04/12/2010
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma carta a Mahmoud Abbas
em que expressa apoio à campanha iniciada pelo presidente da Autoridade
Nacional Palestina (ANP) em favor da criação do estado palestino nas
fronteiras anteriores à guerra de 1967. Sei.
Levante
a mão quem é contra a criação do estado palestino. Deixe-me contar: há
apenas alguns extremistas judeus, o Hamas, o Irã… Quem mais? Hamas e
Irã? Sim, os terroristas que governam a Faixa de Gaza e os que governam o
Irã pregam a destruição de Israel. Na prática, isso quer dizer opor-se a
criação do estado palestino, e creio que eu não precise dizer por quê.
Os
termos da reivindicação são um tanto estranhos. Antes da guerra — e
Israel foi a vítima — a Faixa de Gaza era administrada pelo Egito, e a
Cisjordânia pertencia à Jordânia. No conflito, Israel também tomou da
Síria as Colinas de Golã e uma parte do deserto do Sinai, devolvido aos
egípcios em 1978.
Por
que a lembrança? Os países árabes que se alinharam em 1967 — Jordânia,
Síria e Egito, com o apoio da Arábia Saudita e do Iraque, entre outros —
não estavam lutando para criar o estado palestino coisa nenhuma, mas
para destruir Israel, o que Egito e Síria tentariam de novo em 1973,
avançando, respectivamente, sobre o Sinai e Golã. Foram novamente
rechaçados. Vale dizer: os dois países perderam os mesmos territórios
para Israel duas vezes — e, nos dois casos, eram os agressores. Não vale
dizer que, em 1967, Israel atacou primeiro, o que foi fato, porque se
tratou de uma antecipação à ação certa dos adversários, que estava sendo
meticulosamente preparada.
Não
é mera firula técnica, não! Ao se falar em voltar à fronteira de 1967,
tenta-se fazer de conta que Israel não teve de lutar duas guerras para
as quais foi provocado. Isso é fato. Não estou justificando a ocupação
de territórios ou dizendo que ela colabora para a paz. Mas vamos parar
com esse negócio de luta de mocinhos palestinos contra bandidos
israelenses. Há mais um pouco a dizer.
A
reivindicação de Abbas é uma pressão política compreensível. Poucos
países relevantes dizem “sim” — o Brasil está entre os muitos meio
irrelevantes — porque as coisas não são tão simples. Israel saiu de Gaza
— aliás, se há coisa que o Egito não quer, é retomar a fronteira de
1967, voltando a governar a região, não é mesmo? Aliás, o famoso
bloqueio é feito também pelos egípcios, coisa de que muita gente se
esquece. Mas voltemos: Israel saiu, o Hamas venceu as eleições e
aproveitou para botar para fora, na bala, os adversários internos do
Fatah, de modo que parte do chamado território palestino é comandado por
terroristas financiados pelo Irã. Um dos itens dos estatutos do Hamas é
destruir Israel; o outro, na prática, é governar o mundo, mas esse
segundo não deve ser levado muito a sério por enquanto…
Não
deixa de ser interessante — e inútil — que Abbas peça a volta à
fronteira de 1967 quando ele próprio, mesmo presidindo a ANP, não pode
pôr os pés em Gaza. Seus partidários do Fatah são tratados na base de
tiros no joelho e pernas e braços quebrados. São algumas das punições
que os humanistas do Hamas impõem a seus adversários palestinos. A gente
imagina o que gostariam de fazer com judeus.
A
ANP tem o governo de grande parte da Cisjordância, excetuando-se os
assentamentos, que são muitos. Eles terão de fazer parte de uma
negociação. E há Jerusalém, de que ninguém abre mão. Que o Brasil fosse
favorável à criação de um estado palestino, bem, isso não precisava ser
reiterado porque já oficialmente declarado, inclusive na visita de Lula a
Israel. O envio da carta, agora, é uma desnecessidade. Serve apenas
para Lula marcar posição e evidencia mais uma precipitação meio infantil
e marrenta de uma diplomacia que vive demonstrando por que não pode, de
fato!, estar no centro das decisões.
Falar
em “volta à fronteira de 1967″ corresponde a convidar Israel a esquecer
a história, o que país não vai fazer. Isso nada tem a ver com a
continuidade de assentamentos na Cisjordânia, por exemplo, o que é,
entendo, um erro brutal. Mas não será com uma pregação irrealista que se
vai chegar a algum lugar. O Brasil mete os pés pelas mãos ao enviar
essa carta. Só para não variar. O mapa do caminho é outro!
Por Reinaldo Azevedo
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