27.06.2011 - Por National Catholic Reporter
Recentemente, o Papa Bento XVI visitou a Croácia, marcando a 19ª viagem ao exterior do seu pontificado.
Essa excursão me fez pensar: de todas as viagens papais que vimos ao longo dos anos, quais foram verdadeiramente memoráveis?
Ou
seja, que viagens serviram para mudar a História, para recalibrar as
impressões do público e/ou para deixar uma marca na igreja local?
Igualmente, quais mais impressionaram por terem sido desagradáveis,
tristes, ou por perderem oportunidades?
Seguem as minhas escolhas das “dez viagens papais mais importantes da História”.
A
título de ressalva, restringi a seleção a viagens contemporâneas, o que
resultou em 303 viagens fora de Roma – 171 para vários locais
na Itália e 132 para nações estrangeiras – realizadas no último meio
século pelos papas João XXIII, Paulo VI, João Paulo II, eBento XVI.Caso contrário, seria como comparar maçãs e laranjas.
Por
exemplo, o primeiro registro em uma contagem de todos os tempos teria
que ser o da viagem de Pedro a Roma, tradicionalmente datada de 44
d.C., que preparou o palco para todo o desenvolvimento futuro da
história do papado. A decisão de Clemente V, em 1305, de estabelecer-se
em Avignon – que provocou o “cativeiro babilônico” do papado – também
poderia fazer parte da lista. No entanto, foram mais mudanças do que
viagens.
As “viagens papais”, como nós conhecemos hoje, são resultados do período pós-Concílio Vaticano II
(1962-1965). Influenciados tanto pela facilidade das viagens modernas e
pelo espírito missionário do Vaticano II, os papas passaram a se ver –
conforme João Paulo IIdisse certa vez – como sucessores de São Paulo,
assim como de São Pedro, se tornando uma espécie de
“evangelistas-chefes” e embaixadores da boa vontade no mundo.
Todas
as viagens papais são concebidas para passar essa noção de forma
igual; no entanto, algumas obviamente conseguem realizar isso melhor.
Fazer
uma lista como essa é um empreendimento extremamente subjetivo, em
parte porque há muitas maneiras de avaliar o impacto de uma viagem – o
tamanho da multidão; a cobertura da mídia; as consequências políticas;
a importância por estabelecer um precedente; ou por abrir portas para
futuros progressos para a igreja local, como novas vocações ou aumento
da frequência às missas. Todas as viagens que compuseram a lista
tiveram notas altas em pelo menos uma dessas medidas, e, as mais bem
classificadas, conseguiram combinar várias.
Eis as escolhidas.
10. João XXIII, Loreto-Assis, Itália, 4 de outubro de 1962
Às
vezes, o que um papa faz é significativo simplesmente pelo fato de
tê-lo feito. Esse foi o caso, em outubro de 1962, quando João XXIII
embarcou em um trem, na minúscula estação ferroviária do Vaticano, para
visitar a Santa Casa de Loreto e a Basílica de São Francisco de Assis.
Foi a primeira vez que um papa saiu de Roma desde 1857, depois da
famosa declaração de Pio IX, em 1870, de que ele era um “prisioneiro do
Vaticano”, para protestar contra a perda dos Estados Pontifícios.
Ao
pegar o trem, João XXIII acabou com o isolamento do papado moderno. A
viagem aconteceu uma semana antes da cerimônia de abertura do Vaticano
II, e, simbolicamente, captou a essência evangélica do Concílio,
abraçando o mundo moderno, que viria a ser expresso na Gaudium et Spes.
João
XXIII passou todo o dia da viagem em sua janela, acenando para as
grandes multidões ao longo dos trilhos. O trem parou várias vezes ao
longo do caminho, e João XXIII dizia algumas palavras, contava piadas e
distribuía bênçãos.
