Folha de São Paulo, quinta-feira, 09 de setembro de 2010
FRANCESCO SCAVOLINI
As cartilhas cristãs de Dilma falam de opção pelos pobres e pelos menos favorecidos, mas a realidade dos seus projetos é totalmente diferente disso
Depois de saber que a então ministra Dilma Rousseff, há pouco tempo, havia participado da missa do padre Marcelo Rossi, abrindo inclusive a celebração com a leitura da Bíblia, procurei descobrir onde poderia ficar a "estrada de Damasco" da conversão da ex-guerrilheira comunista; dessa mulher que, aliás, há dois anos, questionada sobre a existência de Deus, respondera: "Eu me equilibro nessa questão. Será que há? Será que não há?".
Mas voltemos a "Damasco". Eu estava ainda procurando, sem muita esperança, a tal estrada, quando, de repente, no último dia 19 de agosto, fui "transportado em espírito" para Brasília e eis que apareceu na sede da CNBB a própria Dilma, com uma voz fulgurante como o sol do meio-dia: "Você me desculpe, mas eu não sou de outra religião para ser convertida. Eu sou de origem cristã e católica, fui batizada", respondeu a agora candidata petista ao jornalista que ousara perguntar se ela havia se convertido. E eis que apareceram nas mãos de Dilma dois documentos que ela brandia como armas vitoriosas: a carta-compromisso intitulada "Carta Aberta ao Povo de Deus" e a cartilha "Treze Motivos para o Cristão Votar em Dilma Rousseff".
Nesses dois documentos, pude ler que Dilma "tem feito a opção de governar olhando pelos pobres e menos favorecidos, a mesma do evangelho do Senhor Jesus Cristo".
Tudo realmente deslumbrante.
Eu ainda estava "em êxtase" quando tocou o meu telefone. Do outro lado estava um caro amigo, um padre muito engajado na pastoral das crianças, especialmente as mais pobres.
Quando lhe falei que eu estava encantado com as ideias da candidata petista, ele me levou de volta à realidade, bradando: "Você está louco, meu irmão? Leia com atenção o programa político do partido de Dilma, o PT, e volte a me ligar!".
Desconfiado, comecei a pesquisar na internet : "PT pune dois deputados por serem contrários ao aborto"; "PT quer implementar a descriminalização do aborto"; "PT quer aprovar a lei da homofobia (padres e pastores poderão ser presos se falarem contra o homossexualismo)"; "PT é a favor do casamento homossexual"; "Dilma critica a greve de fome dos presos políticos cubanos"; "Dilma afirma que preso político em Cuba tem acesso mais fácil a mídia".
Essas foram algumas das manchetes que encontrei. Confesso que fiquei horrorizado.
Pegando o telefone, liguei para o meu amigo e disse: "Padre, que absurdo! Como é possível? As cartilhas da Dilma dizem uma coisa. Falam de opção pelos pobres e menos favorecidos, mas a realidade dos seus projetos é totalmente outra.
Para o partido da Dilma, os mais indefesos, as criancinhas no ventre materno, os presos políticos, não valem nada, como também as ideias e opiniões diferentes devem ser menosprezadas e reprimidas".
"Meu filho", disse meu amigo ao telefone, "nunca esqueça aquela palavra do Senhor Jesus: "Cuidado, porque muitos virão em Meu nome.
Vós, porém, não os sigais, pois são lobos vestidos de cordeiros; pelos frutos os conhecereis. Não pode árvore má dar frutos bons nem árvore boa dar maus frutos'".
FRANCESCO SCAVOLINI, 54, doutor em jurisprudência pela Universidade de Urbino (Itália), é especialista em direito canônico.
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