segunda-feira, 6 de agosto de 2018

A pedagogia católica



A contemporaneidade é uma mudança de época, uma ruptura com o passado, com os seus valores e as suas instituições, uma transformação radical das relações sociais, acelerada pelos avanços tecnológicos, pela era digital e pelas relações virtuais. E o seu caráter laicizante, antirreligioso, materialista e relativista renega todo o patrimônio civilizacional construído pela Igreja Católica, seus princípios e valores, desenvolvidos ao longo de vinte séculos de história pela educação católica (formal e não formal).  Nesse contexto, a pedagogia atual assumiu um caráter utilitarista, pragmático, materialista, revolucionário, transgressor da ordem social cristã e propulsor da revolução cultural.

Fiel a sua missão de ensinar dada por Jesus Cristo a Igreja Católica tornou-se a grande educadora da humanidade. Ao longo de dois mil anos a Igreja educou por meio da catequese, da pregação, da arte, fundou e espalhou escolas e universidades por todo o mundo.  Grandes educadores como Hugo de São Vitor, São Tomás de Aquino, Santo Inácio de Loyola, São João Batista de La Salle, São João Bosco e tantos outros fizeram verdadeiras revoluções educacionais, criando modelos inovadores, inclusivos e integradores das pessoas mais excluídas da sociedade, resgatando-as das suas periferias existenciais. A Igreja desenvolveu a noção de escola e todo o sistema educacional que temos hoje, sistematizando currículos, metodologias de ensino e aprendizagens, sistemas avaliativos, enfim, todo o arcabouço pedagógico que norteou a educação ocidental.  As consequências foram o progresso das ciências, o aperfeiçoamento das relações humanas e sociais e o desenvolvimento de uma civilização nos moldes do Evangelho, com os seus altos e baixos, sucessos e fracassos, acertos e erros, ocasionados pelas contingências tipicamente humanas.

Assim, podemos dizer que existe uma pedagogia católica, um corpo sistêmico educacional construído sob o influxo do catolicismo. Essa pedagogia parte da concepção de homem como um ser racional, composto de corpo e alma, criado por Deus a sua imagem e semelhança, de natureza decaída pelo pecado original, tendente ao mal, mas resgatado pela Redenção e pela Graça, livre nas suas escolhas, capaz de Deus, da prática do bem e destinado ao transcendente, ao céu.

Partindo do princípio da racionalidade e espiritualidade da natureza humana, da dignidade e equidade das pessoas, originadas da filiação divina e do seu destino comum, a educação católica sempre procurou promover a formação integral da pessoa humana, nos seus aspectos cognitivos, afetivos, físicos e espirituais. E a educação da inteligência para o conhecimento da verdade e do bem, assim como a educação da fé para o transcendente, para a vida do espírito, constituem os seus pilares, a verdadeira educação para a sabedoria. Conhecer e contemplar a verdade, combater os vícios e praticar as virtudes, cultivar os bens do espírito forma pessoas sábias e felizes.

A pedagogia atual tem chamado a atenção para a necessidade do desenvolvimento das competências socioemocionais, de formar nos educandos o autoconhecimento, o autocontrole, o conhecimento e a superação dos seus limites, o altruísmo, a solidariedade, a empatia, a convivência e a aceitação do outro para a construção de relacionamentos saudáveis.  Mas nada disso é novo.  Muitos destes são valores e princípios do Evangelho, ensinados sempre nas escolas católicas e que já fizeram parte da cultura de grandes períodos da história e de civilizações, como na Idade Média, nos reinos e nas sociedades cristãs, mas que foram esquecidos pela nossa sociedade por influência dos processos revolucionários dos últimos duzentos anos, pelas ideologias materialistas e ateias, que dessacralizaram e descristianizaram as relações sociais.

O que agora surge como propostas inovadoras por diversos pedagogos e pela BNCC, como a educação integral, o desenvolvimento das competências socioemocionais e o protagonismo do aluno como sujeito da educação sempre foi praticado pela pedagogia católica. O método das disputatios dos escolásticos já entendia o aluno como o sujeito do seu próprio saber, Hugo de São Vitor propunha a humildade e outras virtudes humanas como fundamentos da aprendizagem e da educação para a sabedoria. O método pedagógico dos jesuítas, da Ratio Studiorum, propunha a formação científica e racional da pessoa, a disciplina, além de promover na prática o teatro, a música e outros recursos metodológicos para a aprendizagem, hoje chamados pelos teóricos de pedagogia ativa. São João Bosco enfatizou a pedagogia do amor, centrada no acolhimento e na dedicação ao outro, no diálogo e na alegria, como pilares da educação.

Somente através da concepção correta da natureza humana, do conhecimento do eu, do entendimento das circunstâncias atuais de guerra cultural contra a civilização ocidental, construída com base no direito romano, na filosofia grega e na moral judaico cristã, somente a partir do ensino e da (re) assimilação dos valores perenes, da prática das virtudes e fuga dos vícios, será possível a realização de práticas pedagógicas efetivas para a construção de relações sociais mais saudáveis. Do contrário teremos apenas discursos vazios e estéreis.


0 comentários:

Postar um comentário