a dignidade do homem é necessário o amor
misericordioso de Deus, a cuja luz se manifesta o incalculável valor de
todo o ser humano. Por isso, neste santuário, quero consagrar
solenemente o mundo à Misericórdia Divina.
João
Paulo faleceu no dia 2 de Abril de 2005, às 21.37, ao terminar o sábado,
e já quando tínhamos entrado na oitava da Páscoa e domingo da Divina
Misericórdia.
Fonte: Porque é santo. Slawomir Oder. Pág. 158
Enfermos, lección constante para él (Doentes, lição constante para ele)Durante
a sua primeira viagem papal, realizada ao México em 1979, visitou uma
igreja cheia de doentes e de inválidos. Um dos seus acompanhantes
testemunhou a propósito: “O Papa deteve-se diante de cada um deles e
tive a impressão de que os venerava a todos: inclinava-se para eles,
tentava compreender o que lhe diziam e depois acariciava-lhes a cabeça”.
Os
responsáveis pela cerimónia depressa se deram conta que, neste tipo de
viagens, não deviam colocar mais de trinta doentes diante do altar. Caso
contrário, dado que João Paulo II cumprimentava cada um deles, ficavam
alterados os horários dos compromissos que vinham a seguir.
Fonte: Porque é santo. Slawomir Oder. Pág. 110
Fé e fortaleza
Quando se insistia com ele para que abrandasse o ritmo de trabalho e de viagens e que repousasse um pouco mais, a sua resposta era sempre: “Descansarei na vida eterna”. No decurso da sua última Semana Santa, respondeu desta forma a um cardeal que lhe sugeriu que não esgotasse as suas últimas forças: “Se Jesus não desceu da cruz, por que motivo deveria fazê-lo eu?
Quando se insistia com ele para que abrandasse o ritmo de trabalho e de viagens e que repousasse um pouco mais, a sua resposta era sempre: “Descansarei na vida eterna”. No decurso da sua última Semana Santa, respondeu desta forma a um cardeal que lhe sugeriu que não esgotasse as suas últimas forças: “Se Jesus não desceu da cruz, por que motivo deveria fazê-lo eu?
Consciente
de que o tempo é limitado, desejava aproveitá-lo ao máximo. Num dos
últimos anos da sua vida disse: “Cada vez me dou mais conta que se
aproxima o momento em que terei de me apresentar diante de Deus. O dom
da vida é demasiado precioso para que nos cansemos dele.
Fonte: Porque é santo. Slawomir Oder. Pág. 131.
Globalidade num mundo globalÉ
o primeiro Papa polaco, e o primeiro vindo de um país comunista. Se o
colapso do comunismo se deu a partir de 1989 de maneira pacífica foi,
segundo muitos, graças a João Paulo II. Tal como testemunhou um
qualificado expoente político: “Cada um deu o seu contributo – o
americano Reagan, a britânica Margaret Thatcher e o francês François
Mitterrand – mas para os reunir a todos era necessária a intervenção do
Santo Padre”. Inclusivamente o presidente russo, Mikail Gorbachov,
reconheceu-o abertamente ao afirmar: “Não fui eu que acabei com o
comunismo, mas João Paulo II”.
Fonte: Porque é santo. Slawomir Oder. Pág. 104.
Humildade e gratidãoEm
1991, décimo aniversário do atentado, João Paulo II foi a Fátima para
exprimir o seu agradecimento a Nossa Senhora. Na saudação de
boas-vindas, um dos presentes voltou-se para ele e exclamou: “Santo
Padre, feliz aniversário!”. O Papa continuou a avançar após ter escutado
essas palavras, mas depois retrocedeu e respondeu: “Tem razão, a
primeira vida foi-me dada; a segunda foi-me oferecida há dez anos”. Um
presente que o levou a adoptar o costume de, em todos os dias 13 de Maio
pela tarde, à hora do atentado, celebrar uma santa missa de acção de
graças na capela privada.
Fonte: Porque é santo. Slawomir Oder. Pág. 94.
Instrumento de DeusConsiderou-se
sempre um instrumento de Deus, ao serviço do que Ele lhe pedira. “A
minha vocação é um mistério inclusive para mim”, dizia numa ocasião João
Paulo II. “Como se podem explicar os caminhos de Deus? E mesmo assim,
sei que em certo momento da minha vida percebi claramente que Cristo me
dizia o que tinha dito já a milhares de pessoas antes de mim ‘Vem, e
segue-me!’. Era evidente que o que sentia no meu coração não era nem uma
voz humana nem uma ideia minha. Cristo estava a chamar-me para que o
servisse como sacerdote”.
