domingo, 26 de setembro de 2010

O homem moderno e a rejeição de Deus

19/01/2010 por Everth Queiroz Oliveira


Nestes últimos séculos tentou realizar a desagregação intelectual, moral, social, da unidade no organismo misterioso de Cristo. Ele quis a natureza sem a graça, a razão sem a fé; a liberdade sem a autoridade; às vezes a autoridade sem a liberdade. É um “inimigo” que se tornou cada vez mais concreto, com uma ausência de escrúpulos que ainda surpreende: Cristo sim, a Igreja não! Depois: Deus sim, Cristo não! Finalmente o grito ímpio: Deus está morto; e, até, Deus jamais existiu. E eis, agora, a tentativa de edificar a estrutura do mundo sobre bases que não hesitamos em indicar como principais responsáveis pela ameaça que pesa sobre a humanidade: uma economia sem Deus, um Direito sem Deus, uma política sem Deus”.

(Papa Pio XII, Alocução à União dos Homens da Ação Católica Italiana, 12 de outubro de 1952; via En Garde!)

A sociedade moderna experimentou, nos últimos séculos, algumas revoluções que contrariaram explicitamente com a moral exposta pela Santa Igreja Católica. Dom Estêvão Bettencourt afirmou que esses eventos foram os três NÃOs do homem a Deus.

- O primeiro NÃO foi dado à Igreja. Pio XII faz uma clara alusão, em seu discurso, à Reforma Protestante. Para Lutero, Calvino e outros reformistas, seria possível crer em Cristo sem crer na Igreja. Nada mais enganoso. O fato do Cânon das Escrituras ter sido estabelecido justamente pela Igreja Católica exige a fé também na Igreja. Mais que isso: Santo Agostinho chega a afirmar que, não fosse a autoridade da Igreja Católica, ele certamente não creria na Bíblia. Mas vem o protestantismo e tenta pregar uma realidade totalmente diferente daquela exposta pelos Santos Padres da Igreja: Não, dizem os rebeldes, nós não precisamos da Igreja, nem dos sacramentos, não precisamos de Tradição, nem de Magistério.

Lutero se rebelou contra o próprio Deus. A Bíblia põe como inseparável a união entre Cristo e a Igreja. Diz que Cristo é a cabeça da Igreja (cf. Cl 1, 18). A pergunta é: será possível amar a cabeça da Igreja sem amá-la inteira? Será possível amar a Cristo sem amar sua Esposa, santa e imaculada, a Igreja? Se a mentalidade contemporânea vai tendendo cada vez mais ao relativismo e àquela idéia errônea de que “qualquer religião salva”, grande é a responsabilidade do protestantismo. Ele introduziu – dentro do próprio cristianismo – uma idéia particularista do homem e uma concepção cômoda de salvação. Para salvar-se, basta que o homem aceite Jesus como seu Salvador. A necessidade da Igreja que foi constantemente proclamada por toda a Cristandade durante mais de dez séculos é uma grande farsa. O homem corta a cabeça da Igreja para si e despreza o Corpo.

- O segundo NÃO foi dado a Cristo. Não demorou muito para que o espírito do protestantismo se infiltrasse na sociedade daquele tempo. O homem virou a sua face à Igreja e agora despreza ao próprio Cristo; age, agora, com indiferença diante da Divindade. Despreza a Misericórdia de Deus que nos é dada no menino de Belém. O Papa Pio XII faz clara alusão à Revolução Francesa: os filósofos iluministas, inimigos da Igreja, passam a pregar um Deus criador, mas que não interfere na história. É um Deus que deixou o homem livre, à deriva. Negam-se, a partir dessa idéia, concepções fundamentais da nossa fé: o desprezo do dogma do pecado original e a necessidade do batismo para a salvação, além da reafirmação aquela idéia relativista de que não é preciso estar incorporado visivelmente a nenhuma instituição religiosa para se salvar. Basta crer em Deus. Cristo não importa.

O protestantismo desprezou o Corpo da Igreja. Para se desprezar a Sua Cabeça – Jesus Cristo – não precisa muito. A Revolução Francesa apenas “deu esse passo” e concretizou a rebelião protestante. Mas concretizou-a de uma forma violenta e opressiva. Hoje sabe-se que milhares de cristãos – em especial religiosos e sacerdotes – foram mortos na Revolução Francesa.

- O terceiro NÃO, por fim, foi dado ao próprio Deus. Nietzsche bradou: “Deus está morto”. Marx estabeleceu: “A religião é o ópio do povo”. Surge o comunismo. Regimes totalitários como o nazismo na Alemanha, o socialismo na Rússia, na China e em Cuba, cometem infames atrocidades contra o homem: calcula-se que foram mortos, pelos regimes socialistas, mais de 10 milhões de pessoas. Todos aqueles que não compactuavam com os pensamentos revolucionários marxistas eram mortos em nome de uma sociedade mais justa, onde o proletariado governaria e todos os problemas da humanidade – fome, miséria e desemprego – seriam solucionados.

E qual a relação entre todos esses crimes cometidos pelo socialismo e o ateísmo? Ora, negada a existência de Deus, negada também está a necessidade de nos submetermos aos ensinamentos do Altíssimo. Afirmado o materialismo, o homem não mais precisa considerar o outro como um limite a ser respeitado. Se a morte é o limite e o fim de nossa existência, então a nossa liberdade é drasticamente convertida em libertinagem.

As seqüelas dessas desgraças que a humanidade presenciou nos últimos séculos ainda se fazem sentir. Mas o homem precisa voltar a olhar para Deus, para Cristo, para a Igreja. Precisa voltar a cultivar o amor e a misericórdia pregadas pela religião e transformar todos os NÃOs dados pelo homem em obediência e solicitude. Maria, Mãe de Deus, é um perfeito exemplo de humildade: “Eis aqui a serva do Senhor” (Lc 1, 38). Possamos dizer com ela, ao Pai: Eis aqui, Senhor, Teu servo. Faça-se em mim segundo a Tua Palavra.

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