ZP11082605 - 26-08-2011
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Cada 11 semanas, morre 10% da população somali menor de 5 anos
ROMA, sexta-feira, 26 de agosto de 2011 (ZENIT.org)
– Pouco mais de um mês após o dramático apelo lançado por Bento XVI, no
domingo, 17 de julho, por ocasião da oração mariana do Ângelus,
continua a catástrofe humanitária no Chifre da África, particularmente
na já martirizada Somália: depois do Bakool Meridional e da Baixa
Shabelle (especialmente os distritos de Balcad e Cadale), a de Benadir,
que compreende a área da capital Mogadíscio, e o chamado corredor de
Afgoye.
E tudo indica que as coisas não mudarão muito. “Não
cometamos o erro de acreditar que o pior já passou, advertiu em Genebra o
porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados
(UNHCR), Adrian Edwards (Agência EFE, 12 de agosto). “A
situação não melhorará, pelo menos até janeiro”, confirmou, por sua vez,
a coordenadora das intervenções humanitárias da Fundação Cooperação
Internacional (COOPI) na Somália, Gemma Sammartin (Repubblica.it, 4 de agosto).
A emergência se estende também ao norte da Somália, em particular ao
Puntland, ou seja, à região semi-autônoma que forma a ponta extrema da
África Oriental. “As populações perderam 85% do gado pela seca e a
porcentagem de desnutrição aguda chegou a 25% nos campos de refugiados
de Bosaso, e a 23,6% na região do Karkaar”, declarou Daniele Timarco, de
Save the Children Italia.
Segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), disponíveis em seu site (www.unicef.it,
17 de agosto), pelo menos 12,4 milhões de pessoas afetadas pela seca
nos quatro países têm “necessidade imediata, urgente de ajuda
humanitária”. As estimativas falam, de fato, de 4,8 milhões no leste da
Etiópia, 3,7 milhões na Somália (das quais 2,8 milhões no sul do país),
outros 3,7 milhões no nordeste do Quênia e, finalmente, 165 mil no
pequeno Jibuti.
Ainda segundo a UNICEF, somente na Somália, 1,85 milhões de crianças
precisam de assistência e mais de 780 mil estão desnutridas – 640 mil
nas áreas meridionais. Deste último grupo, 310 mil crianças – isto é,
quase a metade – sofrem de desnutrição aguda grave. Em todo o Chifre da
África, 600 mil crianças se encontram em perigo imediato de morte, ao
serem afetadas pela desnutrição grave. “Calcula-se – lê-se no Situation Report da Cáritas Somália, enviado à agencia Fides (20 de agosto) – que, a cada 11 semanas, morre 10% da população somali abaixo dos 5 anos.”
Enquanto isso, prossegue o êxodo dos refugiados. Os dados do UNHCR,
que na semana passada havia criado um novo site para a emergência no
Chifre da África [1], impressionam. Basta pensar na situação de Dadaab, a
empoeirada cidade do nordeste do Quênia que acolhe atualmente o maior
complexo de campos de refugiados. Segundo estimativas da agência da ONU,
os diversos campos de Dadaab – Ifo, Dagahaley e Hagadera, mais a
chamada "Extension Ifo", com os setores Ifo 2 e Ifo 3 – acolhem quase
440 mil refugiados somalis, um número de habitantes de cidades italianas
como Bari (320 mil). Fugindo da carestia, da seca e da violência em seu
país, atualmente mais de 140 mil somalis chegaram este ano ao Quênia,
dos quais 700 mil nos meses de junho e julho (www.unhcr.it, 19 de agosto).
A constante afluência de refugiados coloca as agências humanitárias
diante de uma imensa tarefa. A situação higiênica e sanitária nos campos
superpopulados está frequentemente no limite, com todas as
consequências, como demonstra o aparecimento de doenças como o cólera, o
sarampo e a coqueluche. No complexo dos campo de Dollo Ado (Etiópia),
por exemplo, foram registrados, segundo o UNHCR, 166 casos suspeitos de
sarampo e 15 falecimentos ligados a esta doença.
Para enfrentar esta enésima emergência, as agências internacionais
lançaram uma série de programas de vacinação massiva. Precisamente no
complexo Dollo Ado, concluiu na semana passada, no campo de Kobe, uma
primeira campanha de imunização contra o sarampo em todas as crianças na
faixa dos 6 meses aos 15 anos, e se colocou em marcha uma segunda em
Melkadida, que, com seus 40 mil prófugos, é a maior região da Etiópia.
