domingo, 3 de fevereiro de 2019

A EDUCAÇÃO 4.0 DA ERA DIGITAL, A CULTURA DA INOVAÇÃO E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES QUALIFICADOS PARA UMA ESCOLA NOTA 1000.



Ou a escola se transforma ou ela terá grandes dificuldades para sobreviver às demandas da nova sociedade, às disputas comercias e às concorrências ferozes da guerra mercadológica educacional, pois estática já não atenderá mais às necessidades do exigente mercado de trabalho e da sociedade midiatizada, marcada pelas inovações tecnológicas, pela digitalização e pela globalização. Entenda-se aqui a escola como um todo institucional funcionando nos moldes tradicionais, oriundos das necessidades criadas na época do 1ª Revolução Industrial. E tais mudanças devem ser rápidas e radicais, começando por uma transformação das mentalidades educacionais, desde a gestão de recursos e de pessoas, passando pela coordenação/orientação dos processos pedagógicos e chegando à cultura da inovação, que revolucione na prática os espaços de aprendizagens por excelência, como as salas de aula, bibliotecas, laboratórios, pátios, todo o ambiente escolar e as práticas pedagógicas inerentes a estes espaços.
Uma das afirmações mais repetidas nos congressos, feiras pedagógicas, programas de capacitação e eventos educacionais em geral, no Brasil e no mundo, é que “temos uma escola do século XIX, um professor do século XX e um aluno do século XXI”. Temos escolas e professores brilhantes, inovadores, com práticas excepcionais, mas muitas vezes isolados como ilhas de modernidade. Mas via de regra o que ainda prevalece na realidade são escolas e professores acomodados, temerosos e resistentes às inovações, que não conseguem conectar a educação com o mundo real, alunos desestimulados e desinteressados e famílias indiferentes, onde cada um dos atores joga a culpa dos fracassos sobre os outros, sem fazer uma auto reflexão acerca das suas respectivas responsabilidades.
A revolução técnica científica criou o meio técnico científico informacional e nos últimos anos acelera os processos da 4ª revolução industrial, que impactam na dinamização das atividades econômicas, nas relações sociais e na cultura de um mundo cada vez mais globalizado, integrado e dinâmico. Fala-se o tempo todo de digitalização, de inteligência artificial, robótica e realidades virtuais, que produzem uma mudança de época, na qual estão inseridos os nossos alunos. Aliás, eles não viveram num mundo sem celular, sem internet, sem a comunicação virtual e sequer conseguem vislumbrar esta realidade. Suas experiências dizem respeito às realidades virtuais interativas, dinâmicas e aceleradas. Dizem alguns estudos que até a configuração cerebral e a lógica de pensar já mudou por influência dos impactos da tecnologia. Essa nova geração de jovens cresceu usando intensivamente as tecnologias digitais e se comunica mesclando comunidades virtuais e reais, em rede, de acordo com as suas necessidades. Para eles a escola se tornou uma instituição alheia ao seu mundo, onde as práticas de copiar, ouvir passivamente, reproduzir conhecimentos são consideradas irrelevantes em suas vidas cotidianas, em um paradoxo com as sensações e oportunidades oferecidas pelo universo midiático onde estão inseridos. Mas em geral estão asfixiados por tanta informação e carentes de orientação e referências éticas para lidarem com elas e transformá-las em conhecimentos significativos, úteis para a melhoria da qualidade de suas vidas e para a transformação da realidade do mundo.
Neste cenário é que os especialistas em educação tanto falam que a necessidade de orientar o aluno para o desenvolvimento de novas habilidades é dever de uma escola 4.0. Modelos que se reduzem ao uso de livros didáticos, lousa, ao aluno fazedor de cópias e decorebas (escola 1.0), ao uso de hardware e softwares sem interatividade (2.0) ou o uso de múltiplos recursos, mas com decisões centradas no professor, sem o protagonismo do aluno, não são suficientes. A escola 4.0 prioriza metodologias ativas, ambientes inovadores, cooperativos, a cultura maker (aprender fazendo), a resolução de problemas, a programação, a incorporação das tecnologias ao universo escolar sob a intencionalidade da perspectiva pedagógica, buscando aproximar o aluno da realidade e prepará-lo para dar respostas satisfatórias aos novos desafios propostos.
 Não se trata de demonizar e abandonar as boas práticas da escola tradicional, como a disciplina, o cuidado com a formação de valores e a ênfase nos conteúdos. A própria aula expositiva continua sendo importante, desde que seja bem dada, dialogada e interativa, de forma que prenda a atenção do aluno e seja motivadora para aquisição de conhecimentos. Os conteúdos são fundamentais, extremamente importantes, pois ninguém raciocina e constrói pensamento crítico sobre o nada, sobre o vazio. Mas podem ser construídos a partir de metodologias mais dinâmicas, lúdicas e prazerosas. Assim, as metodologias ativas devem ser complementares dessas práticas mais tradicionais, formando um conjunto misto e harmônico, que colabore para aprendizagens ricas e significativas.
