domingo, 5 de setembro de 2010

Combater a pobreza....

Muitas vezes, ao buscar soluções para a pobreza, se cai nas políticas marcadamente assistencialistas. A verdadeira solução, a médio e a longo prazo, seria investir na formação das pessoas e desenvolver de forma integrada uma cultura específica da iniciativa que vise o trabalho para aumentar o rendimento de cada um. A preguiça e a acomodação, muitas vezes estimulada pelas políticas assistencialistas, jamais resolverão o problema da pobreza. Ademais é ilusão pensar que uma política de pura redistribuição da riqueza existente possa resolver o problema de maneira definitiva. É o que nos lembra o Papa em sua mensagem de paz deste ano.


O que salta aos olhos de todos é o escândalo da desproporção que se verifica entre os problemas da pobreza e as medidas predispostas pelos homens para enfrentá-los. “A desproporção é de ordem tanto cultural e política como espiritual e moral. De fato, tais medidas detêm-se freqüentemente nas causas superficiais e instrumentais da pobreza, sem chegar às que se abrigam no coração humano, como a avidez e a estreiteza de horizontes. Os problemas do desenvolvimento, das ajudas e da cooperação internacional são às vezes enfrentados sem um verdadeiro envolvimento das pessoas, mas apenas como questões técnicas que se reduzem à preparação de estruturas, elaboração de acordos tarifários, atribuição de financiamentos anônimos. Inversamente, a luta contra a pobreza precisa de homens e mulheres que vivam profundamente a fraternidade e sejam capazes de acompanhar pessoas, famílias e comunidades por percursos de autêntico progresso humano.”


É necessária, portanto, uma visão cristã do ser humano e das sociedades. É preciso abandonar a mentalidade que considera os pobres como um fardo. Os pobres têm direito de participar no usufruto dos bens materiais e de fazer render a sua capacidade de trabalho.
“No mundo global de hoje, resulta de forma cada vez mais evidente que só é possível construir a paz, se se assegurar a todos a possibilidade de um razoável crescimento: de fato, as consequências das distorções de sistemas injustos, mais cedo ou mais tarde, fazem-se sentir sobre todos. Deste modo, só a insensatez pode induzir a construir um palácio dourado, tendo porém ao seu redor o deserto e a degradação. Por si só, a globalização não consegue construir a paz; antes, em muitos casos, cria divisões e conflitos. É urgente uma profunda solidariedade que aponte para o bem de cada um e de todos.”
Os princípios da doutrina social da Igreja tendem a esclarecer os vínculos entre pobreza e globalização e a orientar a ação para a construção da paz. Dentre tais princípios, vale a pena recordar aqui, de modo particular, o “amor preferencial pelos pobres”, à luz do primado da caridade testemunhado por toda a tradição cristã a partir dos primórdios da Igreja. Esta consciência acompanha hoje também a ação da Igreja em favor dos pobres, nos quais vê Cristo, sentindo ressoar constantemente em seu coração o mandato do Príncipe da paz aos Apóstolos: “dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9, 13).
Dom Fernando Arêas Rifan

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