Artigo publicado no jornal "A Folha da Manhã", Campos, no dia 19 de maio de 2010, quarta-feira.
Como meio de encontrar remédios para a atual crise na Igreja, continuemos a analisar as causas do problema apontadas pelo Papa Bento XVI, em sua carta pastoral aos católicos da Irlanda. Hoje examinaremos, com o Papa, a terceira e quarta causa dos abusos.
3ª) “Com freqüência as práticas sacramentais e devocionais que sustentam a fé e a tornam capaz de crescer, como, por exemplo, a confissão freqüente, a oração quotidiana e os retiros anuais, não foram atendidos”.
Muitas vezes o que temos é uma religião meramente superficial. E, como disse bem o Documento de Aparecida: “Não resistiria aos embates do tempo uma fé católica reduzida a uma bagagem, a um elenco de algumas normas e de proibições, a práticas de devoção fragmentadas, a adesões seletivas e parciais das verdades da fé, a uma participação ocasional em alguns sacramentos, à repetição de princípios doutrinais, a moralismos brandos ou crispados que não convertem a vida dos batizados. Nossa maior ameaça ‘é o medíocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja, no qual, aparentemente, tudo procede com normalidade, mas na verdade a fé vai se desgastando e degenerando em mesquinhez’ (Ratzinger, Situação atual da fé e da teologia)” (n. 12).
4ª) “O programa de renovação proposto pelo Concílio Vaticano II por vezes foi mal compreendido e na realidade, à luz das profundas mudanças sociais que se estavam a verificar, não era fácil avaliar o modo melhor de o realizar”.
Muitos não entenderam ou entenderam mal o “aggiornamento” desejado pelo Papa Beato João XXIII. Daí que o verdadeiro Concílio Vaticano II foi por muitos substituído pelo “espírito do Concílio”, em nome do qual tudo era permitido.
Vale ouvir o lamento do Papa João Paulo II: “É necessário admitir realisticamente e com profunda e sentida sensibilidade que os cristãos hoje, em grande parte, sentem-se perdidos, confusos, perplexos e até desiludidos; foram divulgadas prodigamente ideais contrastantes com a Verdade revelada e desde sempre ensinada; foram difundidas verdadeiras heresias, em campo dogmático e moral, criando dúvidas, confusões e rebeliões; alterou-se até a Liturgia; imersos no relativismo intelectual e moral e, por conseguinte, no permissivismo, os cristãos são tentados pelo ateísmo, pelo agnosticismo, pelo iluminismo vagamente moralista, por um cristianismo sociológico, sem dogmas definidos e sem moral objetiva” (Discurso aos congressistas de “Missão ao povo para os anos 80”, de 06/02/1981).
Seria a “fumaça de satanás penetrando no templo de Deus”, a Igreja, causando sua “autodemolição”, como lamentava o Papa Paulo VI (Alocuções de 7/12/1968 e 29/6/1972).
Mas o pecado de alguns exige a reparação de todos. A vigilância, a seriedade, a oração e a penitência são os remédios indicados.
Dom Fernando Arêas Rifan
Bisbo Titular de Cedamusa
Administrador Apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
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