A educação 4.0 é concebida a partir de novos paradigmas. O aluno passa a ser o protagonista e o professor o orientador qualificado para a construção eficaz dos conhecimentos. O aluno assume um papel mais ativo e torna-se o sujeito do seu próprio conhecimento. No entanto, é imprescindível notar que a máquina não vai substituir o professor, pois a interatividade, a mediação e a orientação serão sempre essenciais para os processos de aprendizagens. Sempre aprendemos na interação com o mundo, com as pessoas, que nos transmitem os saberes produzidos ao longo do tempo.  
Neste contexto a qualificação dos profissionais da educação é a condição sine qua nom para que ocorram as mudanças significativas na direção da cultura da inovação. Neste processo a gestão assume o papel de agente principal das mudanças. Urge a necessidade de uma gestão motivadora da equipe, que deve criar na escola um ambiente de formação continuada, através de reuniões e apoio ao estudo e à formação. Cabe também ao gestor atender com qualidade a clientela, aplicar racionalmente os recursos, priorizando a questão da qualidade dos processos pedagógicos, bem como acompanhar o andamento das práticas educacionais, tudo sob a perspectiva da gestão democrática, onde todos são envolvidos e participam ativamente das decisões. A Escola de hoje requer um professor mais crítico, criativo, que participe e que empreenda, que tenha mais dinamismo em lidar com as situações imprevisíveis e solucionar problemas. Nesse sentido, é que a escola deve se tornar o lócus formativo, onde se possam compartilhar experiências, socializar reflexões, fazer um trabalho colaborativo e produzir conhecimentos efetivos. Para isso os professores terão de se encontrar muito e interagir qualitativamente.
Essa cultura da inovação é contemplada na BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que foi homologada e tem caráter normativo, força de lei. Ela deverá reorientar obrigatoriamente todos os currículos a partir de 2020. Nas suas 10 competências gerais, a base evidencia a necessidade da construção e valorização do conhecimento a partir da investigação, experimentação, argumentação e comunicação, da fruição e (re) elaboração de repertório cultural, centrados no protagonismo do aluno como sujeito da construção do seu próprio saber. Também é competência geral da BNCC a cultura digital, que diz: “Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva”. Assim, o aluno deverá ser capaz de usar as ferramentas digitais para resolver problemas, criar e apresentar produtos digitais, como páginas da web, vídeos, aplicativos, usar linguagens de programação, dominar algoritmos, entender os impactos da tecnologia na sociedade e fazer uso ético dos diversos recursos tecnológicos.
Outra demanda da nova sociedade presente na BNCC é que a escola deverá ensinar as competências e as habilidades socioemocionais. Os impactos dos avanços tecnológicos serão cada vez mais avassaladores sobre as atividades econômicas, sociais e culturais, transformando a maneira como trabalhamos e a maneira como vivemos. Segundo pesquisas do Fórum Econômico Mundial 65% dos jovens que estão começando o ensino fundamental trabalharão, daqui há 15 ou 20 anos, em profissões que hoje nem existem e terão que lidar com frustrações, ter grande capacidade de adaptação, de reinvenção e, portanto, de regulação emocional. Segundo os especialistas a escola deverá desenvolver competências socioemocionais como a autoconfiança, a empatia, o julgamento para a tomada de decisões, a liderança, a resiliência, enfim, as habilidades de autoconhecimento, de comunicação, de relacionamentos e a consciência social.
Diante de toda essa complexidade das relações sociais impactadas pela tecnologia, das novas contribuições da neurociência sobre como o cérebro aprende à escola caberá o papel de se transformar, racionalizar e modernizar os seus diversos espaços de conhecimento, personalizar o seu atendimento educacional, aplicar as metodologias ativas como a sala da aula invertida, o ensino híbrido e tantas outras, além de priorizar a criação e resolução de problemas, sem que o professor ofereça as respostas prontas, incorporar as tecnologias nos currículos, inclusive o tão polêmico uso do celular na sala de aula. As aulas deverão ser mais dinâmicas, lúdicas, prazerosas, onde os alunos poderão fazer experimentações, debates, dialogar, aprendendo através da interatividade e cooperação. A escola 4.0 deverá oferecer atividades extracurriculares como o xadrez, aulas de música, práticas esportivas, além da promoção de eventos culturais que aproximem a comunidade e reforcem a parceria entre a família e a escola. Tudo isso é uma questão de sobrevivência da escola e deverá acontecer dentro do padrão dos valores e da identidade da escola e da comunidade por ela atendida, conciliando a inovação cultural com as tradições de sucesso da instituição. É assim que se forma para a vida.
José Antônio de Faria

0 comentários:

Postar um comentário