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Em entrevista, analisa conquistas e problemas
Por Michaela Koller
FRISINGA, sexta-feira, 22 de outubro de 2010 (ZENIT.org) – A Igreja Católica vive uma situação de luzes e sombras: melhorias em alguns aspectos e controvérsias com o governo em outros.
O cardeal Joseph Zen Ze-kiun é talvez uma das vozes mais autorizadas da Igreja local. O purpurado, que agora tem 78 anos, foi nomeado bispo coadjutor de Hong Kong em 1996, para depois assumir a chefia da diocese de 2002 ao ano passado, quando se aposentou.
Dom Zen esteve na Alemanha no mês passado para o colóquio “Europa e China católica”, que reuniu representantes de organizações católicas e de iniciativas europeias. Confira sua entrevista a ZENIT.
ZENIT: Qual é o requisito para um verdadeiro desenvolvimento humano na China?
Cardeal Zen: Para que o desenvolvimento seja verdadeiro, deve ser integral e completo. E a Igreja Católica pode ajudar no aspecto espiritual. Infelizmente, há muitas pessoas que pensam no desenvolvimento só no sentido de um progresso econômico e tecnológico. Isso não é suficiente.
Eu creio que, no âmbito espiritual, são muitos, e não só os católicos, os que podem contribuir. Penso que por exemplo no confucionismo, que é um patrmônio muito precioso do povo chinês. Mas certamente somos nós, os católicos e os cristãos em geral, que temos Jesus Cristo como modelo real de perfeição humana.
ZENIT: O cristianismo tem muito êxito na China continental hoje?
Cardeal Zen: A situação é um pouco mais tranquila para as famílias católicas que querem batizar seus filhos. Antes estava proibido. Era necessário ter cumprido os 18 anos. Mas agora é possível batizar os filhos, é algo bom.
A respeito do êxito entre as pessoas, certamente há. Mas não saberia até que ponto. Não há informações detalhadas. Mas sobretudo é entre os estudantes universitários e os intelectuais. Eles entram em contato com a doutrina cristã através da cultura ocidental. E estão muito interessados. Sei que também há intercâmbios acadêmicos entre o Ocidente e a China, um aspecto muito prometedor.
ZENIT: O regime tenta controlar esses êxitos?
Cardeal Zen: É muito curioso que no âmbito acadêmico exista uma liberdade muito maior. Aos sacerdotes não está permitido pregar, enquanto que se permitem os intercâmbios acadêmicos.
ZENIT: Mas um dia o regime perderá o controle sobre esses intelectuais, não?
Cardeal Zen: Na verdade já perdeu.
ZENIT: Talvez seja esta a esperança para o futuro?
Cardeal Zen: Sim. Quando os estudantes chineses vêm a Hong Kong no âmbito de intercâmbios, por exemplo, convidam-me, e eu posso ir com eles sem nenhuma objeção, porque estamos realmente no âmbito acadêmico.
ZENIT: Recentemente o senhor alertou de novo contra o paternalismo da Associação Patriótica. Por quê?
Cardeal Zen: A Associação Patriótica, sobretudo no âmbito nacional, é muito forte. Os bispos não têm nem voz nem voto. Isso, obviamente, deve-se ao fato de que o governo usa a Associação Patriótica para controlar a Igreja.
Liu Bainian, vice-presidente da Associação, representa o governo e mantém a Igreja e os bispos sob seu controle. Depois de tantos anos, foram-lhe dadas grandes vantagens para se assegurar de que as ideias não mudem. No âmbito local, a situação é muito diferente, porque em alguns lugares os poderes do bispo superam os da Associação.
Mas é evidente que a situação não está encaminhada para o bem do país, porque todos sabem que a Igreja na realidade não é livre. O governo chinês não é respeitado e se vê que a liberdade não existe.
Infelizmente, a Associação tem muitos amigos no governo. É difícil que este seja capaz de eliminá-la. Por nossa parte, temos uma necessidade extrema de uma decisão, porque se a Associação for mantida, ninguém dentro nem fora da China acreditará que existe uma verdadeira liberdade religiosa.
