Escrito por R.J. Rummel
Quarta, 27 de Fevereiro de 2008 22:00
Com a queda da União Soviética e dos governos comunistas da Europa Oriental, a grande maioria das pessoas tem a impressão de que o marxismo, a religião do comunismo, está morto. Nada disso. O marxismo está bem vivo em muitos países hoje, tais como Coréia do Norte, China, Cuba, Vietnã, Laos, um grupo barulhento de países africanos e na mente de muitos líderes políticos da América do Sul. No entanto, o que é mais importante para o futuro da democracia é que o comunismo ainda polui o pensamento de uma vasta multidão de acadêmicos e intelectuais do Ocidente.
De todas as religiões, seculares ou não, o marxismo é de longe a mais sangrenta — mais sangrenta do que a Inquisição Católica, as várias cruzadas católicas e a Guerra dos Trinta Anos entre católicos e protestantes. Na prática, o marxismo significa terrorismo sanguinário, expurgos mortais, campos letais de prisioneiros e trabalhos forçados assassinos, deportações fatais, fomes provocadas por homens, execuções extrajudiciais e julgamentos “teatrais”, descarado genocídio e assassinatos em massa.
No total, os regimes marxistas assassinaram aproximadamente 110 milhões de pessoas de 1917 a 1987. Para se ter uma perspectiva desse incrível alto preço em vidas humanas, note que todas as guerras internas e estrangeiras durante o século 20 mataram 35 milhões de pessoas. Isso é, quando marxistas controlam países, o marxismo é mais mortal do que todas as guerras do século 20, inclusive a 1 e 2 Guerra Mundial e as Guerras da Coréia e do Vietnã.
E o que o marxismo, o maior dos experimentos sociais humanos, realizou para seus cidadãos pobres, nesse muitíssimo sangrento custo em vidas? Nada de positivo. Deixou em seu rastro desastres econômicos, ambientais, sociais e culturais.
O Khmer Vermelho — comunistas cambojanos que governaram o Camboja por quatro anos —revela o motivo por que os marxistas acreditavam que era necessário e moralmente certo massacrar muitos de seus semelhantes. O marxismo deles estava casado com o poder absoluto. Eles criam sem uma sombra de dúvida que eles sabiam a verdade, que eles construiriam o maior bem-estar e felicidade humana e que para alcançar essa utopia, eles precisavam cruelmente demolir a velha ordem feudal ou capitalista e a cultura budista, e então reconstruir uma sociedade totalmente comunista. Não se poderia deixar nada atrapalhando no caminho dessa realização. O governo — o Partido Comunista — estava acima das leis. Todas as outras instituições, normas culturais, tradições e sentimentos eram descartáveis.
Os marxistas viram a construção dessa utopia como uma guerra contra a pobreza, a exploração, o imperialismo e a desigualdade — e, como numa guerra real, mesmo quem não estivesse no combate seria infelizmente pego na guerra. Haveria necessária perda de vida entre os inimigos: o clero, a burguesia, os capitalistas, os “sabotadores”, os intelectuais, os contra-revolucionários, os direitistas, os tiranos, os ricos e os proprietários de terras. Como numa guerra, milhões poderiam morrer, mas essas mortes seriam justificadas pelos fins, como na derrota de Hitler na 2 Guerra Mundial. Para os marxistas no governo, a meta de uma utopia comunista era suficiente para justificar todas as mortes.
A ironia é que na prática, mesmo depois de décadas de controle total, o marxismo não melhorou a sorte das pessoas comuns, mas geralmente tornou as condições de vida piores do que antes da revolução. Não é por acaso que as maiores fomes do mundo aconteceram dentro da União Soviética (aproximadamente 5 milhões de mortos entre 1921-23 e 7 milhões de 1932-3, inclusive 2 milhões fora da Ucrânia) e China (aproximadamente 30 milhões de mortos em 1959-61). No total, no último século quase 55 milhões de pessoas morreram em várias fomes e epidemias associadas provocadas por marxistas, e o resto morreu como conseqüência despropositada da coletivização e das políticas agrícolas marxistas.
O que é espantoso é que essa “moeda” da morte do marxismo não envolve milhares ou mesmo centenas de milhares, mas milhões de mortes. Isso é quase incompreensível — é como se a população inteira da Europa Oriental fosse aniquilada. Por volta de 35 milhões escaparam de países marxistas como refugiados, e isso mais do que tudo é um voto contra as pretensões dos marxistas utópicos. O equivalente seria todo mundo fugindo do Estado de São Paulo esvaziando-o de todos os seres humanos.
Há uma lição supremamente importante para a vida humana e para o bem-estar das pessoas que precisamos aprender com esse horrendo sacrifício oferecido no altar de uma ideologia: Não se pode confiar em ninguém que tenha poder ilimitado.
Quanto mais poder um governo tem para impor as convicções de uma elite ideológica ou religiosa, ou decretar os caprichos de um ditador, mais probabilidade há de que o bem-estar e vidas humanas serão sacrificados. À medida que o poder do governo vai ficando sem controle e alcança todos os cantos de uma cultura e sociedade, mais probabilidade há de que esse poder matará seus próprios cidadãos.
Como uma elite no governo tem o poder de fazer tudo o que quer, quer para satisfazer suas próprias vontades pessoais ou, como o desejo dos marxistas de hoje, seguir o que crê ser certo e verdadeiro, essa mesma elite pode fazer isso quaisquer que sejam os custos em vidas humanas. Aí, o poder é a condição necessária para os assassinatos em massa. Quando uma elite obtém autoridade plena, outras causas e condições poderão operar para produzir o genocídio imediato, o terrorismo, os massacres e quaisquer assassinatos que os membros dessa elite sintam que são necessários. Mas é o poder — sem nada que o iniba, limite e controle — que é o verdadeiro assassino.
Os acadêmicos e intelectuais de hoje estão andando de carona. Eles obtêm certo respeito por causa de suas pretensões utópicas, por causa de suas palavras sobre melhorar a sorte dos trabalhadores e dos pobres. Mas toda vez que chegou ao poder, o marxismo fracassou totalmente, assim como o fascismo. Em vez de serem tratados com respeito e tolerância, os marxistas deveriam ser tratados como se desejassem uma praga mortal sobre todos nós.
A próxima vez que se encontrar ou receber uma palestra de um marxista nacional, ou seus quase equivalentes fanáticos esquerdistas, pergunte-lhes como é que eles conseguem justificar o assassinato dos mais de cem milhões que sua fé absolutista provocou, e o sofrimento que o marxismo criou para muitas centenas de milhões mais.
R.J. Rummel, professor emérito de ciência política e finalista de Prêmio Nobel da Paz, publicou 29 livros e recebeu numerosas condecorações por sua pesquisa.
Texto traduzido e adaptado por Julio Severo: www.juliosevero.com.br
Fonte: http://www.wnd.com/news/article.asp?ARTICLE_ID=41944
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