Um
outro sinal de que mudanças estavam por vir: também estava a bordo o
primeiro-ministro italiano, Amintore Fanfani, que comandou a primeira
coalizão que incluía socialistas. A histórica “abertura à esquerda” não
era muito popular em alguns setores do Vaticano. Assim, Fanfani foi
colocado em um compartimento separado do trem, longe do papa. Contudo,
no meio da viagem, os jornalistas a bordo noticiaram que Fanfani estava
ao lado de João XXIII, conversando amistosamente. Parece que o papa
tinha convidado o primeiro-ministro para acompanhá-lo, ignorando as
objeções de seus próprios assessores. (Quando perguntado sobre isso
depois, Fanfani brincou: “nihil obstat quominus” – o que significa que ele havia recebido um atestado de bons antecedentes).
Olhando
para trás, o jornalista italiano Domenico Del Rio escreveu, em 2000,
que a viagem de trem de João XXIII foi “a base para todas as viagens
pastorais de seus dois sucessores itinerantes, Paulo VI e João Paulo
II”.
9. João Paulo II, Denver (Estados Unidos), 12 a 15 agosto de 1993
Ok,
talvez esta seja uma escolha levemente paroquial (afinal, eu moro
aqui), mas a visita aDe nver, para a Jornada Mundial da Juventude de
1993, está na minha lista por esta razão: nenhum
outro momento na história recente teve um impacto tão forte na
transformação das atitudes de Roma com relação ao catolicismo
nos Estados Unidos. Antecipadamente, muitos observadores
previram um desastre. Os Estados Unidos, eles insistiam, é diferente
da Polônia ou da Argentina, onde as anteriores Jornadas Mundiais da
Juventude realizaram-se, porque não são culturas tradicionalmente
católicas e não têm tradição de peregrinação. Além disso, as Montanhas
Rochosas eram, na imaginação dos europeus, uma terra exótica de
críticos à Bíblia e secularistas, prontos para saudar o papa ou com
hostilidade ou, pior ainda, com indiferença. No entanto, meio milhão de jovens entusiasmados apareceram, e desenhou-se uma esmagadora e positiva cobertura da mídia.
A
magia de João Paulo II com as multidões gerou a famosa declaração do
presidente Bill Clinton: “Eu certamente odiaria concorrer contra ele
para prefeito de qualquer lugar”. Depois, mandarins do Vaticano foram
forçados a reavaliar seus preconceitos com os Estados Unidos como uma
cultura fundamentalmente calvinista, hostil ao catolicismo e ao papado.
Internamente, a viagem também colocou o ministério de jovens no mapa
na igreja norte-americana.
(Como
nota de rodapé, a viagem trouxe o primeiro comentário público de um
papa sobre a crise dos abusos sexuais. Em discurso na McNichols Arena,
João Paulo lamentou “os pecados de alguns ministros do altar.”)
8 Bento XVI, Turquia, 28 de novembro a 1º de dezembro de 2006
A
mais grave crise nas relações entre cristãos e muçulmanos desde o 11 de
setembro eclodiu em setembro de 2006, quando Bento XVI proferiu um
discurso em Regensburg,Alemanha, no qual citou um imperador bizantino
do século XIII, insinuando que Maomé”trouxe apenas coisas más e
desumanas, como sua ordem para difundir pela espada a fé que pregava”.
Essa
declaração provocou protestos pelo mundo islâmico, o que fez com
que Bento XVIvisitasse a Turquia, dois meses depois, para um momento
“ou vai, ou racha”, a fim de evitar um “choque de civilizações”. Bento
XVI usou a viagem para dar sinais de reconciliação, incluindo o que
ainda é, sem dúvida, a imagem mais improvável do seu pontificado: Bento
e o grande mufti deIstambul, Mustafa Cagrici, diante do mirhab, na famosaMesquita Azul, em um momento de oração silenciosa.
A
viagem à Turquia preparou o terreno para a posterior evolução na
abordagem de Bento XVI das relações com o Islã, sobretudo da grande
“aliança de civilizações” que ele propôs na Jordânia, em maio de 2009.
7. João Paulo II, Manila, Filipinas, 12 a 16 janeiro de 1995
Escritores
espirituais sempre insistem que a Igreja não é a Microsoft, que a
fidelidade é mais importante do que o sucesso mundano. Se as medidas
quantitativas fossem tudo o que importa, no entanto, a visita de João
Paulo a Manila, para a Jornada Mundial da Juventude de 1995, estaria
facilmente no topo das paradas dos passeios papais triunfantes.