A ordenação foi um momento chave na
vida de Karol Woytila. Sublinhou-o ele mesmo afirmando que “nada tem
mais importância para mim ou me causa maior alegria que celebrar
diariamente a missa e servir o povo de Deus na Igreja. E isso é assim
desde o próprio dia da minha ordenação como sacerdote. Nada o conseguiu
alterar em nenhum momento, nem sequer o facto de ser agora Papa”.
Fonte: Por qué es santo. Slawomir Oder. Pág.32 e 40.
O
seu amor aos jovens impulsionou-o a iniciar em 1985 as Jornadas
Mundiais da Juventude. Nas 19 edições da JMJ celebradas ao longo do seu
pontificado reuniram-se milhões de jovens de todo o mundo.
“O que é a juventude?”, dizia João Paulo II numa entrevista. “Não é
somente um período da vida correspondente a um número de anos, mas é ao
mesmo tempo um tempo dado pela Providência a cada homem, durante o qual
procura como o jovem rico do Evangelho, a resposta às questões
fundamentais; não só o sentido da vida mas um plano concreto para
começar a construir a sua vida. Nos jovens há um imenso potencial de
bem, e possibilidades criativas. Ninguém inventou as jornadas mundiais
dos jovens. Foram eles quem as criaram. Não é verdade que seja o Papa
quem leva os jovens de um extremo ao outro do globo terrestre. São eles
que o levam a ele”.
“Karol
Woytila exactamente como era visto em público: um homem enamorado, um
cristão que olhava para além de si mesmo. A sua peculiaridade pessoal
aparecia principalmente na sua relação com Deus. Por isso a sua
espiritualidade era atraente e cativante. Sofrendo, ou rindo, não
mantinha uma relação especulativa com uma divindade distante. No seu
dia-a-dia, estar com Deus constituía a maior paixão, a mais intensa
prioridade, e sempre mais, o mais normal do mundo. Deus não é um código
moral, mas uma Pessoa com a qual poder falar pessoalmente e inclusive
poder dizer se é necessário: ‘Às vezes não te entendo!’” (depoimento de
Joaquín Navarro- Valls, ex porta-voz de João Paulo II).
Fonte: Joaquín Navarro-Valls. Recuerdos y reflexiones.
Na
sua infância os seus amigos chamavam-lhe Lolek, e esse diminutivo
também foi usado depois pelos seus parentes e algumas pessoas mais
próximas da Polónia.
Quem disse que seria impossível que Lolek fosse Papa e que o seu
exemplo converteria muitos…! No dia 14 de Novembro de 2002 João Paulo
II visitou o parlamento italiano, a primeira vez que o chefe da Igreja
Católica o fazia em 150 anos. O seu discurso centrou-se no terrorismo
internacional e na globalização; e foi tão eloquente que ao vê-lo pela
televisão o mafioso italiano Benedetto Marciante, chefe da Cosa Nostra e
acusado de homicídio e de extorsão, entregou-se à polícia romana.
Fonte: Aciprensa
Mortificação desapercebida
“O seu exemplo parecia ensinar que é melhor sofrer com Deus que alegrar-se sozinho. Com muita frequência, para João Paulo II tratava-se só de aproveitar alguma ocasião oferecida pelas vivências quotidianas para oferecer algum sacrifício pequeno ou grande. Recusar no avião a cama preparada para ele nas longas viagens intercontinentais, e dormir em alternativa - ou tentar fazê-lo - no assento ou reduzir a quantidade de alimento numa refeição, com aparente indiferença. O fim de toda a austeridade sensível era sempre garantir à sua alma a perfeita união com Cristo, e a total disponibilidade a escutar o chamamento interior de Deus”. (depoimento de Joaquín Navarro- Valls, ex porta-voz de João Paulo II)
“O seu exemplo parecia ensinar que é melhor sofrer com Deus que alegrar-se sozinho. Com muita frequência, para João Paulo II tratava-se só de aproveitar alguma ocasião oferecida pelas vivências quotidianas para oferecer algum sacrifício pequeno ou grande. Recusar no avião a cama preparada para ele nas longas viagens intercontinentais, e dormir em alternativa - ou tentar fazê-lo - no assento ou reduzir a quantidade de alimento numa refeição, com aparente indiferença. O fim de toda a austeridade sensível era sempre garantir à sua alma a perfeita união com Cristo, e a total disponibilidade a escutar o chamamento interior de Deus”. (depoimento de Joaquín Navarro- Valls, ex porta-voz de João Paulo II)
Fonte: Joaquín Navarro-Valls. Recuerdos y reflexiones.
