domingo, 5 de setembro de 2010

Fé e razão

Artigo publicado no jornal Folha da Manhã em 02 de julho de 2008.

No último dia 25, participei, no CEFET, de um debate do Ciclo “Pensando o Universo”, promovido pelo Clube de Astronomia.O tema escolhido foi “A Fé e a Razão”, “Fides et Ratio”, título da célebre encíclica do Papa João Paulo II.



O objetivo da minha intervenção, na linha da encíclica, foi mostrar o não antagonismo entre a Fé e a Razão, visto que ambas provêm de Deus, como duas asas para alcançarmos a verdade. Foi Deus quem co-locou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de O conhecer, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio”.



Segundo a Encíclica, sempre e em todos os povos houve a procura da verdade: “Quem sou eu? Donde venho e para onde vou? Porque existe o mal? O que é que existirá depois desta vida?” Nestas questões está a busca do sentido da vida e da orientação a se dar à existência.



Variados são os recursos que o homem possui para progredir no conhecimento da verdade, tornando assim cada vez mais humana a sua existência. De entre eles sobressai a filosofia, cujo contributo específico é colocar a questão do sentido da vida e esboçar a resposta: constitui, pois, uma das tarefas mais nobres da humanidade. O termo filosofia significa, segundo a etimologia grega, amor à sabedoria. Começou quando o homem começou a se interrogar sobre o porquê das coisas e o seu fim. Interrogar-se sobre isso é uma propriedade natural da sua RAZÃO.



Os conhecimentos fundamentais nascem da maravilha que nele suscita a contemplação da criação: o ser humano enche-se de encanto ao descobrir-se incluído no mundo e relacionado com outros seres semelhantes, com quem partilha o destino. Parte daqui o caminho que o levará, depois, à descoberta de horizontes de conhecimentos sempre novos.



Há vários sistemas filosóficos. Mas é possível, não obstante a mudança dos tempos e os progressos do saber, reconhecer um núcleo de conhecimentos filosóficos, cuja presença é constante na história do pensamento. Pense-se, só como exemplo, nos princípios de não-contradição, finalidade, causalidade, e ainda na concepção da pessoa como sujeito livre e inteligente, e na sua capacidade de conhecer Deus, a verdade, o bem; pense-se, além disso, em algumas normas morais fundamentais que geralmente são aceites por todos. Estes e outros temas indicam que, para além das correntes de pensamento, existe um conjunto de conhecimentos, nos quais é possível ver uma espécie de patrimônio espiritual da humanidade, como que pontos de referência.



A filosofia moderna, esquecendo-se de orientar a sua pesquisa para o ser, concentrou a própria investigação sobre o conhecimento humano. Em vez de se apoiar sobre a capacidade que o homem tem de conhecer a verdade, preferiu sublinhar as suas limitações.



Daí provieram várias formas de agnosticismo e relativismo, que levaram a investigação filosófica a perder-se nas areias movediças dum cepticismo geral. E, mais recentemente, ganharam relevo diversas doutrinas que tendem a desvalorizar até mesmo aquelas verdades que o homem estava certo de ter alcançado. A legítima pluralidade de posições cedeu o lugar a um pluralismo indefinido, fundado no pressuposto de que todas as posições são equivalentes.
Dom Fernando Arêas Rifan

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