O
número estimado de pessoas que compareceram à sua missa, no Luneta
Park, no dia 15 de janeiro de 1995, foi entre quatro e cinco milhões — o
maior público de um evento papal e uma das maiores concentrações
pacíficas na história humana. (O único acontecimento centrado em um
líder religioso comparável seria a reunião de três a dez milhões de
iranianos que participaram no funeral do aiatolá Khomeini, em junho de
1989). A multidão estava tão condensada que João Paulo teve que chegar
de helicóptero em vez do papamóvel.
Vista aérea do Luneta Park, em Manila, na visita de João Paulo II, em 1995 |
Como
a viagem de Denver, dois anos antes, Manila era uma revanche
da Jornada Mundial da Juventude contra o ceticismo de muitos líderes da
igreja que se perguntavam se os jovens realmente responderiam. (João
Paulo disse uma vez que, embora as pessoas pensem que a finalidade da
Jornada Mundial da Juventude é converter a jovens, na verdade, é a de
converter os bispos!)
6. Empate entre: João Paulo II, Nicarágua, 4 de março de 1983; e João Paulo II, Cuba, de 21 a 26 janeiro de 1998
Cada
viagem em um ambiente difícil é um lance de dados e, às vezes, o
resultado não é dos melhores. Quando João Paulo II visitou a Nicarágua,
em 1983, muitos esperavam que o pontífice iria atuar como um
pacificador e aliviar as tensões entre o regime sandinista, a
hierarquia católica local e os rebeldes. Em vez disso, a viagem deixou o país ainda mais polarizado. (Quem merece a culpa é, naturalmente, um ponto a ser debatido).
Durante uma missa em Manágua, João Paulo II ficou visivelmente irritado com agitadores sandinistas, gritando com eles para que ficassem em silêncio. A viagem também produziu uma imagem icônica de João Paulo II repreendendo Ernesto Cardenal, um teólogo da libertação e apoiador sandinista, que se tornaria um ícone da crítica progressista católica ao papa.(foto ao lado)
Em
contraste, a viagem a Cuba, em 1998, foi uma oportunidade perdida por
vir em uma má hora. Ocorreu em um momento crítico, quando a pressão
criada pelos holofotes da mídia global forçava Fidel a abrir o regime.
Na véspera da viagem, a maioria dos meios de comunicação passaram a
cobrir o que viam como uma história mais atraente: o escândalo Monica
Lewinsky, que eclodiu no mesmo dia em que João Paulo tocou em Havana.
(A propósito, João Paulo disse mais tarde a assessores que nenhum líder
mundial havia se preparado tanto para uma viagem papal como Castro,
que inclusive citou suas encíclicas durante suas reuniões privadas).
5. João Paulo II, México, 26 a 31 janeiro de 1979
João
Paulo II fez 104 viagens fora da Itália, cobrindo três quartos de um
milhão de milhas, mais de três vezes a distância da Terra à Lua. Sua
primeiríssima viagem, para o México, estreou três características
definidoras do seu papado.
Primeiro,
ela ressaltou a sua coragem. Seu antecessor, João Paulo I, recusou um
convite para participar de uma reunião dos bispos latino-americanos
em Puebla, temendo o confronto com o regime anticlerical do México.
João Paulo II não só aceitou como usava a batina por onde andava, o que
tecnicamente era uma violação da lei mexicana. (Os bispos que o
saudaram no aeroporto estavam em casacos e gravatas).
Em
segundo lugar, a viagem estabeleceu a reputação de João Paulo II como
um ímã para a humanidade. No total, estima-se que cerca de 10 milhões
de pessoas viram o papa durante os seis dias. Cerca de 3.600
jornalistas receberam credenciamento para cobrir a aparição do papa
em Puebla – em comparação, apenas cerca de uma dúzia apareceu quando os
bispos latino-americanos se reuniram em Medellín em 1978.