Outro desafio para os agentes humanitários é a contínua violência. Na
sexta-feira, 5 de agosto, um tiroteio ocorrido durante a distribuição
de alimentos no maior campo de refugiados da capital somali, Mogadíscio
(Badbado), provocou 12 vítimas. Segundo algumas testemunhas, a violência
começou quando soldados governamentais ou milicianos próximos do fraco
governo de transição tentaram roubar uma parte das quase 300 toneladas
de ajuda do Programa Alimentar Mundial (WFP). O primeiro-ministro
somali, Abdiweli Mohamed Ali, visitou o lugar e se declarou
“profundamente incomodado” (guardian.co.uk, 5 de agosto).
Violência e abusos afetam também os prófugos somalis, que, depois de
terem caminhado durante dias e noites inteiras, conseguem chegar aos
campos do Quênia e da Etiópia. Um novo informe de Human Rights Watch (HRW), divulgado neste mês com o título “You Don't Know Who to Blame”. War Crimes in Somalia [2],
denuncia abusos contra os direitos humanos, cometidos inclusive por
parte das tropas do AMISOM (a missão da União Africana na Somália) e da
polícia do Quênia. Não faltam notícias sobre as mulheres somalis
estupradas em Dadaab e nas proximidades por policiais quenianos.
Um capítulo à parte são os combatentes do movimento islâmico
extremista al-Shabab, que se retiraram de Mogadíscio, permitindo às
tropas governamentais que estendessem o controle a toda a capital, que,
segundo estimativas, acolhe cerca de 475 mil refugiados internos, dos
quais 100 mil chegaram nos últimos meses. “Eu me pergunto se a de Chabab
não é uma retirada estratégica para fazer confluir em Mogadíscio as
ajudas humanitárias, para depois voltar de repente e tomar uma parte, ou
talvez seus dirigentes tenham advertido a fortíssima pressão
internacional (…) e tenham decidido deixar temporalmente a cena da
capital somali”, explicou a Fides (8 de agosto) Dom Giorgio Bertin, bispo de Jibuti e administrador apostólico de Mogadíscio.
A ONG americana International Christian Concern (ICC), que
denuncia a perseguição dos cristãos no mundo, acusa, por outro lado, os
milicianos de al-Shabab de negar deliberadamente, aos cristãos que moram
nos territórios controlados por eles, o acesso às ajudas ou a
possibilidade de fugir a regiões sob controle governamental, um
movimento que faz parte de uma estratégia para erradicar o cristianismo
da Somália. “Qualquer somali suspeito de ser cristão ou amigo de um
cristão não recebe ajuda humanitária alguma”, afirmou o chefe de uma
igreja clandestina (ICC, 15 de agosto). Segundo fontes locais, pelo
menos 18 cristãos morreram de inanição nas cidades de Afgoye, Baidawa e
Kismayo, após terem sido excluídos das ajudas humanitárias.
Como se sabe, os al-Shabab, que no último verão vetaram três agências
humanitárias cristãs, acusando-as de ser missionárias, mostraram-se
sempre ferozes diante dos cristãos. Basta recordar as impactantes
imagens da degolação, em 2008, de um convertido ao cristianismo, o jovem
de 25 anos Mansur Mohammed, por parte dos milicianos islâmicos.
Enquanto isso, a comunidade cristã internacional mantém, junto às
demais agências humanitárias, seu compromisso a favor das populações
afetadas. Enquanto a Cáritas Somália está coordenando as ajudas
procedentes das demais cáritas do Mundo, a organização católica
irlandesa Trócaire assiste cerca de 220 mil pessoas no centro-sul da Somália (Fides, 20 de agosto). Por outro lado, os bispos católicos do Quênia lançaram, há algumas semanas, um fundo de emergência – o Catholic Charity Emergency Fund – e dirigiram um apelo para contribuições a favor desta iniciativa (Fides, 4 agosto).
Em nome do Papa Bento XVI, o Conselho Pontifício Cor Unum
enviou uma “substanciosa ajuda” a 5 dioceses do Quênia e a 6 dioceses da
Etiópia, que “estão enfrentando a emergência humanitária com os poucos
meios que têm à sua disposição. Quem fez esta declaração foi o
secretário do dicastério, Dom Giampietro Dal Toso, em uma entrevista à Radio Vaticano
(12 de agosto). “A presença da comunidade internacional está garantida,
mas repito: acho que a atenção deve estar sempre disposta, porque
atualmente é a crise financeira que ocupa a maior parte da informação.
Mas nesses países e em muitos outros do mundo, existem pessoas que
morrem de fome, e no terceiro milênio isso é inadmissível”, afirmou o
prelado.
[1] http://data.unhcr.org/horn-of-africa/
[2] http://www.hrw.org/sites/default/files/reports/somalia0811webwcover.pdf
(Paul De Maeyer)
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