Por Quadrante | ||||||
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A palavra Buddha significa, em língua páli, “o Iluminado”. É o cognome atribuído a Sidhartha Gautama, também conhecido por Sakyamuni
(o sábio dos Sakya). Deve ter vivido entre os anos 566 a 486 a.C. no
nordeste da Índia. Segundo a tradição, seu pai havia recebido uma
profecia de que Sidharta seria um grande guerreiro, de acordo com a
casta a que pertencia (xátria), se desconhecesse o sofrimento e a
contingência; caso contrário, transformar-se-ia num sadhu, num
asceta. Assim, foi educado por seu pai no luxo burguês; casou-se aos
dezenove anos e levou uma vida conjugal feliz e abastada durante dez
anos. Mas essa existência faustosa não o satisfazia. Um belo dia,
estimulado pelo encontro com um velho, um doente e um cortejo fúnebre,
viu-se forçado a considerar a realidade da vida e a seriedade da
passagem do homem sobre a terra. Depois, o exemplo de um sadhu
levou o príncipe a abandonar tudo para pesquisar as causas do
sofrimento, da velhice, da morte e do renascer. Abandonou então a
família, fez-se eremita numa floresta e pôs-se a estudar os grandes
mestres da época, impingindo-se, como os sadhu, severas
mortificações que quase o levaram à morte. Buda descobre então que deve
evitar os caminhos extremos da terra: o prazer desenfreado e o da ascese
rigorosa. Depois de passar sete semanas em meditação ao pé de uma
árvore em posição de lótus, atingiu a iluminação, em sânscrito, bodhi, donde Buda. Sobre o pano de fundo do hinduísmo, Buda operou uma grande simplificação, eliminando em princípio todas as divindades intermediárias e a multiplicidade de praxes ascéticas, à busca do “caminho do meio”, de uma vida ascética compatível com o comum dos mortais. Postula como ponto de partida as quatro “nobres verdades”: 1. O homem é afetado por inúmeros sofrimentos. Dukkha, “o sofrimento, é o mesmo que nascer, declinar e morrer”: esse itinerário é todo ele feito de dor e tribulação. A contínua mudança de tudo, ou sua desintegração, é especial motivo de sofrimento. 2. A causa de todo o sofrimento é o desejo, o anseio; o homem quer ser, quer ter ou quer evitar... Apega-se às coisas sensíveis porque estas lhe proporcionam uma satisfação momentânea, satisfação que por sua vez gera ainda novos desejos e apegos. A causa dessa avidez é a ignorância do significado das coisas sensíveis; o homem tende a não considerar o quanto elas são vazias. Se alguém morre com desejos não realizados, ou com culpas na consciência, esse “lastro” forma o seu karma, o seu destino nas futuras encarnações; tem de renascer a fim de purificar-se do karma, e o ciclo de dores continuará. 3. O sofrimento cessa quando se extinguem todas as aspirações da mente e dos sentidos do indivíduo. Quem se liberta de todos os anseios experimenta a cura e goza de paz e felicidade indizíveis, num estado dito nirvana. 4. Qual seria então a via que leva a essa felicidade? É o “caminho do meio” entre a extrema mortificação e a desenfreada satisfação dos anseios sensuais. É esta a quarta “nobre verdade”, que por sua vez compreende oito deveres distribuídos em três grupos: Sila, que abrange: a) o falar reto; b) o agir reto; c) o ter os meios de subsistência justos; Samadhi, que consiste em: d) o esforço justo; e) a atenção justa; f) a meditação justa (concentração); e Panna, que abrange g) as idéias justas e h) as aspirações (o pensamento) justas. O Nirvana, palavra sânscrita, significa o “desaparecimento” ou “extinção”, à semelhança da extinção do fogo. Buda afirmava que o mundo todo estaria em chamas, incendiado pelo fogo do desejo, e cada reencarnação reacenderia uma chama. O Nirvana apagaria definitivamente essa chama, pondo termo definitivamente ao ciclo das reencarnações pessoais. Esse termo não poderia ser descrito com palavras; mas é claro que, segundo os ensinamentos de Buda, todos os atributos pessoais desapareceriam: já não haveria mais nem “eu” nem “tu” nem “ele”. Na verdade, o budismo ensina que no homem não existiria um “eu” ou uma “alma” permanente; professa a an-atta (“não-alma”). Essa doutrina é considerada geralmente o nervo do budismo, aquilo que o distingue de todos os outros sistemas filosófico-religiosos. O eu seria apenas uma “harmonia”, uma combinação sempre em mudança de forças e energias mentais e físicas, que se poderiam reduzir a cinco categorias: a) matéria (solidez, fluidez, calor, movimento); b) sensação (visão, audição, paladar, olfato, tato, memória); c) percepção (as seis percepções correspondentes às seis sensações); d) formação mental (vontade ou