Em
terceiro lugar, a viagem aludiu à relação ambivalente que João Paulo
teria com aTeologia da Libertação. Ele denunciou a injustiça, mas
também enfatizou a “primazia do espiritual”, rejeitou o marxismo e
insistiu na unidade da Igreja.
(Na
mesma viagem, João Paulo também visitou a República Dominicana e
as Bahamas. É significativo que a sua primeira viagem levou João Paulo
para o Ocidente. Ele usou suas viagens para chamar a atenção para o que
considerava como cantos negligenciados do mundo).
4. Paulo VI, Terra Santa, 4 a 6 janeiro de 1964
Apesar
de João Paulo II ser geralmente considerado como o “papa das primeiras
vezes”, em muitos casos, foi Paulo VI que quebrou paradigmas. Viajar
foi um exemplo: Paulo VI fez nove viagens ao exterior, incluindo
simbolicamente todos os continentes da terra. Sua primeira aparição,
enquanto o Vaticano II ainda estava em andamento, continua sendo a mais
célebre. Foi a primeira vez que um papa pôs os pés na Terra Santa
desde a época de São Pedro, a primeira vez que um papa deixou a Itália
em quase dois séculos, e a primeira vez que um papa viajou de avião.
Substancialmente,
a viagem foi importante por duas razões. Primeiro, ele estabeleceu o
Oriente Médio como um foco especial de preocupação diplomática para o
Vaticano, apesar de Paulo insistir repetidas vezes que a visita foi
“puramente pastoral”. (É também um indicativo da distância na relação
com Israel: durante suas 11 horas em solo israelense,Paulo VI nunca
usou o nome do país e evitou todos os lugares de importância judaica,
como o Yad Vashem).
Segundo,
a viagem trouxe um grande avanço nas relações católico-ortodoxas.
Paulo VI se encontrou com o patriarca ecumênico Atenágoras de
Constantinopla no Monte das Oliveiras, a primeira vez que um papa e o
patriarca trocaram ideias desde 1439. (Quando um repórter perguntou a
Atenágoras porque ele tinha ido, ele respondeu, brincando: “Para dizer
bom dia ao meu irmão papa… Fazia 500 anos que não nos falávamos!”). A
dinâmica gerada pela reunião levou a um mútuo levantamento dos anátemas
que tinham separado católicos e ortodoxos desde 1054. De muitas
maneiras, a viagem de 1964 foi o ponto alto do pontificado de Paulo VI.
Quando ele retornou ao Vaticano II, depois, foi ovacionado pelos
bispos.
3. João Paulo II, Assis, 27 de outubro de 1986
No
espírito de “tamanho não interessa”, a viagem de outubro de 1986
de João Paulo a Assis esteve entre os mais curtos trajetos de seu
pontificado, mas também um dos mais significativos. A ideia foi a de
reunir os líderes das religiões do mundo para rezar pela paz no berço
do primeiro embaixador do catolicismo da unidade, São Francisco. Visto
que a Igreja tem mais de 2 mil anos de história, é
difícil encontrar algo verdadeiramente sem precedentes, mas esse foi
um grande acontecimento: um pontífice romano ao lado de rabinos,
muftis, xamãs e monges budistas, em um apelo comum para o
Todo-Poderoso. O evento teve um significado duradouro por três razões.
Primeiro,
emprestou um poderoso ímpeto ao diálogo inter-religioso e
colaborativo. João Paulo II convocaria, mais tarde, duas outras cúpulas
em Assis, em 1993 e 2002, e a Comunidade de Santo Egídio começou a
organizar um encontro anual de líderes religiosos “no espírito de
Assis”.
Em
segundo lugar, demonstrou a capacidade única do papado de unir
personalidades díspares para galvanizar a atenção da mídia e mover
opiniões. O arcebispo de Canterbury,Robert Runcie, disse: “Só o
ministério petrino poderia convocar uma assembleia como esta”.
