Respostas a alguns comentários errôneos a respeito do Papa e da Igreja
Campinas, (Zenit.org). Vanderlei de Lima | 170 visitas
Nestes dias, devido à renúncia do Papa Bento XVI, muitos comentários são feitos a respeito do Papa e da Igreja, de modo a requerer, para o bem da verdade, oportunas reflexões.
A revista Veja, de 20/02, trouxe, num artigo, de modo geral, simpático a Bento XVI, mas ácido em relação à Cúria Romana e à Igreja, o seguinte questionamento: “Se a um papa é permitido renunciar ao que seria um casamento com a Igreja, abençoado pela vontade divina, por que marido e mulher não poderiam divorciar-se?” (p. 79).
Em resposta notamos, muito sinteticamente, que Joseph Ratzinger não renunciou ao “casamento com a Igreja”, pois ser Papa não é um tipo de complemento do sacramento da Ordem que ele possui em grau pleno, na condição de Bispo, e continuará a possuir até o fim de seus dias, apesar de não mais exercer a função de Bispo de Roma.
Assim como a Igreja não pode apagar a marca indelével (caráter) do sacramento da Ordem conferido a um de seus filhos, também não pode abolir a indissolubilidade do sacramento do Matrimônio. Ela é administradora zelosa e não dona da Palavra de Deus.
É certo que se a Igreja abrisse as portas ao segundo ou ao terceiro casamentos, às uniões homossexuais, ao aborto, ao uso de preservativos etc. atrairia o aplauso de alguns, mas trairia a sua verdadeira missão. Fiel a Deus e não aos desenfreados caprichos humanos, ela preferiu perder, no século XVI, o Reino Unido do que declarar nulo o casamento válido do rei Henrique VIII com Catarina de Aragão.
Por essas e por outras razões, a Igreja é incompreendida pelos falsos libertários, anticlericais e católicos incoerentes de nossos dias como sempre foi ao longo da história. Todavia, ela nunca deixou de ser, apesar das falhas de não poucos de seus filhos, um porto seguro aos homens e às mulheres de todos os tempos.
Portanto, nenhuma pessoa de bom-senso pode afirmar que a Igreja está longe do povo, mas reconhece, sem demora, que são os homens que estão afastados de Deus e, por isso, se opõem à mensagem do Evangelho ou trocam-na por mesquinharias.
Outra bijuteria que mais especialmente nestes dias ronda o mundo é a afirmação infundada de que o Papa João Paulo I foi assassinado, em 1978, pela Cúria Romana ávida de poder e cheia de interesses mesquinhos.
Em resposta, notamos que ao acusador cabe o ônus da prova. Não basta falar, é preciso comprovar o que se diz sob pena de cair em descrédito. Na verdade, porém, tal prova não existe, uma vez que a causa mortis de João Paulo I foi, conforme seu atestado de óbito citado por historiadores e jornalistas imparciais, um infarto agudo do miocárdio. Aliás, sua família teve também outros membros falecidos subitamente pelo mesmo motivo, segundo atestam Andrea Tornielli e Alessando Zangrando no penúltimo capítulo do livro João Paulo I. O Papa sorriso, publicado no Brasil pela Editora Quadrante.
E mais: quem estuda atentamente a história dos Papas não faz mistério em torno da morte de João Paulo I com apenas 32 dias de pontificado, pois sabe que Estevão II (752) faleceu três dias após a eleição e Urbano VII (1590) morreu doze dias depois de assumir a cátedra de Pedro. Outros Papas que ficaram entre 13 e 30 dias no cargo foram por ordem de tempo: Celestino IV (1241), Sisinio (708), Teodoro II (897), Marcelo II (1555), Dâmaso II (1048), Pio III (1503), Leão XI (1605), Valentim (827) e Bonifácio VI (896).
Não negamos, com isso, que na Cúria Romana, criada para auxiliar o Papa, se tenha – como em outros lugares (que o diga o nosso país do “mensalão” e da “privataria tucana”) – homens falhos e indignos. Contudo, não façamos dessas falhas trampolins para acusar a Igreja. Ela é santa, mas traz em si os filhos pecadores para os quais, como mãe carinhosa, oferece o remédio às suas faltas no sacramento da Confissão.
Vanderlei de Lima é filósofo e autor do livro Papa Bento XVI: aspectos polêmicos do seu pontificado, a ser lançado pela Editora Ecclesiae, de Campinas.
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