Explanando a encíclica do Papa João Paulo II sobre a Fé e a Razão, na palestra de que participei no CEFET-Campos, falei sobre a união benéfica e não a oposição que deve haver entre a ciência e a religião. A religião, sem a base racional da ciência, pode se desviar em fundamentalismo e fanatismo e a ciência, sem a religião e a ética que dela provém, pode se tornar maléfica e destruidora. Assim como a Fé e a Razão não podem se contradizer, já que ambas provêm de Deus como duas asas para conhecermos a verdade, assim também a religião e a ciência não podem se contradizer, já que têm o mesmo autor, que é Deus. Se nos depararmos com uma contradição, parafraseando Santo Agostinho podemos dizer que ou nós não entendemos bem os dados da ciência ou estamos interpretando mal a religião. Foi o que aconteceu, com erros de ambos os lados, no caso Galileu, que podemos analisar em outro artigo.
Acompanhando a encíclica “Fides et Ratio” de João Paulo II, aprendemos que o conhecimento proveniente da Fé é de outra ordem que o da ciência: « Existem duas ordens de conhecimento, diversas não apenas pelo seu princípio, mas também pelo objeto. Pelo seu princípio, porque, se num conhecemos pela razão natural, no outro fazemo-lo por meio da fé divina; pelo objeto, porque, além das verdades que a razão natural pode compreender, é-nos proposto ver os mistérios escondidos em Deus, que só podem ser conhecidos se nos forem revelados do Alto. A fé, que se fundamenta no testemunho de Deus e conta com a ajuda sobrenatural da graça, pertence efetivamente a uma ordem de conhecimento diversa da do conhecimento filosófico. De fato, este assenta sobre a percepção dos sentidos, sobre a experiência, e move-se apenas com a luz do intelecto. A filosofia e as ciências situam-se na ordem da razão natural, enquanto a fé, iluminada e guiada pelo Espírito, reconhece na mensagem da salvação a «plenitude de graça e de verdade» (cf. Jo 1, 14) que Deus quis revelar na história, de maneira definitiva, por meio do seu Filho Jesus Cristo (cf. 1 Jo 5, 9; Jo 5, 31-32). A Revelação permanece envolvida no mistério. Somente a Fé permite entrar dentro do mistério. “A Deus que revela, é devida a obediência da Fé”.
Santo Tomás disse que a Fé é um “obsequium rationale”: submissão racional. São Paulo fala da obediência da Fé: é a inteligência que aceita sob o impulso da vontade.
A fé é uma resposta de obediência a Deus. Isto implica que Ele seja reconhecido na sua divindade, transcendência e liberdade suprema. Deus que Se dá a conhecer na autoridade da sua transcendência absoluta, traz consigo também a credibilidade dos conteúdos que revela. Pela fé, o homem presta assentimento a esse testemunho divino. Isto significa que reconhece plena e integralmente a verdade de tudo o que foi revelado, porque é o próprio Deus que o garante. É por isso que o ato pelo qual nos entregamos a Deus, sempre foi considerado pela Igreja como um momento de opção fundamental, que envolve a pessoa inteira. Inteligência e vontade põem em ação o melhor da sua natureza espiritual, para consentir que o sujeito realize um ato no pleno exercício da sua liberdade pessoal. «Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará» (Jo 8, 32).
Dom Fernando Arêas Rifan
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