Não tenhais medo!, foram as suas primeiras palavras como Papa
"Não tenhais medo" foram as primeiras palavras que João Paulo II lançou ao mundo inteiro da Praça de São Pedro, quando inaugurou o seu pontificado, em 22 de Outubro de 1978. Essas palavras percorreram, como uma melodia, todo o seu trabalho como Vigário de Cristo, até à sua morte santa em 2005.
"Não tenhais medo" foram as primeiras palavras que João Paulo II lançou ao mundo inteiro da Praça de São Pedro, quando inaugurou o seu pontificado, em 22 de Outubro de 1978. Essas palavras percorreram, como uma melodia, todo o seu trabalho como Vigário de Cristo, até à sua morte santa em 2005.
Não
tenhais medo de abrir de par em par as portas a Cristo! Esta expressão
é, possivelmente, um dos gritos mais esperançados e revolucionários do
mundo contemporâneo, que se debate entre a angústia e os medos perante
os monstros que ele próprio criou: a guerra, a cultura da morte, a perda
da dignidade humana...
Oração como motor da existência
“Em certa ocasião em que pensava estar só na sua capela, ouvi-o cantar enquanto fixava o seu olhar no Sacrário. Não entoava um tema litúrgico, mas canções populares polacas. Uma vez mais me veio à mente santo Agostinho, o qual afirmava que ‘cantar é rezar duas vezes’. Pessoalmente parecia-me que em si transparecia, ao mesmo tempo, a riqueza intelectual de um teólogo e a inocência espontânea de uma criança”.
Fonte: Joaquín Navarro-Valls. Recuerdos y reflexiones
Pedir perdão e perdoar
Em 12 de Março de 2000, pediu perdão pelas faltas humanas cometidas pela Igreja Católica em toda a sua história. Fazendo referência às cruzadas, à inquisição, à discriminação em relação às mulheres e às etnias.
Também
passou à história o momento em que se encontrou na prisão com Ali Agca,
que cometeu o atentado contra o Papa. Apesar de João Paulo II ter dito
sempre que desde o primeiro instante lhe tinha perdoado
Quem é João Paulo II, por Bento XVI
Juan Paulo II foi sacerdote até ao fim, porque deu a sua vida a Deus pelas suas ovelhas e pela inteira família humana, numa doação quotidiana ao serviço da Igreja e sobretudo nas difíceis provas dos últimos meses. No primeiro período do seu pontificado João Paulo II, ainda jovem e cheio de força, ia até aos confins do mundo. Mas depois, identificando-se com Cristo na Cruz, anunciou também incansavelmente e com renovada intensidade o Evangelho, o mistério do amor que vai até ao fim. (cf Jo 13, 1).
Quem é João Paulo II, por Bento XVI
Juan Paulo II foi sacerdote até ao fim, porque deu a sua vida a Deus pelas suas ovelhas e pela inteira família humana, numa doação quotidiana ao serviço da Igreja e sobretudo nas difíceis provas dos últimos meses. No primeiro período do seu pontificado João Paulo II, ainda jovem e cheio de força, ia até aos confins do mundo. Mas depois, identificando-se com Cristo na Cruz, anunciou também incansavelmente e com renovada intensidade o Evangelho, o mistério do amor que vai até ao fim. (cf Jo 13, 1).
Podia
ver-se que a lição do Papa sofredor era um magistério que ultrapassava o
seu magistério verbal. Parecia que com as obras dizia o que tinha dito
com palavras: “Cristo, sofrendo por todos nós, deu uma nova dimensão ao
sofrimento e introduziu-o na ordem do amor… é o sofrimento que queima e
consome o mal com a chama do amor”.
Fonte: Homilia do Cardeal Joseph Ratzinger no funeral do Papa João Paulo II e La luz del mundo. Bento XVI, pág 93.
