19/11/2012 - 03h00
As redes sociais são mesmo a maior
vitrine da humanidade, nelas vemos sua rara inteligência e sua quase hegemônica
banalidade. A moda agora é "assinar" sobrenomes indígenas no Facebook.
Qualquer defesa de um modo de vida neolítico no Face é atestado de indigência
mental.
As redes sociais são um dos maiores
frutos da civilização ocidental. Não se "extrai" Macintosh dos povos
da floresta; ao contrário, os povos da floresta querem desconto estatal para
comprar Macintosh. E quem paga esses descontos somos nós.
Pintar-se como índios e postar no Face
devia ser incluído no DSM-IV, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais.
Desejo tudo de bom para nossos
compatriotas indígenas. Não acho que devemos nada a eles. A humanidade sempre
operou por contágio, contaminação e assimilação entre as culturas. Apenas hoje
em dia equivocados de todos os tipos afirmam o contrário como modo de afetação
ética.
Desejo que eles arrumem trabalho, paguem
impostos como nós e deixem de ser dependentes do Estado. Sou contra parques
temáticos culturais (reservas) que incentivam dependência estatal e vícios
típicos de quem só tem direitos e nenhum dever. Adultos condenados a infância
moral seguramente viram pessoas de mau-caráter com o tempo.
Recentemente, numa conversa
profissional, surgiu a questão do porquê o mundo hoje tenderia à banalidade e
ao ridículo. A resposta me parece simples: porque a banalidade e o ridículo
foram dados a nós seres humanos em grandes quantidades e, por isso, quando
muitos de nós se juntam, a banalidade e o ridículo se impõem como paisagem da
alma. O ridículo é uma das caras da democracia.
O poeta russo Joseph Brodsky no seu
ensaio "Discurso Inaugural", parte da coletânea "Menos que
Um" (Cia. das Letras; esgotado), diz que os maus sentimentos são os mais
comuns na humanidade; por isso, quando a humanidade se reúne em bandos, a
tendência é a de que os maus sentimentos nos sufoquem. Eu digo a mesma coisa da
banalidade e do ridículo. A mediocridade só anda em bando.
Este fenômeno dos "índios de
Perdizes" é um atestado dessa banalidade, desse ridículo e dessa
mediocridade.
Por isso, apesar de as redes sociais
servirem para muita coisa, entre elas coisas boas, na maior parte do tempo elas
são o espelho social do ridículo na sua forma mais obscena.
O que faz alguém colocar nomes
indígenas no seu "sobrenome" no Facebook? Carência afetiva? Carência
cognitiva? Ausência de qualquer senso do ridículo? Falta de sexo? Falta de
dinheiro? Tédio com causas mais comuns como ursinhos pandas e baleias da
África? Saiu da moda o aquecimento global, esta pseudo-óbvia ciência?
Filosoficamente, a causa é descendente
dos delírios do Rousseau e seu bom selvagem. O Rousseau e o Marx atrasaram a
humanidade em mil anos. Mas, a favor do filósofo da vaidade, Rousseau, o homem
que amava a humanidade, mas detestava seus semelhantes (inclusive mulher e
filhos que abandonou para se preocupar em salvar o mundo enquanto vivia às
custas das marquesas), há o fato de que ele nunca disse que os aborígenes
seriam esse bom selvagem. O bom selvagem dele era um "conceito"? Um
"mito", sua releitura de Adão e Eva.
Essas pessoas que andam colocando nomes
de tribos indígenas no seu "sobrenome" no Face acham que índios são
lindos e vítimas sociais. Eles querem se sentir do lado do bem. Melhor se
fossem a uma liquidação de algum shopping center brega qualquer comprar alguma
máquina para emagrecer, e assim, ocupar o tempo livre que têm.
Elas não entendem que índios são gente
como todo mundo. Na Rio+20 ficou claro que alguns continuam pobres e miseráveis
enquanto outros conseguiram grandes negócios com europeus que, no fundo, querem
meter a mão na Amazônia e perceberam que muitos índios aceitariam facilmente um
"passaporte" da comunidade europeia em troca de grana. Quanto mais
iPad e Macintosh dentro desses parques temáticos culturais melhor para falar
mal da "opressão social".
Minha proposta é a de que todos que
estão "assinando" nomes assim no Face doem seus iPhones para os povos
da floresta.
Pondé – Folha de São Paulo
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