ZENIT: Melhorou a situação a respeito da ordenação dos bispos e da cooperação entre China e Vaticano?
Cardeal Zen: Os progressos alcançados neste último período limitam-se ao fato de que não houve ordenações ilegítimas nos últimos meses. Mas é verdadeiramente um bem? Eu duvido, porque o que significa que um bispo seja aceito por ambas as partes, pelo governo chinês e pela Santa Sé?
Existem muitas possibilidades. Uma possibilidade – que é a que nós queríamos – é que o Santo Padre escolha os bispos e que o governo chinês dê o seu consentimento. Isso seria o ideal. Mas é o caso? Não.
Vemos que frequentemente é o governo que elege o bispo. Talvez não seja o melhor, mas a Santa Sé diz: “nessa outra diocese, queremos este bispo, e se vocês aceitarem, nós aceitaremos o outro”. Portanto é uma troca. Às vezes se obtêm mais vantagens, outras vezes menos.
Já outras vezes se fazem concessões, algo muito perigoso. Certamente não é verdade que o governo chinês aceite de bom grado todos os candidatos da Santa Sé.
ZENIT: Quanto se terá de esperar até que a Santa Sé e Pequim estabeleçam relações diplomáticas?
Cardeal Zen: Na realidade todos os comentaristas consideram este fato pouco provável, já que no momento atual Pequim e Taiwan têm melhores relações. Portanto, em certo sentido, Pequim consente a Taipei manter relações diplomáticas com diversos países pequenos, entre eles a Santa Sé.
Se Pequim aceitasse estabelecer relações diplomáticas com o Vaticano, este se veria obrigado a abandonar Taiwan e, portanto, indiretamente, Pequim ofenderia Taiwan. Por isso, ninguém pressiona para acelerar a abertura das relações diplomáticas. Mas esta não é uma questão central. Inclusive na falta de relações diplomáticas, a melhoria e a normalização da situação já é algo bom.
FRISINGA, sexta-feira, 22 de outubro de 2010 (ZENIT.org) – A Igreja Católica vive uma situação de luzes e sombras: melhorias em alguns aspectos e controvérsias com o governo em outros.
O cardeal Joseph Zen Ze-kiun é talvez uma das vozes mais autorizadas da Igreja local. O purpurado, que agora tem 78 anos, foi nomeado bispo coadjutor de Hong Kong em 1996, para depois assumir a chefia da diocese de 2002 ao ano passado, quando se aposentou.
Dom Zen esteve na Alemanha no mês passado para o colóquio “Europa e China católica”, que reuniu representantes de organizações católicas e de iniciativas europeias. Confira sua entrevista a ZENIT.
ZENIT: Qual é o requisito para um verdadeiro desenvolvimento humano na China?
Cardeal Zen: Para que o desenvolvimento seja verdadeiro, deve ser integral e completo. E a Igreja Católica pode ajudar no aspecto espiritual. Infelizmente, há muitas pessoas que pensam no desenvolvimento só no sentido de um progresso econômico e tecnológico. Isso não é suficiente.
Eu creio que, no âmbito espiritual, são muitos, e não só os católicos, os que podem contribuir. Penso que por exemplo no confucionismo, que é um patrmônio muito precioso do povo chinês. Mas certamente somos nós, os católicos e os cristãos em geral, que temos Jesus Cristo como modelo real de perfeição humana.
ZENIT: O cristianismo tem muito êxito na China continental hoje?
Cardeal Zen: A situação é um pouco mais tranquila para as famílias católicas que querem batizar seus filhos. Antes estava proibido. Era necessário ter cumprido os 18 anos. Mas agora é possível batizar os filhos, é algo bom.
A respeito do êxito entre as pessoas, certamente há. Mas não saberia até que ponto. Não há informações detalhadas. Mas sobretudo é entre os estudantes universitários e os intelectuais. Eles entram em contato com a doutrina cristã através da cultura ocidental. E estão muito interessados. Sei que também há intercâmbios acadêmicos entre o Ocidente e a China, um aspecto muito prometedor.