atividade mental); e) consciência: a reação ou a resposta aos fenômenos. No Nirvana ou no estado de paz absoluta, o “eu” estaria desintegrado, e portanto já não se pode falar de “felicidade” ou “salvação” pessoal. Depois da libertação, portanto, haveria um nada, não em sentido negativo, mas em sentido positivo, porque seria a negação das realidades negativas. O hinduísmo propõe a salvação mediante a fusão do “eu” com o Absoluto, como uma gota que cai no Oceano; o budismo, pelo contrário, diz que não devem existir nem o eu nem o Absoluto, mas a superação de ambos no Nirvana. Por isso, há quem diga que o budismo, na sua concepção originária, não é uma religião, pois volta a sua atenção para o homem mais do que para Deus, procurando levar seus adeptos ao auto-desenvolvimento e à insensibilidade frente às paixões. Buda era contrário aos ritos religiosos e às orações e cerimônias litúrgicas. Por isso, não fundou casa sacerdotal e nem quis organizar ou estruturar a sociedade dos seus discípulos. No entanto, a vida monástica renasceu com todo o vigor no seio dessa corrente; os monges são como que os adeptos modelares do budismo, os conselheiros e orientadores por excelência do povo budista. De resto, por toda a parte, como no lamaísmo do Tibé, no budismo do Sudoeste asiático, na China e no Japão o budismo readmitiu o culto – agora já há um Buda deificado – e fundiu-se com tradições locais, apresentando uma enorme variedade de subdivisões, ritos e praxes. O budismo tem em comum com o cristianismo o anseio por uma vida pura e perfeita, isenta de paixões desregradas. No entanto, as diferenças são enormes: 1. Enquanto o cristianismo é monoteísta e fala de um Deus que é o primeiro Amor, o budismo é panteísta, isto é, identifica a divindade com o homem e o mundo. No entanto, “refina” tanto essa divindade que chega a identificá-la com o nada. 2. O budismo prega a auto-salvação, ao passo que o cristianismo prega a salvação por Deus. É Deus quem toma para si a salvação do homem, que este, sem dúvida, pode rejeitar. 3. O cristianismo se interessa pela salvação do homem, mas sem deixar de ser teocêntrico ou de estar voltado para Deus; a salvação do homem dá glória a Deus. 4. O mundo não é Maia, a “ilusão”, que é preciso superar inteiramente; em última análise, o mundo e o homem existem porque Deus, que é o Sumo Bem, os criou para difundir a sua bondade e espelhar no homem sua imagem e semelhança. 5. O cristianismo propõe ao homem o encontro com o “Grande Tu” ou o grande referencial de sua vida; não é um sistema de técnicas e métodos de manipulação espiritual, mas a mensagem do Amor que “primeiro nos amou” (cfr. Jo 4, 19) e que espera a condigna resposta do homem. 6. Também não é a libertação de todo o sofrimento que confere ao homem a paz. É a Cruz de Cristo, Deus e homem verdadeiro, que faz a ponte entre o céu e a terra, e assim confere ao sofrimento o sentido de um testemunho de fidelidade e amor. A dor foi transfigurada pela ressurreição da Páscoa. O ZEN-BUDISMO A palavra vem do japonês zenna, de zazen, “meditar sentado”. É uma seita budista de origem japonesa que põe o acento na plena realização do eu mediante a “iluminação”. Conforme se conta, teria a sua origem no seguinte episódio lendário: um discípulo entregou a Buda uma flor e pediu-lhe que lhe explicasse o mistério da sua doutrina. O mestre tomou a flor, contemplou-a em silêncio um longo tempo, e indicou com um gesto ao discípulo que se retirasse, sem lhe responder uma única palavra. Mas o discípulo logo compreendeu: o mistério e a felicidade não se alcançam com o ativismo, com o “fazer”, nem com a reflexão especulativa, o “conhecer”, mas apenas mediante a concentração, que abre para a “luz interior”. A psicotécnica que usa consiste em: a) sentar-se na postura zazen (a de Buda nas representações tradicionais); b) exercícios respiratórios; c) meditar os koan, breves narrativas enigmáticas e sem resposta; d) exercícios para deter toda a atividade interior, tanto de pensamentos como de sentimentos, até se conseguir e) o esvaziamento interior que permite a f) iluminação, a penetração do espírito na zona de hiperconsciência ou zona celeste, que dotaria o praticante de uma consciência universal e de poderes sobrehumanos. FONTES PRINCIPAIS: Estêvão Bettencourt, Religiões, Igrejas e seitas, Lumen Christi, Rio de Janeiro, 1997Manuel Guerra Gomez, Los nuevos movimientos religiosos, EUNSA, Pamplona, 1993. |
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quinta-feira, 10 de março de 2011
Budismo
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