terça-feira, 17 de abril de 2012

Politicamente correto




Pero Vaz de Caminha e Padre Anchieta têm de ser proibidos nas escolas e banidos das bibliotecas!!!

Como vocês sabem, o Brasil é um país laico. Devemos seguir os bons exemplos que se espalham pelo mundo, nas pegadas desta ONG neoiluminista chamada “Gherush92″, que quer proibir que se ensine a “Divina Comédia” na Itália porque o livro seria “homofóbico, islamofóbico e anti-semita”, e também do Conselho das Magistratura do Rio Grande do Sul, que considera que a exposição de um crucifixo num tribunal vem carregada daqueles valores cristãos que tornam desiguais os homens e promovem a injustiça.
Ora, escolas, especialmente as públicas, são espaços coletivos, onde deve prevalecer a diversidade. Assim, todos os sinais, em qualquer tempo, de que uma religião predominou sobre as outras — afinal, por qual direito divino, por exemplo, o Brasil do século 16 teve uma colonização cristã e não islâmica? — devem ser banidos do ensino em nome da igualdade. Deve ser terminantemente proibido que se mencionem nas escolas alguns textos. Ao longo do dia, eu os citarei e direi por quê.
Começando do começoA Carta de Pero Vaz de Caminha, primeiro documento escrito em solo brasileiro, tem de ser banida. Fica evidente, como diria hoje em dia um intelectual petista, que o autor puxa a brasa para a sua sardinha — se me permitem empregar um clichê que guarda relação com a culinária portuguesa.
No momento mais perverso da Carta, Caminha sugere que os índios estão naturalmente vocacionados para o cristianismo, o que contraria a moderna antropologia. O fato de Caminha ter escrito aquilo no último ano do século 15, não no 20, não deve intimidar as pessoas que lutam por igualdade, diversidade cultural e um mundo mais justo. Diz Caminha ao Rei Dom Manuel, que tinha três penas no chapéu:“Chantada a Cruz, com as armas e a divisa de Vossa Alteza, que primeiramente lhe pregaram, armaram altar ao pé dela. Ali disse missa o padre frei Henrique, a qual foi cantada e oficiada por esses já ditos. Ali estiveram conosco a ela obra de cinqüenta ou sessenta deles, assentados todos de joelhos, assim como nós.
E quando  veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram conosco e alçaram as mãos, ficando assim, até ser acabado; e então tornaram-se a assentar como nós. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim todos, como nós estávamos com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados, que, certifico a Vossa Alteza, nos fez muita devoção.”
Tinha início ali, é bom que se diga, uma história de domínio de uma cultura sobre a outra, com base numa pretensa superioridade. Mais: sabe-se que a presença portuguesa no Brasil deriva da expansão mercantil, que trazia mais do que a semente — em certo sentido, era mesmo a sua essência — do capitalismo. À medida que a mercantilização —- em sentido pleno — invadiu aquilo que de mais próximo se conheceu do paraíso edênico, estavam abertas as portas para o genocídio.
É bem verdade que se produziu cultura antes da chegada dos portugueses e de que há sinais de que os tupis esmagaram povos primitivos, mas isso deve ser conversa dessas revisionistas que insistem em negar o caráter originalmente pacífico e absolutamente integrado à natureza dos povos aqui encontrados pelos portugueses…
Padre AnchietaJá está claro por que se deve proibir a Carta de Caminha nas escolas. Mas a correção dos desvios cristãos do ensino não deve parar por aí. Mais do que Caminha, Padre Anchieta tem der eliminado até das nossas bibliotecas. O leitor encontra, por exemplo, o Auto de São Lourenço na Internet. Peça de teatro de intenção didática e criada como instrumento da catequese, Anchieta representa os demônios como índios. O “bem”, claro!, é português e cristão. Foi o precursor do método de alfabetização de Paulo Freire no Brasil, só que do lado errado! Este grande e maravilhoso educador de esquerda queria passar conceitos revolucionários e socialistas enquanto alfabetizava; Anchieta pretendia cristianizar os índios, quando o certo, obviamente, seria mostrar a grandeza antropológica do canibalismo aos portugueses.
Olhem como Anchieta é perverso no trecho que seleciono. Guaixará, o mal, vestido de índio, com um comportamento obviamente inconveniente, faz caricatura dos hábitos indígenas. Anchieta era um porco reacionário e cristão. Ter vivido no século 16 não o desculpa, não! Ele não respeitava a diversidade cultural.  Leiam:
GUAIXARÁ
Esta virtude estrangeira
Me irrita sobremaneira.
Quem a teria trazido,
com seus hábitos polidos
estragando a terra inteira?
(…)
Guaixará sou chamado.
Meu sistema é o bem viver.
Que não seja constrangido
o prazer, nem abolido.
Quero as tabas acender
com meu fogo preferido
Boa medida é beber
cauim até vomitar.
Isto é jeito de gozar
a vida, e se recomenda
a quem queira aproveitar.
Repararam? Anchieta põe na boca do demônio o que hoje poderia ser uma festa dos “progressistas” da USP, especialmente naquela parte de “beber até vomitar”! Vômito progressista, é evidente!
E estamos só no começo. Há muitas obras sendo ensinadas (em tese ao menos) nas escolas e que estão abrigadas nas bibliotecas que agridem a diversidade, fazem pouco caso do oprimido, referendam a superioridade da cultura cristã e não valorizam os movimentos de resistência.
Por Reinaldo Azevedo

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