Terceiro,
enfatizou por que o historiador italiano e fundador da Santo
Egídio, Andrea Riccardi, afirmou que João Paulo II não poderia
exatamente ser entendido como um “conservador”, uma vez que ele
enfrentou duras críticas da direita católica pelo fato de que Assis
corria o risco de beirar o sincretismo e o relativismo religioso. Em
vez disso, Riccardi propôs que João Paulo fosse recordado como “o papa
da complexidade católica”.
2. João Paulo II, Terra Santa, 20 a 26 de março de 2000
Como George
Weigel escreveu, a peregrinação de João Paulo II à Terra Santa no ano
do Grande Jubileu pertence ao “reino do épico”. Qualquer lista de
indeléveis imagens espirituais do século XX tem que incluir um frágil
João Paulo II, sozinho no Muro das Lamentações, em Jerusalém, deixando
uma nota manuscrita, desculpando-se por séculos de anti-semitismo
cristão. (Sua
frase-chave foi: “Estamos profundamente entristecidos pelo
comportamento daqueles que, no decurso da história, causaram sofrimento a
vossos filhos”).
O
Papa também visitou o Memorial do Holocausto Yad Vashem, conheceu sete
sobreviventes e disse: “Não há palavras suficientemente fortes para
deplorar a terrível tragédia do Holocausto”. O primeiro-ministro
israelita, Ehud Barak, descreveu a visita como “o clímax de uma jornada
histórica de cura”.
Na
mesma viagem, João Paulo II entrou nos territórios palestinos para se
encontrar comYasser Arafat. Ele também parou no campo de
refugiados Deheisheh, onde disse: “Durante o meu pontificado senti-me
próximo ao povo palestino em seu sofrimento”.
Certamente
a viagem teve os seus defeitos. O mais explosivo ocorreu durante um
encontro inter-religioso, no Centro Notre Dame, em Jerusalém, quando um
rabino e um xeique entraram em uma discussão violenta.
No
entanto, tomada como um todo, a viagem simbolizou uma das conquistas
mais marcantes do pontificado de quase 27 anos de João Paulo. Ele
conseguiu revolucionar a relação da Igreja com o Judaísmo e Islamismo
ao mesmo tempo.
1. João Paulo II, Polônia, 2 a 10 de junho de 1979
O
papa polonês faria oito viagens à sua terra natal, incluindo três antes
da queda do Muro de Berlim. Cada um desses retornos ajudou a ajeitar
os dominós que despencavam em direção ao colapso do império soviético,
mas o primeiro deles foi central. Quando o avião de João Paulo II
desembarcou no aeroporto de Okecie, em 2 de junho de 1979, os sinos das
igrejas soaram em todo o país, um sinal inequívoco de que os esforços
para erradicar a identidade comunista da Polônia católica haviam
falhado. João Paulo falou para toda a nação, fazendo 32 discursos em
nove dias, e foi inundado por multidões de adoradores em todo lugar que
ia.
O
comentarista polonês Bogdan Szajkowski disse que a viagem foi “um
terremoto psicológico, uma oportunidade de catarse política para as
massas”. Vaclav Havel, mais tarde, chamou-a de “milagre”, argumentando
que a viagem foi a mais importante inspiração para a resistência
antissoviética do que qualquer outro líder ocidental já havia feito.
O
momento icônico aconteceu durante uma missa na Praça da Vitória, em
Varsóvia, na qual João Paulo II rezou em voz alta: “Que o vosso
Espírito desça e renove a face da terra… a face desta terra”. Essa
frase se tornou um lema não-oficial do movimento Solidariedade, que
nasceu um ano depois.
O
cardeal Stanislaw Dziwisz, de Cracóvia, antigo secretário de João
Paulo, resumiu a experiência da seguinte forma: “Hoje, sem dúvida,
podemos dizer que a sua primeira peregrinação à Polônia foi a mais
importante de todas as viagens papais, porque iniciou um processo
incrível de mudanças em nível global”, afirmou em 2009.
Destaques extras
Aqui estão mais oito viagens que eu decidi, por razões diversas, não cortar.
1.