Rosário, sua oração preferida
O rosário (terço), como o mesmo reconhecia, era a sua oração preferida. “Depois de uma conversa com o Papa - recordou uma testemunha - tive a sorte de ouvir como me dizia: ‘Vamos rezar o terço, quer vir connosco?’ Segui-o até ao terraço dos seus aposentos e dessa forma pude entender o valor desse rosário: tratava-se de um momento de vigília pela sua diocese, por toda a Igreja, pelo mundo e pelos que sofrem. ‘Olhe!’, dizia-me às vezes entre um mistério e outro indicando-me os edifícios do Vaticano e de Roma.” Ao mesmo tempo que via esses edifícios rezava por todas as pessoas que ali viviam e trabalhavam.
Rosário, sua oração preferida
O rosário (terço), como o mesmo reconhecia, era a sua oração preferida. “Depois de uma conversa com o Papa - recordou uma testemunha - tive a sorte de ouvir como me dizia: ‘Vamos rezar o terço, quer vir connosco?’ Segui-o até ao terraço dos seus aposentos e dessa forma pude entender o valor desse rosário: tratava-se de um momento de vigília pela sua diocese, por toda a Igreja, pelo mundo e pelos que sofrem. ‘Olhe!’, dizia-me às vezes entre um mistério e outro indicando-me os edifícios do Vaticano e de Roma.” Ao mesmo tempo que via esses edifícios rezava por todas as pessoas que ali viviam e trabalhavam.
Serviço, em todas as suas ocupações
En 2004 dizia na sua autobiografia: “Para um bispo é muito importante relacionar-se com as pessoas e aprender a tratá-las adequadamente. Pelo que me diz respeito, é significativo que nunca tenha tido a impressão de que o número de encontros fosse excessivo. De todos os modos, a minha preocupação constante foi a de cuidar em cada caso o carácter pessoal do encontro. Cada um é um capítulo à parte. O que faço é simplesmente, rezar por todos diariamente. Quando encontro uma pessoa, rezo logo por ela, e isso sempre facilita a relação. Tenho como princípio acolher cada um como uma pessoa que o Senhor me envia, e ao mesmo tempo, me confia”.
En 2004 dizia na sua autobiografia: “Para um bispo é muito importante relacionar-se com as pessoas e aprender a tratá-las adequadamente. Pelo que me diz respeito, é significativo que nunca tenha tido a impressão de que o número de encontros fosse excessivo. De todos os modos, a minha preocupação constante foi a de cuidar em cada caso o carácter pessoal do encontro. Cada um é um capítulo à parte. O que faço é simplesmente, rezar por todos diariamente. Quando encontro uma pessoa, rezo logo por ela, e isso sempre facilita a relação. Tenho como princípio acolher cada um como uma pessoa que o Senhor me envia, e ao mesmo tempo, me confia”.
Fonte: Juan Pablo II, ¡Levantaos! ¡Vamos!
Totus tuus, todo teu - dizia à Virgem Maria
En honra da Virgem Maria quis que no seu escudo de bispo figurasse o lema: “Totus tuus”, como uma maneira de dizer à Virgem Maria: sou ‘todo teu’, em ti confio.
En honra da Virgem Maria quis que no seu escudo de bispo figurasse o lema: “Totus tuus”, como uma maneira de dizer à Virgem Maria: sou ‘todo teu’, em ti confio.
São muitos os episódios que manifestam a sua
confiança na Virgem Maria, como o caso que se conta de seguida. O
Cardeal Deskur contou que quando tinha sido nomeado arcebispo de
Cracóvia, Woytila encontrara o seminário quase vazio, o que o moveu a
fazer uma promessa a Nossa Senhora: ‘Farei tantas peregrinações a pé a
todos os santuários, pequenos ou grandes, próximos ou afastados, como o
número de vocações que me concedas em cada ano’. De repente, o seminário
começou a encher-se de novo; quando o arcebispo deixou Cracóvia para
ser Papa, tinha quinhentos alunos. Esta sagrada promessa à Virgem Maria
era um dos motivos que levava João Paulo II a insistir que as visitas
programadas durante as suas viagens pastorais incluíssem sempre um lugar
de culto mariano.
En 1981 mandou colocar uma imagem da Virgem, Maria
Mãe da Igreja na praça de São Pedro, pois não havia nenhuma imagem dela
nesse lugar.
