Entrevista com o Novo diretor do Observatório Astronómico do Vaticano É o astrónomo do Papa. O Pe. José G. Funes (Córdoba, Argentina, 1963), jesuíta licenciado em Teologia e doutor em Astronomia, dirige desde este mês de Agosto o Observatório Astronómico Vaticano, o mais antigo do mundo.
Agência Zenit - Que orientação quer dar, como novo director, ao Observatório Astronómico Vaticano?
Pe. Funes - Em primeiro lugar, agradeço a Deus e ao Santo Padre que me chama a servir como director de uma instituição de tradição e prestígio reconhecidos pela comunidade astronómica internacional. É uma grande responsabilidade continuar com a excelente tarefa que o Pe. George Coyne desenvolveu como director durante 26 anos. O Observatório Vaticano que recebo goza de uma saúde muito boa, que se manifesta na investigação científica, na organização de congressos internacionais científicos, escolas de doutoramento para estudantes do mundo inteiro e na promoção do diálogo ciência-fé. A minha intenção é continuar com estas actividades, que são um sinal da presença da Igreja no mundo das ciências. Esta missão impossível torna-se possível com a ajuda insubstituível de meus irmãos jesuítas. Como jesuítas, queremos servir o Santo Padre e a Igreja, onde sejamos mais úteis. No nosso caso, este serviço é muito específico, a nossa missão consiste em caminhar juntamente com os nossos colegas astrónomos. Queremos participar do cansaço da busca, do entusiasmo e da alegria que comporta o descobrimento científico. Queremos aprender cada dia um pouquinho mais sobre as maravilhas do universo que narram a glória de Deus.
Agência Zenit - Devemos situar o Observatório Vaticano em Castel Gandolfo ou no Arizona? Pe. Funes - O Observatório Vaticano é um único instituto que consta da sede histórica de Castel Gandolfo, onde se realizam análises de dados, as escolas e diversos congressos. É uma honra poder ser hóspedes na casa do Papa. Estamos muito agradecidos ao Santo Padre por todo seu apoio, e esperamos poder corresponder com o nosso trabalho a tão grande privilégio. No Arizona (EUA) temos um grupo de investigação e o telescópio que utilizamos para as nossas observações. É importante para nós podermos colaborar com o Departamento de Astronomia da Universidade do Arizona, um dos centros astronómicos mais destacados do mundo. Alguns de nós dão aulas na Universidade.
Agência Zenit - É especialista nos discos das galáxias: de que se ocupa, principalmente, o seu campo de estudo?
Pe. Funes - No ano 2000 terminei o meu doutoramento em astronomia na Universidade de Pádua, sobre o tema “Cinemática do gás nas regiões centrais das galáxias com disco”. Traduzido para uma linguagem menos técnica, a tese apresentava os resultados que obtivemos ao “pesar” os buracos negros supermaciços que se encontram no centro das galáxias com disco. Nos últimos anos, trabalhei no estudo da formação estelar nas galáxias próximas, aquelas que não se encontram a uma distância maior de 50 milhões de anos-luz. A formação estelar é um tema chave para poder entender o processo de formação e evolução das galáxias. No ano 2000, trabalhei na organização de um congresso internacional sobre a formação e evolução das galáxias com disco que o Observatório Vaticano organizou na Universidade Gregoriana, em Roma. A nossa galáxia, a Via Láctea, é uma galáxia com disco. Atualmente, estou a organizar outro congresso sobre o mesmo tema; lá serão discutidos os resultados mais recentes. Este congresso acontecerá na Universidade Gregoriana, em Outubro de 2007.
Agência Zenit - O que diria aos astrónomos que consideram incompatível ser crente e cientista?
Pe. Funes - Não só aos astrónomos, mas também a todos os que pensam deste modo, costumo dizer-lhes que eu não vejo que haja contradição entre ciência e fé. Sim creio que há tensões, e que é sadio experimentar tensões, pois nos ajudam a crescer. Estou consciente de que houve conflitos e hão-de existir, mas não devemos ter medo do conhecimento científico. Um instituto como o nosso, ao serviço já de dez Papas, é um claro testemunho de que a Igreja não tem medo da boa ciência, da ciência de qualidade, pelo contrário, promove-a.
Agência Zenit - Quando tem tempo livre, diverte-se vendo filmes como «A guerra das Estrelas»?
Pe. Funes - Sim, eles divertem-me, ainda que não seja um fanático do género
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