terça-feira, 17 de abril de 2012

O mundo e a luta por valores



                          (Jornal do Brasil – País – Sociedade Aberta  - 02/03/2012)
Não é a primeira vez, nestes 20 séculos, que a Igreja Católica parece perder relevância,
fiéis e atualidade na mensagem. Isso aconteceu na queda do Império Romano do
Ocidente (476 DC) e do Oriente (1453 DC), na invasão da Europa pelos mouros (711 DC),
na invasão dos povos bárbaros, na crise da Renascença, com o aparecimento dos diversos
ramos do protestantismo (Lutero, Calvino, Zwinglio), no Iluminismo, nas Revoluções
Francesa, Mexicana ou Espanhola, na perda dos Estados Pontifícios e mesmo durante a
Segunda Grande Guerra.
Voltaire tinha certeza de que acabaria com a religião católica, e Nietzsche proclamava
que Deus morrera. Tem, porém, sempre ressurgido com força maior e com santos
renovadores, como São Francisco de Assis, São Bernardo, Santo Inácio de Loyola, São
José Maria Escrivá, mostrando a permanência de uma mensagem que não necessita de
marketing, pois penetra no íntimo dos homens de boa vontade, dispostos a viver valores
familiares, profissionais e sociais.
Mesmo a grande crítica que se fez à Idade Média não se sustenta, se tivermos presente
que, graças à Igreja Católica, criou-se o maior instrumento de cultura da civilização
ocidental, que é a Universidade. Quase todas as ciências evoluíram a partir de cientistas
sacerdotes, desde a astronomia à física, matemática ou genética.
O próprio processo de Inquisição – a história demonstra que o número de condenados em
séculos de Inquisição foi muito menor do que os mortos em qualquer batalha sem
expressão daquela época – permitiu a evolução do direito processual moderno, com a
eliminação das ordálias, substituídas pelo contraditório.
O certo é que a Igreja Católica tem conhecido um renascer fantástico, como as últimas
jornadas da juventude em Madri demonstraram.
Por outro lado, as figuras dos dois últimos papas (João Paulo II e Bento XVI), quando se
pensava que a Igreja Católica estaria desaparecendo, levaram e levam multidões, que
acolhem com entusiasmo a figura de Sua Santidade por onde passa.
É bem verdade que vivemos período de múltiplos choques, que procurei retratar no meu
livro A era das contradições. Hoje, o egoísmo e a autorrealização, alimentados por uma
expansão da desfiguração familiar, do avanço das drogas, da corrupção e da falta de
fidelidade, tanto na família como nos negócios, fizeram com que muitos se afastassem
da religião católica, que não transige no que há de permanente em seus valores.
O homem tem, todavia, uma necessidade fantástica de Deus e, quando não busca o
verdadeiro, elege outros deuses, como ocorreu com o nacional-socialismo ou os deuses
do cotidiano (dinheiro, sexo, poder, drogas etc.).
Tal choque entre o mundo das virtudes e o mundo do  egocentrismo é algo que
permanecerá até o fim dos séculos. Mas, como as estações se renovam, renova-se, de
igual forma, a mensagem de Cristo, que se torna sempre nova, apesar de seus 2.000
anos. Esta é a razão pela qual, nada obstante as críticas e ataques que recebe de todos
os lados, a nave da Igreja singra buscando os homens, não como uma empresa busca
clientes, mas, desinteressadamente, para que encontrem um sentido de vida que lhes dê
a verdadeira dimensão da existência.

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