ZENIT: O regime tenta controlar esses êxitos?
Cardeal Zen: É muito curioso que no âmbito acadêmico exista uma liberdade muito maior. Aos sacerdotes não está permitido pregar, enquanto que se permitem os intercâmbios acadêmicos.
ZENIT: Mas um dia o regime perderá o controle sobre esses intelectuais, não?
Cardeal Zen: Na verdade já perdeu.
ZENIT: Talvez seja esta a esperança para o futuro?
Cardeal Zen: Sim. Quando os estudantes chineses vêm a Hong Kong no âmbito de intercâmbios, por exemplo, convidam-me, e eu posso ir com eles sem nenhuma objeção, porque estamos realmente no âmbito acadêmico.
ZENIT: Recentemente o senhor alertou de novo contra o paternalismo da Associação Patriótica. Por quê?
Cardeal Zen: A Associação Patriótica, sobretudo no âmbito nacional, é muito forte. Os bispos não têm nem voz nem voto. Isso, obviamente, deve-se ao fato de que o governo usa a Associação Patriótica para controlar a Igreja.
Liu Bainian, vice-presidente da Associação, representa o governo e mantém a Igreja e os bispos sob seu controle. Depois de tantos anos, foram-lhe dadas grandes vantagens para se assegurar de que as ideias não mudem. No âmbito local, a situação é muito diferente, porque em alguns lugares os poderes do bispo superam os da Associação.
Mas é evidente que a situação não está encaminhada para o bem do país, porque todos sabem que a Igreja na realidade não é livre. O governo chinês não é respeitado e se vê que a liberdade não existe.
Infelizmente, a Associação tem muitos amigos no governo. É difícil que este seja capaz de eliminá-la. Por nossa parte, temos uma necessidade extrema de uma decisão, porque se a Associação for mantida, ninguém dentro nem fora da China acreditará que existe uma verdadeira liberdade religiosa.
ZENIT: Melhorou a situação a respeito da ordenação dos bispos e da cooperação entre China e Vaticano?
Cardeal Zen: Os progressos alcançados neste último período limitam-se ao fato de que não houve ordenações ilegítimas nos últimos meses. Mas é verdadeiramente um bem? Eu duvido, porque o que significa que um bispo seja aceito por ambas as partes, pelo governo chinês e pela Santa Sé?
Existem muitas possibilidades. Uma possibilidade – que é a que nós queríamos – é que o Santo Padre escolha os bispos e que o governo chinês dê o seu consentimento. Isso seria o ideal. Mas é o caso? Não.
Vemos que frequentemente é o governo que elege o bispo. Talvez não seja o melhor, mas a Santa Sé diz: “nessa outra diocese, queremos este bispo, e se vocês aceitarem, nós aceitaremos o outro”. Portanto é uma troca. Às vezes se obtêm mais vantagens, outras vezes menos.
Já outras vezes se fazem concessões, algo muito perigoso. Certamente não é verdade que o governo chinês aceite de bom grado todos os candidatos da Santa Sé.
ZENIT: Quanto se terá de esperar até que a Santa Sé e Pequim estabeleçam relações diplomáticas?
Cardeal Zen: Na realidade todos os comentaristas consideram este fato pouco provável, já que no momento atual Pequim e Taiwan têm melhores relações. Portanto, em certo sentido, Pequim consente a Taipei manter relações diplomáticas com diversos países pequenos, entre eles a Santa Sé.
Se Pequim aceitasse estabelecer relações diplomáticas com o Vaticano, este se veria obrigado a abandonar Taiwan e, portanto, indiretamente, Pequim ofenderia Taiwan. Por isso, ninguém pressiona para acelerar a abertura das relações diplomáticas. Mas esta não é uma questão central. Inclusive na falta de relações diplomáticas, a melhoria e a normalização da situação já é algo bom.
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