Fonte: Por qué es santo. Slawomir Oder. Pág. 165.
Universalidade
Em meados dos anos noventa tornou-se popular uma anedota no Vaticano: ‘Qual é a diferença entre Deus e João Paulo II? Deus está em toda a parte, enquanto que o Papa já lá esteve’. O Pontífice realizou 146 viagens por Itália e 104 ao estrangeiro. Estas viagens permitiram que milhões de pessoas, que jamais tinham podido visitar o Vaticano, vissem o Pontífice em pessoa e escutassem as suas palavras, e com elas a esperança do Evangelho.
Em meados dos anos noventa tornou-se popular uma anedota no Vaticano: ‘Qual é a diferença entre Deus e João Paulo II? Deus está em toda a parte, enquanto que o Papa já lá esteve’. O Pontífice realizou 146 viagens por Itália e 104 ao estrangeiro. Estas viagens permitiram que milhões de pessoas, que jamais tinham podido visitar o Vaticano, vissem o Pontífice em pessoa e escutassem as suas palavras, e com elas a esperança do Evangelho.
“Os
caminhos de santidade são múltiplos e adequados à vocação de cada um.
Que potencial de graça fica como que inerte na multidão incontável dos
baptizados! O chamamento não se dirige só aos sacerdotes ou aos
religiosos e religiosas, mas estende-se a todos. Como bispo apoiei
numerosas iniciativas dos leigos. (…) Por exemplo, o Ofício para a
pastoral familiar, as reuniões de estudo para estudantes de medicina
chamados ‘Kler-med’ ou o Instituto para a Família. Estive também ao lado
de iniciativas novas: o caminho neo-catecumenal ou a Opus Dei. Ambos
nascidos em Espanha, país que tantas vezes deu impulsos providenciais
para a renovação espiritual. Nos anos do meu ministério em Cracóvia
senti sempre a proximidade espiritual dos Focolares. Outro movimento
surgido da vitalidade da Igreja em Itália é o Comunhão e Libertação.”
Fonte: ¡Levantaos! ¡Vamos! Pág. 50 y 108.
Woytila, onde está Woytila?
Onde está Woytila? Quando recordamos o que João Paulo II levou a cabo, os “grandes eventos” misturam-se com a recordação de momentos simples de oração, que foram uma razão de assombro inclusive para os seus colaboradores. “Nos anos setenta, eu era já o capelão dos estudantes da Universidade Católica de Lublín. No início do ano académico, o então cardeal de Cracóvia veio para participar na Eucaristia na Igreja da universidade, na inauguração oficial do grande auditório, e no almoço. Depois disso, o cardeal estava pronto para regressar a Cracóvia. O reitor da Universidade, o padre Krapiec, acompanhou-o até ao carro, mas deteve-se a conversar com outro convidado. Foi então que o cardeal “desapareceu”! Os dez segundos que esperaram pareceram-lhe dez séculos. O reitor, acostumado a ter tudo sob controlo, não sabia aonde poderia ter ido o cardeal. Perguntou-me: “Onde está Wojtyla? O cardeal desapareceu! Onde está?” Com um ligeiro sorriso brincalhão, deixar passar um pouco de tempo antes de lhe responder. Disse-lhe então: “Provavelmente foi à Igreja”. Ali fomos, e efectivamente, encontrámos p cardeal, ajoelhado em oração diante da Via Sacra.
Onde está Woytila? Quando recordamos o que João Paulo II levou a cabo, os “grandes eventos” misturam-se com a recordação de momentos simples de oração, que foram uma razão de assombro inclusive para os seus colaboradores. “Nos anos setenta, eu era já o capelão dos estudantes da Universidade Católica de Lublín. No início do ano académico, o então cardeal de Cracóvia veio para participar na Eucaristia na Igreja da universidade, na inauguração oficial do grande auditório, e no almoço. Depois disso, o cardeal estava pronto para regressar a Cracóvia. O reitor da Universidade, o padre Krapiec, acompanhou-o até ao carro, mas deteve-se a conversar com outro convidado. Foi então que o cardeal “desapareceu”! Os dez segundos que esperaram pareceram-lhe dez séculos. O reitor, acostumado a ter tudo sob controlo, não sabia aonde poderia ter ido o cardeal. Perguntou-me: “Onde está Wojtyla? O cardeal desapareceu! Onde está?” Com um ligeiro sorriso brincalhão, deixar passar um pouco de tempo antes de lhe responder. Disse-lhe então: “Provavelmente foi à Igreja”. Ali fomos, e efectivamente, encontrámos p cardeal, ajoelhado em oração diante da Via Sacra.
