A contemporaneidade é uma mudança
de época, uma ruptura com o passado, com os seus valores e as suas
instituições, uma transformação radical das relações sociais, acelerada pelos
avanços tecnológicos, pela era digital e pelas relações virtuais. E o seu
caráter laicizante, antirreligioso, materialista e relativista renega todo o
patrimônio civilizacional construído pela Igreja Católica, seus princípios e
valores, desenvolvidos ao longo de vinte séculos de história pela educação
católica (formal e não formal). Nesse
contexto, a pedagogia atual assumiu um caráter utilitarista, pragmático,
materialista, revolucionário, transgressor da ordem social cristã e propulsor
da revolução cultural.
Fiel a sua missão de ensinar dada
por Jesus Cristo a Igreja Católica tornou-se a grande educadora da humanidade.
Ao longo de dois mil anos a Igreja educou por meio da catequese, da pregação,
da arte, fundou e espalhou escolas e universidades por todo o mundo. Grandes educadores como Hugo de São Vitor, São
Tomás de Aquino, Santo Inácio de Loyola, São João Batista de La Salle, São João
Bosco e tantos outros fizeram verdadeiras revoluções educacionais, criando
modelos inovadores, inclusivos e integradores das pessoas mais excluídas da
sociedade, resgatando-as das suas periferias existenciais. A Igreja desenvolveu
a noção de escola e todo o sistema educacional que temos hoje, sistematizando
currículos, metodologias de ensino e aprendizagens, sistemas avaliativos,
enfim, todo o arcabouço pedagógico que norteou a educação ocidental. As consequências foram o progresso das
ciências, o aperfeiçoamento das relações humanas e sociais e o desenvolvimento
de uma civilização nos moldes do Evangelho, com os seus altos e baixos, sucessos
e fracassos, acertos e erros, ocasionados pelas contingências tipicamente
humanas.
Assim, podemos dizer que existe
uma pedagogia católica, um corpo sistêmico educacional construído sob o influxo
do catolicismo. Essa pedagogia parte da concepção de homem como um ser
racional, composto de corpo e alma, criado por Deus a sua imagem e semelhança,
de natureza decaída pelo pecado original, tendente ao mal, mas resgatado pela
Redenção e pela Graça, livre nas suas escolhas, capaz de Deus, da prática do
bem e destinado ao transcendente, ao céu.
Partindo do princípio da
racionalidade e espiritualidade da natureza humana, da dignidade e equidade das
pessoas, originadas da filiação divina e do seu destino comum, a educação
católica sempre procurou promover a formação integral da pessoa humana, nos seus
aspectos cognitivos, afetivos, físicos e espirituais. E a educação da
inteligência para o conhecimento da verdade e do bem, assim como a educação da
fé para o transcendente, para a vida do espírito, constituem os seus pilares, a
verdadeira educação para a sabedoria. Conhecer e contemplar a verdade, combater
os vícios e praticar as virtudes, cultivar os bens do espírito forma pessoas
sábias e felizes.
A pedagogia atual tem chamado a
atenção para a necessidade do desenvolvimento das competências socioemocionais,
de formar nos educandos o autoconhecimento, o autocontrole, o conhecimento e a superação
dos seus limites, o altruísmo, a solidariedade, a empatia, a convivência e a
aceitação do outro para a construção de relacionamentos saudáveis. Mas nada disso é novo. Muitos destes são valores e princípios do
Evangelho, ensinados sempre nas escolas católicas e que já fizeram parte da
cultura de grandes períodos da história e de civilizações, como na Idade Média,
nos reinos e nas sociedades cristãs, mas que foram esquecidos pela nossa
sociedade por influência dos processos revolucionários dos últimos duzentos
anos, pelas ideologias materialistas e ateias, que dessacralizaram e
descristianizaram as relações sociais.
O que agora surge como propostas
inovadoras por diversos pedagogos e pela BNCC, como a educação integral, o
desenvolvimento das competências socioemocionais e o protagonismo do aluno como
sujeito da educação sempre foi praticado pela pedagogia católica. O método das
disputatios dos escolásticos já entendia o aluno como o sujeito do seu próprio
saber, Hugo de São Vitor propunha a humildade e outras virtudes humanas como
fundamentos da aprendizagem e da educação para a sabedoria. O método pedagógico
dos jesuítas, da Ratio Studiorum, propunha a formação científica e racional da pessoa, a disciplina, além de
promover na prática o teatro, a música e outros recursos metodológicos
para a aprendizagem, hoje chamados pelos teóricos de pedagogia ativa. São João
Bosco enfatizou a pedagogia do amor, centrada no acolhimento e na dedicação ao
outro, no diálogo e na alegria, como pilares da educação.
Somente através da concepção
correta da natureza humana, do conhecimento do eu, do entendimento das
circunstâncias atuais de guerra cultural contra a civilização ocidental,
construída com base no direito romano, na filosofia grega e na moral judaico
cristã, somente a partir do ensino e da (re) assimilação dos valores perenes,
da prática das virtudes e fuga dos vícios, será possível a realização de
práticas pedagógicas efetivas para a construção de relações sociais mais
saudáveis. Do contrário teremos apenas discursos vazios e estéreis.
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