sexta-feira, 21 de junho de 2019

DIALÉTICA DA SECULARIZAÇÃO


Disse o cardeal Ratzinger (papa emérito Bento XVI) no diálogo com Habermas sobre a Dialética da Secularização (sobre a razão e a religião) realizado em 2004 na Academia Católica da Baviera que o crescimento do conhecimento científico produziu uma nova visão de mundo e de homem que abalou as certezas morais, deixando à ciência toda a responsabilidade sobre o ser humano. Mas afirmou que a ciência não pode alcançar toda a dimensão humana e sim apenas aspectos parciais. Disse ainda que os debates científicos não serão capazes de produzir uma consciência ética renovada.
Para Ratzinger o princípio da maioria não pode ser a única origem do direito, pois deixa sem solução a questão dos fundamentos éticos do direito, uma vez que a história comprova que as maiorias podem ser cegas ou injustas. Na verdade existem valores e direitos que decorrem da essência do ser humano, não apenas da vontade geral consensual, e que por isso são invioláveis.
Sobre a questão dos limites ao poder disse que apenas a razão não é suficiente, que emancipada das tradições religiosas ela torna-se ameaçadora. A hybris da razão é perigosa. Ela produziu a capacidade do homem destruir a si mesmo, criou as bombas atômicas, a possibilidade da destruição e do caos total.
Defendeu que a fé tem muito a dizer sobre o ser humano, que não contradiz a racionalidade e a liberdade humana e que deve haver uma correcionalidade entre a razão e a fé (uma autolimitação), entre razão e religião, que elas podem se purificarem e se curarem mutuamente e numa relação de complementaridade, numa perspectiva interculturalista, construírem uma ética universalista, que amplie os direitos e ao mesmo tempo seja uma ética de deveres.

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