sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Uma visão crítica da História da Igreja

A História da Igreja não pode ser equiparada à de outra sociedade. Com efeito; sabemos que a Igreja não é apenas a soma de seus membros, mas é o corpo de Cristo prolongado através dos séculos (1 Cor 12,12-21) (Cl 1,24); é a continuação do mistério da Encarnação, pelo qual Deus quis revelar-se e também ocultar-se mediante nossa fragilidade, a fim de comunicar sua santidade aos homens. Conseqüentemente na História da Igreja vamos encontrar façanhas de enorme brilho (como a evangelização dos Bárbaros, a preservação e a transmissão da cultura antiga, os gestos dos mártires, dos missionários, dos heróis da fé) como também nos defrontamos com momentos difíceis, como foram os séculos X e XVI. A sucessão ou a simultaneidade de luz e sombras não surpreende o estudioso Cristão; para este, aliás, e também para o não Cristão, o fato de que a Igreja até hoje subsiste cheia de vitalidade apesar do contra-testemunho de muitos filhos seus, é o sinal mais evidente de que Deus, e não os homens, sustenta a Igreja.

Os bons mestres, à revelia dos inovadores, sempre fizeram questão de dizer que a Igreja não consta apenas de santos, mas que nela existirão até o fim dos tempos justos e pecadores, como o próprio Senhor predisse na parábola do joio e do trigo (Mateus 13,24-30). Fato interessante: nos períodos mais dolorosos da sua história, a Igreja encontrou o vigor da renovação em seu próprio bojo, ou seja, na santidade dos seus membros que se dedicaram à oração e à pureza de vida; foram os Santos que, suscitados oportunamente por Deus, restauraram o fulgor da Santa Mãe Igreja.

O estudo da História da Igreja deve decorrer do Amor à Igreja e levar a um aumento desse Amor. Diz a sabedoria popular: “Ninguém ama o que não conhece” por isto também mais amará a Igreja aquele Cristão que sabiamente a estudar em sua história bimilenar. Não se pode menosprezar o passado, pois é nele que estão as raízes do presente e do futuro; a história vem a ser uma escola que nos ensina a viver melhor hoje e a preparar o porvir da humanidade. Todo edifício deve ter sua base para se equilibrar; toda renovação supõe o conhecimento daquilo que a precedeu: “O verdadeiro progresso jamais condena as suas fases anteriores; passa de um bem para outro melhor, sem, porém, considerar um mal aquilo que antigamente era um bem”.

Aliás, a história dilata os horizontes, abre panoramas novos. Em particular, o estudo da história exige conhecimentos de Geografia e de História gerais, sem os quais o estudioso se sentiria desorientado.


A História Universal foi dividida pelos Renascentistas dos séculos XV e XVI em Antiga, Medieval e Moderna. Os Historiadores da Igreja, a partir do século passado, adotaram esta distribuição, que continua em voga até hoje, com o acréscimo de mais um período: o Contemporâneo.

As razões para assim dividir a História da Igreja são válidas: 1) a mudança de cenário e de cultura acarretada pela invasão dos povos Germânicos na Europa dos séculos V e VII foi pondo termo à Idade Antiga; convencionalmente dizemos que em 692, data do Concílio regional de Trulos II, começa a Idade Média; 2) o renascimento das idéias e da cultura Greco-Romana no século XV, bem como a Reforma Protestante e a descoberta de novos continentes, dão orígem a nova fase da História, a Idade Moderna, que convencionalmente começa em 1450; 3) o Tratado do Latrão entre a Santa Sé e o governo Italiano assim como os rápidos progressos das ciências e da técnica no século XX obrigam a assinalar o início de nova Idade, a Contemporânea, em 1929.


Jaime Francisco de Moura – Livre para cópia e Difusão

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