ZP11082510 - 25-08-2011
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David Cameron: os saques são “uma chamada de atenção”
Por Paul De Maeyer
ROMA, quinta-feira, 25 de agosto de 2011 (ZENIT.org)
– A morte de um jovem de 29 anos, Mark Duggan, no bairro londrino de
Tottenham, quando a polícia tentava prendê-lo, provocou uma onda
preocupante de saques na noite de 6 de agosto, que se espalharam da
capital britânica para outras grandes cidades da Inglaterra como
Birmingham e Manchester. O caos terminou com 5 vítimas. A polícia
prendeu 2.772 pessoas, das quais 1.400 foram acusadas (BBC, 15 de agosto). Segundo as estimativas da Associação das Seguradoras Britânicas (ABI, em inglês), os danos superam 200 milhões de libras esterlinas (Business Insurance, 15 de agosto).
As imagens da guerrilha urbana suscitaram reflexão sobre as suas
causas. Não faltam os que acusam a política de coalizão entre
conservadores e liberal-democratas, do primeiro-ministro David Cameron,
que lançou um duro plano de austeridade para conter o déficit de 156
milhões de libras. Mas, apesar do corte orçamentário de 75% nos projetos
juvenis, tudo indica que os verdadeiros motivos dos enfrentamentos têm
outra origem. “As declarações de alguns políticos (…) de que as
desordens se devem aos cortes são grotescas”, escreveu Philip Johnston
no Telegraph (9 de agosto).
Em discurso de 15 de agosto, Cameron foi taxativo. “A sociedade despedaçada ocupa o primeiro lugar na minha agenda” (BBC, 15 de agosto). Definindo os enfrentamentos como uma “chamada de atenção”, o premier
identificou as causas dos enfrentamentos num “colapso moral” da
sociedade britânica, expressão que já tinha usado em novembro de 2007,
ainda na oposição, para descrever sua estratégia de combate à crescente
mentalidade violenta do país.
“Os problemas sociais incubados durante décadas estão explodindo na
nossa cara”. Cameron declarou “guerra total” à cultura das gangues
juvenis, definindo-a como uma “doença criminosa”. Segundo o Specialist Crime Directorate da Scotland Yard, Londres tem hoje 257 “street gangs” (The Telegraph,
10 de agosto). Cameron pretende estender e tornar obrigatório o Serviço
Nacional Civil (NCS), um programa que oferece aos jovens de 16 anos a
possibilidade de realizar atividades sadias de grupo ou um período de
voluntariado. O objetivo é fazer com que os jovens “se comprometam com
as suas comunidades e se tornem cidadãos ativos e responsáveis”.
Na lista de Cameron das coisas que vão mal na sociedade britânica, o
fenômeno das numerosas crianças obrigadas a encarar a vida sem pai ou
sem o modelo de um homem adulto está entre os primeiros lugares. Grande
parte dos saqueadores eram muito jovens: houve casos de crianças de 8
anos. Os enfrentamentos de Tottenham e Croydon evidenciam as
consequências nefastas da desagregação da família, que se traduziu no
emergir de uma geração de jovens que não têm nenhuma restrição moral.
Joanna Bogle (MercatorNet, 12 de agosto) também vê no
colapso da família tradicional uma das causas principais dos saques. “A
promoção das famílias sem pai virou a posição politicamente correta em
matéria de política social”. “Se você sugerir que as crianças prosperam
quando têm pai e mãe unidos e dedicados à vida da família, vai ser
ridicularizado”. Bogle recorda que desde os anos 60 a porcentagem de
bebês nascidos fora do casamento subiu de 5% para mais de 40% na
Grã-Bretanha.
Melanie Phillips emprega palavras parecidas no Daily Mail de
11 de agosto. “A família formada por dois progenitores casados, a
meritocracia educativa, o castigo dos criminosos, a identidade nacional,
a aplicação de leis sobre as drogas e muitas outras das convenções mais
fundamentais foram destruídas por uma inteligência liberal decidida a
transformar a sociedade de forma revolucionária”, explica Phillips. A
autora se “atreve” a propor “uma volta à transmissão enérgica da moral
bíblica” e diz que há áreas inteiras na Grã-Bretanha onde os pais que se
dedicam ao crescimento dos filhos são um fenômeno “completamente
desconhecido”. Para Phillips, um papel importante neste desenvolvimento
negativo foi desempenhado pelo estado de bem-estar, o “Welfare State”,
que “tolerou, fomentou e premiou” a desintegração da família.
Também Frank Furedi, no site Spiked (15 de agosto), afirma
que o bem-estar britânico, generoso em excesso, contribuiu para o
nascimento de uma verdadeira e própria cultura do assistencialismo. “Na
Grã-Bretanha, o assistencialismo se transformou numa cultura que
incentiva as pessoas a considerar a sua situação não como uma fase
temporária, e sim como um estilo de vida”. Segundo Furedi, o
intervencionismo estatal acelerou a erosão da vida comunitária e a
fragmentação social.
Ainda em Spiked (9 de agosto), Brendan O'Neill observa outro
elemento característico dos últimos enfrentamentos: a violência não
teve natureza política, mas criminosa. “Não foi a difusão da raiva o que
levou à explosão da revolta (…), mas a crescente convicção de que o
saque é uma atividade emocionante e de baixo risco”, explica O'Neill,
que também critica o “kid-glove approach” (“tratamento com luvas
brancas”) que as autoridades e a polícia deram aos vândalos. Os jovens,
sugere ele, sabem que escaparão ilesos das consequências.
Suas palavras parecem confirmar algumas declarações por parte dos
jovens envolvidos nos saques. "Vocês não podem encostar em mim, eu ainda
sou uma criança", disse um de 15 anos (The Daily Mail, 11 de
agosto). "Que de pior podem me fazer? Dar-me um aviso ou impor um toque
de recolher que eu não vou obedecer", continuou o adolescente em tom de
deboche. Para muitos jovens, os saques foram uma forma divertida de
passar uma tarde de verão.
A natureza consumista dos confrontos chocou a opinião pública
britânica. A raiva alegada pela morte de Duggan parece ser apenas um
pretexto fácil para comprar sem pagar, roubar equipamentos eletrônicos,
peças de alto valor, álcool, etc... Um usuário do Twitter, Arneybolt,
comentou: "Os jovens do Oriente Médio lutam pela liberdade e os direitos
humanos, a juventude de Londres por TV’s de plasma e celulares caros",
escreveu (The Age, 10 de agosto).
O arcebispo de Westminster, Dom Vincent Nichols, definiu os confrontos e os saques como "chocantes" (The Catholic Herald,
10 de agosto). "São o desprezo pelo bem comum de nossa sociedade e
mostram quão facilmente os princípios fundamentais de respeito e
honestidade são deixados de lado" – disse o prelado –, que afirmou que
"a violência criminal e os roubos que vimos devem ser condenados".
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