XXXX viagens à volta do mundo
De seguida, algumas estatísticas relativas ao histórico papado de João Paulo II, que começou em 16 de Outubro de 1978. O Papa esteve no cargo mais de 26 anos, o terceiro pontificado mais longo em 2.000 anos de história da Igreja Católica Romana.
De seguida, algumas estatísticas relativas ao histórico papado de João Paulo II, que começou em 16 de Outubro de 1978. O Papa esteve no cargo mais de 26 anos, o terceiro pontificado mais longo em 2.000 anos de história da Igreja Católica Romana.
Durante o seu pontificado, o Papa João Pabuo II:
•
viajou um total de 1.247,613 quilómetros, ou seja, 3,24 vezes a
distância da Terra à Lua, em viagens papais dentro e fora de Itália
• realizou 104 viagens fora de Itália
• visitou 129 países e territórios diferentes
• realizou 146 viagens em Itália e 301 visitas a paróquias de Roma
• passou 822 dias, ou mais de dois anos e três meses, fora do Vaticano
• leu mais de 20.000 discursos, somando mais de 100.000 páginas.
• celebrou mais de 1.166 audiências gerais no Vaticano às quais assistiram mais de 17,64 milhões de pessoas.
• emitiu mais de 100 documentos importantes, incluindo 14 encíclicas, 45 cartas apostólicas e 15 exortações apostólicas.
• beatificou 1.345 pessoas e canonizou 483 pessoas, mais que todos os seus predecessores nos últimos quatro séculos juntos. Guardava a biografia de todos eles em duas grossas capas que tinha no seu quarto, e lia-as frequentemente para inspirar-se na prática das virtudes.
• Reuniu-se com mais de 1.590 chefes de Estado ou de Governo.
• realizou 104 viagens fora de Itália
• visitou 129 países e territórios diferentes
• realizou 146 viagens em Itália e 301 visitas a paróquias de Roma
• passou 822 dias, ou mais de dois anos e três meses, fora do Vaticano
• leu mais de 20.000 discursos, somando mais de 100.000 páginas.
• celebrou mais de 1.166 audiências gerais no Vaticano às quais assistiram mais de 17,64 milhões de pessoas.
• emitiu mais de 100 documentos importantes, incluindo 14 encíclicas, 45 cartas apostólicas e 15 exortações apostólicas.
• beatificou 1.345 pessoas e canonizou 483 pessoas, mais que todos os seus predecessores nos últimos quatro séculos juntos. Guardava a biografia de todos eles em duas grossas capas que tinha no seu quarto, e lia-as frequentemente para inspirar-se na prática das virtudes.
• Reuniu-se com mais de 1.590 chefes de Estado ou de Governo.
A
maior multidão reunida numa missa papal foi uns quatro milhões de
pessoas em Manila em 1995. O menor número de pessoas que foram
participar numa missa papal foi de umas 200 durante uma viagem aos
países nórdicos em 1989.
Fonte: www.aciprensa.com/juanpabloii/viajescifras.htm e Por qué es santo, pág 158.
Ya ‘¡Santo ya!‘ (Já “Santo já”!)
João Paulo II faleceu em 2 de Abril de 2005, às 21.37. Desde aquela noite até ao dia 8 de Abril, dia em que se celebraram as exéquias do defunto pontífice, mais de três milhões de peregrinos renderam homenagem a João Paulo II, chagando a fazer 24 horas de fila para poder aceder à basílica de São Pedro. Muitos gritavam em coro e levantavam placardes que diziam: Santo subito (que em italiano, quer dizer ‘santo já’)
Em 28 de Abril, o Santo Padre Bento XVI dispensou do tempo de cinco anos de espera desde a morte para iniciar a causa de beatificação e canonização de João Paulo II. A causa foi aberta oficialmente pelo cardeal Camillo Ruini, vigário geral para a diocese de Roma, em 28 de Junho de 2005. Em 1 de Maio João Paulo II será beatificado.
