Hoje
é o domingo da oitava da Páscoa, completando os oito dias da grande Festa da
Ressurreição do Senhor. É o domingo da
FÉ, tema que nos inspira uma importante reflexão sobre o seu papel ao longo dos
séculos. Sempre existiram pessoas descrentes, mas nunca houve um povo ateu na
história, o que nos demonstra a fundamentação religiosa na construção da
memória histórica coletiva. Marx dizia
que a história é movida pela luta de classes e assim tem sido interpretada
pelos historiadores. Na verdade é a superestrutura que determina a história,
sendo a religião um dos seus elementos essenciais. A história até agora tem
sido movida pela Fé, a fonte inspiradora das relações humanas e das principais
realizações da humanidade.
Que
grandes obras foram produzidas pela mentalidade materialista ateia? Nenhuma.
Aliás, o esquecimento de Deus, o materialismo e o egoísmo estão na origem de
todos os conflitos, de todas as guerras. Ao contrário, sem a Fé provavelmente não
existiriam as grandiosas obras como as Catedrais, as Universidades, as escolas,
os grandes santos, as grandes obras de arte, nem as pirâmides do Egito. O
próprio progresso científico se desenvolveu a partir de uma Filosofia cristã
que considerava o mundo racional e, portanto possível de ser conhecido nas suas
leis físicas através do uso da razão.
E
o Cristianismo é o ápice do processo histórico e a realização mais perfeita da
Fé religiosa, pois está fundamentado na Revelação do próprio Deus através do
seu único Filho, Jesus Cristo, que veio ao mundo e com sua Paixão e Morte
resgatou a humanidade. O historiador Jônatas Serrano afirmou que o Nascimento
de Cristo é de fato o divisor de águas da história, o fato mais importante, que
modificou os rumos da vida humana sobre a Terra. E ao longo destes seus dois mil anos de
história o Cristianismo tem sido o elemento determinante na construção da
cultura Ocidental em todos os seus aspectos: econômicos, sociais e políticos.
A
Fé cristã convenceu o Império Romano, que de pagão e perseguidor dos cristãos
durante mais de 300 anos adotou o Cristianismo como religião oficial a partir
do ano 380, com o imperador Teodósio. Converteu os povos germânicos
destruidores do Império Romano e guiou o processo histórico da Idade Média,
onde a sociedade era governada pelos princípios do Cristianismo. O espírito de
fé cristalizou as relações humanas, aperfeiçoando a família, a forma de
governar, as relações econômicas guiadas por regras mais justas e construiu
lentamente todos os valores que fundamentam a nossa sociedade. A Fé era um patrimônio daquela sociedade e a
Igreja e o Estado estavam unidos, cuidando do espiritual e do temporal,
respectivamente, mas juntos para atingir o mesmo fim, a salvação das almas. É
verdade que existiam conflitos, guerras, disputas pelo poder, interferência
excessiva do poder temporal na Igreja, corrupção de membros da hierarquia da
Igreja, mas tudo isso exagerado pela historiografia marxista, que inspirada nas
fontes protestantes desde a época da Reforma e nas fontes iluministas, ambas
detratoras da Igreja Católica, pretendeu ridicularizar e desprestigiar o
Catolicismo. E vale destacar que o ser humano é contingente, imperfeito, muitas
vezes egoísta e sujeito a cometer erros.
Essa
mesma Fé motivou a expansão marítima europeia. Portugal e Espanha navegaram
para descobrir novas terras, chegar ao Oriente, ainda muito influenciados pelo
espírito cruzadista, fruto das Guerras da Reconquista, que duraram oitocentos
anos para expulsar os muçulmanos do seu território. Pretenderam expandir o
Cristianismo e conter o avanço Islâmico, que constantemente ameaçava invadir a
Europa. O que motivou Colombo não foi o
ouro, mas o desejo sincero da conversão dos povos à Fé. E toda a legislação dos
reinos europeus no tocante ao processo de colonização da América, o incentivo
às missões e o heroico trabalho dos jesuítas e de tantas outras ordens religiosas
no Novo Continente demonstram a centralidade da ideia da expansão cristã, da
importância da Fé como elemento motivador do processo citado.
Diz
o historiador Hilário Franco Júnior que muito do que temos na nossa sociedade
contemporânea é fruto da Idade Média cristã. São as permanências históricas, os
resquícios de valores do Cristianismo que ainda de alguma forma norteiam a
nossa civilização. Por outro lado, a Fé tem sido o alvo dos ataques das
ideologias revolucionárias desde o Iluminismo, ou melhor, desde a Reforma e o
Renascimento. A mentalidade racionalista e humanista, colocando a razão como
única fonte do conhecimento e o homem como centro e medida de todas as coisas
iniciou o processo de decadência da pureza da Fé. A Revolução Francesa, a difusão das
ideologias liberais e das Filosofias agnósticas, ateias, relativistas e
materialistas dos séculos XIX e XX acentuaram o processo da autossuficiência do
ser humano, da crença no progresso, no cientificismo e descristianização e
perda da Fé. No século XX Capitalismo e
comunismo se encontraram no que diz respeito à ideia da construção de um
paraíso sem Deus. A visão utilitarista, imediatista, relativista e hedonista
passou a ser determinante como sentido da vida, ou vida sem sentido, uma vez
que os resultados de tal mentalidade produziram uma crise civilizacional sem
precedentes, que afeta todos os aspectos da vida humana e deteriora as
relações sociais.
Nestas
circunstâncias a centralidade da Fé é a proposta mais viável para reverter a
situação de caos social e parece que de certa forma a sociedade vem percebendo
a necessidade de resgatar os valores tradicionais, derivados da Fé. Quando se
chega ao fundo do poço não há outra opção que não a busca de saídas. Há um
lento retorno das pessoas para a prática da Religião, embora muitos estejam
perdidos, desorientados, buscando uma espiritualidade que atenda os seus
anseios imediatos, sem muitos critérios para a busca da verdade. A Fé é o
caminho fundamental para a realização do ser humano como pessoa, da construção
da felicidade e da paz social.
JOSÉ ANTÔNIO DE FARIA
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