Bento XVI, Estados Unidos, 15 a 21 abril de 2008: Marcando a primeira
vez que um papa se encontrou com vítimas de abuso sexual, a viagem
dimensionou publicamente o engajamento de Bento XVI na crise.
2.
João Paulo II, Chile, abril de 1987: O momento icônico da viagem foi
quando João Paulo II e Augusto Pinochet estiveram de pé, juntos, na
varanda do Palácio de La Moneda, em Santiago. Críticos dizem que foi uma
postura ambivalente diante de ditadores latino-americanos. Defensores
chamam de triunfo da diplomacia, já que, depois da visita a Pinochet,
começou uma transição para um regime democrático.
3.
Paulo VI, Irã, Paquistão, Filipinas, Ilhas Samoa, Austrália,
Indonésia, Hong Kong e Sri Lanka, 26 de novembro a 5 de dezembro de
1970: As viagens anteriores de Paulo tinham sido tanto para lugares
espiritualmente evocativos (Terra Santa,Fátima) quanto para países de
maioria cristã. Nessa viagem, ele estabeleceu um precedente de
divulgação para o mundo inteiro, incluindo o Islã e as grandes
religiões da Ásia.
4.
Bento XVI, Reino Unido, 16 a 19 setembro de 2010: De todas as viagens
papais, foi a que mais surpreendeu com vibrações positivas em
comparação com o fracasso que se previa de antemão.
5.
João Paulo II, Zaire, Congo, Quênia, Gana, Burkina Faso, Costa do
Marfim, 5 a 12 maio de 1980: A primeira viagem papal à África provocou o
crescimento e o dinamismo da igreja africana no mapa. Também teve como
destaque a imagem João Paulo com um cocar de penas de avestruz,
segurando uma lança e um escudo, sentado em um tambor coberto de pele de
leopardo.
6.
João Paulo II, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, 11 a 21 maio de 1985: A
rancorosa viagem para a Holanda refletiu as divisões na Igreja
pós-Vaticano II. Assim como João Paulo II foi saudado por uma morna
multidão em alguns lugares, foi também recebido por furiosos protestos
em outros. Comentaristas apelidaram de “a pior viagem” do seu
pontificado. Um deles escreveu: “Nunca antes as ruas estiveram tão
vazias, e os atiradores de pedras, tão perto.”
7.
João Paulo II, Irlanda e Estados Unidos, 29 de setembro a 8 de outubro
de 1979: Entre outras coisas, a viagem passou a simbolizar a
fermentação das mulheres no catolicismo, quando a Irmã da Divina
Misericórdia, Teresa Kane, discursou para o papa naUniversidade
Católica, pedindo que as mulheres fossem “incluídas em todos os
ministérios da igreja”.
8.
João Paulo II, Cazaquistão e Armênia, 22 a 27 setembro de 2001: Apenas
11 dias depois do 11 de setembro, muitos observadores do Vaticano
supuseram que a viagem para Cazaquistão – nação com maior número de
muçulmanos por metro quadrado, como noAfeganistão, onde as bombas
americanas estavam prestes a cair – seria cancelada como uma medida de
segurança. Em vez disso, imagens impressionantes de solidariedade foram
registradas, incluindo uma multidão de muçulmanos indo à missa campal
do papa em Astana.
Atentados e segurança
Aqui
vai uma observação final sobre viagens papais. Puramente baseado em
experiências do passado, um dos destinos mais perigosos para qualquer
papa visitar é Manila. Até agora, houve três visitas papais e duas
tentativas de assassinato.
Em
1970, um pintor surrealista boliviano chamado Benjamin Mendoza y Amor
vestiu uma batina e tentou esfaquear Paulo VI com um punhal,
protestando contra o que descreveu como “ignorância e hipocrisia” da
religião.
Em
1995, um esquema para matar João Paulo II, projetado por Ramzi Yousef,
um islâmico radical e uma das figuras-chave no atentado de 1993
ao World Trade Center, deu errado.
Digo
isso porque continua havendo especulação, nas Filipinas, sobre uma
possível visita de Bento XVI, o que certamente torna a vida
interessante do ponto de vista da segurança.
Fonte: http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/
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