João Paulo II faleceu em 2 de Abril de 2005, às 21.37. Desde aquela noite até ao dia 8 de Abril, dia em que se celebraram as exéquias do defunto pontífice, mais de três milhões de peregrinos renderam homenagem a João Paulo II, chagando a fazer 24 horas de fila para poder aceder à basílica de São Pedro. Muitos gritavam em coro e levantavam placardes que diziam: Santo subito (que em italiano, quer dizer ‘santo já’)
Em 28 de Abril, o Santo Padre Bento XVI dispensou do tempo de cinco anos de espera desde a morte para iniciar a causa de beatificação e canonização de João Paulo II. A causa foi aberta oficialmente pelo cardeal Camillo Ruini, vigário geral para a diocese de Roma, em 28 de Junho de 2005. Em 1 de Maio João Paulo II será beatificado.
Z… da janela do Cielo
Depois da morte de Karol Woytila, o então Cardeal Ratzinger plenamente convencido da santidade de João Paulo II disse: “em vida, o Papa da janela do seu quarto abençoava as pessoas. Agora da janela da Casa do Padre no céu, olha-nos e nos dá a sua bênção”.
Depois da morte de Karol Woytila, o então Cardeal Ratzinger plenamente convencido da santidade de João Paulo II disse: “em vida, o Papa da janela do seu quarto abençoava as pessoas. Agora da janela da Casa do Padre no céu, olha-nos e nos dá a sua bênção”.
Milhares
de pessoas de todo o mundo recorrem diariamente à sua intercessão
espontaneamente e através da oração para implorar favores através da sua
intercessão
João Paulo II e a queda do Comunismo
Quem matou o comunismo? A análise ocidental (e a de muitos comunistas) apontou as incapacidades econômicas dos estados marxista-leninistas. Num mundo definido por chips de silicone e cabos de fibra óptica, o comunismo – ficou demonstrado – simplesmente não poderia competir. O foco centrado nas causas econômicas do colapso sempre pareceu, no entanto, uma “resposta” estranhamente marxista para o quebra-cabeça. Felizmente, análises melhor formuladas, baseadas num maior entendimento da distribuição de papéis dos atores no absorvente drama do colapso marxista agora estão disponíveis.
Que o papa João Paulo II teve um papel indispensável nessa mudança agora é algo amplamente reconhecido por vários historiadores (e atores) do final da Guerra Fria – dentre eles Mikhail Gorbachev. Mas, os termos em que deve ser entendido o papel do papa, esses provavelmente continuam controversos. O ex-repórter do Washington Post, Carl Bernstein, quem primeiro escreveu essa história para a revista Time e Marco Politi, o correspondente no Vaticano do diário italiano La Repubblica, afirmam vigorosamente (no livro His Holiness: John Paul II and the hidden history of our time, de 1996) que o papa foi um protagonista crucial na luta pela liberdade, e que a luta começou com a formação do Solidariedade, o sindicato polonês de oposição política e terminou com a implosão da União Soviética. Mas a leitura que fazem desses eventos se dá por meio de uma teoria da conspiração da história que obscurece, na mesma medida que ilumina, os muitos fatores que estiveram operantes nesse complexo processo histórico. Com isso, perde-se a originalidade de análise e de prescrição que João Paulo II aplicou no confronto com o totalitarismo.
Karol Wojtyla trouxe uma formidável inteligência filosófica e teológica, bem como uma leitura distinta da história do século XX para a cátedra de São Pedro, no dia 16 de outubro de 1978. Como Wojtyla o entendeu, a divisão da Europa após a Conferência de Yalta em 1945 foi, antes de tudo, uma catástrofe moral, onde falsas concepções da pessoa humana, da comunidade humana e do destino do homem foram impostas pela força bruta nas culturas historicamente cristãs. O comunismo não é somente uma estupidez econômica e uma política brutal. Ele é, antes e acima de tudo, um falso humanismo. De fato, as tolices econômicas e a repressão política dos regimes comunistas foram expressões da falha mais fundamental na teoria comunista. Assim, o antídoto mais eficaz à toxina comunista, acreditava Wojtyla, estava na ordem das idéias e dos valores. Um verdadeiro humanismo, defendendo os direitos básicos do homem como atributos inalienáveis da personalidade humana, foi a arma com que se pôde oferecer melhor resistência ao comunismo.
Para Wojtyla não havia tensão, mas ao contrário, havia uma profunda ligação entre esses clamores por direitos humanos e o Evangelho cristão. E, com base nessa convicção, como papa, lançou um desafio original e (conforme as coisas se revelavam) surpreendentemente eficaz àquilo que políticos e teóricos de relações internacionais há muito presumiam ser um dado: a divisão permanente da Europa e a hegemonia comunista ao leste do Rio Elba. Assim como Josef Stalin (1879-1953) questionou: “Quantas divisões tem o papa?”, João Paulo II mostrou ter algo mais potente: a capacidade de apelar para as consciências dos povos e das nações, a dignidade da pessoa humana e a vitalidade das antigas tradições culturais.
Para aumentar o ódio da liderança soviética, o papa pôs em prática suas convicções dois anos antes da administração de Ronald Reagan (1911-2004) chegar ao poder em 1981. No entanto, a dupla Bernstein e Politi alega que o comunismo foi derrotado por uma “Aliança Sacra” secreta entre João Paulo II e o presidente Reagan durante uma audiência privada em junho de 1982, em Roma. Isso está totalmente fora de sincronismo histórico. As entrevistas dos autores com os antigos funcionários da administração Reagan e algumas descobertas úteis nos recém disponibilizados arquivos soviéticos acrescentaram detalhes interessantes à história dos anos oitenta, mas a forma com que contam a história é, muitas vezes, floreada.
“Não há dúvida,” escrevem Bernstein e Politi em His Holiness, “que o papa deu a William Casey [ex diretor da CIA] sua bênção” após um encontro no início dos anos oitenta. Sem dúvida que o fez, mas isso é exatamente o que ele faz dezenas de vezes ao dia para aqueles com quem se encontra. Nossos autores acham “igualmente surpreendente” o fato “do diretor da CIA e o Sumo Pontífice terem mantido uma conversa altamente íntima e espiritual”. Mas porque isso deveria ser uma surpresa, já que todos sabiam do comprometimento com o ministério pastoral de João Paulo II, ao longo de cinqüenta anos, tanto com os pobres como com os poderosos?
E depois há a descrição do papa como um elo da inteligência com o Embaixador americano dos Estados Unidos Vernon Walters em novembro de 1981: “‘O que é isso?’ perguntou o vigário de Cristo,” estudando uma fotografia. “‘Equipamento pesado, Santo Padre’ – veículos militares, transportes de pessoal, tanques, para o uso das forças de segurança polonesas”. Enquanto há, sem dúvida, um fascínio em imaginar João Paulo II debruçado sobre uma fotografia do satélite da inteligência com Walters, não há motivo para pensar naquilo que os autores hiperbolicamente descreveram como um “vaivém de alto nível de informações da inteligência” entre Washington e Roma, e como isso teve um impacto significativo na análise do papa – ou na abordagem da – luta pela liberdade na Europa centro-oriental. João Paulo II pensava sobre esses assuntos em termos um tanto diferentes dos empregados por diplomatas, oficiais militares e espiões.
A hipótese da “Sacra Aliança” de Bernstein e Politi é, em suma, um exagero que distorce a singularidade da visão de Wojtyla às reviravoltas da história. Que o Vaticano e a Casa Branca tinham certos interesses em comum na Europa centro-oriental é sabido; que tanto o papa quanto o presidente americano suspeitavam (contra as admoestações dos conselheiros mais tradicionais) que o imperador comunista estava nu, parece claro; que a política dos Estados Unidos no governo Reagan e a “Ostpolitik” de João Paulo II se reforçavam mutuamente, parece que se depreende dos fatos. Mas isso não significa uma “Sacra Aliança”, no sentido de um esforço intimamente coordenado de derrubar o comunismo. A hipótese de Bernstein e Politi é, portanto, um lembrete interessante de que olhar para a história exclusivamente por intermédio de lentes político-econômicas, falha em captar a tessitura humana e moral dos grandes acontecimentos – uma advertência para qualquer um que tentar discernir os contornos de um século vindouro, onde as questões religiosas certamente terão um papel dominante.
O autor, George Weigel é Senior Fellow do Ethics and Public Policy Center de Washington e o mais relevante biógrafo de João Paulo II.
O artigo foi publicado originariamente na revista bimestral Religion & Liberty do Acton Institute, em janeiro-fevereiro de 1997.
Tradução ao português pelo Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista.
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